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Mendoza 2014 – 2º dia

A jornada começou cedo, às 8:30 já estávamos a bordo da van a caminho de Maipu e Lujan onde visitaríamos outras três vinícolas. A primeira, Domaine St. Diego, do renomado enólogo Angel Mendoza, foi um dos pontos altos desta viagem.
 
Ao contrário da grande maioria das visitas, destinadas a turistas, que enfatizam a arquitetura, a modernidade e a tecnologia e ainda oferecem um elaborado almoço conduzido por um grande Chef, esta pequena vinícola, estritamente familiar, conduz os visitantes unicamente por seus vinhedos, todos localizados dentro da propriedade de apenas 3,3 hectares. Cada metro quadrado está ocupado, seja pelas parreiras e oliveiras (produzem azeite também), pela bodega ou pela casa da família. Só por isto a visita já toma um caráter único.
 
Quem nos acompanhou foi Laura, filha do proprietário, que não poupou informações e nem deixou pergunta sem resposta. Como não dispõem de muito espaço, empregam técnicas de plantio ousadas, como a “espaldeira dupla” que utiliza duas alturas diferentes para as plantas, dobrando a capacidade do espaço disponível e exigindo, em compensação, o dobro de trabalho para manter e colher (são duas colheitas – as uvas amadurecem em diferentes períodos) ou a condução em “Globelet” ou arbusto, em busca de sabores e aromas únicos para seus vinhos. Até as suaves encostas que cercam a propriedade estão plantadas, nada é desperdiçado.
 
 
Mais importante que a utilização racional do solo, a otimização do uso da água, rigidamente controlada neste distrito de Lulunta, é fundamental. Aqui não há água de subsolo. Tudo que conseguem vem do degelo dos Andes distribuído através de um sistema de diques, canais e comportas, criados pelos índios Huarpes que aprenderam a técnica com os Incas.
 
Atualmente a distribuição é controlada por um “Tomero”, pessoa encarregada de alimentar os diversos canais de distribuição e operar as comportas de cada consumidor de acordo com um contrato de fornecimento muito simples: paga-se por um determinado número de horas, por período. Se precisarem de mais água devem esperar pela próxima data. Quase uma dosagem “homeopática”. Laura nos mostrou a comporta. Difícil imaginar que com tão pouca água consigam produzir vinhos estupendos.
 
 
Angel Mendoza, proprietário e enólogo tem como filosofia a ideia de ‘colher o vinho’ em lugar de produzi-lo. Acredita que deveria se dar maior importância às videiras, obtendo-se um bom vinho no terreno em vez de corrigir os erros na cantina. Para comprovar esta máxima, somos convidados para a degustação dos seus produtos, que acontece na casa da família. Nada de salas especiais com iluminação estudada e outros requisitos sofisticados e mercadológicos. Apenas uma varanda envidraçada, com vista para os vinhedos, amplas mesas e cadeiras plásticas, toalhas brancas cobertas de plástico transparente é tudo o que precisam para, neste momento, nos encantar com seus vinhos e azeite. Simplicidade é o segredo!
 
 
Começamos com o bom azeite Almazara, obtido com a azeitona Arauco, seguido do quase exclusivo espumante Brut Rosé Elea. Aprovação incondicional.
 
O vinho seguinte, Paradigma, foi uma surpresa para todos. Elaborado a partir das uvas plantadas como arbustos, o que permite uma maturação diferente. Um formidável corte de Malbec, Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon que não passa por madeira. Eu diria que “nem precisa”!
 
Se houve, nesta viagem, um vinho que nos intrigou, foi este. Aromas e sabores deliciosos que poderiam confundir até mesmo um bom enófilo. O seu nome decorre disto, um verdadeiro paradigma. Por que recorrer a técnicas mirabolantes ou desconhecidas quando tudo que é necessário para obter um grande vinho é olhar para a terra. Um verdadeiro vinho de terroir que derruba, sem piedade, qualquer outra teoria. Esta é uma das razões, pelas quais, Angel Mendoza é respeitado entre seus pares. Espetacular.
 
Os dois outros vinhos degustados, Pura Sangre e Pura Sangre Nueve Lunas, também eram fora de série, mas não conseguiram nos fazer esquecer o intrigante Paradigma.
 
 
Quase ao final da prova de vinhos recebemos a simpática e esfuziante visita de Angel. Encantou a todos com sua simplicidade e franqueza desconcertante. Teve a delicadeza de elogiar e recomendar que consumíssemos mais os nossos próprios vinhos, principalmente os de Santa Catarina, Santana do Livramento e Campanha Gaúcha. Ganhou uma legião de fãs com direito a fotos e autógrafos!
 
 
Esta vinícola tem uma interessante característica: seus produtos são comercializados unicamente “in loco”. Não tem representantes comerciais nem importadores. Se alguém quiser revendê-los tem que comprar lá primeiro. Com isto, a nossa van saiu carregada…
 
Nossa próxima parada foi na Bodega Sin Fin, um projeto inovador segundo a nossa guia, Maria José. Por termos passado da hora prevista, ficamos apreciando a paisagem ao redor, aguardando o fim da visita de outro grupo. Uma empresa relativamente pequena e pouco conhecida, mas tinha um Ás escondido na manga: o importante não estava ao alcance dos olhos…
 
 
Ao ingressar no prédio da foto, somos apresentados a uma pequena história da família e da empresa que, por longos anos, se dedicou ao cultivo de uvas e depois da produção de vinhos a granel que são revendidos a outras vinícolas. Só muito recentemente entraram para o segmento dos vinhos próprios.
 
O tema foi exposto e a pergunta veio rapidamente: quem compra o vinho a granel? A resposta pegou todos no “contrapé”: principalmente vinícolas francesas… Nosso anfitrião recomendou que olhássemos com muita atenção os contra-rótulos de alguns vinhos em busca de uma informação como “produzido por: 1234567890”, em letrinhas muito miúdas. Esta seria uma indicação que o vinho, naquela garrafa, teria outra origem.
 
Interessante; vinhos argentinos “en bouteille”!
 
Embarcamos em um elevador para acessar o subsolo e descobrir mais surpresas escondidas. Ao abrir a porta nos deparamos com um ambiente de raro bom gosto e muito aconchegante. Estávamos sob a área de produção, onde criaram um espaço cultural que recebe shows, peças de teatro ou exposições de arte, uma loja de vinhos e de decoração de alto nível, a simpática sala de degustação e uma microssala de barricas onde estava toda a produção.
 
 
A sequência de degustação foi bem tradicional iniciando com um espumante, seguido de 1 branco e de alguns tintos. Todos corretos. O ponto alto ficou com o Sauvignon Blanc que apresentou um estilo totalmente “velho mundo”, sendo o vinho que mais agradou a todos.
 
Fizemos mais uma preciosa descoberta: quais os rótulos que devemos ficar mais atentos.
 
 
Uma boa visita, mas sem fortes emoções que estavam reservadas para o premiado almoço na Melipal, conduzido pelo Chef Lucas Bustos, reconhecido como um especialista em harmonizações. Vejam o cardápio de 5 passos:
 
1º – Terrina de frango e figos secos ao sol, com geleia de marmelo;
 
– vinho Ikela Merlot;
 
2º – Crocantes de beterrabas com pesto de tomates secos e “tartar” de carne bovina;
 
– vinho Ikela Cabernet Sauvignon;
 
3º – Creme de Lentilhas e “funghi” de pinheiro, servida sobre panceta defumada e croutons;
 
– vinho Melipal Malbec (100% Malbec com 12 meses em barricas de carvalho francês);
 
 
4º – Medalhão de Filé, purê de batatas de Ugarteche (uma localidade), vegetais da época e Chimi Churry de tomates assados;
 
– vinho Melipal Nazarenas Vineyard Malbec (100% Malbec do vinhedo Nazarenas, plantado em 1923 e 18 meses em barricas de carvalho francês);
 
 
5º – Trufa de chocolate amargo e Amaranto, frutas grelhadas e molho de laranja;
 
– vinho Melipal Malbec Colheita tardia.
 
 
A melhor descrição que posso dar a este almoço é: “uivos diversos”!
 
O Crocante de Beterrabas foi uma unanimidade: delicioso!
 
Um ambiente maravilhoso, pratos saborosos com apresentação primorosa e vinhos de alto nível. Ficamos no restaurante até quase o fim de tarde, aproveitando o belo visual e o clima ameno. Quase nos expulsaram…
 
 
Dica da Semana:  um dos bons vinhos servidos neste almoço.
 
Melipal Malbec
 
Melipal é o nome da constelação Cruzeiro do Sul no idioma dos Huarpes. Apresenta coloração vermelho rubi com reflexos violeta.
No olfato mostra aromas intensos de ameixas, cerejas pretas, frutos e nozes. No palato percebe-se frutos vermelhos e especiarias com taninos firmes e persistentes.
Harmoniza com carnes vermelhas, lombo de porco e queijos curados.
91 pontos de Robert Parker
 
 

Comprando um vinho desconhecido

 Esta é uma situação típica: entramos numa loja de vinhos ou num supermercado e nos deparamos com rótulos desconhecidos. Qual devemos comprar?
 
 
Para responder esta pergunta precisamos nos fixar em alguns pontos muito importantes e que envolve um pouco de disciplina e autoconhecimento. Vamos explorar estes aspectos embarcando numa interessante aventura.
 
1 – Explicando a estrutura de um vinho.
 
Parece complicado, mas não é. Podemos resumir em 4 aspectos: Fruta, Acidez, Madeira e Tânino.
 
Fruta ou Vinho Frutado são aqueles em que predominam os aromas e sabores das frutas. Bebidas mais suaves que enganam o nosso paladar parecendo quase adocicadas.
 
Acidez é quase o oposto, são os vinhos transmitem uma sensação de aspereza, sem ser desagradável, percebida na lateral e no fundo da nossa língua. Nos fazem salivar. Típico dos brancos.
 
Madeira ou Vinho Madeirado são os que foram elaborados e ou amadurecidos em contato com Carvalho. Apresentam aromas bem característicos como baunilha, manteiga e tostado. Mais comum entre os tintos, mas há excelentes brancos com algumas destas características.
 
Tânicos são os vinhos que tem um característico amargor percebido no céu da boca (enrugamento) ou nas gengivas. Uma exclusividade dos tintos por serem elaborados com suas casacas.
 
A compreensão e identificação destes 4 tipos são um conhecimento básico para definir o que cada um de nós aprecia mais na sua bebida favorita. Isto nos leva ao próximo passo.
 
2 – Descobrindo o nosso “estilo de paladar”.
 
Lá no início destas coluninhas, na fase que muitos leitores apelidaram de “curso”, sugerimos que fossem feitas anotações relativas aos que estávamos consumindo. Desta forma elas poderiam ser úteis mais tarde. Vamos nos valer deste recurso acrescentado uma pequena tabela que irá relacionar, na experiência gustativa de cada um, os 4 pontos descritos acima em um vinho qualquer. Não precisa ser nada muito elaborado. Abaixo um exemplo que serve perfeitamente: (atribua notas de 1 a 10 para intensidade de cada item)
 
Nome: “Château do Tuty”
Casta: Cabernet Sauvignon (se for um corte anote a casta predominante)
Fruta – 6
Acidez – 4
Madeira – 5
Tanino – 7
 
Experimente diferentes vinhos e castas, brancos e tintos sem se preocupar com uma avaliação global do tipo bom/ruim ou gosto/não gosto. O importante é associar o paladar de cada um com os descritores sugeridos. Com algum tempo será possível perceber uma tendência, que será pessoal. Tente apenas lembrar se foi uma boa experiência ou não. Exemplo: as notas mais frequentes podem sugerir, para um apreciador de vinhos tintos, que o ideal seria tanino e madeira médios, predominância de fruta e baixa acidez.
 
3 – Entendendo o jargão do vinho.
 
Este passo vai nos ajudar a decifrar o que está escrito nos contra-rótulos ou em eventuais etiquetas de avaliação que costumam acompanhar as garrafas nas lojas especializadas.
 
Quase sempre os descritores utilizados estão associados a sabores ou aromas. Por exemplo: cítrico; achocolatado; etc..
 
Algumas são simples e diretas, mas o que falar de “terroso”, “mineral” ou “tabaco”? O melhor é pesquisar em livros ou na Internet as melhores explicações para estes termos. Uma boa conversa com alguém que seja mais experiente no tema, acompanhado de uma boa garrafa que produza a explicação desejada é a melhor lição.
 
4 – Usando os críticos a nosso favor.
 
Tornamos a repetir os nomes mais conhecidos: Robert Parker, Wine Spectator, Wine Enthusiast ou os nacionais Descorchados, Adega e Jorge Lucki que escreve no jornal Valor Econômico, em nossa opinião, o melhor crítico brasileiro.
 
Com poucas exceções, empregam um sistema de 100 pontos para classificar os vinhos que analisam. Se o seu crítico preferido adota outro sistema basta uma aritmética simples para fazer a correlação.
 
Tudo que precisamos saber para escolher um bom vinho é que uma nota de 85 pontos representa uma faixa que engloba 15% dos melhores vinhos.
 
Com grande certeza, a maioria dos produtos encontrados numa loja especializada está abaixo desta faixa. Obviamente há uma relação direta entre preço e nota atribuída: quanto maior, mais caro.
 
5 – Escolhendo um vinho desconhecido.
 
Munidos de todas estas informações podemos partir para a última parte de nossa aventura. Escolham a loja e busquem pelos vinhos com esta nota base de 85 pontos.
 
Leiam os rótulos detalhadamente procurando por descrições como “taninos aveludados, boa fruta, envelhecido em Carvalho”, etc.. Usando nossas anotações, podemos filtrar corretamente o que nos interessa e fazer uma boa compra.
 
6 – Um Bônus.
 
Persistência é tudo que precisamos para dominar esta arte da boa compra. Mas há uma grande vantagem: podemos utilizar estas novas habilidades para presentear alguém que gostamos.
Já pensaram nisto?
 
Dica da Semana:  um francês, para variar…
 
 
Auguste Bessac Côtes du Rhône 2010
 
Côtes du Rhône é o vinho mais vendido da região sul do Vale do Rhône, um tinto de bom corpo, aromas de amora, framboesa, cassis e notas de especiarias.
Em boca é equilibrado e saboroso, possui taninos maduros e final duradouro.
Harmonização: Bife ancho, carne de panela com batatas, medalhão de alcatra, massas ao molho carbonara e cassoulet.
 

Ícones Espanhóis – II

Seguindo em nossa caminhada pela Espanha, vamos apresentar dois vinhos, L’Ermita e o La Faraona, produzidos por enólogos de uma mesma família, Alvaro Palacios e Ricardo Perez Palacios, tio e sobrinho. Um está no Priorado o outro em Bierzo.
 
2 – L’Ermita
 
 
Alvaro Palacios (foto acima), após estudar enologia em Bordeaux, decidiu que não retornaria para os vinhedos de sua família na Rioja e saiu em busca de novos terroirs. Encantou-se com a região do Priorado, Catalunha, adquirindo a hoje conhecida Finca Dolfi, em 1990. Em 1993 adquiriu um segundo vinhedo, hoje considerado como o melhor desta região, o L’Ermita, plantado com a casta Garnacha nas inclinadas encostas de uma colina.
 
 
O talento deste enólogo elevou a qualidade dos vinhos desta região aos mais altos níveis. Este seu espetacular vinho, um corte das castas Garnacha e Carinena, entra na categoria dos “emocionantes”, um daqueles que se dá a vida para prova-lo: sedoso, elegante, cheio de frutas como cereja negra e amora além de uma equilibrada acidez.
 
Outros vinhos de sua autoria são os excelentes Camins del Priorat, Les Terrasses, Gratallops Vi de Vila e Finca Dolfi.
 
3 – La Faraona
 
Em 1999 nasce, pelas mãos de seu sobrinho, outro vinho que fez história no mundo da enologia. Com trajetória muito semelhante, Ricardo Perez Palacios, após completar seus estudos de enologia, trabalhou por muitos anos no Château Margaux em Bordeaux, em busca de aperfeiçoamento. Retornando ao seu país, inicia uma busca por novos territórios com vocação para grandes vinhos optando pela região de Bierzo. Com a ajuda de Alvaro, compram terras, plantam algumas castas, entre elas a Mencia, montando a vinícola Descedientes de J. Palacios. Desta parceria nasceriam alguns vinhos do mais alto nível.
 
 
A grande estrela, o La Faraona, beira o inacreditável. Elaborado a partir de uma parcela selecionada de apenas 1 hectare, rende pouco mais de 1 barrica (500 a 600 litros): muito poucos privilegiados podem desfrutar de uma destas exclusivas garrafas. Um autêntico “Single Vineyard”.
 
 
Apesar de pequena, esta vinícola produz uma interessante série de ótimos vinhos que vão desde outros “single vineyards”, Fontelas, Las Lamas, Moncerbal e San Martin, passa pelo estupendo Corullón e tem como vinho de entrada o que está na dica desta semana.
 
Curiosidades:
 
– um irmão de Alvaro, Rafael Palacios, produz excelentes vinhos na região de Valdeorras;
– a família Palacios tem um grande vinícola em Rioja, a Palacios Remondo;
– os dois vinhos mencionados nesta coluna estão entre os 10 mais caros da Espanha: de US$ 400.00 a US$ 1,000.00.
 
Com um Clã destes nada poderia dar errado…
 
Dica da Semana: o vinho de entrada desta segunda vinícola e que já foi comentado em uma de nossas colunas (http://oboletimdovinho.blogspot.com.br/2013/06/um-otimo-exemplo.html).
 
Petalos del Bierzo – $$$
Produzido na fria região de Bierzo com a uva Mencia, uma rara casta local que lembra a Cabernet Franc, recebeu na safra 2009 nada menos que 93 pontos da Wine Spectator, que o descreveu como “um tinto sem arestas, com densidade e harmonia” e “cheio de caráter”. Potente, concentrado e muito elegante, é um vinho de grande apelo, que já se tornou um enorme sucesso.
Robert Parker: 92 pontos (safra 11)
Wine Spectator: 93 pontos (safra 09)
Robert Parker: 90 pontos (safra 09)
Robert Parker: 90 pontos (safra 08)
Wine Spectator: 90 pontos (07)

Vinho na Copa do Mundo 2014

No dia 12 de junho deste ano no inacabado Itaquerão, que deveria ter sido chamado de “Curingão”, ocorreu o 1º jogo da tão esperada Copa do Mundo FIFA, na qual o nosso esquadrão “Canarinho” tentará ser hexacampeão, acalmando os nervos de governantes e cidadãos… Vamos torcer, obviamente, mas sem o mesmo entusiasmo observado em outras épocas, notadamente 1970.
 
Chega de saudosismo!
 
A grande novidade introduzida pela poderosa D. FIFA foi a liberação de bebidas alcoólicas nos estádios, que era proibida por resolução da CBF e foi, tecnicamente, ratificada pelo Estatuto do Torcedor (existem brechas jurídicas). Como um dos patrocinadores desta Copa é a Cervejaria Budweiser, da Inbev, o nosso Senado aprovou, em regime de urgência, A Lei Geral da Copa que, entre outras benesses concedidas para a D. FIFA, libera a venda de bebidas alcoólicas durante os jogos.
 
Além da cervejota, estarão presentes 3 vinhos tranquilos brasileiros e 1 espumante, que a nossa poderosa e arrogante personagem principal decidiu que seria francês: um Taittinger. Uma tremenda deselegância com os nossos excelentes produtos. Só por isto já valia um protesto!
 
O Sr. Blatter, velho conhecido nosso, é um daqueles personagens que tem até assessor para pegar coisas que caem no chão. Muito necessário no caso dele, pois se abaixar, não levanta mais…
 
Intriga? Olha a prova aqui:
 
 
Para fornecer os vinhos, um branco, um tinto e um rosé, escolheram uma vinícola boutique localizada no Vale dos Vinhedos, a Lidio Carraro. Interessante escolha, pois esta empresa já havia fornecido os vinhos dos Jogos Pan Americanos de 2007 no Rio de Janeiro. Naquela época foram selecionados 5 rótulos da vinícola, entre eles, 2 espumantes.
 
 
Para a Copa foi desenvolvida uma linha especial denominada Faces FIFA World CUP™.
 
Segundo a vinícola:
 
“A cor, os aromas e os sabores do Brasil. A sua terra e a sua gente traduzidos no vinho. Um “time de uvas” em perfeita harmonia, provenientes de distintos terroirs brasileiros, para valorizar a diversidade, vocação e identidade do País verde-amarelo! A combinação de uvas escolhida forma o caráter do vinho onde cada uva é responsável por um atributo na composição da cor, aroma e sabor”.
 
O Branco
 
Um corte de três uvas bem adaptadas ao terroir Gaúcho: Chardonnay, Moscato e Riesling Itálico. Foram vinificados em separado utilizando-se métodos adequados para cada casta. Depois de amadurecidos em tanques de Inox foi feita uma assemblage na proporção de 1/3 para cada vinho.
 
Na taça mostra cor amarelo dourada brilhante com lágrimas preguiçosas. As primeiras notas sentidas são as que têm como origem a Moscato: rosas brancas, frutas cítricas e frutas exóticas, complementadas com notas de flor de tília e pêssego maduro passadas pelos demais vinhos. O Riesling Itálico contribui com frescor e persistência, além de uma nota delicada de flores brancas cabendo ao Chardonnay ser a estrutura de ligação entre os vinhos, contribuindo com notas frutadas, volume e consistência em boca. O retrogosto é agradável e convidativo.
 

O Rosé

Este vinho foi pensado para ser o preferido nas cidades de clima mais tropical. Algo para ser consumido nos dias quentes, em vez da cerveja. Um vinho descompromissado. A embalagem foi estudada para ter pouco peso e ser fechada com tampa de rosca simplificando sua abertura. Ainda assim, é um vinho elaborado com todos os cuidados exigidos e com o padrão de qualidade da Lidio Carraro.
 
Novamente 3 castas foram selecionadas, Pinot Noir, Merlot e Touriga Nacional, representando as diferentes regiões onde se cultivam as viníferas no Rio Grande do Sul. O corte, obtido a partir de vinificações em separado, como no vinho branco, contemplou a seguinte proporção: 50% Pinot Noir, 35% Merlot e 15% Touriga Nacional. Segundo a Enóloga Monica Rossetti, está foi a melhor combinação, obtida após numerosos ensaios.
 
A coloração rosa salmão produz agradável impacto visual convidando a uma degustação descontraída. Os 50% Pinot Noir produzem um caráter essencialmente frutado, com notas como cereja, groselha e pomelo. Aromas complementares de framboesa e morango, que aparecem depois de alguns minutos de evolução na taça, são devido à casta Merlot, exercendo um papel determinante na boca, conferindo um agradável volume e um perfil refrescante e jovial ao vinho. A casta de menor proporção, Touriga Nacional, marca a personalidade do vinho com uma nota floral de rosas e especiarias orientais.
 
 

O Tinto

Foi elaborado com uma interessante característica: 11 castas diferentes, como se fosse um time de futebol, com uma escalação pensada cuidadosamente. Sem dúvida é o vinho mais interessante do grupo. A elaboração foi muito trabalhosa: cada uva foi vinificada de forma independente, utilizando diferentes processos para cada casta. A preocupação da enologia era ressaltar as diferentes combinações de solo, clima e uvas que caracterizam a produção de vinhos no Rio Grande do Sul. Um resultado interessante. Eis a “escalação”:
 
Goleiro: Malbec;
 
Defesa: Tannat, Nebbiolo, Alicante e Ancelotta;
 
Meio-Campo: Pinot Noir, Touriga Nacional, Tempranillo e Teroldego;
 
Ataque: Cabernet Sauvignon e Merlot.
 
 
Para o corte, os vinhos passaram por fermentação malolática e após vários testes escolheram a seguinte proporção:
 
50% Cabernet e Merlot;
 
35% Tannat, Malbec, Pinot Noir e Teroldego;
 
15% Ancelotta, Nebbiolo, Touriga Nacional, Tempranillo e Ancelotta.
 
Na taça, este vinho remete imediatamente às duas uvas “atacantes” em cor e aromas marcantes. Como num time de verdade, as “meio-campistas” marcam sua presença através de sutis notas de ameixa, chocolate, framboesa e violetas, além de proporcionar volume. Coube ao grupo da “defesa” cuidar da estrutura e dos aveludados taninos. A Malbec, firme no gol, responde pelo final de boca com suas notas frutadas e de especiarias doces.
 
 
Apesar das descrições elaboradas, fornecidas pela vinícola, são vinhos para serem consumidos já. Foram elaborados com todo o cuidado e preocupação com a qualidade, mas isto só não os torna “grandes vinhos” e nem poderia ser diferente. O principal objetivo é comemorar nas vitórias ou consolar nas derrotas. Findo o torneio, serão lembrados como bons companheiros. Tempo de guarda máximo de 3 anos.
 
Dica da Semana: escolham a sua versão preferida.
 
Faces FIFA World CUP$

Escolhendo um Vinho no Restaurante

Este é um assunto obrigatório para quem gosta de vinhos, principalmente para não fazer nenhuma bobagem quando nos entregam a temida Carta de Vinhos e somos convidados a selecionar uma garrafa para acompanhar a nossa refeição.

Existem regras para se elaborar uma boa carta. Para interpreta-la corretamente precisamos conhecê-las. Este é o assunto desta coluna.

Uma carta preparada corretamente deve conter algumas informações, seguir uma ordem de precedência e estar em sintonia com o tipo de gastronomia oferecida e a localização do restaurante.

A título de exemplo vamos usar a organização de uma carta de um restaurante de comida italiana no Brasil. Para efeitos didáticos ele será equipado com uma completa adega e um sistema de serviço de vinhos em taça: este deve ser o primeiro item da carta.

Pela ordem seguiriam:

– vinhos de aperitivos, em geral os espumantes. Eventualmente podem aparecer os fortificados secos (Porto e Jerez) e os Brandys;
– vinhos brancos secos;
– vinhos rosados;
– vinhos tintos;
– vinhos de sobremesa;
– fortificados doces.

Dentro de cada tipo de vinho acima os produtos disponíveis serão apresentados seguindo esta organização lógica:

– por país
      – por região
            – por varietal (casta)

Mas isto só não basta. Precisamos de uma ordem de precedência dos países produtores. O mais comum é encontrá-los listados em ordem alfabética, sinal que este restaurante não tem um bom Sommelier e provavelmente o seu serviço e a Carta de Vinhos são sofríveis.

Um local de classe adotaria a seguinte ordem de precedência:

– vinhos nacionais (se houver);
– vinhos do continente ou do pais do estilo gastronômico (neste caso, Itália);
– vinhos de outros continentes, por ordem de importância.

Em cada item destes, havendo diversos produtores, os mais importantes aprecem em primeiro lugar.

No nosso exemplo listaríamos os vinhos nesta ordem:

Brasil;
Chile; Argentina; Uruguai; (vinhos do continente)
Itália; (linha gastronômica)
Outros países produtores.

 
Para finalizar a carta e deixá-la a mais profissional possível, precisamos passar as informações que são realmente relevantes:

– Nome e tipo do vinho;
– produtor;
– safra;
– país de origem e região (os vinhos devem estar dentro de seus segmentos);
– volume da garrafa;
– preço.

Testem sua capacidade de observação: a carta a seguir tem alguns defeitos se considerarmos as regras apresentadas. O restaurante tem Pizza como prato principal…

 
Descubram os erros. (comentários no fim da coluna)

Com a chegada dos Tablets, as Cartas de Vinhos dos bons restaurantes deixam as limitações do papel de lado e embarcaram em novas dimensões. Agora é possível fazer diversos cruzamentos de informações que, até então, só podiam ser feitos com o auxílio do conhecimento daquele que manuseava a carta. Curiosamente, era sempre o homem mais velho da mesa. Resquício de uma era patriarcal em que só os machos tomavam decisões, vinhos inclusive. Os leitores já repararam que só nos é oferecido uma única cópia da Carta de Vinhos, enquanto cada comensal recebe um cardápio?

 
A qualidade da informação ganhou muito. A Carta de Vinhos cibernética pode apresentar uma infinidade de informações que vão desde uma foto do rótulo, passam por algumas críticas relevantes e terminam com sugestões de harmonização com o cardápio da casa. Show!

Numa carta tradicional isto é quase impossível.

Dica da Semana: estamos na época em que podemos consumir bons tintos sem se preocupar com as temperaturas elevadas dos dias de verão.

Q do E Baga-Merlot 2011 – $

À pungente variedade Baga, típica da Bairrada, juntou-se a maciez do Merlot e surgiu esse tinto, um vinho gastronômico e descomplicado, de excelente custo x benefício. A presença generosa de taninos e a boa acidez deste vinho sugere a harmonização com carnes vermelhas e gordas. O acompanhamento com molhos é bem-vindo

 

Defeitos da carta apresentada:

1 – não apresenta os preços;
2 – logo no início, apesar de ser um restaurante brasileiro, coloca o Champagne e espumantes argentinos antes dos espumantes nacionais;
3 – nos tintos, lista corretamente os vinhos brasileiros e do continente, mas pula, em seguida, para os espanhóis. Ou não tem vinho italiano, um erro, ou os colocou fora de ordem (só é apresentada uma página da carta).

Avaliação: se o leitor encontrou…

1 erro – precisa treinar mais;
2 erros – já pode pedir o vinho sem medo;
3 erros – Sommelier

Um alerta! – na coluna passada “Garrafas de vinho abertas: o que fazer?“,  mencionamos um acessório, o Coravin, capaz de servir o vinho sem retirar a rolha da garrafa. Nesta semana o produto foi retirado do mercado devido a uma falha em seu projeto: as garrafas preenchidas com o gás Argônio estavam explodindo. Um risco desnecessário.

Manteremos os leitores informados do desenrolar deste “imbróglio”.

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