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Dica da Semana: um bom Tannat produzido no Uruguai, para que ninguém duvide das castas ‘não nobres’.
Intensa cor vermelha com reflexos rubi. Aroma onde domina frutas vermelhas e cassis. Muito bem estruturado com presença de taninos revestidos e frutas vermelhas.
Nas últimas colunas foram mencionados alguns ícones do mundo do vinho. Todos muito bons e muito caros. Se olharmos para este mercado de alta gama ficaremos chocados com os valores pagos por determinados rótulos famosos. Recentemente uma garrafa de Romanée–Conti foi arrematada por mais de 13 mil dólares!
Há alguma coisa que justifique estes valores?
São vários aspectos que devem ser levados em conta, desde a legislação de um país, volume de produção, técnicas de marketing e até a má administração de empresas que buscam cobrir seus prejuízos.
No caso do renomado vinho da Borgonha o preço se justifica por duas razões:
1 – a legislação francesa, sempre muito rigorosa, só classifica naquela região como vinhedo de excelência uma pequena parcela;
2 – em função disto a produção é minúscula. Logo, são poucas garrafas à venda deste fabuloso vinho.
A segunda pergunta que devemos nos fazer antes de embarcar numa compra ousada é: vale a pena?
Nem sempre. Muitos destes vinhos têm uma fama que, hoje em dia, não é mais devida – foram grandes vinhos. A concorrência é feroz e com a chegada dos vinhos do Novo Mundo a guerra de marketing se tornou a parte mais importante do negócio.
Reparem na divisão entre Novo e Velho mundo – há lugar para grandes vinhos nos dois segmentos. Não há dúvida que os rótulos mais tradicionais vão se agarrar ao seu passado e extrair tudo o que puderem disto. Do outro lado do Atlântico, onde não há tanta tradição, o caminho será o de se equiparar, inclusive no preço…
Mas é possível comprar um excelente vinho por um preço palatável. Basta seguir alguns conselhos.
A menção ao Romanée-Conti não foi gratuita. Sua principal característica é ser elaborado com uvas de um único vinhedo. Esta é a primeira dica: procurem nos rótulos a expressão ‘Vinhedo único’ ou as traduções ‘Single vineyard’, ‘viñedo único’, ‘U.V.’ (unique vigneron) ou a versão mais moderna que prefere citar ‘Block #’ e ‘Parcela #’. Isto é uma garantia de um produto de melhor qualidade, com elaboração cuidadosa. Podemos encontrar excelentes produtos, que equivalem a um Borgonha Prémier Cru por 1/3 do preço.
Uma segunda dica são os chamados ‘segundos vinhos’ das grandes vinícolas. Esta opção surge quase naturalmente quando uma determinada safra não atinge o padrão para o grande vinho ou, mais comum atualmente, para enfrentar a concorrência do mercado sem alienar a marca mais famosa da vinícola.
Este vinho é ruim?
De maneira nenhuma. Não se pode esquecer que vinho é um negócio. Nenhum produtor vinifica só por amor à arte, precisam de retorno para o investimento. Outra trilha muito usada é a venda do vinho por atacado para engarrafadores independentes. Estes lançam excelentes produtos com seus próprios rótulos e a preços bem mais competitivos. Alguns exemplos:
Pavillion Rouge é produzido pelo Château Margaux;
Les Forts de Latour, pelo Château Latour;
Liberty School, produzido pela afamada Caymus da Califórnia;
Hawk Crest, elaborado pela premiada vinícola Stag’s Leap.
Os ‘Negociantes’, muitas vezes vinhateiros também, são comuns na França, por exemplo: Bouchard Père et Fils, Louis Jadot, Joseph Drouhin e Vincent Girardin na Borgonha; Georges Duboeuf em Beaujolais; Guigal, Jean-Luc Colombo e Mirabeau na Provence; Jaboulet no Vale do Rhône.
Basta olhar nos rótulos ou contra-rótulos para comprar excelentes vinhos por uma fração do preço dos ‘famosos’. Isto vale para os produtores sul-americanos também: Bramare e Felino são segundas marcas da Viña Cobos; Tomero é elaborada pela premiada Vistalba; Alamos é a linha básica da Catena Zapata, e assim por diante.
Um truque que gosto muito é experimentar as varietais pouco conhecidas, tintas ou brancas. Em vez de um Sauvignon Blanc prove um Torrontés, no lugar do trio Cabernet, Merlot e Syrah, parta para um Tannat ou Ancelotta. Já fiz ótimas descobertas assim, com um custo muito baixo.
Por último, tentem os produtos nacionais ou pelo menos do cone sul em lugar de europeus ou americanos. Tudo bem que nem sempre o nosso vinho tem preço competitivo, mas com uma boa dose de perseverança podemos encontrar bons caldos. Os espumantes não me deixam mentir, não devem nada aos demais.
Dica da Semana: uma destas descobertas, numa prova oferecida em uma delicatessen.
Produtor: Luis Segundo Correas
País: Argentina/Mendoza – Medrano
Com uma bela coloração amarelo ouro com reflexos esverdeados, seu intenso aroma lembra flores brancas, ervas e frutas brancas. No palato tem acidez equilibrada e final de boca muito longo, atípico para esta casta. Elaboração primorosa. Bom companheiro para um final de tarde ou borda de piscina.
Com o grupo dividido, optamos por fazer os pedidos ‘à la carte’. Um extenso cardápio foi apresentado, como era esperado, calcado em frutos do mar. A nossa mesa optou por entradas como o Tiradito, finas lâminas de atum marinadas e o Carpaccio de Polvo. Para os pratos principais houve um pouco de tudo, carnes, peixes e frutos do mar.
Os pratos recebem nomes sugestivos, como o ‘Iñaki’, elaborado a partir da Merluza Negra do Atlântico, um dos peixes mais valorizados, ou o simpático prato de pequenas lulas cozidas no vinho branco, o ‘Mi Amigo El Vasco’.
O branco estava muito interessante e surpreendeu a todos que o provaram. Apenas por curiosidade, provei o correto tinto, que promovia um casamento perfeito com o Ojo de Bife de novilho jovem. O peixe que faz mais sucesso foi a Merluza.
Este grupo, em particular, tem um viés por doce de leite. Os produzidos no Uruguai são famosos. Para complicar, havia duas opções com esta iguaria: Homenaje al Dulce de Leche e A Quién no le Gusta el Chocolate.
A foto mostra a tal ‘Homenagem’, três preparações diferentes: mini-panquecas recheadas, sorvete caseiro e um drink feito com o Licor Bailey’s.
Ao final, concluímos que esta fora ‘a melhor refeição’ feita num restaurante sul-americano. Parabéns à Chef Maria Helena.
José Paulo Gils, nosso experiente consultor, lembra: “Qualquer que seja o produto, você pode comprar um de boa qualidade sem ser conhecedor do assunto. Isto vale para os vinhos”.
Também não precisamos nos preocupar se o vinho era ruim. Neste caso ele sempre será um bom vinho e aqui começa a nossa aventura. Poderíamos, simplesmente, comprar outra garrafa idêntica. Estaremos absolutamente seguros que vamos repetir uma boa experiência, mas o que aprendemos? Nada!
Encontrar este vinho tão especial é quase um rito de passagem. Agora estamos seguros para tentar entender o que é ter paixão por vinhos, discutir sobre Chateau Petrús, Vega-Sicilia e Romanée Conti e, quem sabe, investir numa garrafa icônica.