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Viagem Enogastronômica à Espanha e Portugal – V

Após a intrigante visita na Quinta das Carvalhas, partimos para o almoço num dos restaurantes mais badalados da região, o DOC by Rui Paula.

Inaugurado em 2007, o DOC, uma abreviatura de Degustar, Ousar e Comunicar, está instalado num edifício de linhas contemporâneas situado no cais da Folgosa, na estrada que margeia o rio Douro entre a Régua e o Pinhão. É considerado como um ponto de encontro obrigatório para quem vive no Douro ou viaja pela região, seja para apreciar a boa comida, o vinho ou a paisagem.

 Optamos por pratos tradicionais da culinária portuguesa, onde não poderia faltar uma opção de bacalhau com batatas ao murro. O vinho, sugerido pelo Sommelier, foi o “Olho no Pé” 2009, da região do Douro. Um tinto gastronômico, muito frutado e fácil de beber.
 
 
Pontualmente às 16h chegamos à Quinta das Gaivosas, em Santa Marta do Penaguião, cerca de 4 Km adiante do Peso da Régua.
 
Esta vinícola é comandada pelo Eng. Domingos Alves de Sousa, que representa a 3ª geração desta família. É considerado um dos mais importantes vinhateiros do Douro. Fomos recebidos por seu filho, Tiago, engenheiro agrônomo, atual Diretor de Produção e Administrador, que está sendo preparado para assumir o lugar de seu pai, iniciando a 4ª geração da família à frente dos negócios. Ao contrário da outra vinícola visitada pela manhã, esta não tem uma estrutura para receber visitantes, por esta razão, terem nos recebido aqui foi uma honra, o que nos deixou muito sensibilizados.

A visita foi feita em duas etapas, um passeio pelos íngremes vinhedos e uma degustação dos principais vinhos ali elaborados. De saída, nota-se a diferença no relevo: as colinas nesta região são mais escarpadas que as das margens do Douro. Até o valente 4X4 que nos transportava teve dificuldades para alcançar os trechos mais altos da propriedade. Tiago enfatizou a dificuldade em fazer o trabalho no campo como a poda, a colheita, a limpeza, etc. Contam com um pequeno grupo de trabalhadores que são “especializados” neste tipo de terreno. Vejam algumas imagens a seguir.

Uma das histórias mais interessantes relatadas por nosso anfitrião foi sobre um vinhedo, com mais de 80 anos, localizado numa das encostas mais inclinadas e expostas ao Sol, com algumas aflorações de Xisto no meio das parreiras, o que dificulta o trabalho. Por esta razão, ficou meio abandonado por muito tempo. Tentaram de tudo para revitalizar esta área, mas só as vinhas originais conseguiam sobreviver. Todas as tentativas de replantio não vingaram. Em 2004 decidiram vinificar o que fosse colhido destas vetustas parreiras. Sucesso! O vinho, que recebeu o nome de “Abandonado”, logo mostrou que tinha caráter e personalidade únicos.

Após o passeio, iniciamos uma deliciosa degustação que não deixou nenhuma dúvida sobre a excelência dos vinhos produzidos pelos Alves de Souza:

– Branco da Gaivosa 2013 – elaborado com Malvasia Fina, Gouveio e Viosinho (pode haver outras) colhidas em vinhedos com mais de 60 anos. Bonita coloração amarelo palha, aromas e sabores de frutas secas e uma boa untuosidade devido a um estágio em barris de carvalho francês; Nota: 16/20

– Quinta da Gaivosa Douro 2009 – as castas, Tinta Roriz, Touriga Franca, Tinto Cão, Touriga Nacional e outras são provenientes de vinhas velhas com 60 anos ou mais. Apresentou cor avermelhada com intensos aromas e sabores de frutas vermelhas e suave nuance de especiarias devido ao estágio em carvalho francês; Nota: 17,5/20

– Alves de Souza Reserva Pessoal Tinto 2005 – produzido com os melhores exemplares de Tinta Roriz, Tinto Cão e Touriga Nacional obtidos na Quinta, vinhas velhas com mais de 60 anos. Um vinho intenso, complexo e encorpado com aromas e sabores transitando desde as especiarias até frutas maduras. Recebeu diversos prêmios em colheitas anteriores, alcançando 17,5 pts na edição atual do Guia de João Paulo Martins;

– Abandonado 2007 – somente é produzido em safras muito especiais, e 2007 foi uma delas. Um “vinhaço”, muito estruturado, encorpado e elegante com predominância de frutas negras no nariz e palato. Recebeu 18 pontos no guia citado acima;

– Porto Quinta da Gaivosa 10 anos – outro vinho de alta gama que encerrou esta degustação maravilhosa. Nota: 16,5/20

 

 

A última foto acima mostra o velho alambique onde era produzida a aguardente adicionada ao “Porto”. Devido a regulamentações governamentais, hoje é mais fácil compra-la de terceiros. O conjunto virou uma bonita peça de decoração.

Quase ao final de nossa prova de vinhos, Tiago recebe um telefonema de seu amigo Álvaro Martinho, nos convidando para ir até seu “armazém” que fica a poucos metros de distância. Começava nova e deliciosa aventura.

Álvaro nos recebeu em grande estilo e com algumas surpresas. Seu armazém fica sob sua residência e funciona como uma micro-vinícola, adega, sala de ensaio da banda, enfim, um espaço multitarefa.

O seu vinho se chama Mafarrico e tem sido bem aceito pelo mercado. O Branco foi escolhido como melhor em sua categoria em 2013.
Outro detalhe que chamou a nossa atenção era sua adega eclética onde havia até vinhos top, como o famoso “Barca Velha”.

Para encerrar esta nossa incrível viagem ao Douro, Álvaro nos brindou com um pouco de sua música, além de diversas garrafas de vinhos, tudo acompanhado de pães, queijos e embutidos.

Inesquecível!

Dica da Semana: continuamos na terrinha…

Casa de Sarmento Espumante Brut
Cor amarela palha de aspecto cristalino, bolha fina e persistente. Aroma elegante, discreto, com alguma fruta.
Muito agradável na boca, fresco, com uma mousse muito delicada e boa acidez.
Excelente para entradas, bem como para acompanhar peixes, mariscos e o típico Leitão da Bairrada.

Viagem Enogastronômica à Espanha e Portugal – I

Mais uma grande aventura, desta vez em terras do Velho Mundo. O principal objetivo era conhecer a região do Douro, Portugal, onde é produzido o famoso vinho do Porto e também alguns dos melhores vinhos de alta gama deste tradicional país produtor. Aproveitamos a oportunidade para experimentar a sempre sofisticada gastronomia espanhola e alguns de seus vinhos icônicos.
 
Nosso roteiro começou por Madrid onde ficamos um par de dias. Depois, a bordo de um confortável automóvel, passeamos por Ávila, Salamanca, Pinhão, Vila Real, Peso da Régua, Porto, Óbidos, Sintra e Lisboa. Foram 10 dias e muito chão. Visitamos algumas Quintas no Alto Douro onde conhecemos pessoas encantadoras, restaurantes deliciosos e vinhos espetaculares.
 
Ao contrário de outros relatos das nossas viagens, este será mais focado no aspecto enogastronômico. Começamos pela nossa estadia em Madrid.
 
O Restaurante Estay
 
 
Com um estilo que se intitula “Pinchos & Vinos” procura unir a ideia das Tapas, pequenos bocados, com alta gastronomia. Um ambiente muito acolhedor e confortável com um cardápio para se pedir todas as opções e passar longas horas desfrutando boa comida e bons vinhos.
 
 
Para acompanhar a diversidade de pequenas porções escolhidas (Queso puro de Oveja, Jamón Bellota, Crepe de Txangurro, etc.) selecionamos uma ótima Cava, a Juve y Camps Rose Brut de Pinot Noir, que harmonizou corretamente.
 
Este produtor já recebeu diversos prêmios por suas Cavas, talvez as melhores do país. A ilustração a seguir mostra as medalhas ou notas deste espumante.
 
 
Na nossa segunda e última noite na capital espanhola fomos nos divertir na tradicional Bodega de La Ardosa, uma casa fundada em 1892. Um ambiente que nos leva de volta no tempo. Oferece um cardápio das mais tradicionais tapas e uma seleção de bebidas que passeiam desde a boa cerveja até um vermute tirado diretamente do barril, como se fosse o nosso Chopp.
 
 
Na manhã seguinte partimos para Salamanca.
 
Bar Tapas 2.0, Salamanca
 
Este foi o local escolhido para o almoço na chegada a esta cidade universitária, cheia de história. Muito interessante ser chamado de “Gastrotasca”, praticamente um bar de rua, sem nenhuma pretensão. Mas tudo que nos foi servido estava delicioso. Para acompanhar um grande vinho: Predicador!
 
 
Elaborado por Benjamin Romeo, autor do consagrado Contador (100 pts Parker), este vinho, embora jovem (2012) já mostrava excelentes qualidades. Um corte de 94% de Tempranillo e 6% de Garnacha, que estagiou por 15 meses em barricas de carvalho francês de 1º uso.
 
O nome é uma homenagem ao eterno personagem de Clint Eastwood, “The Preacher”, reparem no chapéu do rótulo. Excelente vinho.
 
Restaurante El Monje, Salamanca
 
Para a despedida, jantamos num dos melhores da cidade. Ambiente elegantíssimo, comida refinada e uma carta de vinhos que nos deixou cheio de dúvidas sobre qual escolher. Decidimos pelo Abadia Retuerta Selecion Especial 2009, um clássico da região de Castilla e Leon (Sardon del Duero). A safra de 2001 foi considerada a melhor do mundo no International Wine Challenge de 2005. Um delicioso e complexo corte de 75% Tempranillo, 15% Cabernet Sauvignon e 10% Syrah que estagiou por 16 meses em barricas de carvalho francês e americano.
 
 
Plagiando o lema da vinícola: “um trabalho bem feito”. Ficou perfeito com os pratos pedidos, inclusive com o meu polvo, acreditem.
 
 
Próxima parada: Pinhão, no coração do Douro, Portugal.
 
Dica da Semana:  o irmão menor do melhor vinho degustado na Espanha.
 
Abadia Retuerta Rívola 2009
60% Tempranillo, 40% Cabernet Sauvignon
Cor cereja intenso, lágrima densa e transparente.
No nariz, se mostra apurado, com aromas complexos: morango, café, alcaçuz, pimenta negra, cacau.
Na boca, é redondo, frutado muita fruta roxa, barrica, caramelo e toque mineral.
Robert Parker: 88 pontos
 
 
 

Conselhos de José Peñin

José Peñín é o mais prolífico escritor sobre temas vitivinícolas na língua espanhola e autor do principal guia vinícola espanhol, que leva o seu nome. Muito respeitado por seus colegas inclusive em nível internacional, já percorreu quase todas as regiões produtoras do mundo seja visitando, fazendo palestras ou participando de importantes concursos. É considerado um grande juiz da qualidade dos vinhos.
 
Nesta sua pagina da Internet (http://jpenin.guiapenin.com/2013/08/15/10-topicos-del-vino-a-eliminar/) estão comentados alguns tópicos que ele sugere que devem ser repensados.
 
Apresento a seguir, traduzidos e adaptados, os pontos que considerei como mais relevantes. Boa leitura!
 
– “Alguns produtos de consumo, como o vinho e alimentos, estão contaminados por certas crenças difundidas através do “boca a boca” que alimentam, como no caso do vinho, uma suspeita de que a valorização alcançada por esta bebida seja uma fraude histórica, crença outrora comum. Quanto à comida, acontece o mesmo, por se considerar que aquilo que está perto ou é familiar sempre é melhor do que uma cozinha pública.
 
Infelizmente, tem-se levado mais em consideração o comentário do amigo ou do vizinho do que aquilo que está escrito ou que consta de publicações especializadas. A grande imprensa, capaz de penetrar todas as esferas da sociedade, tem sido, de certa forma, responsável por essas atitudes, porque não percebeu a necessidade de um aprendizado prévio ou de um maior interesse por um tema que, na vida diária (segundo eles), não mereceria maior aprofundamento. Entre todos os assuntos, nunca houve uma distância tão grande entre generalistas e especialistas como no vinho.
 
1 – O VINHO TINTO MELHORA COM O TEMPO
 
O tinto não melhora, simplesmente muda. O tinto só se situa no lugar que lhe corresponde organolepticamente aos 4 ou 5 meses depois de engarrafado, ou seja, suas condições e características estarão equilibradas. Neste momento, o vinho pode estar fechado do ponto de vista aromático, o carvalho sobressai e no caso dos brancos e dos tintos leves, percebem-se as matizes secundárias da fermentação (matizes falsas de frutas tropicais e leveduras), que podem perdurar por até 5 meses depois da elaboração.
 
A partir deste período, o vinho vai adquirindo, com o passar dos anos, novas matizes (notas de tabaco, couro, frutos secos), mas também vai perdendo as especificidades da sua variedade e as notas minerais.
 
2 – VINHOS BRANCOS COM PEIXES E TINTOS COM CARNES
 
Generalizando, não é tanto o tipo do vinho que importa, mas a sua estrutura. Um vinho branco com 13,5º de teor alcoólico ou mais, que passou por madeira ou foi fermentado numa barrica, possui volume e “peso” na boca suficientes para acompanhar uma carne, enquanto um tinto leve e fresco pode harmonizar com um peixe.
 
Apesar disto, o vinho branco é melhor opção que um tinto para combinar com qualquer proposta culinária. Não podemos esquecer que o tinto é mais contemporâneo que o branco que tem sido o vinho “de toda a vida”. O que os Cruzados bebiam com a carne? Brancos espessos e turvos.
 
3 – NÃO ENTENDO DE VINHO, MAS SEI DO QUE GOSTO E DO QUE NÃO
 
Uma frase repetida constantemente. Quando um apaixonado por vinhos se encontra com um especialista, se defende com esta frase. Mas ninguém afirma, por modéstia cultural, que não entende de arte, música ou livros. Por que temos que entender de vinhos para compará-los? O nosso paladar é o ponto mais sagrado. Preciso ser um especialista em informática para comprar um computador? Pesquiso numa boa loja ou numa revista especializada. Tenho que conhecer a vida e a obra dos melhores diretores de cinema para escolher um bom filme? Esta é a função da crítica. O importante é que o neófito tenha memória suficiente para lembrar-se do rótulo ou rótulos que lhe agradaram e, a partir daí, consultar um especialista ou buscar ou comparar com as críticas.
 
4 – O ROSADO É UM VINHO MENOR
 
Lamentavelmente, esta crença nasceu de uma prática muito comum nas bodegas de 20 anos atrás, quando se misturavam tintos e brancos para fazer um rosado que sempre obtinha o recorde de ser a marca mais barata do catálogo. “Um vinhos para os chineses”, se dizia então.
Um rosado, logicamente, deve ser o vinho jovem com um custo de produção superior, uma vez que a ortodoxia afirma que para elaborar um rosado tem-se que escolher somente a lágrima do vinho (o primeiro mosto que sai dos grãos da uva tinta quando comprimidos pelo peso dos cachos no depósito). Além disso, é o vinho, onde todos os cuidados para preservar a fruta são poucos. Suas características identificam melhor a personalidade da uva que o vinho tinto, isto no clima ibérico que exige uma colheita precoce e, portanto, feita no auge da maturação aromática da casta.
 
5 – VINHOS BRANCOS DURAM MENOS QUE OS TINTOS
 
Nem sempre. Se ambos os vinhos contam um equilíbrio entre álcool e acidez, a rolha está em bom estado e são mantidos a uma temperatura entre 15º e 18º, podem ser bebidos “sine die”. Tampouco está claro que os taninos da uva tinta e os aportados pela barrica sejam um fator de longevidade, uma vez que, com o tempo, estas moléculas se precipitam ao fundo da garrafa, embora sejam os elementos gustativos mais enriquecedores. Um branco de 20 anos na garrafa exibe essencialmente uma cor mais amarela com notas de frutas e ervas secas, traços que, com o equilíbrio de seus componentes, são perfeitamente assimilados.
 
6 – O ESPUMANTE É MELHOR COM A SOBREMESA
 
Outra herança do passado. Há uns 60 anos, a maioria dos vinhos espumantes eram doces ou meio doces (demi-sec). A própria origem desta bebida é doce, quando os vinhos da região de Champagne, até meados do século XIX, eram engarrafados sem terminar de fermentar, conservando a doçura do mosto e o gás carbônico do processo inacabado. Isto provocou o seu consumo com as sobremesas ou nas desenfreadas noites da “Belle Époque”. Hoje praticamente só se consome o Brut ou o Brut Nature, ou seja, um sabor seco que o torna mais adequado a ser consumido no aperitivo ou mesmo no transcurso da refeição.
 
7 – MULHERES PREFEREM VINHOS DOCES
 
Não existem vinhos para homens ou mulheres. Este provérbio se refere ao fato de a mulher ter incorporado a bebida alcoólica, no âmbito social, mais tarde (que os homens) e, neste caso, num primeiro contato de um neófito com o vinho, seja ele homem ou mulher, tende a preferir sabores adocicados, para depois ir incorporando ao seu paladar os sabores mais secos ou marcantes.
Ao contrário do esperado, a mulher conhecedora, devido à sua maior sensibilidade, é muito mais segura na hora de comprar qualquer vinho e vacila menos que o homem na hora da degustação. As gerações femininas atuais são mais sensíveis e menos radicais neste tema.
 
8 – VINHOS DE AUTOR
 
Todos os vinhos são de “autor”, uma vez que, por trás de cada marca existe uma equipe dirigida por um enólogo. Por tanto, temos que fugir do rótulo de “vinho de autor” quando usado como apelo comercial, isto não implica que seja melhor”.
 
Sábios conselhos!
 
Dica da Semana:  um bom rosado para confirmar o que Peñin escreveu.
 
 Memoro Rosato (Piccini)
Este cativante rosado é elaborado com uvas cultivadas em quatro regiões da Itália:
a Negroamaro vem da Puglia;
a Nero d’Ávola da Sicília;
a Montepulciano de Abruzzo e
a Merlot do Vêneto.
O objetivo foi elaborar um vinho saboroso e ao mesmo tempo capaz de transmitir seu fiel acento italiano.
 

Rótulos diferentes, estranhos e engraçados

Não há como negar: alguma vez compramos uma garrafa de vinho apenas porque gostamos do seu rótulo ou nome.
A função desta etiqueta colada na garrafa é esta mesmo, atrair o olhar do comprador, além de cumprir exigências legais de cada país produtor. Existem dezenas de escritórios de design especializados nesta tarefa. Não é uma escolha simples, muitas vezes o rótulo ou o que está nele define o caráter do vinho ou o do produtor que o elaborou. Mas alguns produtos transcendem estas regras básicas e elaboram verdadeiras joias, algumas com histórias fascinantes.

Uma delas é bem conhecida nossa, o famoso vinho da Concha y Toro “Casillero del Diablo”. Reza a lenda que o fundador desta importante vinícola, Don Melchor Concha y Toro se deu conta que estava sendo roubado por seus próprios empregados: à noite, entravam na cave e levavam os melhores vinhos que ali estavam repousando, justamente aqueles reservados para o patrão.

Em vez de colocar alarmes ou soltar cães ferozes, decidiu espalhar um boato que a adega subterrânea era a “câmara do diabo” (tradução de Casillero de Diablo), a morada de Belzebu, e quem acessasse aquele covil estaria condenado ao inferno. Funcionou.

Hoje em dia uma imagem de um diabinho saúda os visitantes que vão conhecer este local.

Outro rótulo curioso que já foi mencionado numa coluna anterior foi o “Le Cigarre Volant” ou “O Disco Voador”. O bem humorado produtor norte americano Randall Graham, um especialista nas castas típicas do Vale do Ródano, decidiu fazer uma fina gozação com uma lei francesa que proíbe o pouso de discos voadores nos vinhedos daquela região. Apesar da brincadeira, o vinho é delicioso.

Este outro rótulo diferente vem da França. Um produtor indignado com a falta de respeito dos legisladores com a casta Jurançon Noir, da região de Cahors, que não acataram um pedido de Denominação de Origem, se vingou colocando no rótulo do seu bom vinho toda a sua indignação, raiva e decepção:

A tradução literal seria “Vocês F*** Meu vinho” (este blog é familiar…). O prejuízo para o produtor com a falta da AOC (denominação de origem) é ter que vender seu produto como “de mesa”. Na França são os vinhos de qualidade inferior. Mas a piada é boa!

Um dos rótulos mais estranhos da Austrália é o “Dead Arm Shiraz” do famoso produtor D’Aremberg.

A tradução literal seria “Braço Morto”, uma referência a uma forte contusão no ombro que tem como consequência deixar o braço sem ação. Mas há uma interessante pegadinha: esta mesma expressão é usada para designar uma doença da videira. Parte dela fica morta e toda a energia da planta acaba sendo concentrada na parte que sobrevive. Este vinho é produzido com os cachos obtidos unicamente nas parreiras atacadas por esta doença. Um vinho único. Deste mesmo produtor vamos encontrar outros nomes estranhos como “Money Spider” (aranha do dinheiro) e “Twenty-Eight Road” (Rodovia 28).

A Nova Zelândia também tem seu rótulo esquisito: “Cat’s Pee on a Gooseberry Bush” ou “Xixi de Gato num Pé de Groselha”, um ótimo Sauvignon Blanc da região de Marlborough, reconhecida como o melhor terroir para esta casta. Por trás da história deste rótulo, muita ironia.

Surpreendidos pela qualidade e pelos diferentes aromas e sabores destes clássicos neozelandeses, os críticos adotaram algumas expressões bem deselegantes para defini-los em comparação com vinhos do Loire: “sweaty armpits” (axílas suadas); “freshly cut grass” (grama recém-cortada), entre outras.

A vinícola Coopers Creek percebeu uma oportunidade e capitalizou em cima destas expressões: apoderou-se de um bordão da respeitada crítica inglesa Jancis Robinson (cat’s pee) e batizou o seu vinho. Um dos presentes favoritos em festinhas de escritório…

Para terminar uma história que vem da Hungria e tem um curioso final brasileiro.

Durante a invasão conduzida pelo Sultão Suleimão o Magnífico, em 1552, os soldados que defendiam o Castelo de Eger eram motivados com uma deliciosa comida e grandes quantidades de um vinho tinto que bebiam constantemente. Durante os ataques do exército turco, os húngaros defendiam suas posições com bravura e ferocidade incomuns.

Para explicar tal disposição, corria um rumor entre os soldados turcos que os húngaros misturavam o vinho com sangue de touro. Esta seria a única explicação possível para tanta disposição em defender o Castelo. Cansados, os turcos desistiram do ataque e se retiraram. Vitória para os Húngaros!
O vinho foi batizado como “Egri Bikaver” (Sangue do Touro de Egri) numa bela homenagem.

Aqui no Brasil, embora não exista a lenda, temos uma bebida homônima, vendida como vinho embora seja produzido a partir de uvas comuns. Um campeão de vendas…

Homenagem, referência ou apenas uma coincidência?

Dica da Semana: já pensando nas festas de fim de ano um bom espumante para começar o estoque.

Cave Pericó Espumante Brut

Para a elaboração deste espumante Brut foram utilizadas as cepas Cabernet Sauvignon (60%) e Merlot(40%).
Apresenta uma coloração amarelo palha. Seu aroma é fino e delicado com notas de frutas brancas, pêra e maçã verde.
Em boca tem ótima acidez e equilíbrio, com boa cremosidade, muito persistente e com retro-olfato agradável e frutado.

Vinhos Laranja

Mais uma denominação?
 
Tintos, Rosés, Brancos, Espumantes, Doces, Fortificados e Laranjas?
 
Tem laranja neste vinho?
 
Resposta única para as três questões: Não!
 
Uma nova tendência apenas, capitaneada por inquietos e criativos enólogos que não param de buscar novos caminhos. O Vinho Laranja é um branco que foi vinificado como um tinto.
 
Para refrescar a memória dos leitores, vinhos brancos eram obtidos a partir da fermentação do suco das uvas, sem as cascas, sementes ou engaços, ao contrário dos tintos onde a presença da pele escura é necessária para garantir cor, taninos e outras características. (o suco da uva é sempre de cor clara, quase incolor…)
 
Quando se vinifica brancos desta forma obtém-se uma simbiose de algumas características desejáveis além de uma cor belíssima. Vejam a foto:
 
 
São bebidas extremamente gastronômicas devido a taninos marcantes, teor alcoólico elevado, acidez moderada e alguma mineralidade. Caso tenham passado por madeira, ganham notas típicas dos vinhos que amadureceram em carvalho.
 
As primeiras experiências nesta linha forma feitas na Eslovênia e na Itália com técnicas adaptadas das antigas vinificações em ânforas de barro ou em recipientes de madeira. Atualmente estão experimentados com os tanques de concreto em formato oval com ótimos resultados.
 
Na Argentina, Matias Michelini em sua Passionte Wine produz um delicioso Torrontés denominado “Brutal” com este recurso. Uma experiência diferente, mas não é um vinho fácil de encontrar, mesmo lá. Trata-se de um experimento, um projeto pessoal.
 
Apresentamos abaixo uma lista dos “Laranjas” mais conhecidos:
 
Itália:
 
Gravner Amfora Ribolla Gialla 2005 (Venezia Giulia)
 
Gravner Breg 2006 (Venezia Giulia)
 
Vodopivec Classica Vitovska 2006 (Venezia Giulia)
 
Eslovênia:
 
Movia Veliko 2007 (Brda)
 
Edi Simcic Sauvignon 2010 (Goriška Brda)
 
Simsic Teodor Belo Selekcija 2008 (Goriška Brda)
 
Kabaj 2006 Amfora (Goriška Brda)
 
Geórgia:
 
Alaverdi Monastery Cellar Qvevri 2010 (Kakheti)
 
Pheasant’s Tears Amber Rkatsiteli 2009 (Kakheti)
 
América do Norte:
 
Channing Daughters Meditazione 2009 (Long Island)
 
Alguns destes rótulos estão à venda no Brasil, mas não são baratos.

Dica da Semana:  Por aqui também temos o nosso vinho laranja.
 
Era dos Ventos Peverella 2010
 
Um toque tipicamente picante ao paladar faz jus ao nome desta uva, pois Peverella significa “pimenta”.
De cor dourada encantadora, é fruto de uma elaboração com mínima intervenção e longo tempo de maceração da uva com a casca.
Com um pouco mais de tempo, vai revelando aromas cítricos, toques minerais e florais e, claro, a típica pimenta.
Rico, amarelado, untuoso, uma verdadeira experiência única.
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