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Algumas conclusões, salvaguardas e uma degustação notável

Terminamos o nosso primeiro giro pelos grandes vinhos, na semana passada. Visitamos todos eles? Não, isto é quase uma missão impossível. Provavelmente cometemos algumas injustiças que esperamos reparar em futuras colunas. 
Curiosamente, nenhum leitor acusou a falta deste ou daquele vinho, mas o fizeram com relação a determinados países que não foram mencionados. Algumas explicações são necessárias. 
Produz-se vinho em quase todo lugar, mas nem sempre são produtos de qualidade, que mereçam ser mencionados. No Peru, por exemplo, um dos primeiros países sul americanos a ter uvas europeias plantadas em larga escala em seu território, nunca se desenvolveu uma indústria vinícola digna de nota. Todo o vinho produzido por lá é usado na produção do famoso Pisco, um destilado. 
Na última coluna foi mencionado que a uva Pinotage estava sendo experimentada no Zimbábue. Teve sucesso? Ainda não, apesar de terem obtidos alguns prêmios interessantes em competições internacionais. No máximo, uma promessa, como o México. 
A Bélgica foi outro país que gerou curiosidade: será que existem vinhos por lá? Sim! Principalmente brancos obtidos a partir da Chardonnay. Mas a produção é minúscula e mal atende a demanda interna. Nada que valha a pena mencionar. 
Por último a Inglaterra. O que acontece neste país? Até hoje, o povo inglês é o maior importador de vinhos do planeta, com uma perspectiva de 152 milhões de caixas em 2014, um recorde! Produzem vinho por lá? Quase uma obviedade, mas a produção é muito pequena, significando apenas 1% do que é importado… 
Algumas injustiças que ainda não foram reparadas (podem cobrar!): 
Os excelentes Côtes du Rhone; 
Brunello di Montalcino e Vino Noble di Montepulciano; 
O Champagne e outros espumantes; 
Contador, da Espanha, outro mito; 
Poderíamos nos estender por mais algumas páginas. Hoje ficamos aqui. 
Uma notícia alvissareira 
Informa José Paulo Gils, nosso olheiro para o assunto salvaguardas: 
A revista Veja, na edição desta semana (2270 de 23/05/2012) publicou uma nota na seção Holofote, assinada por Otávio Cabral, intitulada “Protecionismo negado”, a qual transcrevo abaixo. 
“Protecionismo negado 
O processo de concessão de salvaguarda ainda está na fase inicial, mas o Ministério do Desenvolvimento já descarta a possibilidade de atender ao pedido da indústria vinícola nacional de criação de uma cota para a bebida importada. Estudos preliminares mostram que o setor voltou a crescer e o vinho brasileiro aumentou sua presença em mercados emergentes, como a China e a Rússia. O máximo que o governo pode conceder é a desoneração de impostos para o setor. Aliás, a única salvaguarda em vigor no Brasil cairá ainda neste ano: a proibição da importação de coco seco sem casca”. 
Uma degustação surpreendente 
Na terça-feira dia 15 de maio, comparecemos a uma degustação no restaurante Aprazível, em Santa Teresa, Rio de Janeiro. O propósito era reunir as vinícolas que não concordaram com o pedido de salvaguardas. No mesmo dia, em outro local, acontecia o Circuito Brasileiro de Degustação, com as demais vinícolas. 
A iniciativa foi de Pedro Hermeto, proprietário do simpático Aprazível. Presentes as seguintes vinícolas: Vallontano, Anghebem, Chandon, Millantino, Adolfo Lona, Quinta da Neve, Máximo Boschi, Villagio Grando, Era dos Ventos, Antônio Dias, Don Abel, Cave Geisse, Don Guerrino e Dezem, cujos vinhos não chegaram a tempo. 

Alguns produtores estavam presentes dando um charme todo especial ao evento: Adolfo Lona, Silvânio Antônio Dias e Sergio de Bastiani da Don Abel. 
Destacaram-se os espumantes, cada vez melhores, um delicioso Cabernet da Antônio Dias e um branco obtido a partir de uma uva quase extinta, a Peverella, produzido pela Era dos Ventos: diferente e misterioso. 
O meu momento especial foi quando o simpático Adolfo Lona promoveu a degustação de um especialíssimo espumante, o Orus, algo que vou lembrar para sempre. Dificílimo de ser adquirido, sua produção limita-se a poucas garrafas quando é vinificado. O melhor é experimentar os outros produtos desta vinícola, especializada neste segmento. 
Dica da Semana: 
Uma das vinícolas mais tradicionais da Argentina ficou em segundo plano nas colunas dedicadas àquele país: Rutini. Vamos conhecer um pouco desta tradicional empresa e saborear um de seus vinhos mais vendidos. 

A bodega La Rural, foi fundada em 1885, por Felipe Rutini, imigrante Italiano, com o objetivo de produzir vinhos de qualidade empregando as técnicas aprendidas em seu país natal. Seu lema, Labor et Perseverantia, é mantido até hoje. 
O museu do vinho, sediado nas instalações da bodega, é uma visita obrigatória para quem for a Mendoza pela primeira vez. São mais de 4500 peças que retratam bem a dureza e a falta de recursos da época. 
Don Felipe faleceu em 1919 deixando um legado para seus descendentes que mantiveram o espírito pioneiro. Em 1925, começaram a plantar uvas na região de Tupungato, já se antecipando ao sucesso das frutas plantadas neste vale. 

Nos anos 90, a operação da família Rutini foi adquirida por uma grupo de investidores, entre eles Nicolas Catena e Jose Bengas Lynch que promovem a renovação da bodega e a construção de uma nova vinícola no vale de Tupungato. A Rutini, hoje, é um dos grandes produtores Mendocinos. As duas empresas, La Rural e a Rutini Wines, mantêm suas linhas de produtos de forma independente.

Dica da Semana: A dica de hoje é o 

Trumpeter Malbec/Syrah 2010. 
País de origem: Argentina/Mendoza 
Produtor: Rutini Wines 
Cepa(s): Malbec, Syrah/Shiraz (50/50) 
É o vinho da linha Trumpeter de maior sucesso no Brasil. Produzido com uvas de vinhedos de altitude (1200 metros), é sedoso e frutado com bom aporte dos aromas das barricas, excelente frescor e aromas sedutores de violetas, ameixas, framboesas, chocolate e cravo. 
Notas: Wine Spectator 84 pontos (2005) Wine Enthusiast 86 pontos (2004)

Expovinis 2012

Vamos conhecer o mais importante evento sobre vinhos no Brasil, a EXPOVINIS cuja 15ª edição, ocorreu em São Paulo, nos dias 24, 25 e 26 de Abril de 2012.
A feira é um grande evento privado, organizado por uma empresa especializada, nos moldes de outras exibições semelhantes em todo o mundo. A mais importante de todas é a VinItaly, já na sua 47ª edição prevista para abril de 2013.
Neste tipo de exposição há espaço para produtores, fabricantes de equipamentos e acessórios, negociantes e assemelhados, de todos os países. É uma feira de negócios, uma grande vitrine onde vinhos das mais diversas origens podem ser comparados lado a lado. São ministrados cursos e oferecidas palestras e degustações.
Dividida em duas grandes áreas, Internacional e Nacional, a edição de 2012 bateu todos os recordes de público e expositores: nada menos que 40 vinícolas brasileiras se apresentaram.
O ponto alto é a escolha dos 10 melhores vinhos (Top Ten) por um grupo de jurados de alto nível: Luis Lopes, fundador e diretor da Revista de Vinhos (Portugal), Andrés Rosberg, presidente da Associação Argentina de Sommeliers, Jorge Carrara (revista Prazeres da Mesa e site Basilico), José Maria Santana (revista Gosto), Gustavo Andrade de Paulo (ABS-SP), José Luiz Alvim Borges (ABS-SP), Ricardo Farias (ABS-Rio), Mauro Zanus (Embrapa-RS), Marcio Oliveira (SBAV-MG), José Luiz Pagliari (SBAV-SP/Senac-SP), Roberto Gerosa (portal iG) e Celito Guerra (Embrapa).
As categorias analisadas foram: Tintos, Brancos e Espumantes Nacionais; Espumante Importado; Branco Novo Mundo; Branco Velho Mundo; Rosado (geral), Tinto Novo Mundo, Tinto Velho Mundo e Fortificados e Doces.
Resultados:
ROSÉ: Château de Pourcieux Côtes de Provence – 2011
Produtor: Château de Pourcieux – França – Provence
TINTO NOVO MUNDO: The Bernard Series Small Barrel S.m.v. – 2009
Produtor: Bellingham – África do Sul – Paarl
TINTO NACIONAL: Testardi Syrah – 2010
Produtor: Miolo Wine Group – Brasil – Vale do São Francisco
TINTO VELHO MUNDO: Casa de Santa Vitória Touriga Nacional – 2008
Produtor: Casa de Santa Vitória – Portugal – Alentejo
ESPUMANTE NACIONAL: Quinta Don Bonifácio Habitat Brut
Produtor: Quinta Don Bonifácio – Brasil – Serra Gaúcha
ESPUMANTE IMPORTADO: Lanson Brut Rosé
Produtor: Lanson – França – Champagne
BRANCO VELHO MUNDO: Trimbach Riesling Cuvée Frederic Émile – 2004
Produtor: Pierre Trimbach – França – Alsácia
BRANCO NOVO MUNDO: Undurraga T.H. Sauvignon Blanc – 2011
Produtor: Viña Undurraga – Chile – San Antonio
BRANCO NACIONAL: Sanjo Maestrale Integrus – 2010
Produtor: Sanjo – Brasil – São Joaquim (SC)
DOCES E FORTIFICADOS: Medium Rich Single Harvest – 1998
Produtor: Henriques & Henriques – Portugal – Madeira

Ainda não vencemos!

Uma atualização sobre o tema Salvaguardas e Boicote 
Importantes adesões engrossam as fileiras dos descontentes, a mais recente e importante é a declaração da ABS – Rio que reproduzimos abaixo: 
Salvaguardas: A ABS Rio se posiciona:  
Desde a década de 1990, e até mesmo antes, a ABS Rio tem dado inegável e reconhecido suporte ao desenvolvimento da vinicultura brasileira, através de fatos concretos. Duas ou três viagens anuais à Serra Gaúcha e incursões no planalto catarinense e no Vale do São Francisco já colocaram mais de 600 enófilos cariocas em contato direto com nossos produtores de vinhos e com seus vinhedos, instalações e produtos por meio da associação. As degustações dirigidas de vinhos nacionais têm colocado em relevo a produção brasileira no âmbito da ABS Rio, no Flamengo e na Barra. O mesmo se pode dizer da utilização sistemática dos espumantes brasileiros na abertura das reuniões quinzenais de nossos setenta e cinco grupos de degustação que congregam mais de 500 enófilos. 
Chama atenção a afluência de nossos associados às palestras proferidas por enólogos e experts das vinícolas nacionais que são sempre recebidas na ABS Rio de braços abertos e com todo interesse. 
É, pois, como decidido apoiador de nossa indústria vinícola que a ABS Rio vem manifestar-se contrariamente à imposição de medidas de favorecimento da produção nacional em detrimento das importações de vinhos internacionais. 
Não podemos esquecer que o extraordinário desenvolvimento por que passou a vinicultura brasileira nos últimos vinte anos coincidiu com a abertura às importações. A busca pela qualidade tornou-se imperiosa e a reação dos nossos produtores foi notável e vitoriosa. O Brasil, praticamente desconhecido no mundo do vinho até recentemente, passou a ocupar um lugar, mesmo que ainda pequeno, no Atlas Mundial do Vinho. 
No caso dos espumantes, a qualidade atingida fez com que os nossos produtores possam competir com vantagens em relação aos importados. Entendemos que todo um trabalho que se fez ao longo desses anos – a ABS entre as entidades à frente desse movimento – a favor da divulgação da cultura do vinho, que levou ao aumento do interesse e à elevação do consumo, poderia vir a ser perdido por medidas restritivas. 
Com base nesses fatos a ABS Rio se manifesta contrariamente à imposição de restrições às importações de vinhos, no mesmo momento em que presta seu apoio, como divulgadora e formadora de opinião, aos vinhos nacionais de qualidade. 
Rio de Janeiro, 12 de abril de 2012. 
Ricardo Augusto B. L. de Farias (Presidente) 

Outras adesões: 

ABS – SP, uma das primeiras organizações a se manifestar. 

SBAV – RJ, 


Os Chefs: Roberta Sudbrack, Claude Troisgros, Alex Atala, Felipe Bronze, Rolland Villard e muitos outros. 

Restaurantes: Aparazivel (RJ), Tasca da Esquina (SP), Fasano (SP), Mr. Lam (RJ), Zot (RJ), entre outros, e o interessante protesto do Amadeus (BH) que encapou suas garrafas conforme a foto. 

As vinicolas: Adolfo Lona, Angheben, Antonio Dias, Cave Geisse, Chandon, Don Abel, Maximo Boschi, Salton, Vallontano, Valmarino e Villagio Grando, rapidamente se manifestaram contrárias à ideia. 
Do lado oposto: o Sr, Carlos Paviani, todo poderoso diretor do tal IBRAVIN, pronunciou-se (acreditem): 
“O boicote, na verdade, sempre ocorreu, só que de forma velada. Agora, pelo menos, está escancarado. É interessante notar que os poucos restaurantes que anunciam o boicote e até mesmo algumas lojas de vinhos confessam que trabalhavam com menos de 5% de vinhos brasileiros”. 
Quem decide: A SECEX – Secretaria de Comércio Exterior esclareceu ao excelente site Wine Report: 
“a argumentação dos peticionários é inconsistente demais para a aplicação de uma salvaguarda”, e garantiu que “se os critérios forem apenas técnicos, o pedido não passa, mas ressaltou que o poder político costuma pesar decisivamente nesses casos”. 
O Contra-ataque: caso a medida seja aprovada, os países exportadores prejudicados podem adotar medidas de retaliação, previstas, que recairão sobre carnes, soja… 

Saiba mais: Neste link para o Wine Report, a história completa. 

 

ENÓFILOS UNIDOS JAMAIS SERÃO VENCIDOS!

Estamos no meio de uma guerra que está sendo travada em diversos fronts. Quem iniciou as escaramuças foi o IBRAVIN quando encaminhou petição ao Governo Federal solicitando salvaguardas para o vinho nacional, ou seja, novos impostos e cotas de importação que onerarão, ainda mais, o consumidor final. 
Rapidamente, os grandes importadores, chefes de cozinha dos mais renomados restaurantes do país, críticos especializados, entre outros, partiram para um rápido contra-ataque e a discórdia se instalou. 

Vamos aos fatos: 
1 – O IBRAVIN, Instituto Brasileiro do vinho tem por objetivo promover e ordenar institucionalmente o setor vitivinícola, notadamente nas questões concernentes à produção de uvas, de vinhos, de suco de uva e de qualquer outro produto derivado da uva e do vinho, em todos os seus âmbitos. É mantido com recursos públicos estaduais (RS) e Federais, alem da taxa paga pelas vinícolas associadas. 
2 – Como todo órgão financiado por recursos públicos, sua gestão é feita ou por indicação do governo ou por um colegiado com representantes das vinícolas nacionais que, por sua importância, controlam indiretamente este instituto: Miolo, Aurora, Salton, Valduga, Aliança, etc. 
3 – A ideia retrógrada de controlar o mercado de vinhos, formando um oligopólio não é nova, era prática comum na era do nacionalismo exacerbado e nos deixou com um quase irrecuperável atraso tecnológico até os dias de hoje, mesmo depois da abertura do mercado para importações. Não é difícil perceber que os nossos automóveis ainda são umas carroças e a lei da informática nos deixou na rabeira do mundo moderno. Querem fazer o mesmo com o vinho de qualidade. 
4 – Em recente entrevista, Luiz Zanini, da vinícola Valontano afirmou: “Por que o IBRAVIN não pede o SIMPLES para o pequeno produtor? Por que o IBRAVIN não pede o fim das normativas que limitam a produção artesanal? Por que o IBRAVIN não pede a dispensa do SELO FISCAL para quem produz até 50.000 litros de vinho? Por que o IBRAVIN não luta para baixar os tributos de nossos vinhos, ou cria um regime especial para os pequenos produtores? Isto seria a salvaguarda para a sobrevivência da diversidade do vinho brasileiro. Ao contrário disto, o IBRAVIN que, diga-se de passagem, não possui representantes de pequenas vinícolas, está se especializando em burocratizar o Setor. Estamos caminhando para a era da industrialização em massa, estamos dando aval ao vinho commodities em detrimento da diversidade. Nosso vinho está sendo conduzido para a morte, e terá apenas uma sobrevida nas gôndolas de supermercados de terceira categoria, isto é degradante. Não posso compactuar com isto, por isso eu sou radicalmente contra quaisquer iniciativas que não sejam discutidas de forma ampla e democrática, com todos os personagens envolvidos. As empresas que representam a minoria poderosa (que dominam as entidades que compõem o IBRAVIN) agora começam a sofrer retaliações por parte da mídia, dos jornalistas, dos formadores de opinião, dos editores de revistas, dos proprietários de restaurantes, dos supermercadistas e dos sommeliers – são estas as pessoas que trabalham pelo vinho brasileiro – e que estão indignadas com os rumos da politicagem do vinho no Brasil. Quem deve abrir a cabeça”? 
5 – Num exemplo simples, o IBRAVIN financiou, no carnaval deste ano, a Academia de Samba União da Tinga que ganhou o carnaval de Porto Alegre com um enredo sobre o vinho. Além disto, o Instituto montou um fabuloso camarote para seus convidados Vips, onde espumantes eram servidos a rodo, com a desculpa de propor a substituição da cerveja por este vinho… 
6 – Fica claro que a manobra proposta tem por objetivo principal engordar o caixa desta instituição e ajudar a formar o cartel dos grandes produtores. 
A indignação foi geral e rapidamente divulgada nos principais meios de comunicação. Ciro Lilla, um dos mais importantes importadores (Mistral e Vinci) publicou uma Carta Aberta aos seus clientes

http://vinhosdecorte.com.br/carta-aberta-de-ciro-lilla-contra-adocao-de-salvaguardas-para-proteger-vinho-nacional/

Os Chefes Roberta Sudbrack, Felipe Bronze e Alex Atala, entre muitos outros, rapidamente retiraram os vinhos brasileiros de suas cartas, dando início a uma forma de protesto, o boicote, pouco usual neste país, mas de grande efeito. 

O estrago foi enorme. Algumas vinícolas pequenas se apressaram em esclarecer que eram contra as novas medidas: Adolfo Lona, Angheben, Cave Geisse e Vallontano. Entre as grandes, apenas a Salton se pronunciou contra as salvaguardas. 
Qual a nossa posição? 
Embora o colunista José Paulo Gils não acredite neste tipo de protesto, “há sempre algum outro interesse não declarado por trás disto tudo”, o boicote iniciado pelos restaurateurs foi efetivo e parece ser um caminho fácil de ser seguido: simplesmente vamos nos abster de consumir vinhos nacionais. 

Existe, pelo menos, uma petição pública contra este movimento. Para conhecer e participar acesse: http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoListaSignatarios.aspx?pi=P2012N22143 

Curiosamente, vinhos do Chile, Argentina e Uruguai, os mais fortes concorrentes aos nacionais, escapariam destas medidas por força de outros acordos… 

Para saber mais, acesse esta excelente reportagem de Alexandre Lalas no site Wine Report: http://www.winereport.com.br/winereports/a-salvaguarda-da-discordia/1866 

Dica da Semana: desculpem-nos, mas o vinho azedou! Fica para a próxima semana.

Misturado e Variado

Pequenos pedaços de informação que, sozinhos, não seriam suficientes para uma coluna. Aproveitando que esta é a última do ano, montamos esta colcha de retalhos. 
Sabrando um Espumante 

A festa de ano novo é uma ótima ocasião para abrir um bom espumante. Mesmo para a turma que tem escorpião no bolso, vale lembrar que é uma vez só. Muitos preferem desperdiçar este precioso líquido num alegre jorro na décima segunda badalada do relógio, no dia 31. Se for o caso, usem um espumante bem baratinho (e não o beba, por favor, vai começar mal o ano). A Sidra, espumante obtido a partir do suco de maçãs, é perfeita para este ato. 
Vamos introduzir um pouco de classe nesta brincadeira. A história nos conta que Napoleão Bonaparte teria sido o primeiro a abrir uma garrafa de espumante com o seu sabre, comemorando suas vitórias lá no século XVIII. E a coisa nunca saiu de moda. A técnica é relativamente simples, mas alguns cuidados devem ser observados. Assistam a este vídeo do Prof. Marcelo Copello. Se forem corajosos e habilidosos… 
http://www.youtube.com/watch?v=E5dLgKElRBE 
Não se preocupem com a qualidade do que for servido depois da degola da garrafa: a alta pressão do vinho expulsa qualquer resíduo do corte. Totalmente seguro. 
Não tente fazer um show antes de treinar bastante, o mico pode ser grande… 
Para comprar um sabre, consulte: 
https://www.boccati.com.br/produto.php?c=3300&iaoa=1 
http://www.vinhosnet.com.br/produto.php?action=detalhes&codigo=544 

Lentilhas no Ano Novo = Prosperidade 
Esta é uma tradição que rivaliza com o Gnocchi da Fortuna, prato consumido no dia 29 de cada mês. Tem origem Bíblica, na passagem sobre Esaú e Jacó (Gênesis 25), que trata da venda do direito de “primogênito” por um prato de sopa de lentilhas. Outra corrente acredita que esta lenda tem origem no formato deste fabuloso grão, semelhante ao de pequenas moedas que, ao serem cozinhadas, incham aumentado de tamanho. Uma verdadeira aplicação financeira. 
Existem inúmeras receitas para o Reveillon: desde a Lentilhada até uma refrescante e saborosa salada. Os pontos importantes a serem observados são: 
– qualquer tipo serve, tradicionalmente, usam uma dourada, comum na Itália, mas rara por aqui; 
– deve entrar alguma carne de porco no preparo, um embutido chamado Zampone é o mais comum. Bacon é outra boa opção; 
– devemos guardar alguns grãos não cozidos na carteira, renovando a cada ano. Os grãos descartados devem ser jogados em água que corre, jamais num local de água parada; 
– ofereça grãos crus aos seus amigos e familiares, respeitando o ritual anterior. 
Harmonizando com Lentilha 
Entra em cena o Lambrusco, um vinho tão polêmico que alguns enófilos não o consideram. Preferências à parte, ele é a combinação clássica da lentilha com carne de porco. 

Obtido a partir da casta homônima, é produzido em diversas regiões da Itália, existindo cinco áreas demarcadas: 
Lambrusco Grasparossa di Castelvetro – a menor delas, situada ao sul da cidade de Modena. Produz um vinho seco e encorpado com taninos marcantes. Coloração vermelho-púrpura; 
Lambrusco Mantovano – única região fora da Emília-Romana. Produz vinhos secos e meio secos; 
Lambrusco Reggiano – a maior região produtora e exportadora com denominação DOC. A versão doce, bastante popular, é leve e frisante enquanto os vinhos mais secos são encorpados e escuros. 
Lambrusco Salamino di Santa Croce – localizada nas proximidades da cidade de Sorbara, produz vinhos secos ou suaves, de corpo leve, frisantes e de coloração clara; 
Lambrusco di Sorbara – localizada ao norte de Modena, produz os vinhos considerados de melhor qualidade, muito aromáticos, de coloração escura e encorpados. 
Um vinho fácil de beber, semelhante a um espumante, agradável e refrescante. Existem versões em tinto, branco e rosé. Por ser muito copiado, existem inúmeros rótulos, no mercado, que não têm nenhuma qualidade, dificultando acertar uma boa compra. Na falta de um bom Lambrusco, um Espumante Rosé o substitui à altura. 

Dica da Semana: um ótimo Lambrusco.

Reggiano Lambrusco 2010  
Produtor: Ca’ De’ Medici
País: Itália / Emilia Romagna 
Uma vinícola familiar desde o século X, Ca’ De’ Medici elabora um Lambrusco de pequena produção e grande qualidade. Esta versão é a mais seca da casa, mas conta com o estilo leve, frutado e delicado que mostram os melhores vinhos desta denominação. Uma verdadeira surpresa para quem conhece apenas os exemplos mais comerciais de Lambrusco. 
Feliz Natal e um 2012 cheio de Lentilhas…

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