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Ainda as “Castas Nobres”

Parece que a coluna da semana passada causou mais confusão do que esclarecimentos. Muitos leitores questionaram se existiriam vinhos de qualidade produzidos com castas “não nobres”, uma preocupação válida, mas muito distante do objetivo do texto anterior a este, que pretendia, apenas, discutir a razão do adjetivo Nobre.
 
Para que todos fiquem tranquilos, existem vinhos de alta qualidade produzidos, até mesmo, com castas consideradas como “obscuras”. Também existem vinhos de péssima qualidade, as zurrapas, produzidos com as mais famosas castas do mundo.
 
Conclusão: a qualidade de um vinho não pode ser determinada só pelo tipo de uva que será utilizada na sua produção. Diversos outros fatores têm um peso mais significativo na qualidade final: o binômio terreno e clima; os métodos de vinificação e amadurecimento e até mesmo as técnicas de engarrafamento e selagem da garrafa. A qualidade final de um vinho dependerá, sempre, de um conjunto de fatores.
 
Para auxiliar os leitores na compreensão das razões pelas quais classificaram determinadas castas como superiores às demais, foi sugerido que se pesquisasse em relações de melhores vinhos, quais as varietais empregadas que se destacavam.
 
Na semana passada, um dos sites de maior importância para quem é realmente aficionado e tem recursos financeiros para investir em vinhos de alta qualidade, publicou a relação dos vinhos mais procurados. O site em questão, o Wine Searcher (http://www.wine-searcher.com/) tem como principal objetivo encontrar vinhos raros que são colocados à venda em diversas lojas ou casas de leilão, por todo o planeta. Vamos comentar, em grupos de 10 vinhos, os 50 primeiros apresentando as principais características.
 
1 a 10
 
1. Chateau Margaux, Margaux, Corte Bordalês;
2. Domaines Barons de Rothschild Chateau Lafite Rothschild, Pauillac, Corte Bordalês;
3. Baron Philippe de Rothschild Chateau Mouton Rothschild, Pauillac, Corte Bordalês;
4. Moet & Chandon Dom Perignon Brut, Champagne;
5. Petrus, Pomerol, Corte Bordalês, na verdade quase 100% Merlot;
6. Chateau Latour, Pauillac, Corte Bordalês;
7. Chateau Cos d’Estournel, Saint-Estephe, Corte Bordalês;
8. Chateau d’Yquem, Sauternes, Vinho de Sobremesa;
9. Chateau Haut-Brion, Pessac-Leognan, Corte Bordalês;
10. Opus One, Napa Valley, EUA, Corte Bordalês.
 
Como era de se esperar, completo domínio dos vinhos de Bordeaux, cortes obtidos a partir de Cabernet Sauvignon e Merlot, castas nobres. Três interessantes destaques, um Sauternes obtido a partir da Casta Semillon que nunca foi classificada como nobre, um Champagne vinificado a partir de Chardonnay e Pinot Noir, ambas nobres, e um vinho norte americano produzido ao estilo dos vinhos de Bordeaux.
 
11 a 20
 
11. Domaine de la Romanée-Conti Romanée-Conti Grand Cru, Côte de Nuits, Borgonha;
12. Chateau Lynch-Bages, Pauillac, Corte Bordalês;
13. Tenuta San Guido Sassicaia Bolgheri, Super Toscano;
14. Armand de Brignac Ace of Spades Gold Brut, Champagne;
15. Penfolds Grange Bin 95, Shiraz Australiano;
16. Chateau Cheval Blanc, Saint-Emilion Grand Cru, Corte Bordalês;
17. Chateau Pontet-Canet, Pauillac, Corte Bordalês;
18. Louis Roederer Cristal Brut Millesime, Champagne;
19. Chateau Montrose, Saint-Estephe, Corte Bordalês;
20. Domaine de la Romanee-Conti La Tache Grand Cru Monopole, Cote de Nuits, Borgonha.
 
Continua o pleno domínio dos Bordaleses, com 4 destaques: dois vinhos da Borgonha produzidos com a nobre Pinot Noir, um italiano que é uma das muitas versões italianas de um vinho de Bordeaux. Por último, um potente Shiraz australiano, outra casta que ainda não foi dignificada com um título real, mas deveria.
 
21 a 30
 
21. Chateau Leoville-Las Cases ‘Grand Vin de Leoville du Marquis de Las Cases’, Corte Bordalês;
22. Chateau Pichon Longueville Comtesse de Lalande, Pauillac, Corte Bordalês;
23. Chateau Palmer, Margaux, Corte Bordalês;
24. Chateau Leoville Barton, Saint-Julien, Corte Bordalês;
25. Krug Brut, Champagne;
26. Chateau Pavie, Saint-Emilion Grand Cru, Corte Bordalês;
27. Chateau Ducru-Beaucaillou, Saint-Julien, Corte Bordalês;
28. Marchesi Antinori Tignanello Toscana IGT, Super Toscano;
29. Chateau Angelus, Saint-Emilion Grand Cru, Corte Bordalês;
30. Chateau Pichon-Longueville au Baron de Pichon-Longueville, Pauillac, Corte Bordalês.
 
Dois destaques: outro Champagne e outra versão italiana de um vinho de Bordeaux.
 
31 a 40
 
31. Chateau La Mission Haut-Brion, Pessac-Leognan, Corte Bordalês;
32. Chateau Leoville Poyferre, Saint-Julien, Corte Bordalês;
33. Tenuta dell’Ornellaia ‘Ornellaia’ Bolgheri Superiore, Toscana, Super Toscano;
34. Screaming Eagle Cabernet Sauvignon, Napa Valley, EUA, 100% varietal;
35. Dominus Estate Christian Moueix, Napa Valley, USA, Corte Bordalês;
36. Caymus Vineyards Cabernet Sauvignon, Napa Valley, EUA, 100% varietal;
37. Perrin & Fils Chateau de Beaucastel Chateauneuf-du-Pape, Rhone, França;
38. Chateau Talbot, Saint-Julien, Corte Bordalês;
39. Tenuta dell’Ornellaia Masseto Toscana Igt, varietal 100% Merlot;
40. Joseph Phelps Vineyards Insignia, Napa Valley, EUA, Corte Bordalês.
 
Destacam-se dois italianos vinificados ao modo de Bordeaux e dois 100% Cabernet Sauvignon da América do Norte. Além destes, aparece o primeiro vinho da região do rio Ródano, um Chateneuf–du-Pape, tradicionalmente um corte que envolve até 13 castas diferentes entre tintas e brancas, nenhuma delas consideradas nobres. Por outro lado, o mais respeitado crítico de vinhos do mundo, Robert Parker, cansou de atribuir os almejados 100 pontos aos vinhos desta região…
 
41 a 50
 
41. Chateau Gruaud-Larose, Saint-Julien, Corte Bordalês;
42. Chateau Calon-Segur, Saint-Estephe, Corte Bordalês;
43. Domaines Barons de Rothschild Chateau Lafite Rothschild “Carruades de Lafite”, Pauillac, Corte Bordalês;
44. Chateau Ausone, Saint-Emilion Grand Cru, Corte Bordalês;
45. Vega Sicilia Unico Gran Reserva, Ribera del Duero, varietal 100% Tempranillo;
46. Chateau Beychevelle, Saint-Julien, Corte Bordalês;
47. Domaines Barons de Rothschild Chateau Duhart-Milon, Pauillac, Corte Bordalês;
48. Chateau Grand-Puy-Lacoste, Pauillac, Corte Bordalês;
49. Taylor Fladgate Vintage Port, Portugal, Vinho do Porto;
50. Moet & Chandon Brut, Champagne;
 
Neste último lote temos alguns destaques interessantes. O Vega Sicilia Único, um dos vinhos mais famosos da Espanha e do Mundo, é produzido com uma casta não nobre. Aparece o primeiro Vinho do Porto, produzido com castas exclusivas de Portugal que nunca chegaram perto da “corte”…
 
Com estes exemplos, esperamos que os leitores percebam que a nobreza de uma uva está muito mais ligada ao que é possível se obter a partir dela do que uma simples relação direta do tipo “se a uva é nobre o vinho é bom”.
 
Isto é falso!
 
Um segundo ponto fica claro nesta relação, o pleno domínio dos vinhos franceses, principalmente os produzidos em Bordeaux.
 
Antiguidade é posto, até no mundo dos vinhos.

Dica da Semana: um bom Tannat produzido no Uruguai, para que ninguém duvide das castas ‘não nobres’.
 
Don Pascual Reserve Tannat 
Intensa cor vermelha com reflexos rubi. Aroma onde domina frutas vermelhas e cassis. Muito bem estruturado com presença de taninos revestidos e frutas vermelhas.
Harmonização: Carnes, massas e queijos.

Serra Gaucha III

 2º dia, manhã
 
Que tal espumante no café da manhã?
 
Pois foi isto que aconteceu. Por volta das 9:30h já estávamos na porta da vinícola Chandon, filial brasileira da importante Maison Moët & Chandon que hoje pertence ao poderoso grupo LVMH (Moët Hennessy Louis Vuitton).
 

 
Fomos recebidos pelo ‘Big Boss’, o respeitado enólogo Philippe Mével, que está radicado em Garibaldi há 20 anos, sendo um quase brasileiro, em suas próprias palavras.
Philippe preparou uma apresentação espetacular, na verdade um seminário sobre espumantes em geral e particularmente sobre o Brasil. Para começar, lembrou-nos que a Maison Chandon tem um nome a zelar.

Imaginem a responsabilidade da filial brasileira que faz parte de um dos mais importantes conglomerados de artigos de luxo. Estão neste mesmo barco, marcas como Christian Dior, DKNY, Fendi, Kenzo e TAG Heuer, entre outras. Entre os espumantes encontramos peso-pesados como Dom Perignon, Krug, Veuve Cliqcot e Moët & Chandon. Dirigir a vinícola brasileira é uma enorme responsabilidade.
 
A Chandon veio para Garibaldi após um estudo que mostrou o bom potencial para uvas de qualidade para elaboração de vinhos espumantes. Além da subsidiária brasileira, existem outras na Argentina, Austrália e Califórnia.
 
Dois pontos são muito importantes na operação daqui:
 
1 – as uvas têm que ser colhidas ligeiramente verdes para proporcionar o grau de acidez desejado no vinho-base.
 
2 – ao contrário da casa matriz, que Philippe faz questão de frisar que se chama Moët e Chandon (nos temos o hábito de falar ‘moëtchandon’), só utilizamos o método Charmat.
 
Existem dois métodos de produção deste tipo de vinho. O tradicional, denominado Champenoise, é quase artesanal e obrigatório na região de Champagne. Todo espumante deve passar por duas fermentações em estágios diferentes de sua elaboração.
 
Esta 2ª fase é que introduz o gás carbônico que acaba por produzir o perlage, as famosas bolinhas. No tradicional, isto se dá dentro das garrafas, numa operação que é intensamente manual, em caves subterrâneas que mantêm a temperatura ideal o ano todo.
 
No Charmat, está fase é feita em sofisticados tanques de aço inoxidável, denominados Autoclaves, com todo o tipo de controles que possamos imaginar. Alta tecnologia.
 
Ao contrário do que seria lógico, o nosso enólogo franco-brasileiro é completamente apaixonado por este segundo método e para provar o ponto de que é possível fazer espumantes de alta qualidade, deu início à degustação técnica dos seis produtos de sua linha. Antes, para esticar as pernas, nos convidou para provar o ‘choppinho da Chandon’, o vinho ainda em fase de fermentação tirado diretamente da autoclave. O espetáculo é visual, uma curiosidade de todos, mas valeu a pena.

 
Para a degustação foram servidos pela ordem:
 
Chandon Reserve Brut – assemblage de Riesiling Itálico, Chardonnay e Pinot Noir, 10g/l de açúcar;
Chandon Brut Rosé – mesmas castas e 14g/l de açúcar;
Excellence Cuvée Prestige – elaborado com Chardonnay e Pinot Noir apenas e 7g/l de açúcar;
Excellence Rosé Cuvée Prestige – idem, 9g/l de açúcar;
Chandon Riche Demi-Sec – mesma composição do Reserve com 35g/l de açúcar;
Chandon Passion – um corte de Pinot Noir, Malvasia de Cândia e Moscato Canelli, também com 35g/l de açúcar.
 
Esta degustação foi muito didática, cada produto foi exaustivamente discutido. Foram elaboradas as fichas técnicas para cada um. Excelente.
 

 
Já passava do meio dia quando fomos convidados para o almoço. Imaginando que iríamos encarar mais uma rodada de Capeletti in Brodo e Galeto, fomos surpreendidos pelo lado gastronômico de Phlippe que preparou uma deliciosa surpresa no Restaurante Valle Rústico, um simpático lugar a poucos quilômetros da vinícola, dirigido pelo competente Chef Rodrigo Bellora. A proposta era uma harmonização total com os 6 espumantes. Vejam o cardápio:
 

 
A pegadinha ficou por conta da questão proposta pelo enólogo: a harmonização estaria correta ou não? Animados debates resultaram.
 

 
Espetacular! Nada mais a comentar.
 
Mais algumas fotos:
 

 

Dica da Semana: um espumante realmente diferente e próprio para terminar um banquete. 

Chandon Passion 
Espumante meio-doce elaborado a partir de um “assemblage” original e ousado das variedades Malvasia Bianca, Malvasia de Cândia, Moscato Canelli e Pinot Noir. Apresenta uma cor levemente salmão, uma espuma abundante com formação de um colarinho bem definido e borbulhas finas, ativas e numerosas.
Os aromas frutados lembram o maracujá, o pêssego, a lichia e o jambo com toques florais de rosas. No paladar, após um ataque de acidez, a maciez do vinho-base e do licor revelam a harmonia e a complexidade deste sutil equilíbrio, com um final intenso de frutas tropicais. Harmoniza com o salmão, as sobremesas e as saladas de frutas tropicais.

 

Riesiling, Pinot Gris e Gewurtztraminer – 2ª parte

Pinot Gris (Pinot Cinza) 
A segunda uva do nosso trio Alsaciano recebe outras denominações, inclusive nesta região, onde era conhecida como Tokay d’Alsace. Em 1980, após estudos de DNA e para evitar confusões desnecessárias, o nome Tokay ficou reservado para e varietal Húngara, com a qual a Pinot Gris não tem nenhum parentesco. Na Itália é chamada de Pinot Grigio, na Suíça é a Malvoise, na Hungria é Szürkebarat e na Alemanha, Ruländer. 

Fora da Alsácia e Itália sua expressão comercial é muito pequena ou nula. Mas no Chile, Argentina e no estado do Oregon (EUA), existem excelentes vinhos com esta curiosa uva. Sua origem remonta à Idade Média, na região da Borgonha, acreditando-se ser uma variação da Pinot Noir conhecida como Fromenteau. Em 1300 teria sido levada para a Suíça e mais tarde para a Hungria, onde seu vinho era um dos prediletos do Imperador Romano Carlos IV, que governou Luxemburgo, Bohemia, Itália e a Borgonha. 

Os monges Cisterianos eram encarregados dos vinhedos surgindo, a partir deste fato, o nome Szürkebarat que significa monge cinzento. Foi redescoberta na Alemanha em 1711, pelo mercador Johann Seger Ruland, crescendo livremente na região do Palatinado. O vinho produzido foi chamado de Ruländer, que mais tarde foi identificado como Pinot Gris. 
Pesquisas recentes feitas pela Universidade de Davis comprovaram que esta Pinot é um clone da famosa uva da Borgonha. A semelhança entre as duas é impressionante e somente a cor mais clara da Gris é que permite a correta identificação. Durante muito tempo foi usada na composição dos vinhos borgonheses e no Champagne, mas devido à sua baixa produtividade e safras irregulares foi sendo gradativamente abandonada. 

Hoje a Itália é o maior plantador desta varietal, mas seus vinhos pecam por pouca qualidade. Somente na região do Friuli alguns vinicultores se esmeram para obter vinhos Premium. Na Alsácia, segunda maior área plantada, a situação é bem diferente: a Pinot Gris é uma estrela de primeira grandeza. Foi trazida para esta região por mercadores húngaros o que pode ter originado a antiga denominação de Tokay, numa tentativa de dar mais prestígio ao vinho produzido. 

A varietal alsaciana é considerada diferente das demais, talvez devido ao solo e condições climáticas produzindo vinhos muito saborosos e concentrados. Os de colheita tardia são considerados verdadeiras joias. Seus aromas remetem a flores e frutas cítricas e os sabores passam por baunilha e mel. Sua cor pode variar conforme a origem da uva: do amarelo palha até o rosado. 

Há uma tendência mundial que aponta os vinhos desta varietal como os da moda. Na nossa opinião, nunca saíram de moda para os apreciadores de bons vinhos: são oníricos! 
Semana que vem vamos conhecer mais uma estrela: Gewurztraminer. 

Vamos inovar e apresentar duas sugestões, um alsaciano um pouco mais caro e um excelente argentino que será uma ótima introdução para os que ainda não conhecem esta cepa.  

Dica da Semana 1:

Le Fromenteau Pinot Gris – 2006 
Produtor: Domaine Josmeyer 
País: França/Alsácia 
O vinho mostra como o cultivo cuidadoso e o terroir adequado podem gerar grande complexidade e riqueza de perfumes. Avelãs, mel, laranja e damascos e o frescor e textura agradáveis pedem mais vinho na boca. 
RP: 89 (2004); JR: 15/20 (2006); ST: 88 (2006) 

Dica da Semana 2: vinhos da Alsácia são maravilhosos, mas muito caros. Depois de uma boa pesquisa encontramos esta joia. 

Lurton Reserva Pinot Gris 2010 
Produtor: Bodega François Lurton 
País: Argentina / Vale do Uco 
Cor dourada com tênues reflexos esverdeados. No nariz notas de flores brancas, como nardo e jasmim, se misturam com aromas de pêssegos brancos e delicadas insinuações de espécies silvestres como arruda e sálvia. Na boca é aveludado e enche a boca. Sua acidez fresca oferece um contraponto harmônico característico dos vinhos brancos do alto Valle de Uco. Paladar longo com notas florais que deleitam o olfato. 
Medalha de Prata – Argentina Wine Awards 2011 

Harmonização para as duas dicas: grelhados ou carnes ao molho leve, peixes e frutos do mar, massas, queijos e comida oriental.

Syrah a poderosa


Esta é uma uva que não pertence aos grupos de Bordeaux ou da Bourgone e que produz vinhos, em todo o mundo, com qualidade igual ou superior aos citados. Vamos conhecer um pouco mais desta casta que origina vinhos exuberantes, musculosos e encantadores. 
Duas denominações são empregadas Syrah e Shiraz. O segundo nome é o mesmo de uma cidade do Irã, levando a crer que sua origem estaria ligada àquela região. Estudos muito recentes, realizados na Universidade de Davis, Califórnia, mapeou o DNA até sua origem: um cruzamento natural entre as castas, Durezam da região de Ardéche (pai) e Mondeuse Blanche da região da Savoia (mãe). Portanto, uma casta tipicamente francesa. 
Ainda existem várias questões, a respeito desta uva, envoltas em lendas e mistérios, por exemplo, não se conhece a época de seu surgimento. Especula-se que já existiria no tempo de Plínio, o Velho (Caio Plínio Romano), 77 DC. Também não se sabe como chegou à região do Rio Ródano (Rhône), considerado como seu habitat. Produz vinhos encorpados e de coloração profunda com sabores de frutas negras, pimenta e um pouco enfumaçado. 
Em outras regiões do mundo, os Syrah podem variar do intenso ao delicado, conforme a linha a seguir:

África do Sul –> Califórnia –> Sul da França –> Vale do Rhône –> Austrália 
Delicado —————————————————————> Intenso 

Segundo os grandes críticos e especialistas, a melhor expressão desta casta está no Rhône, principalmente na região da Côte Rôtie (Encosta Assada). Mais para o sul é encontrada em cortes com outras varietais como Grenache, Mourvèdre e Cinsault, entre outras. 
Onde ela brilha? 
No mapa abaixo podemos entender a extensão desta região que é cheia de contrastes. Começamos na Côte Rôtie, próxima à cidade de Lyon. 

Aqui a Syrah é a única protagonista. São 5 áreas de vinhedos ou Crus: Côte Rôtie, Hermitage, Cornas, Saint Joseph, e Crozes-Hermitage. O terreno é montanhoso exigindo a adoção de patamares para o plantio. 

O vale termina ao sul, na região de Chateauneuf Du Pape, o Novo Castelo do Papa, com geografia plana e múltiplas denominações. Novas uvas fazem companhia à Syrah e os vinhos aqui produzidos são quase um oposto aos da região mais ao norte. 
Para muitos da minha geração, um Chateauneuf talvez tenha sido o primeiro vinho saboreado com prazer, por isto mesmo, há uma identificação particular com toda esta região do Rhône: para o meu gosto pessoal, são vinhos inesquecíveis! 

Semana que vem trataremos deles. 
Desafio da Semana passada: 
A Campeã foi a leitora Maria do Carmo, do Rio de Janeiro. Sua resposta foi completíssima. (os meus comentários estão em vermelho) 

“Topei o desafio e fui pesquisar, já que não tinha a menor ideia e, pra falar a verdade, nunca tinha reparado. Fui pesquisar e descobri um monte de razões”: 
1- É um remanescente histórico da era em que as garrafas eram feitas artesanalmente, sopradas através de um cano. Essa técnica deixava uma ponta na base da garrafa, fazendo com que fosse necessária a concavidade para que essa ponta não arranhasse a mesa ou deixasse a garrafa instável (sem equilíbrio). 
Esta é a resposta correta. Um bom mestre soprador poderia achatar o fundo de uma garrafa sem problemas, mas ela continuaria com uma pequena marca que arranharia uma mesa. Além disto, as garrafas de fundo chato são menos estáveis. 
Hoje em dia não há mais sopradores, mas mantiveram o recesso por tradição e para melhorar a estabilidade. No caso do Champagne é mandatório, pois aumenta a rigidez da garrafa para suportar a pressão exigida pelo espumante. 
Há mais um fato curioso. Na foto do desafio dá para perceber umas pequenas ranhuras na borda do recesso. São equivalentes aos frisos de um pneu de automóvel, servindo para deixar a água passar. A origem deste detalhe vem de muito longe: as primeiras garrafas patinavam numa superfície molhada, muitas vezes caindo e quebrando. 

Vamos às demais descobertas de Maria do Carmo: 
2 – Teria a função de deixar a garrafa mais estável, já que uma pequena imperfeição na mesa seria suficiente para desestabilizar uma garrafa de fundo plano. 
Correto, já explicado acima; 
3 – Consolida os sedimentos em um anel espesso no fundo da garrafa, diminuindo a quantidade de resíduos despejada nas taças, ao ser servido o vinho. 
Esta é uma consequência, só funciona dentro de certos limites; 
4 – Aumenta a resistência das garrafas, permitindo que armazenem vinhos ou champanhe com pressão mais elevada. 
OK! Já explicado; 
5 – Mantém as garrafas fixas em pinos de esteiras condutoras nas linhas de produção onde as garrafas são preenchidas. 
Está mais para lenda… 
6 – Acomoda os dedos, facilitando o serviço do vinho. 
Outro uso inventado por “gente de muito requinte”…, não é uma boa forma de servir vinhos; 
7 – De acordo com a lenda, a concavidade era usada pelos servos. Eles frequentemente sabiam mais que seus mestres sobre o que se passava na cidade e, com o dedo colocado na concavidade, sinalizavam caso o convidado não fosse confiável. 
Lenda; 
8 – Diminui o volume real da garrafa dando a falsa impressão de que se está levando mais vinho. 
Verdadeiro, embora o propósito não fosse o de enganar o consumidor e sim tornar a garrafa maior ou com formato ligeiramente diferente; 
9 – As tavernas possuíam um pino de aço verticalmente fixado no bar, onde as garrafas vazias teriam seus fundos perfurados de modo a garantir que não seriam cheias novamente. 
Outro uso não confirmado, mas plausível; 
10 – A concavidade age como uma lente, refratando a luz e tornando a cor do vinho mais chamativa. 
Pouco provável, seria necessária a iluminação pelo fundo. Se funcionar, só para garrafas transparentes;
11- Diminui a chance de a garrafa ressonar durante o transporte diminuindo a possibilidade de quebra durante o transporte. 
12- Permitia o empilhamento mais fácil das garrafas em porões de navios, sem que rolassem ou quebrassem. 
Pouco provável: garrafas são transportadas em caixas e embaladas individualmente. Mas não há dúvida que ficam mais resistentes com o recesso. 
Desafio para esta semana: 
Estamos no meio de um vinhedo, com várias espécies de uvas plantadas. Como distinguir rapidamente cada casta? Existe um recurso de campo, empregado por agrônomos, ampelógrafos e plantadores em geral. Algum leitor se arrisca? 

Dica da Semana:um ótimo vinho desta região para ir aguçando o nosso paladar. 

Côtes du Rhône St Esprit 2009 
Produtor: Delas Frères 
Castas: 75% Syrah e 25% Grenache 
Notas de Degustação: Cor rubi carregada de especiarias e frutas negras no aroma, e um final de boca maravilhoso. Potencial de guarda de 7 anos. 
Harmonização: carnes grelhadas, vitela recheada, coelho com molho de ameixas. 
RP – 90 pontos

Atendendo aos pedidos

Vários leitores, por e-mail, expressaram suas dúvidas sobre a coluna da semana passada. Como o tema é interessante, preparamos esta nova página em cima dos questionamentos. A pergunta mais recorrente foi: 
As garrafas de vinho poderiam indicar a qualidade, a idade ou a origem? 
Com relação à qualidade ou à idade, a resposta é pura e simplesmente um não. Com relação à origem, em certos casos, é perfeitamente possível saber de onde vem o vinho. Vamos elaborar um pouco mais estes pontos. 
Não há como saber, pelo menos para o consumidor final, qual a qualidade do conteúdo, usando apenas a garrafa como indicador. Talvez nos brancos, em cascos claros, seja possível avaliar se o vinho está passado (cor âmbar), e nada mais. Este é o grande trunfo dos falsificadores, ninguém quer arriscar desarrolhar uma garrafa e prová-la antes de colocar num leilão de vinhos antigos… 
Mas há indicadores confiáveis que podem ser usados para qualificar um produto como melhor que outro. O mais visível é o rótulo: procurem por material mais encorpado e impressão nítida. Outro ponto a ser considerado é a chamada cápsula que envolve o gargalo protegendo a rolha: os melhores vinhos usam estanho ou lacre de cera, os vinhos comuns, plástico. A garrafa, hoje, funciona mais como um apelo mercadológico: pode haver novos formatos e rótulos em impressão direta sobre o vidro; o peso, muitas vezes, é usado para passar a sensação de que este é um produto superior – garrafas de mesmo formato com pesos bem diferentes. Dentro, o mesmo vinho… 
Falando em rótulos, nem sempre foram de papel: 

Seguindo certos parâmetros, poderíamos avaliar se uma garrafa é antiga ou nova, mas nada do que vamos aprender, a seguir, vai estar no nosso dia a dia de apreciador de um bom vinho. Observem a próxima foto: 

Está seria uma garrafa de Chateau Lafite, safra de 1789 da adega do Presidente Thomas Jefferson. Era uma fraude, embora a garrafa fosse antiga. Reparem no formato, não é uma bordalesa com pediria o Lafite, se aproximando do formato da Borgonha. 
Um outro exemplo de garrafa nitidamente antiga (ou pelo menos mal cuidada): 

Quanto ao conteúdo… 
O terceiro ponto: se uma garrafa pode indicar a origem do vinho, a resposta é um possível sim, dentro de certos limites. Os formatos descritos na semana passada têm origem precisamente neste fato – os produtores buscavam uma identidade visual para seus produtos. Com a chegada dos vinhos do novo mundo, esta lógica sofreu uma alteração: os novos produtores gostariam que a identidade visual dos seus vinhos remetesse aos vinhos franceses. 
Resumindo: o que se pode esperar de um vinho, numa garrafa Bordalesa, é que ele tenha sido elaborado com uma ou mais castas originárias de lá: Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot, Cabernet Franc, Malbec e Carmenére. O mesmo raciocínio vale para as varietais da Borgonha e do Vale do Ródano (Rhone). Já estamos escutando a nova dúvida: Há exceções? Sim, muitas! 
Não precisamos ir muito longe, Itália, Portugal e Espanha. Quais a garrafas para os vinhos de Touriga Nacional, ou do Tempranillo ou ainda das inúmeras castas italianas? O melhor a fazer, neste caso, é interpretar por aproximação. Por exemplo: vinhos portugueses em garrafa bordalesa são vinificados, com as castas locais, à moda de Bordeaux. 
Podemos ir mais longe: há garrafas italianas que são quase exclusivas. Dois exemplos abaixo: 

A primeira é o clássico Chianti e a segunda o formato usado para os vinhos produzidos na região de Alba, um meio-termo entre os formatos de Bordeaux e Bourgone. 
Algum dos leitores sabe a razão do corpo em palha da 1ª garrafa acima? 

Uma única linha sobre cores: alguns vinhos, principalmente tintos, devem ser protegidos da luz, logo, as garrafas escuras. 
Por que 750 mililitros? 
Esta foi outra dúvida que tem múltiplas respostas; não há consenso entre os pesquisadores. Começamos com um pouco de história. As primeiras garrafas variavam desde 600 ml até 800 ml. Quem mais se preocupava com isto, naquela época, era a Inglaterra: direito do consumidor é coisa séria até hoje. Eventualmente eles teriam padronizado um volume de 1/5 de galão, medida básica do sistema vigente de então. Os norte-americanos copiariam a ideia, adaptando-a para o seu galão (US gallon), o que dava aproximadamente 757 ml, mais tarde arredondada para 750 ml pelo Canadá e EUA, no início da adoção do sistema métrico por estes países (1979). Mas isto não explica a escolha por este tamanho. Eis algumas possibilidades: 
1 – como as primeiras garrafas eram sopradas individualmente, esta medida era equivalente à capacidade pulmonar média dos sopradores; 
2 – o peso de uma garrafa deste volume se aproxima de 1,5 Kg o que é conveniente para o transporte; 
Esta última é a mais curiosa; 
3 – 1/5 de galão era considerado como uma quantidade aceitável para um adulto consumir numa refeição! 
Os Grandes Tamanhos 
Esta foi uma pergunta intrigante: como servir as garrafas de grandes tamanhos? 
A resposta é meio sem graça: como se serve uma garrafa padrão! (mesmo que seja necessária a ajuda de outra pessoa) 
Mas vale a pena levantar outras dúvidas, por exemplo, quando devemos usar tamanhos maiores? 
Se vamos servir durante um evento apenas o mesmo vinho, tinto ou branco, vale a pena usar garrafas Magnum em lugar de várias garrafas normais. A Magnum dupla é mais complicada e servirá melhor para fazer uma performance. Os produtores gostam de exibi-las, é um chamariz! 
Mas se o assunto for espumante, surge um novo problema para ser resolvido: como gelar uma garrafa como a Melquisedec com seus 1,5 metro e 40Kg ou mais? Sinceramente, não é para os pobres mortais. Mas nos grandes restaurantes do mundo, isto não parece ser um grande problema! 

Para futuras referências, uma coleção de diversos formatos: 

Da esquerda para a direita: Bordeaux, Bourgogne, Flauta, Champagne, D’Alba, Marsala, Porto, Húngara, Bocksbeutel (Francônia). 

Dica da Semana: para deixar todo mundo sem entender nada! 

Chianti DOCG 2009 
Produtor: Piccini 
País: Itália 
Região: Toscana 
Fermentação tradicional com controle de temperatura e um longo período de maceração. Maturação: Não passa por madeira. 
Este eterno Best Buy, para a Wine Enthusiast, mostra um bouquet cheio de frutas maduras. No palato é rico e macio, com um toque fresco que o deixa perfeito para acompanhar comida. 
Combinações: Carnes, queijos, massas, risotos e aperitivos. 

(Cadê a garrafa típica?) 

Agradeço a colaboração dos leitores: Sérgio Pirilo, Felipe Carruncho, Augusto Escobar e Giancarlo Marreti, esperando que suas dúvidas tenham sido esclarecidas.

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