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Austrália e Nova Zelândia – 2ª parte

Terra da Inovação Vinícola

Um pouco mais sobre a Austrália 
Aproveitando o tema Inovação, o nosso passeio pela Austrália recebe a importante contribuição de dois leitores. O primeiro nos questionou sobre a existência ou não de vinhos australianos numa relação dos dez melhores (top ten). Para responder esta pergunta, teríamos que estabelecer um importante parâmetro: que lista é esta e quem a elaborou? 
Não existe uma lista única. Existem várias listas de melhores vinhos elaboradas por críticos famosos, sommeliers respeitados, publicações especializadas, associações de consumidores, enófilos e até por confrarias informais. Baseados num dos poucos consensos neste infinito universo, vamos usar a classificação de Robert Parker, sem dúvida um líder entre os formadores de opinião. Na sua relação de vinhos agraciados com 100 pontos, encontramos 5 vinhos de 3 produtores diferentes. O Grange safra 1976 apresentado na semana passada é um deles. 
Vamos conhecer outro vinho extraordinário e que pode ser definido como o oposto do anterior. Recebeu a nota máxima em cinco safras, 96, 98, 2001, 2002 e 2004, o que demonstra uma grande regularidade: Chris Ringland Shiraz. 

garrafas de 1996 e 2007

Um vinho de autor surpreendente, produzido por uma minúscula vinícola, bem ao estilo “garagiste” como os franceses denominam aqueles produtores que desafiam os grandes grupos, sem compromissos, preocupados apenas em produzir com ótima qualidade. Talvez seja esta a grande diferença: em lugar de muita tecnologia e processos industriais, muito trabalho manual, dedicação e uma boa dose de inspiração artística. 
O proprietário e enólogo Chris Ringland dispõe de aproximadamente 4 hectares de vinhas pré-filoxera com mais de 100 anos de idade, na região de Barossa. Trabalhou por mais de dez anos na recuperação do parreiral, limpando, podando e replantando os pés improdutivos com repiques das plantas melhores. Acredita que estas videiras anciãs por estarem tão habituadas a este micro ambiente são capazes de produzir os melhores frutos e, por extensão, os melhores vinhos. 

Ringland é o pequeno produtor australiano que recebe os mais calorosos elogios da crítica especializada. Apesar de produzir 1000 garrafas por ano, logo chamou a atenção de Parker que lhe concedeu 100 pontos na primeira safra que degustou (1996). Rapidamente, os preços no mercado australiano dispararam e o vinho tornou-se caro e raro. 

Na sua produção há diversos aspectos fora do comum, um deles é que os barris de amadurecimento nunca são completamente cheios. Este espaço, segundo o produtor, permite uma pequena evaporação que aumenta a concentração do vinho. Após 40 meses, em média, são engarrafados sem filtração ou clarificação. 
Notas de degustação da safra 2004 
Esta foi outra safra celebrada. Amadurecido por 42 meses em barricas novas de carvalho francês, apresenta uma coloração quase negra. Oferece aromas terrosos, grafite, café expresso, cassis e mirtilo numa densa complexidade. No palato é um vinho jovem com diversas camadas de frutas suculentas, um equilíbrio impecável (taninos, acidez) e um gigantesco potencial de guarda. O único defeito deste fantástico vinho é a sua acanhada produção e os preços exorbitantes pelas poucas garrafas à venda. Muitos especialistas o colocam lado a lado com os não menos famosos vinhos de Guigal e da Screaming Eagle. Ao longo das 21 safras de sua existência, seu rótulo traz algumas variações de nome: Three Rivers, CR, Ebenezer Block, R Wines, entre outros. 
Dica da Semana: uma indicação do segundo colaborador desta semana que passou por uma boa experiência com este vinho. 

Banrock Cabernet Sauvignon – 2008 
Produtor: Banrock Station 
País: Austrália / Região Sul 
Wine Spectator: 86 pontos 
Envelhecido por 3 meses em barris de carvalho (França e USA), tem cor vermelho púrpuro intenso. Aromas de frutas silvestres com toques de baunilha. Encorpado, com sabores de frutas silvestres, final longo e taninos suaves. Tempo de guarda de até 3 anos.

Comentário do Leitor: o vinho é excelente. Combinou maravilhosamente com o cordeiro e nos deixou com gosto de quero mais… Excelente relação custo x benefício 

Outros vinhos australianos com 100 pontos Parker: Greencock Creek – um Cabernet e dois Shiraz diferentes. 
Colaboraram: Sandra Rezende (PA) e Luiz Augusto (AC)

Austrália e Nova Zelândia – 1ª parte

Terra da Inovação Vinícola

Austrália 
Atualmente é o 6º maior produtor de vinhos do planeta e o 4º maior exportador, com cerca de 760 milhões de litros/ano, o que contribui com respeitáveis 5,5 bilhões de dólares na sua economia. Nada mau para um país cuja primeira tentativa nesta área foi um redundante fracasso. As primeiras mudas foram trazidas da África do Sul, em 1778, para a colônia penal de Nova Gales do Sul, por ordens do Governador Arthur Phillip. 

Apesar do insucesso inicial, alguns colonos insistiram e acabaram produzindo vinhos para consumo doméstico por volta de 1820. Pouco a pouco foram sendo introduzidas novas variedades viníferas buscando melhorar a qualidade do produto final. 
Em 1873, durante a exposição de Viena, um produto australiano foi degustado às cegas, por juízes franceses, que o elogiaram. Infelizmente, quando foi revelada a sua procedência, rapidamente declararam que haviam se enganado: nunca (naquela época) poderia haver um vinho melhor que os franceses. Mais tarde, em outros concursos, foram comparados com os melhores bordaleses e, seguidas vezes, considerados iguais ou superiores. 
Pouco depois, no ano de 1875, a Filoxera devastou os vinhedos e a produção vinícola praticamente terminou. Nas décadas seguintes, até o final de 1970, era produzido basicamente um tipo de vinho doce fortificado, muito ao gosto do consumidor local. Pouco a pouco a indústria foi se aprimorando, sofisticando e ganhando respeito internacional. As principais castas viníferas foram replantadas, novas áreas exploradas e com muita pesquisa e experimentação, resultou no quadro atual: a Austrália é um importante produtor. Seus vitivinicultores são considerados os grandes inovadores neste setor, sendo pioneiros em diversos aspectos da vinificação e da comercialização: tampas de rosca e embalagens descartáveis são marcas registradas. 
Curiosidade: não existiam uvas nativas no país. Todas as variedades viníferas foram importadas e aclimatadas. A uva Syrah, localmente denominada Shiraz é a grande estrela. 
Regiões Vinícolas 

O mapa acima mostra as principais regiões produtoras. Destacam-se o sul da Austrália (SA) e Nova Gales do Sul (NSW). As subr-regiões mais famosas são Barossa Valley, Adelaide Hills, McLaren Vale e Coonawarra, denominações que devem constar dos rótulos, em consonância com a legislação simples e objetiva que rege a produção vinícola. 
Introduzido em 1994, o sistema de indicações geográficas distingue as fronteiras estaduais e regionais. São os GI que devem seguir uma regra denominada “85%”, ou seja, se um rótulo lista uma safra, região ou cepa, ele deve conter 85% do que é declarado. As divisões atuais são: 

SEA – abreviatura de South East Austrália (Sudoeste), abrangendo quase todos os estados produtores; 
State – indica o Estado em que o vinho é produzido (WA, As, NSW, etc.); 
Zone – área produtora; 
Region – subzona que abrange uma área mínima de 5 vinhedos com 5ha, de diferentes proprietários, com produção em torno de 500 toneladas de uvas. 

Principais Produtores 
Um importante traço cultural divide os produtores em dois grupos. O mais importante, do ponto de vista comercial, é formado pelos cinco grandes: Southcorp Wines, Beringer Blass, McGuigan Simeon Wines, Hardy Wine Company e Orlando Wynddham. Respondem por 50% do mercado australiano e produzem de tudo, até mesmo os melhores vinhos do país. São considerados como grandes corporações e tem ambições compatíveis com esta posição. 
O segundo grupo é composto pelas vinícolas de médio porte e familiares. É o alvo predileto, para aquisições, do grupo anterior. Mas há grandes joias por aqui! 
A marca mais importante do país, Penfolds, pertence à Beringer Blass. Não há, no mundo, uma vinícola como ela. Produz desde vinhos baratíssimos como o Rawson Retreat até o maior ícone da vinicultura local o famoso Grange, que será apresentado a seguir. 
Muito interessante é a origem desta poderosa empresa, que começou familiar pelas mãos do médico Dr. Christopher Rawson Penfold, por volta de 1844. Plantou, com fins medicinais, a uva Grenache no sítio de sua família o “The Grange”. Acreditava no valor terapêutico do vinho e o receitava como tônico a seus pacientes. Após sua morte, seus descendentes deram continuidade às suas ideias, ampliando os vinhedos e construindo uma vinícola em 1911. 

Penfolds Grange – o grande ícone

Até 1989 agregava-se a palavra Hermitage ao seu nome para que fosse identificado com os vinhos franceses homônimos. Vinificado desde 1951 é considerado como o mais importante vinho australiano. Obtido a partir da casta Shiraz, pode receber, eventualmente uma pequena parcela de Cabernet Sauvignon. Embora a ideia original fosse criar um vinho que se comparasse em qualidade e longevidade ao Bordalês, por força de sua principal uva, é mais próximo aos vinhos da região do Rhone. 

A excepcional safra de 1955 ganhou mais de 50 medalhas de ouro em diversos concursos internacionais. A de 1971 venceu a Olimpíada do Vinho; o de 1990 foi eleito o melhor vinho da ano pela respeitada Wine Spectator. Uma nova análise em 1998, da mesma safra, obteve 99 pontos dos críticos. 
Seu método de produção é o oposto da maioria dos grandes vinhos: as uvas são colhidas em vários pontos e não existem duas safras com a mesma composição. A quantidade produzida varia ano a ano, mesmo assim, tem um estilo próprio e facilmente identificável. 
Notas de Degustação safra 1971: envelhecido por 18 meses em carvalho americano, apresenta aromas de frutas e terrosos. Seus taninos são suaves e se mantém firmes ao longo dos anos. Um final de boca surpreendente para um vinho de mais de 35 anos. 

Dica da Semana: 

Diamond Shiraz 2008 
Produtor: Rosemount 
País: Austrália / McLaren Vale 
Uva: 100% Shiraz 
Vinho típico australiano, mostra muita fruta madura com incrível maciez e um elegante toque de madeira. Elaborado com 100% da variedade Syrah do Rhône, que se adaptou estupendamente na Austrália. É um vinho muito prazeroso e que agrada a praticamente todos os paladares.

Uruguai: patinho feio ou aposta no futuro?

Retomando nosso passeio pelos países produtores, vamos conhecer os deliciosos vinhos uruguaios. Quarto maior produtor sul americano, vinificam desde 1870 quando o imigrante basco, Don Pascual Harriague, plantou as primeiras mudas. Durante muitos anos, o principal produto eram os vinhos simples obtidos a partir da uva Isabel, não vinífera, vendidos em garrafões. 

A partir de 1980 começou uma grande revolução neste setor que mudaria o perfil do vinho uruguaio: grandes vinícolas iniciam a produção de vinhos finos, de alta qualidade. Vale a pena conhecer este processo que, na verdade, aproveitou uma boa base instalada como a Escola de Agronomia (1906), a Escola Industrial de Enologia (1940), e o Sistema de Controle de Pragas (1957) – ao contrário de Chile e Argentina, a Filoxera fez grandes estragos no país. 
O passo decisivo foi a criação, em 1987, do Instituto de Vinhos do Uruguai, com objetivos simples e metas que todos os produtores podiam alcançar: 
a) difusão e promoção dos vinhos no exterior; 
b) aumento da produção de vinhos de qualidade; 
c) promoção do turismo enológico. 
Criou um sistema de classificação muito simples e extremamente efetivo, sendo considerado, por muitos, uma dos mais perfeitos: duas categorias apenas: 

  • Vino de calidad preferente (VCP) – deve ser obtido obrigatoriamente a partir de uvas viníferas e só podem ser comercializados em garrafas de 750 ml ou menores; 
  • Vino común (VC), ou tradicional vinho de mesa vendido em garrafões, tetra pack e embalagens similares. Em geral um vinho rosado. Os vinhos não podem receber nomes estrangeiros. 

Com estas regras simples, a produção vinícola cresceu de forma segura atingindo as metas propostas. São mais de 100.000 hectares de vinhedos plantados com Tannat (36%), Merlot (10%), Chardonnay (7%), Cabernet Sauvignon (6%), Sauvignon Blanc (6%), Cabernet Franc (4%) além das variedades não viníferas para produção do vinho comum. Existem 270 vinícolas, muitas já se destacando no cenário internacional. Todas com uma excelente relação qualidade x preço nos seus produtos. 
Refletindo sua própria história de lutas e conquistas para se tornarem um país independente, os produtores uruguaios enfrentaram uma série de fatores adversos para atingirem o nível de qualidade de hoje. Uma pergunta comum é saber o que os diferenciam da Argentina e do Chile: o clima é semelhante, geograficamente estão no mesmo paralelo de outras regiões produtoras, a cultura de consumo de vinho se equivale. Perdem, apenas, as defesas naturais proporcionadas pelos Andes, mas compensam com trabalho sério e dedicado, o que chamou a atenção dos principais consultores internacionais que já estão atuando na região. 

As principais empresas e seus vinhos de ponta 
Os vinhos do Uruguai têm personalidade própria, não pretendendo ser isto ou aquilo, o que os tornam únicos. Quase sempre baseados na uva Tannat, conhecida localmente como Harriague, de origem europeia e perfeitamente adaptada ao terroir local. Muito tânica e de complexa vinificação, produz vinhos de cor intensa e muito encorpados, com aromas herbais e frutas negras. Bem vinificado, seus taninos são aveludados e se presta a cortes com outras uvas como Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Syrah. 

Destacam-se as vinícolas Pisano, Bouza, Juanicó, Filgueira e J. Carrau, que é considerada a primeira a produzir vinhos finos. Estabelecida desde 1930, quando plantaram seus primeiros vinhedos, passou por várias fases, tendo inclusive produzido bons vinhos no Brasil, entre eles o conhecido Chateau La Cave. Em 1976 iniciaram um projeto de vinhos de alto nível capazes de competir com os melhores do mundo. Fundaram a Vinos Finos Juan Carrau, plantando novos vinhedos na região de Rivera, junto à fronteira com o Brasil, além das plantações existentes em Canelones, próximo à capital Montevidéu. 

Um dos seus vinhos mais conhecidos é o AMAT, elaborado com 100% de Tannat dos vinhedos em Cerro Chapéu, Rivera. Colhidas e selecionadas manualmente, o mosto é fermentado em tanques abertos com remonta manual evitando-se qualquer tipo de bombeamento mecânico. Amadurecido por 20 meses em barris novos de carvalho francês e americano (50% e 50%) é engarrafado sem filtração e descansa por 1 ano antes da comercialização. 

Notas de Degustação:coloração intensa e muito encorpado. Aromas concentrados de frutas vermelhas, ameixa seca e alcaçuz. A madeira aparece em discretas notas de coco e tabaco, domando os taninos que são finos e aveludados o que se traduz em grande elegância e longevidade. Um vinho para ser guardado e apreciado no futuro. Potente, é ideal para acompanhar assados, queijos fortes, embutidos, etc. Recebeu diversos prêmios internacionais. O mais importante foi a medalha de prata na difícil competição International Wine Challenge de 2003, com a safra 1999. 

Como se isto tudo não bastasse, tem uma excelente relação custo x benefício. Na Zahil, seu importador exclusivo:http://www.zahilrj.com.br/vinhos/uruguai/678.aspx Custa menos de R$ 150,00 (dados de 2012). Vale cada centavo! 

Dica da Semana: Para começar a gostar e entender os segredos destes deliciosos vinhos. 

Las Brujas Tannat Reserva 
Safra: 2009 
Produtor: Gimenez Mendez 
Região: Las Brujas, Canelones. 
Uva: 100% Tannat 
Envelhecimento: 3 meses em carvalho americano 
Vinho tinto uruguaio. Excelente equilíbrio entre a acidez, a fruta e os taninos. Sua coloração é vermelha escura com reflexos pretos. Um vinho com estilo, equilibrado e estruturado. Sabores que lembram marmelada, ameixas pretas e que preenchem o paladar. Ótimo acompanhamento para carnes de caça e carnes vermelhas bastante condimentadas.

Bordeaux – Um ícone e outras considerações

Qualquer um dos vinhos classificados como 1º ou 2º Crus seriam excelentes representantes da vinicultura de Bordeaux. Para encerrar esta série, escolhemos o que acreditamos ser o mais icônico produto desta região, rivalizando em fama e carisma com o Romanée–Conti da Borgonha: Château Pétrus. 

Sua origem começa no século 18 pelas mãos da família Arnaud que possuía um pequeno vinhedo de 7 hectares. O primeiro registro de uma safra foi em 1837. Na exposição internacional de Paris de 1878, ganhou a medalha de ouro e a distinção de ser o primeiro vinho da região do Pomerol a receber este prêmio, podendo equiparar seu preço aos melhores do mercado naquela época. 

Nos primórdios do século XX, os Arnaud transformam sua propriedade numa sociedade de capital aberto, vendendo ações. Madame Loubat, dona de um hotel na cidade de Libourne se torna um dos maiores compradores, num investimento que a transformaria, em 1949, na proprietária do Château. Sua atuação foi decisiva em várias fases desta vinícola. Para vender a primeira grande safra do pós-guerra em 1945, contrata o negociante Jean-Pierre Moueix, que recebe direitos exclusivos da comercialização 

Esta nova parceria se mostrou muito acertada. Por um lado, Mme. Loubat foi uma vigorosa vinhateira que se dedicava com afinco e disciplina em manter e melhorar a qualidade de seus vinhos, buscando alcançar o preço dos grandes Châteaus de então, enquanto Moueix se encarregava de abrir mercados internacionais, entre eles os Estados Unidos e a Inglaterra: este foi o vinho servido no casamento do Príncipe Philip com a Princesa Elizabeth em 1947. Uma caixa de Pétrus foi o presente da vinícola para a coroação da Rainha em 1953. 
Após o rigoroso inverno de 1956, 2/3 dos vinhedos do Pétrus haviam sido dizimados pela geada. Mme. Loubat, numa decisão muito arriscada, decidiu não replantar nenhuma das vinhas, mas recuperá-las através de enxertia nas raízes sobreviventes, algo nunca tentado antes na região. Com isto, preservou a qualidade de suas uvas. Após sua morte em 1961, a propriedade foi herdada por duas sobrinhas e uma cota foi deixada, em testamento, para Moueix que se tornaria sócio. Pouco a pouco comprou a parte das herdeiras e passou a controlar todo o processo. 
A força do Pétrus 
Foi o trabalho de Moueix que elevou este vinho ao status que mantém até hoje. Com uma divulgação excelente, ganhou clientes como Aristóteles Onassis que o consumia na sua mesa cativa no famoso Le Pavillon de Nova York. Pedir um Pétrus sinaliza não só o conhecedor de vinhos, mas aquele capaz de compreender o universo vinícola. 
Os vinhos da região do Pomerol nunca foram classificados como os do Medoc ou St. Emilion, o que torna a fama do Pétrus num feito extraordinário: foi obtida por consenso. Junto com o Château Le Pin são os vinhos mais caros desta denominação. 

Vários aspectos chamam a atenção neste vinho. Ao contrário do que se imagina, não é produzido com a rainha Cabernet Sauvignon, mas com a nobre Merlot, quase sempre sem a companhia de nenhuma outra uva ou uma pequena parcela de Cabernet Franc, no máximo. Tecnicamente, não chega a ser um corte Bordalês estando mais próximo de um varietal. Seus métodos de produção são extremamente rigorosos e não é raro o descarte de parte da produção que não atinge os padrões exigidos (o Château não produz um segundo vinho). Dos atuais 11,4 hectares de vinhedos são produzidos, nos melhores anos, 2500 caixas o que o torna um vinho raro, para poucos. Mantém uma regularidade impressionante, tendo sido elogiado na maioria de suas safras. Parker, nosso crítico favorito, premiou as safras de 21, 29, 47, 61, 89, 90, 2000 e 2009 com 100 pontos. Precisamos falar mais? 
Os atuais proprietários fazem um divertido comentário sobre o nome deste vinho: Não deveria ser chamado de Château, não havia nenhum na propriedade, apenas uma modesta casa de fazenda decorada com os símbolos e as chaves de São Pedro. 
Notas de degustação 

“O Petrus 2009 me lembra do que em 1982 tinha gosto em uma idade similar. Taninos doces, juntamente com amora extraordinariamente pura e frutas cereja preta misturadas com notas de alcaçuz e trufas são encontradas neste ano de 2009″… – Robert Parker. 

Este vinho exige muita pesquisa para se adquirir um exemplar no Brasil. O preço médio está em torno de R$ 10.000,00 por garrafa, podendo ser duas ou três vezes mais alto dependendo da safra. 
1982 a outra grande safra de Bordeaux 
Foram há exatos 30 anos! A safra de 2009 ainda tem muito terreno pela frente para podermos afirmar que é uma safra melhor; os prognósticos são ótimos. Mas vamos fazer uma pequena viagem no tempo e olhar para aquele ano. Houve uma mudança inacreditável… 
Antigamente, vinhos respeitados eram os de Bordeaux ou da Bourgogne, nada mais. Champanhes sempre andaram com suas próprias pernas, vinhos do Rhône eram vendidos como vinhos regionais. Da Itália, apenas as garrafas empalhadas de Chianti se destacavam, Barolo era alguma garrafa velha e empoeirada esquecida no fundo de alguma adega. Na Califórnia consumia-se um estranho Zinfandel branco… 
A excepcional safra de Bordeaux (82) provocaria uma enxurrada de críticas positivas, Parker encabeçando o grupo, que a mídia não podia mais ignorar. O mundo do vinho deixava de ser um círculo restrito e abria as suas portas para que novas gerações de consumidores experimentassem suas maravilhas. A globalização do vinho se torna um fenômeno irreversível, para melhor ou para pior. 
Se hoje encontramos as mais diversas vinificações, algumas exóticas e deliciosas, vindas dos quatro cantos do planeta, devemos a esta safra de 1982. Fica a dúvida: será que a de 2009 provocará novas mudanças? 

Dica da Semana: um bom Bordeaux que não é um Château. 

L’Orangerie de Carignan

Produtor: Château de Carignan 
País: França/Bordeaux
Uva: Cabernet Franc (20%), Cabernet Sauvignon (20%), Merlot (60%) 

Coloração vermelho rubi com reflexos púrpura, aroma de frutas negras e vermelhas maduras, intensas notas de especiarias. Em boca apresenta taninos maduros e integrados, notas de frutas negras e tostado. Final longo e persistente

Bordeaux – Os Monstros Sagrados

Entender as diversas nuances da vitivinicultura bordalesa é quase uma arte. São diversas regiões, cada uma com características próprias, uvas predominantes, técnicas de produção que variam de porta em porta e até mesmo um complexo sistema de comercialização que envolve a figura de um “Courtier” (literalmente – cortesão) uma espécie de corretor enológico: os produtores raramente vendem diretamente ao consumidor final envolvendo, quase sempre, um “Negociant” que vai cuidar da venda final do produto, seja no mercado interno ou externo. Esta negociação, que pode incluir uma safra futura, é realizada com ajuda do mencionado Courtier, remunerado com 2% do valor do negócio. Nada mal! 
Vamos apresentar uma simplificação do que é importante em Bordeaux. 
A Geografia 

Tudo gira em torno de três rios, o Dordogone e o Garone que se juntam para formar o Gironde. As áreas vinícolas estão separadas por eles: margem esquerda e margem direita do Gironde e Entre-Deux-Mers a região limitada pelos outros dois rios. O mapa ajuda a visualizar esta divisão. 
Margem Esquerda – aqui estão situadas, além da cidade de Bordéus, as seguintes regiões e suas subdivisões: 
Medoc (Bas Medoc e Haut Medoc) onde se destacam as comunas de St.-Estèphe, Pauillac, Margaux e St.-Julien 
Graves – Pessac-Léognan 
Sauternes e Barsac (vinhos doces) 
Cérons 
Aqui brilha a uva Cabernet Sauvignon que se adaptou ao solo de cascalhos (graves) desta área. 
Margem Direita – aqui estão situadas as seguintes regiões e suas subdivisões: 
Saint-Émilion 
Pomerol 
Lalande-de-Pomerol 
Fronsac e Canon-Fronsac 
Côtes de Blaye 
As castas predominantes são a Merlot e a Cabernet Franc perfeitamente adaptadas aos solos de calcário, argila e areia desta região. Vale a pena ressaltar que tanto em St. Emilion como em Pomerol estão os terrenos mais valorizados da França, com preços estratosféricos por hectare. 
Entre-Deux-Mers– nesta região são produzidos os vinhos mais simples de Bordeaux, dentro da AOC (denominação de origem controlada). Existem oito sub-regiões: 
– Loupiac 
– Saint-Croix-Du-Mont 
– Saint-Foix-Bordeaux 
– Cadillac 
– Côtes de Bordeaux St.-Macaire 
– Premieres Côtes de Bordeaux 
– Graves de Vayres 
– Entre-Deux-Mers – brancos secos de excelente qualidade 
As diversas classificações e os Monstros Sagrados 
Em 1855 surgiu a Classificação Oficial do Vinho Bordalês elaborada a partir do preço de venda. Contemplou a região do Medoc. A partir da década de 1950, Graves e Saint Emilion adotaram suas classificações. Curiosamente, a região de Pomerol, onde são produzidos os vinhos mais valorizados, nunca recebeu uma classificação oficial. 
Esta divisão criou os grandes vinhos, que estamos chamando de Monstros Sagrados: 
1er Cru do Medoc 

– Château Lafite-Rothschild 
– Château Margaux 

– Château Latour (100 pts 2009) 
– Château Mouton Rothschild 

1er Cru de Graves 
– Château Haut-Brion (Pessac–Léognan) (100 pts 2009) 

1er Cru A de Saint Emilion 
– Château Ausone 
– Château Cheval Blanc 

Pomerol 
– Château Pétrus (100 pts 2009) 
– Château Le Pin (100 pts 2009) 

Observações importantes: 
1 – esta classificação engloba os vinhos tintos; 
2 – existe uma classificação exclusiva para os brancos; 
Apesar de serem todos vinhos maravilhosos, não são os únicos vinhos de Bordeaux que merecem respeito e admiração. A melhor prova disto são as notas 100 obtidas pela safra de 2009. Naquela relação já apresentada, aparecem apenas quatro dos grandes vinhos, o que demonstra que a classificação de 1855 está ultrapassada. Os demais são vinhos classificados como Deuxième Cru, ou Grand Cru Classe, existindo um Cinquième Cru, entre eles, o fabuloso Pontet Canet de Pauillac. 
Na próxima coluna vamos apresentar o Château Petrus, um ícone francês tão importante quanto o Romanée-Conti e um dos vinhos mais falsificados do mundo. As fotos a seguir foram obtidas no que poderíamos chamar de laboratório de um falsário recentemente encarcerado. Elas falam por si… 

Dica da Semana: um Bordeaux branco, para variar 

Château Timberlay Branco 
País: França / Bordeaux 
Uva: Uva: Semillon, Sauvignon Blanc 
Teor alcoólico: 12% 
Um vinho que se destaca por seus intensos aromas cítricos, de peras e maçãs, com notas florais. Delicado e fresco, com ótima persistência. Acompanhamento perfeito para peixes e frutos do mar.

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