José Peñín é o mais prolífico escritor sobre temas vitivinícolas na língua espanhola e autor do principal guia vinícola espanhol, que leva o seu nome. Muito respeitado por seus colegas inclusive em nível internacional, já percorreu quase todas as regiões produtoras do mundo seja visitando, fazendo palestras ou participando de importantes concursos. É considerado um grande juiz da qualidade dos vinhos.
 
Nesta sua pagina da Internet (http://jpenin.guiapenin.com/2013/08/15/10-topicos-del-vino-a-eliminar/) estão comentados alguns tópicos que ele sugere que devem ser repensados.
 
Apresento a seguir, traduzidos e adaptados, os pontos que considerei como mais relevantes. Boa leitura!
 
– “Alguns produtos de consumo, como o vinho e alimentos, estão contaminados por certas crenças difundidas através do “boca a boca” que alimentam, como no caso do vinho, uma suspeita de que a valorização alcançada por esta bebida seja uma fraude histórica, crença outrora comum. Quanto à comida, acontece o mesmo, por se considerar que aquilo que está perto ou é familiar sempre é melhor do que uma cozinha pública.
 
Infelizmente, tem-se levado mais em consideração o comentário do amigo ou do vizinho do que aquilo que está escrito ou que consta de publicações especializadas. A grande imprensa, capaz de penetrar todas as esferas da sociedade, tem sido, de certa forma, responsável por essas atitudes, porque não percebeu a necessidade de um aprendizado prévio ou de um maior interesse por um tema que, na vida diária (segundo eles), não mereceria maior aprofundamento. Entre todos os assuntos, nunca houve uma distância tão grande entre generalistas e especialistas como no vinho.
 
1 – O VINHO TINTO MELHORA COM O TEMPO
 
O tinto não melhora, simplesmente muda. O tinto só se situa no lugar que lhe corresponde organolepticamente aos 4 ou 5 meses depois de engarrafado, ou seja, suas condições e características estarão equilibradas. Neste momento, o vinho pode estar fechado do ponto de vista aromático, o carvalho sobressai e no caso dos brancos e dos tintos leves, percebem-se as matizes secundárias da fermentação (matizes falsas de frutas tropicais e leveduras), que podem perdurar por até 5 meses depois da elaboração.
 
A partir deste período, o vinho vai adquirindo, com o passar dos anos, novas matizes (notas de tabaco, couro, frutos secos), mas também vai perdendo as especificidades da sua variedade e as notas minerais.
 
2 – VINHOS BRANCOS COM PEIXES E TINTOS COM CARNES
 
Generalizando, não é tanto o tipo do vinho que importa, mas a sua estrutura. Um vinho branco com 13,5º de teor alcoólico ou mais, que passou por madeira ou foi fermentado numa barrica, possui volume e “peso” na boca suficientes para acompanhar uma carne, enquanto um tinto leve e fresco pode harmonizar com um peixe.
 
Apesar disto, o vinho branco é melhor opção que um tinto para combinar com qualquer proposta culinária. Não podemos esquecer que o tinto é mais contemporâneo que o branco que tem sido o vinho “de toda a vida”. O que os Cruzados bebiam com a carne? Brancos espessos e turvos.
 
3 – NÃO ENTENDO DE VINHO, MAS SEI DO QUE GOSTO E DO QUE NÃO
 
Uma frase repetida constantemente. Quando um apaixonado por vinhos se encontra com um especialista, se defende com esta frase. Mas ninguém afirma, por modéstia cultural, que não entende de arte, música ou livros. Por que temos que entender de vinhos para compará-los? O nosso paladar é o ponto mais sagrado. Preciso ser um especialista em informática para comprar um computador? Pesquiso numa boa loja ou numa revista especializada. Tenho que conhecer a vida e a obra dos melhores diretores de cinema para escolher um bom filme? Esta é a função da crítica. O importante é que o neófito tenha memória suficiente para lembrar-se do rótulo ou rótulos que lhe agradaram e, a partir daí, consultar um especialista ou buscar ou comparar com as críticas.
 
4 – O ROSADO É UM VINHO MENOR
 
Lamentavelmente, esta crença nasceu de uma prática muito comum nas bodegas de 20 anos atrás, quando se misturavam tintos e brancos para fazer um rosado que sempre obtinha o recorde de ser a marca mais barata do catálogo. “Um vinhos para os chineses”, se dizia então.
Um rosado, logicamente, deve ser o vinho jovem com um custo de produção superior, uma vez que a ortodoxia afirma que para elaborar um rosado tem-se que escolher somente a lágrima do vinho (o primeiro mosto que sai dos grãos da uva tinta quando comprimidos pelo peso dos cachos no depósito). Além disso, é o vinho, onde todos os cuidados para preservar a fruta são poucos. Suas características identificam melhor a personalidade da uva que o vinho tinto, isto no clima ibérico que exige uma colheita precoce e, portanto, feita no auge da maturação aromática da casta.
 
5 – VINHOS BRANCOS DURAM MENOS QUE OS TINTOS
 
Nem sempre. Se ambos os vinhos contam um equilíbrio entre álcool e acidez, a rolha está em bom estado e são mantidos a uma temperatura entre 15º e 18º, podem ser bebidos “sine die”. Tampouco está claro que os taninos da uva tinta e os aportados pela barrica sejam um fator de longevidade, uma vez que, com o tempo, estas moléculas se precipitam ao fundo da garrafa, embora sejam os elementos gustativos mais enriquecedores. Um branco de 20 anos na garrafa exibe essencialmente uma cor mais amarela com notas de frutas e ervas secas, traços que, com o equilíbrio de seus componentes, são perfeitamente assimilados.
 
6 – O ESPUMANTE É MELHOR COM A SOBREMESA
 
Outra herança do passado. Há uns 60 anos, a maioria dos vinhos espumantes eram doces ou meio doces (demi-sec). A própria origem desta bebida é doce, quando os vinhos da região de Champagne, até meados do século XIX, eram engarrafados sem terminar de fermentar, conservando a doçura do mosto e o gás carbônico do processo inacabado. Isto provocou o seu consumo com as sobremesas ou nas desenfreadas noites da “Belle Époque”. Hoje praticamente só se consome o Brut ou o Brut Nature, ou seja, um sabor seco que o torna mais adequado a ser consumido no aperitivo ou mesmo no transcurso da refeição.
 
7 – MULHERES PREFEREM VINHOS DOCES
 
Não existem vinhos para homens ou mulheres. Este provérbio se refere ao fato de a mulher ter incorporado a bebida alcoólica, no âmbito social, mais tarde (que os homens) e, neste caso, num primeiro contato de um neófito com o vinho, seja ele homem ou mulher, tende a preferir sabores adocicados, para depois ir incorporando ao seu paladar os sabores mais secos ou marcantes.
Ao contrário do esperado, a mulher conhecedora, devido à sua maior sensibilidade, é muito mais segura na hora de comprar qualquer vinho e vacila menos que o homem na hora da degustação. As gerações femininas atuais são mais sensíveis e menos radicais neste tema.
 
8 – VINHOS DE AUTOR
 
Todos os vinhos são de “autor”, uma vez que, por trás de cada marca existe uma equipe dirigida por um enólogo. Por tanto, temos que fugir do rótulo de “vinho de autor” quando usado como apelo comercial, isto não implica que seja melhor”.
 
Sábios conselhos!
 
Dica da Semana:  um bom rosado para confirmar o que Peñin escreveu.
 
 Memoro Rosato (Piccini)
Este cativante rosado é elaborado com uvas cultivadas em quatro regiões da Itália:
a Negroamaro vem da Puglia;
a Nero d’Ávola da Sicília;
a Montepulciano de Abruzzo e
a Merlot do Vêneto.
O objetivo foi elaborar um vinho saboroso e ao mesmo tempo capaz de transmitir seu fiel acento italiano.