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ENÓFILOS UNIDOS JAMAIS SERÃO VENCIDOS!

Estamos no meio de uma guerra que está sendo travada em diversos fronts. Quem iniciou as escaramuças foi o IBRAVIN quando encaminhou petição ao Governo Federal solicitando salvaguardas para o vinho nacional, ou seja, novos impostos e cotas de importação que onerarão, ainda mais, o consumidor final. 
Rapidamente, os grandes importadores, chefes de cozinha dos mais renomados restaurantes do país, críticos especializados, entre outros, partiram para um rápido contra-ataque e a discórdia se instalou. 

Vamos aos fatos: 
1 – O IBRAVIN, Instituto Brasileiro do vinho tem por objetivo promover e ordenar institucionalmente o setor vitivinícola, notadamente nas questões concernentes à produção de uvas, de vinhos, de suco de uva e de qualquer outro produto derivado da uva e do vinho, em todos os seus âmbitos. É mantido com recursos públicos estaduais (RS) e Federais, alem da taxa paga pelas vinícolas associadas. 
2 – Como todo órgão financiado por recursos públicos, sua gestão é feita ou por indicação do governo ou por um colegiado com representantes das vinícolas nacionais que, por sua importância, controlam indiretamente este instituto: Miolo, Aurora, Salton, Valduga, Aliança, etc. 
3 – A ideia retrógrada de controlar o mercado de vinhos, formando um oligopólio não é nova, era prática comum na era do nacionalismo exacerbado e nos deixou com um quase irrecuperável atraso tecnológico até os dias de hoje, mesmo depois da abertura do mercado para importações. Não é difícil perceber que os nossos automóveis ainda são umas carroças e a lei da informática nos deixou na rabeira do mundo moderno. Querem fazer o mesmo com o vinho de qualidade. 
4 – Em recente entrevista, Luiz Zanini, da vinícola Valontano afirmou: “Por que o IBRAVIN não pede o SIMPLES para o pequeno produtor? Por que o IBRAVIN não pede o fim das normativas que limitam a produção artesanal? Por que o IBRAVIN não pede a dispensa do SELO FISCAL para quem produz até 50.000 litros de vinho? Por que o IBRAVIN não luta para baixar os tributos de nossos vinhos, ou cria um regime especial para os pequenos produtores? Isto seria a salvaguarda para a sobrevivência da diversidade do vinho brasileiro. Ao contrário disto, o IBRAVIN que, diga-se de passagem, não possui representantes de pequenas vinícolas, está se especializando em burocratizar o Setor. Estamos caminhando para a era da industrialização em massa, estamos dando aval ao vinho commodities em detrimento da diversidade. Nosso vinho está sendo conduzido para a morte, e terá apenas uma sobrevida nas gôndolas de supermercados de terceira categoria, isto é degradante. Não posso compactuar com isto, por isso eu sou radicalmente contra quaisquer iniciativas que não sejam discutidas de forma ampla e democrática, com todos os personagens envolvidos. As empresas que representam a minoria poderosa (que dominam as entidades que compõem o IBRAVIN) agora começam a sofrer retaliações por parte da mídia, dos jornalistas, dos formadores de opinião, dos editores de revistas, dos proprietários de restaurantes, dos supermercadistas e dos sommeliers – são estas as pessoas que trabalham pelo vinho brasileiro – e que estão indignadas com os rumos da politicagem do vinho no Brasil. Quem deve abrir a cabeça”? 
5 – Num exemplo simples, o IBRAVIN financiou, no carnaval deste ano, a Academia de Samba União da Tinga que ganhou o carnaval de Porto Alegre com um enredo sobre o vinho. Além disto, o Instituto montou um fabuloso camarote para seus convidados Vips, onde espumantes eram servidos a rodo, com a desculpa de propor a substituição da cerveja por este vinho… 
6 – Fica claro que a manobra proposta tem por objetivo principal engordar o caixa desta instituição e ajudar a formar o cartel dos grandes produtores. 
A indignação foi geral e rapidamente divulgada nos principais meios de comunicação. Ciro Lilla, um dos mais importantes importadores (Mistral e Vinci) publicou uma Carta Aberta aos seus clientes

http://vinhosdecorte.com.br/carta-aberta-de-ciro-lilla-contra-adocao-de-salvaguardas-para-proteger-vinho-nacional/

Os Chefes Roberta Sudbrack, Felipe Bronze e Alex Atala, entre muitos outros, rapidamente retiraram os vinhos brasileiros de suas cartas, dando início a uma forma de protesto, o boicote, pouco usual neste país, mas de grande efeito. 

O estrago foi enorme. Algumas vinícolas pequenas se apressaram em esclarecer que eram contra as novas medidas: Adolfo Lona, Angheben, Cave Geisse e Vallontano. Entre as grandes, apenas a Salton se pronunciou contra as salvaguardas. 
Qual a nossa posição? 
Embora o colunista José Paulo Gils não acredite neste tipo de protesto, “há sempre algum outro interesse não declarado por trás disto tudo”, o boicote iniciado pelos restaurateurs foi efetivo e parece ser um caminho fácil de ser seguido: simplesmente vamos nos abster de consumir vinhos nacionais. 

Existe, pelo menos, uma petição pública contra este movimento. Para conhecer e participar acesse: http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoListaSignatarios.aspx?pi=P2012N22143 

Curiosamente, vinhos do Chile, Argentina e Uruguai, os mais fortes concorrentes aos nacionais, escapariam destas medidas por força de outros acordos… 

Para saber mais, acesse esta excelente reportagem de Alexandre Lalas no site Wine Report: http://www.winereport.com.br/winereports/a-salvaguarda-da-discordia/1866 

Dica da Semana: desculpem-nos, mas o vinho azedou! Fica para a próxima semana.

Os Grandes Vinhos do Mundo – Argentina – Final

Um trio da pesada- Achaval Ferrer 
Para enfrentar a dura concorrência dos vinhos já apresentados, alguns produtores deste segmento Super Premium, adotaram táticas de guerrilha. A vinícola Achaval Ferrer foi um deles. Vamos conhecer um pouco mais sobre estes três vinhos top de linha: Finca Mirador, Finca Altamira e Finca Bela Vista. 
A jovem empresa foi fundada em 1968, por um grupo de amigos argentinos, Santiago Achaval Becú, Manuel Ferrer Minetti, Marcelo Victoria e Diego Rosso, que não estavam diretamente ligados ao mundo do vinho, e os italianos Tiziano Siviero e Roberto Cipresso, renomado enólogo Toscano e produtor de um delicioso Brunello de Montalcino. Em comum, o sonho de produzir grandes vinhos. 

A primeira safra foi produzida em 1999, em espaço alugado a outras empresas. Somente a partir de 2006 passariam a produzir em suas próprias instalações. Seus vinhedos são todos muito antigos e localizados em diferentes regiões. Contam com parreiras de quase 100 anos e plantadas em pé franco (sem enxertos). A Finca Altamira está em La Consulta, a 1050 metros de altitude, data de 1925; a Finca Bela Vista data de 1910 e está localizada em Pedriel a 950 metros; a Finca Mirador está em Medrano a 700 metros sobre o nível do mar. 

De cada uma são produzidos vinhos com características próprias pelas mãos de Cipresso. A colheita e dupla seleção dos frutos é manual. O Processo é todo por gravidade e se há necessidade de movimentação de líquidos são empregadas bombas peristálticas preservando a integridade do mosto. A fermentação é obtida nos mesmos moldes de um Brunello, em tanques de concreto com temperatura controlada. Passam por fermentação malolática e são envelhecidos em barricas de carvalho. Há uma preocupação constante do enólogo com a qualidade sendo feitas diversas provas durante todo o processo e, a seu critério, novos processos podem ser introduzidos. O vinho não é filtrado nem clarificado ao engarrafar. 
Três vinhos respeitados internacionalmente, recebendo ótimas notas de críticos e revistas especializadas. A safra 2003 do Finca Bela Vista recebeu 96 pontos da Wine Spectator e o título, na época, de Rei dos vinhos Argentinos. Em 2009 o Finca Bela Vista ganhou 98 pontos de Robert Parker. 

Finca Altamira: são produzidas 9.900 garrafas por ano. O vinhedo (finca), todo em pé franco, com mais de 80 anos, está localizado em La Consulta no Vale do Uco. São apenas 6 hectares com um rendimento de 400g de uva por planta. São necessários 1,2Kg de uva para fazer uma garrafa. Considerado um autêntico Grand Cru, amadurece por 15 meses em barricas novas de carvalho francês. Sua cor é púrpura profunda e seu perfil aromático combina potência e elegância, com nuanças tostadas, grafite, cereja negra e ameixa, notas terrosas, trufas. Na boca é pleno, super denso, mas com taninos elegantes, saboroso, fresco e com incrível persistência. A menor nota obtida foi 95+ (Robert Parker). 
Finca Mirador: são produzidas 10.100 garrafas. O vinhedo de 5 hectares, localizado em Medrano, foi plantado em pé franco em 1921. Trabalha com o mesmo rendimento de 400g de uva por planta. Vinificado e amadurecido como os anteriores têm coloração púrpura quase negro e brilhante. Seus aromas disparam notas de cereja e framboesa negra, especiarias doces, flores e um fino carvalho tostado. Na boca não nega ter nascido de vinhas velhas, é concentrado e potente, mas elegante, com taninos de qualidade, puro, fresco, saboroso e muito longo. Nunca recebeu pontuação inferior a 94 de Robert Parker. 
Finca Bela Vista: são produzidas 11.700 garrafas. O vinhedo de 5 hectares em pé franco foi plantado em 1921, é trabalhado nos mesmos moldes dos demais. Após vinificado, amadurece cerca de 15 meses em barricas novas de carvalho francês. Coloração Púrpura concentrada e brilhante apresenta aromas de fruta negra, violeta, nuanças tostadas e terrosas, especiarias, incenso… Boca densa, com taninos de alta qualidade e longa persistência. Nunca recebeu pontuação inferior a 96 da Wine Advocate (Robert Parker). 
Estes vinhos são trazidos para o Brasil pela importadora Aurora-Inovini e tem boa distribuição no país. Uma grande notícia são os preços bem mais palatáveis que o dos concorrentes, variando de R$ 350, 00 até R$ 800,00 dependendo da safra e do vinho. (dados de 2012)

Duas curiosidades: 

Durante muitos anos o Chateau Montchenot, da Bodega Lopez, foi considerado o melhor vinho argentino. Um corte Bordalês, muito bem vinificado, à moda antiga, em grandes dornas, envelhecido calmamente, como pedem os bons vinhos. Um porto seguro, delicioso até hoje e um preferido pelos consumidores tradicionalistas. Vale a pena experimentar e compará-lo aos vinhos modernos: algo surpreendente! 

Existe o vinho mais caro da Argentina e, inegavelmente, é um excelente produto, um super Premium como os demais. Não enfrentou, ainda, a prova do tempo, por esta razão, não foi um dos ícones citados. Mas tem tudo para se tornar um deles: Ultima Hoja da vinícola Bressia. Um corte secreto vinificado como se estivessem lapidando uma jóia. Walter Bressia é um tarimbadíssimo enólogo argentino que após passar por grandes empresas decidiu trabalhar por conta própria. O sucesso foi instantâneo e sua boutique de vinhos é um celeiro de grandes produtos. Define este corte como “o resultado das experiências anotadas em milhares de últimas páginas, que permitiram selecionar as melhores e inigualáveis barricas em uma experiência única e que não será repetida”. 

Dica da Semana: escolhemos um vinho básico da Achaval Ferrer. 

ACHAVAL-FERRER MALBEC MENDOZA 2010  
País: Argentina / Luján de Cuyo – Mendoza 
Uva – Malbec 
Vermelho púrpura. Nariz sedutor, com grande intensidade e pureza, revelando notas florais, de frutos vermelhos e negros maduros (como cereja e framboesa), especiarias e sutis nuanças de madeira. Boca gostosa, suculenta, densa, com taninos super aveludados, sabores frutados e puros, ótimo frescor e alta persistência. Ideal para acompanhar cordeiro assado, churrasco e pratos de carnes vermelhas em geral. Recomendamos decantar este vinho cerca de uma hora antes de bebe-lo.

Os Grandes Vinhos do Mundo – Argentina – 2ª parte

O Enólogo e Consultor Paul Hobbs tem uma história muito interessante. Um dos seus mentores foi o respeitado Robert Mondavi, com quem trabalhou de 1978 até 1984. O ponto alto foi participar da vinificação do grande vinho Opus One, realizado em associação com o Barão Philippe de Rothschild. Em 1985, quando trabalhava para um braço norte americano da Louis Vuitton-Moët Hennessy, a vinícola Simi, foi convidado para prestar consultoria para Nicolás Catena. Apesar de ter realizado este trabalho num período de férias, seu empregador não ficou satisfeito com este desvio de rota, insinuando que ele estaria passando informações para um concorrente. Pressionado, Hobbs optou por tornar-se independente, uma opção muito arriscada na época. Nem seus professores na Universidade de Davis aprovavam tal decisão. 
Ao ser questionado sobre porque ir para a Argentina – lá é muito quente! você só vai produzir zurrapas! diziam, Hobbs respondia com uma desconcertante simplicidade: os vinhedos são tão bonitos e as uvas deliciosas…. A decisão se mostrou acertada. Nicolás Catena foi mais que um patrão. Além de proporcionar a estratégia e os meios necessários, lhe deu total liberdade para experimentar. Hobbs sabia que existia um enorme potencial ali. Sua personalidade inquieta, sempre em busca de maiores desafios, fez com que em 1991, Catena lhe ajudasse a montar sua própria vinícola nos EUA, a Paul Hobbs Winery. Um investimento de alto risco. Naquele ano, a Filoxera havia voltado com força total na Califórnia e ninguém queria arriscar um centavo que fosse numa nova vinícola, exceto Catena. Hoje, esta empresa é um sucesso, produzindo vinhos fantásticos. 
Uma nova mudança aconteceria em 1998 quando um simpático casal de argentinos, Andrea Marchiori e Luis Barraud, o procurou na Califórnia para que os assessorassem num novo empreendimento. Apaixonado por Mendoza, Hobbs associou-se a eles e fundou a Viña Cobos, uma vinícola Super Premium, com vinhos de alta qualidade e pequenas produções.  

O nome é uma homenagem ao imigrante espanhol Juan Francisco Cobos. Coube a ele solicitar, ao reino de Espanha, sementes de álamo, a árvore emblemática de Mendoza. 
O principal vinho é o inacreditável Cobos Malbec, indiscutivelmente o melhor varietal produzido com esta casta. Sua vinificação só é feita em safras consideradas excepcionais. Os frutos são obtidos no vinhedo Marchiori, que pertence à família de Andrea. Com um terroir característico da região de Pedriel, nos pés dos Andes, situado a 995m de altitude, suas parreiras, com mais de 80 anos de idade, produzem frutos no ponto certo de amadurecimento e ligeiramente ácidos, permitindo uma produção de alto nível. 

O processo de vinificação é de um cuidado surpreendente. As uvas são selecionadas uma a uma, por equipes predominantemente femininas (são mais cuidadosas). 

Para a obtenção do mosto, as uvas não são prensadas, mas empilhadas num equipamento e deixadas sob a ação do próprio peso. Um método semelhante ao empregado na obtenção do Tokaj Essenzia. Isto significa um rendimento ultrabaixo. Após a extração deste primeiro sumo, as uvas serão prensadas para a obtenção de outros vinhos. Para o Cobos, só o melhor! 

Na fermentação e maceração são usados métodos naturais em tanques de aço inox com temperatura controlada. O processo todo dura cerca de 30 dias. O envelhecimento é feito em barris novos, de carvalho francês, por 18 meses. Passa por fermentação malolática (transformação do ácido málico em ácido lático = melhor qualidade) em barricas, durante 8 meses, para sua finalização. Não é filtrado e nem clarificado antes de ser engarrafado, onde permanecerá por mais um ano até de ser comercializado. 

A safra de 2006 obteve 99 pontos do rigoroso Robert Parker (Wine Advocate), tornando-se o vinho argentino de maior pontuação até o momento. Só para lembrar, vinho da semana passada conseguiu 98+ em sua melhor safra. Abaixo um resumo das notas obtidas: 
1999 – Wine Advocate 95pts 
2002 – Wine Advocate 96pts 
2003 – Wine Advocate 97pts 
2004 – Wine Advocate 98pts 
2005 – Wine Advocate 98pts 
2006 – Wine Advocate 99pts 
2007 – Wine Advocate 95pts 
2008 – Wine Advocate 95pts 

Notas de degustação safra 2008 
Coloração violácea profunda com reflexos azulados. Destacam-se os aromas de ameixas, mirtilo e (flor) de nogueira. No palato se mostra voluptuoso, encorpado com intensidade e estrutura nobre. Surpreende por seus taninos polidos e sabores de doce de leite, frutos do bosque, cravo da Índia e grãos de café. Um vinho perfeito para alta gastronomia ou para simplesmente pensar na vida. 
Existe um senão: caríssimo, quase R$ 1.000,00 na Grand Cru, seu importador exclusivo. (em 2012)

Qual é o melhor vinho argentino afinal? Escolha Impossível. Como diria um francês, entre les deux mon coeur balance. Para enfrentar esta dura concorrência, apresentaremos mais alguns protagonistas de peso na próxima coluna. 

Dica da Semana: a Viña Cobos produz uma gama de vinhos, em três linhas, todos de excelente qualidade. Escolhemos o chamado produto de entrada, a linha mais em conta. 

Cobos Felino Malbec 2010 
País: Argentina / Luján de Cuyo – Mendoza 
Casta: 100% Malbec 
Envelhecimento: 9 meses em barricas de carvalho. Pode ser guardado por 8 anos. Reflete características argentinas, pelas mãos do casal Andréa Marchiori e Luis Barraud, e californianas, seguindo o estilo de Paul Hobbs. Violeta intenso com reflexos azulados. Notas de pimenta e licor de cerejas. Corpulento, possui taninos marcantes. Harmoniza com carnes e pratos condimentados.

Os Grandes Vinhos do Mundo: Argentina – 1ª parte

A tradição faz a diferença 
A história do vinho neste país começa em 1556 quando o padre Jesuíta Juan Cedrón trouxe mudas das espécies País e Moscatel (Missiones), do vale central do Chile, plantando-as nas regiões que, mais tarde, seriam conhecidas como Mendoza e San Juan. Através de cruzamentos naturais, surgiria um clone conhecido por Criolla Chica, varietal utilizada nos vinhos argentinos por muitos anos e que promove um sabor típico que agrada ao argentino. A primeira vinícola, estabelecida pelos Jesuítas em 1557, ficava em Santiago del Estero. A expansão foi rápida principalmente devido à construção de diversos canais de irrigação para enfrentar o problema de escassez da água. Coube ao Governador da Província, Domingo Sarmiento, contratar o agrônomo francês Miguel Aimé Pouget e incumbi-lo de trazer mudas de castas europeias nobres para a região, entre elas, a hoje emblemática Malbec. 

A construção de uma ferrovia ligando a Buenos Aires e a mão de obra dos emigrantes europeus que fugiam da Filoxera são outros fatores que potencializaram esta indústria. Com um clima semelhante ao do vizinho Chile e protegida das pragas conhecidas, tornou-se outro porto seguro para uvas e vinhos, mas com uma importante diferença: 90% de sua produção eram comercializados no mercado interno – vinhos simples de castas não europeias. 
Esta filosofia de privilegiar a quantidade em lugar da qualidade perdurou até os anos 90. A Argentina sempre foi o maior produtor de vinhos fora da Europa, com um consumo per capita de 46 litros por ano. Mas era um exportador medíocre, seus vinhos não eram respeitados internacionalmente. 
Impressionado com a indústria californiana de vinhos, Nicolás Catena Zapata, professor visitante de economia, na Universidade de Berkeley, decidiu melhorar os produtos da velha Bodega Esmeralda, de sua família. Na sua volta a Mendoza, introduziu diversas modificações no sistema produtivo vigente: queria produzir vinhos finos de qualidade. Com a consultoria do experiente enólogo californiano Paul Hobbs, provocou uma revolução incrível que está transformando a Argentina: será, em breve, o maior produtor de vinhos de qualidade de todo o planeta (se a instabilidade política do país não atrapalhar…). Catena foi chamado de “Loco” por todos, mas como já sabemos, estava certo. 

A primeira observação de Hobbs foi que o sistema de condução das parreiras do tipo pérgola não era irrigado de forma adequada. Pediu que usassem menos água para que os frutos concentrassem mais açúcar, adotando o sistema de gotejamento. Novos parreirais são plantados acima de 1000 metros de altitude, em busca de um amadurecimento perfeito. 
Apesar de ter como missão produzir um Chardonnay de estilo californiano, surpreendeu-se com uma uva para ele desconhecida, a Malbec. Catena deu-lhe total liberdade para experimentar. Recebe 10 barris novos de carvalho francês da tanoaria Taraunsaud e começa a vinificar com técnicas nunca usadas naquela região. Um sucesso espetacular! A Malbec deixava de ser uma uva secundária. 
O Mito e seu vinho icônico 
Nicolas Catena tornou-se um dos personagens mais importantes do mundo do vinho. Um revolucionário, corajoso e inovador. Um Mito. Para vinificar suas joias, construiu uma vinícola em forma de pirâmide Asteca, orientada no terreno de tal forma que, em determinada hora do dia, sua superfície brilha como ouro. Seus vinhos sempre foram de qualidade indiscutível e seus métodos acabaram sendo adotados por todos que o chamavam de louco. 

O resultado mais significatvo e importante foi o estabelecimento de um novo padrão de vinhos: o Malbec Argentino, que não é uma tentativa de ser um vinho do Velho Mundo. Um produto de tipicidade única e que chamou a atenção para este país. Catena havia criado algo novo, uma fusão de estilos que incorporava, inclusive, o antigo padrão argentino. 
Somente em 1997, num excepcional ano e depois de vários enólogos e consultores, consentiu em dar seu nome a um de seus vinhos, como um coroamento de sua ousada aventura: 

Nicolás Catena Zapata 1997 

Um corte de Cabernet Sauvignon e Malbec, fora de série, elaborado unicamente em anos selecionados. A primeira vinificação foi testada exaustivamente, na Europa e nos EUA, em provas às cegas, sendo comparado com os famosos Chateau Latour, Haut Brion, Solaia, Caymus e Opus One. Classificou-se 4 vezes em primeiro lugar e 1 vez em segundo. O melhor vinho da América do Sul e, sem dúvida, um dos melhores do mundo. 
Robert Parker: 98 pontos (safra 07) 
Robert Parker: 97 pontos (06) 
Wine Spectator: 93 pontos (06) 
Robert Parker: 98 pontos (05) 
Robert Parker: 98+ pontos (04) / Wine Spectator: 95 pontos (04) 
Decanter: 5 Estrelas (04)
A safra de 2007 é composta por Cabernet Sauvignon (65%) e Malbec (35%). Utilizaram frutos dos vinhedos La Pirámide, a 940m, Domingo, a 1.130m, Adrianna, a 1.400m e Altamira, a 1.160m de altitude. As uvas, de cada vinhedo e variedade, foram vinificadas separadamente, com controle de temperatura e maturadas por 26 meses em barricas novas de carvalho francês. 
Com uma coloração violeta escura e intensa, oferece aromas de cerejas negras, chocolate escuro e alcaçuz, com notas de minerais, violetas, pimentas e ervas. No palato mostra um vinho muito estruturado e equilibrado, com marcantes sabores de frutas vermelhas e alguma mineralidade. Um final de boca vibrante, intenso e longo. Pode ser guardado por mais de 10 anos. Harmoniza com carnes e alta gastronomia. 
O Futuro 
Mendoza não é a única região que produz vinhos na Argentina, embora seja a mais importante. Salta e a Patagônia, entre outras, vêm se destacando e atraindo investimentos estrangeiros importantes. Na família Catena Zapata, a segunda geração já se destaca: a filha Laura Catena, tem sua própria vinícola a Luca enquanto seu irmão, Ernesto Catena, dirige a vinícola Tikal. Ambos produzem vinhos espetaculares e de muita personalidade. 
Na próxima coluna, vamos conhecer um vinho que faz frente a este. Seu produtor? Paul Hobbs… 

Dica da Semana: A uva Torrontés deve ser a nova sensação entre os brancos. Tipicamente argentina, cai muito bem neste verão brasileiro. 

Tahuantinsuyu Torrontés 2009 
Produtor: Tikal (Ernesto Catena) 
País: Argentina / Mendoza 
Esta esperada novidade de Ernesto Catena promete conquistar quem ainda tinha dúvidas do potencial da uva Torrontés. Elaborado em um estilo mais denso e menos alcóolico que a maioria dos vinhos da casta, mostra o perfil aromático típico da uva, com exuberantes notas exóticas e de frutas maduras. No palato é saboroso e fresco, com uma boa pegada. 
Combinações: Frutos de mar. Peixes brancos. Saladas.

Retomando o tema Grandes Vinhos – O Novo Mundo

Simbolicamente, vamos cruzar o Atlântico e iniciar uma jornada pelo continente americano. Esta segunda etapa vai abranger, também, África e Oceania. Antes de partir e para aproveitarmos bem esta aventura, são necessários alguns importantes esclarecimentos. A coluna de hoje é sobre isto. 
A dispersão das videiras 
Talvez tenha sido Cristovão Colombo quem trouxe as primeiras mudas para as Antilhas em sua viagem de descoberta em 1493. Mas foram os missionários que pregavam a fé cristã que as levaram a todos os países das Américas. O propósito era produzir um vinho de comunhão usado nos ritos religiosos. 

Colombo
No Brasil, coube a Martin Afonso de Souza introduzir as primeiras videiras na capitania de São Vicente em 1532. O primeiro vinho seria produzido por Brás Cubas, em Piratininga, no ano de 1551. 

Na maioria das vezes, estes empreendimentos não tiveram o resultado esperado. Diversos fatores contribuíram, desde o desconhecimento sobre as condições ideais de cultivo até o ataque por diversas pragas, até então inexistentes no continente Europeu. Como existiam uvas nativas, estas foram usadas, com algum sucesso, na produção destes vinhos simples. 
Aclimatação 
A Norte-América chegou a ser chamada de Vinholândia, pelos europeus, face ao enorme número de uvas autóctones encontradas. Vinhos seriam produzidos, regularmente, a partir de 1560, com as uvas locais. Mas o sabor não era, em nada, parecido ao que os colonizadores estavam acostumados. Em 1619 começam as primeiras tentativas sérias de adaptar as viti-viníferas europeias ao continente americano. Muitos problemas foram enfrentados e a solução ideal foi descoberta por acaso: um agricultor da Pensilvânia plantou uvas europeias no meio de um parreiral nativo (1683) dando origem a uma uva híbrida, por cruzamento natural, a Alexander, usada até hoje na produção comercial de vinhos. 
Filoxera e Lei Seca 
A partir desta descoberta acidental, a indústria vinícola na América floresceu rapidamente. Seguindo este modelo de uva híbrida, as videiras foram sendo distribuídas ao longo do continente. Os padres Franciscanos as levaram para a Califórnia onde estabeleceram a 1ª vinícola em 1769. Mas a qualidade do vinho ainda não era o esperado. Novas mudas europeias são trazidas para a costa oeste onde, finalmente, na Califórnia, começam a produzir bons frutos. 
Dois novos fatores iriam alterar de forma drástica este quadro e dar início a uma revolução que mudaria, para sempre, o mundo do vinho: a Filoxera e a Lei Seca nos EUA. 

A Filoxera é uma praga que ataca as raízes das parreiras. Originaria dos Estados Unidos, teria sido levada para a Europa nas mudas, norte-americanas, de uvas híbridas, nas últimas décadas do século XIX. O minúsculo pulgão se espalhou, rapidamente, dizimando os vinhedos europeus. Não havia solução: arrancavam-se as plantas e as queimavam, numa tentativa, desesperada, de evitar a propagação. Como as espécies do novo mundo eram imunes, gerou a única solução conhecida até o momento: replantar os vinhedos enxertando as uvas europeias em raízes vindas das Américas (tecnicamente, não existem mais pés-francos na Europa). 

A Proibição ou Lei Seca, que vigorou em território americano por 14 anos (1920 – 1933) produziu um desastre para a vinicultura local. Como não era mais um bom negócio, a maioria dos vinhedos foram erradicados e replantados com outras culturas. Mesmo depois de cair o veto à produção e consumo do álcool, a indústria vinícola estava quebrada, nada de qualidade seria produzido até a década de 60, quando surgem novos nomes neste cenário. 

O Vinho Moderno 
A recuperação da indústria vinícola norte-americana foi lenta e gradual, mas muito bem conduzida. Da Universidade de Davis, na Califórnia, que se tornaria um dos maiores centros de referência sobre a vinicultura, surgiriam as diversas técnicas que são empregadas, universalmente, no plantio de uvas e produção vinícola. O vinicultor americano transformou a arte de fabricar vinhos num negócio lucrativo. Isto mudaria tudo! 
Argentina e Chile 
A introdução das uvas viníferas nestes dois países se deu de forma semelhante. Entretanto, além do trabalho dos missionários religiosos, foi igualmente importante a introdução da cultura do vinho nas refeições, trazida pelos imigrantes europeus, principalmente italianos e espanhóis. 
A região de Mendoza, Argentina, começou a ser colonizada em 1553. O primeiro religioso a se estabelecer por lá trouxe mudas de uva. Exatamente como no norte, as primeiras experiências com castas europeias não frutificaram, mas rapidamente passaram a vinificar com a uva criolla, que resultava num vinho de sabor muito característico e que, até hoje, agrada ao paladar dos nossos Hermanos. 
Coube ao Chile a primazia de criar a primeira indústria de vinhos finos da América do Sul, em 1850, usando castas europeias nobres, algumas em pé franco, que haviam se adaptado perfeitamente ao clima e terreno junto a cordilheira dos Andes. Foram imigrantes franceses que escreveram esta parte da história. A ideia de vinhos varietais (uma só casta) surgiu ali. 
O que mudou e quem foram estas importantes pessoas? 
As técnicas adotadas no novo mundo foram abrangentes e influenciaram, definitivamente, a produção vinícola mundial. Na agricultura, estabeleceram parâmetros para a condução das videiras, observando a influência dos microclimas locais. Adotaram a irrigação por gotejamento, com excepcionais resultados inclusive na preservação do meio ambiente. As uvas do continente americano atingem um ponto de maturação que jamais será igualado no continente europeu, obtendo-se vinhos com surpreendente qualidade. Na área industrial, surgem técnicas e equipamentos que permitem a maceração e a fermentação com controle de temperatura, amadurecimento em barris de menor volume, uma enorme gama de testes e análises durante o processo e uma infinidade de equipamentos auxiliares. 
Entram em cena grandes vinhateiros, até então pouco conhecidos, como o russo radicado nos EUA, André Tchelitscheff, formado em enologia na França; Robert Mondavi o grande incentivador na busca por um vinho de melhor qualidade; Warren Winiarski que deixa de lado sua profissão de cientista político em Chicago para trabalhar e aprender na adega de Mondavi, até fundar sua própria vinícola. Uma decisão acertada: um de seus vinhos, o Stag´s Leap, derrotou os grandes vinhos franceses no famoso Julgamento de Paris. 
Mais recentemente, Paul Hobbs, um dos mais famosos “flying winemakers” (consultores internacionais) que, junto com Nicolas Catena, seria o responsável por introduzir as modernas técnicas, na Argentina, para produção de vinhos finos. Não existem vinhos icônicos como os do velho mundo, ainda. Mas há uma coleção de produtores que estão, sem nenhum favor, entre os melhores do mundo. Basta ver as notas dos principais críticos do setor. 
O mundo do vinho nunca mais foi o mesmo! 
Dica da Semana: Para começar bem o ano, vamos homenagear outro país produtor, o Uruguai. 
Rio de los Pájaros Merlot / Tannat 2008 
Produtor: Pisano /Uruguai 
Tinto saboroso, frutado e macio, elaborado com as castas Merlot e Tannat, a grande estrela do Uruguai. A Merlot, macia e redonda, ajuda a amaciar a tanicidade da Tannat. O bouquet é intenso e concentrado, com bastante fruta. Na boca, é macio, acessível e frutado, bem saboroso. Combina bem com massas, carnes e pizza.
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