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Querem mexer na minha taça de vinho!

Está em curso, nos grandes países do mundo, um movimento que pretende diminuir o consumo de bebidas alcoólicas, por diversos motivos: diminuição de riscos à saúde; segurança pública; aumento de impostos; questões religiosas e morais, etc… 

Isto sempre ocorre quando se juntam médicos, políticos, autoridades eclesiásticas, entre outros, para decidir a vida do cidadão alheio. Combinação explosiva que sempre resulta em projetos, como este, que visam principalmente dar destaque a pessoas que precisam se expor ao máximo para saírem do limbo do ostracismo, uma vez que não têm a competência necessária para subirem na vida sem a escada dos outros.

Vide o caso da nossa estranha “Lei Seca”, mais uma arapuca para arrecadar um extra para os combalidos cofres nacionais e fazendo a felicidade de fabricantes de bafômetros e outros equipamentos e do congressista que vai passar o resto de sua vida alardeando ser esta lei de sua autoria. Até a propaganda que enfatiza o sucesso destas blitzes (totalmente ilegais segundo a nossa Carta 
Magna – direito de ir e vir) é irreal: Salvamos tantas mil vidas!

O número informado é igual ao de infrações aplicadas. Para eles, seríamos todos criminosos e cometeríamos um assassinato a cada taça de vinho ou copo de outra bebida alcoólica.

Não há nem mesmo, por exemplo, um dispositivo para avaliar portadores de diabetes: os que estão em hipoglicemia testam positivo no bafômetro, mesmo se não tiverem consumido nenhuma bebida alcoólica. Há outras exceções não consideradas: medicação homeopática também testa positivo…

Absolutamente sem sentido!

A campanha francesa tem por objetivo sensibilizar os apreciadores de um bom vinho para o que eles chamam de “Beber com responsabilidade”. O lema é muito simpático:

“Le Vin. Je l’aime, je le respecte” (O vinho. Eu o amo e o respeito.)

Tudo se baseia na fórmula “2.3.4.0”, ou seja:

2 taças por dia para as mulheres;
3 taças por dia para os homens;
4 taças no máximo por dia;
0 taças num dia da semana.

Algo perfeitamente factível e até recomendável numa cultura onde o vinho faz parte da dieta básica.

O problema está na definição do tamanho da taça, 100 ml, e no teor alcoólico do vinho, 12%.

Levando-se em conta que os tamanhos padronizados nos restaurantes são taças de 120 ml ou 150 ml, e que vinhos de 12% já não são fáceis de encontrar, fica tudo parecendo uma campanha para inglês ver.

Falando neles, a Inglaterra não ficou atrás. Uma organização dita “de caridade”, a Drinkaware, propõe um sistema de pontos para saber se uma pessoa bebeu dentro da faixa considerada responsável ou não. Há até um calculador que pode ser usado no seu celular ou computador: 
https://www.drinkaware.co.uk/understand-your-drinking/unit-calculator

A recomendação deles é um máximo de 14 pontos por semana, com dois dias de abstenção.

A imagem a seguir dá uma ideia do que isto significa:

 

Observem que a taça inglesa contempla 175 ml, algo bem mais palatável. Os copos de cerveja são de 600 ml. O teor de álcool previsto é de 13%.

Neste caso, segundo o calculador, uma taça corresponde a 2,3 pontos.
Novamente há um contrassenso: novas regulamentações de licenciamento de bares e restaurantes ingleses (2014) preveem taças de 125 ml.

Então, qual o sentido desta história de pontos?

Deve ser para confundir o consumidor, muito mais habituados com os tradicionais tamanhos de 175 ml e 250 ml, que acabaram por influenciar na compra do jogo de taças para uso doméstico. As de maior tamanho são mais bonitas, mas também significam um consumo maior. Indiretamente, resulta em maiores gastos e maior arrecadação de impostos.

Esta coluna sobre vinhos não pretende fazer apologias a se devemos ou não consumir bebidas alcoólicas ou endossar novos grupos conservadores que pretendem introduzir um novo período de abstenção, uma neo-proibição, nos moldes da Lei Seca norte-americana dos anos 20 e 30, com suas horríveis consequências.

Mas somos inteiramente a favor da moderação!

Aprecie seu vinho com calma, saboreie cada gole, curta o momento e deixe as crises e outras maluquices em segundo plano.

Saúde e bons vinhos!


Vinho da Semana: vinhos rosados são uma boa pedida neste quente verão.

Hecht & Bannier Languedoc AOC Rosé 2013 – $$ – COMPRE AQUI
Este delicioso rosado é saboroso e fresco com muita fruta e um ótimo final de boca.
Harmoniza com aperitivos, massas leves, peixes e frutos do mar.

Quais os seus ritos ao comer ou beber?

Escrever uma coluna semanal sobre vinhos, mesmo para um apaixonado como este autor, pode ser um castigo. Algumas vezes não se consegue um tema interessante para apresentar aos leitores. Resta a opção de comentar este ou aquele produto, o que pode não ser do interesse de todos. Um dos caminhos para contornar estas crises de criatividade é ler muito sobre o tema e assuntos correlatos, quase sempre aparece alguma boa história.
 
Na carona daquelas pesquisas sobre as origens das videiras, descobriram que vinhos eram consumidos há muito mais tempo do que se imaginava. O interessante ficou por conta dos motivos de tal consumo: a água, naquela época, era contaminada, beber vinho era mais seguro e saudável! Mas imaginem o seguinte, o vinho não continha nenhum conservante e nem existia nenhuma forma de refrigeração, ou seja, em 2 ou 3 dias já teria se transformado em vinagre. Bebiam assim mesmo…
 
Outra pesquisa recente foi realizada em conjunto pelas Universidades de Harvard e a de Minnesota em Mineápolis. Os pesquisadores conseguiram demonstrar que determinados ritos que cumprimos antes de consumir este ou aquele alimento os tornam mais saborosos!
 
Do que estão falando?
 
De pequenos hábitos ou manias que estão tão enraizados no nosso dia a dia que se tornaram ritos. Por exemplo: para comer um daqueles biscoitos recheados, que lembram um pequeno sanduíche, o rito padrão é separar as metades, comer o recheio primeiro e depois os dois biscoitinhos. Não conheço ninguém que nunca fez isto.
 
 
Outro exemplo é como consumir uma bela fatia de pizza? Com as mãos, dobrando-a para evitar cair gotas de gordura sobre a roupa ou num prato, usando talheres? (garanto de da primeira forma fica muito melhor!).
 
 
Não podemos esquecer a turma do café da manhã, um fumegante café com leite, pão francês coberto com manteiga e aquela mergulhada na xícara antes de comer. Até o dia fica melhor!
 
 
Um dos experimentos realizados no estudo envolvia uma barra de chocolate. Os voluntários foram divididos em grupos, o primeiro recebeu instruções específicas, algo como dividir a barra ao meio, escolher uma metade, remover o papel laminado e degustar.Ao outro grupo foi sugerido que simplesmente desembrulhassem a barra e a consumissem.
 
Analisadas as impressões descritas, ficou claro que o grupo que cumpriu o ritual de dividir, desembrulhar e comer teve um grau de satisfação muito maior que o outro grupo.
 
Não sou um chocólatra, mas quando ganho uma boa barra de chocolate belga ou suíço me dou o trabalho de dividi-la naqueles quadradinhos e como um por um. Delícia!
 
A pesquisa chegou aos ritos do vinho também, mas deixou a desejar. Formaram dois grupos, um removia a cápsula e sacava a rolha enquanto o outro grupo observava.
 
O resultado foi um pouco decepcionante, apenas o 1º grupo notou alguma satisfação maior. Acho que faltou envolverem pessoas mais ligadas a este universo. Não há ritualística maior do que escolher, abrir e degustar uma boa garrafa. Vamos aos fatos.
 
Escolher o vinho é o primeiro rito. Seja através de um catálogo em que se perdem horas analisando descrição por descrição, ou numa loja especializada onde rótulos são comparados, garrafas são manuseadas e discutidas de forma intensa e prazerosa com os vendedores. Uma boa crítica em revistas pode ser fonte para uma ritualística caçada em busca da ‘presa’ almejada.
 
O segundo passo é múltiplo: armazenar e decidir quando e onde consumir. As possibilidades são inúmeras, tantas quanto as desculpas para adiar a data e continuar curtindo a ideia. (já aconteceu de perder um vinho por conta desta busca da perfeição…).
 
Decidido o dia, a hora, o local e a companhia, chega a vez de escolher as taças. Garanto que os leitores estão achando graça, mas um bom enófilo é capaz de ter formatos de taça e qualidade de cristais específicos para cada tipo de vinho. A loucura não para por aqui, as taças devem estar imaculadamente limpas, o que envolve água quente, álcool e panos que não soltam fiapos…
 
 
Vamos abrir a garrafa. Parece simples não? É só pegar o saca-rolhas e – alto lá! Não é qualquer saca-rolhas não, no mínimo um modelo Sommelier ou um Rabbit, senão estraga a rolha, pode deixar resíduos indesejáveis, etc. Se for uma garrafa de mais idade, deve ser utilizado um de lâminas duplas. Decantar ou não, aerar ou não, harmonizar e finalmente degustar.
 
 
Com todo este cerimonial, não há vinho que não fique ótimo!
 
Quais os seus ritos? Conte para agente, pode ser um bom assunto para as próximas colunas. Até lá fiquem com a…

Dica da Semana: um vinho para beber sem frescura. 
 
Urban Uco Tempranillo 

Elaborado na Argentina com a casta espanhola mais emblemática, o Urban Uco Tempranillo é macio e repleto de notas de fruta madura.

A safra de 2008 arrematou 89 pontos de Robert Parker que se seduziu pelo “cativante bouquet” do vinho e seu “belo apelo varietal”.
Uma das mais saborosas pechinchas da região do Uco, com a prestigiosa assinatura de O.Fournier.

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