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Rótulos diferentes, estranhos e engraçados

Não há como negar: alguma vez compramos uma garrafa de vinho apenas porque gostamos do seu rótulo ou nome.
A função desta etiqueta colada na garrafa é esta mesmo, atrair o olhar do comprador, além de cumprir exigências legais de cada país produtor. Existem dezenas de escritórios de design especializados nesta tarefa. Não é uma escolha simples, muitas vezes o rótulo ou o que está nele define o caráter do vinho ou o do produtor que o elaborou. Mas alguns produtos transcendem estas regras básicas e elaboram verdadeiras joias, algumas com histórias fascinantes.

Uma delas é bem conhecida nossa, o famoso vinho da Concha y Toro “Casillero del Diablo”. Reza a lenda que o fundador desta importante vinícola, Don Melchor Concha y Toro se deu conta que estava sendo roubado por seus próprios empregados: à noite, entravam na cave e levavam os melhores vinhos que ali estavam repousando, justamente aqueles reservados para o patrão.

Em vez de colocar alarmes ou soltar cães ferozes, decidiu espalhar um boato que a adega subterrânea era a “câmara do diabo” (tradução de Casillero de Diablo), a morada de Belzebu, e quem acessasse aquele covil estaria condenado ao inferno. Funcionou.

Hoje em dia uma imagem de um diabinho saúda os visitantes que vão conhecer este local.

Outro rótulo curioso que já foi mencionado numa coluna anterior foi o “Le Cigarre Volant” ou “O Disco Voador”. O bem humorado produtor norte americano Randall Graham, um especialista nas castas típicas do Vale do Ródano, decidiu fazer uma fina gozação com uma lei francesa que proíbe o pouso de discos voadores nos vinhedos daquela região. Apesar da brincadeira, o vinho é delicioso.

Este outro rótulo diferente vem da França. Um produtor indignado com a falta de respeito dos legisladores com a casta Jurançon Noir, da região de Cahors, que não acataram um pedido de Denominação de Origem, se vingou colocando no rótulo do seu bom vinho toda a sua indignação, raiva e decepção:

A tradução literal seria “Vocês F*** Meu vinho” (este blog é familiar…). O prejuízo para o produtor com a falta da AOC (denominação de origem) é ter que vender seu produto como “de mesa”. Na França são os vinhos de qualidade inferior. Mas a piada é boa!

Um dos rótulos mais estranhos da Austrália é o “Dead Arm Shiraz” do famoso produtor D’Aremberg.

A tradução literal seria “Braço Morto”, uma referência a uma forte contusão no ombro que tem como consequência deixar o braço sem ação. Mas há uma interessante pegadinha: esta mesma expressão é usada para designar uma doença da videira. Parte dela fica morta e toda a energia da planta acaba sendo concentrada na parte que sobrevive. Este vinho é produzido com os cachos obtidos unicamente nas parreiras atacadas por esta doença. Um vinho único. Deste mesmo produtor vamos encontrar outros nomes estranhos como “Money Spider” (aranha do dinheiro) e “Twenty-Eight Road” (Rodovia 28).

A Nova Zelândia também tem seu rótulo esquisito: “Cat’s Pee on a Gooseberry Bush” ou “Xixi de Gato num Pé de Groselha”, um ótimo Sauvignon Blanc da região de Marlborough, reconhecida como o melhor terroir para esta casta. Por trás da história deste rótulo, muita ironia.

Surpreendidos pela qualidade e pelos diferentes aromas e sabores destes clássicos neozelandeses, os críticos adotaram algumas expressões bem deselegantes para defini-los em comparação com vinhos do Loire: “sweaty armpits” (axílas suadas); “freshly cut grass” (grama recém-cortada), entre outras.

A vinícola Coopers Creek percebeu uma oportunidade e capitalizou em cima destas expressões: apoderou-se de um bordão da respeitada crítica inglesa Jancis Robinson (cat’s pee) e batizou o seu vinho. Um dos presentes favoritos em festinhas de escritório…

Para terminar uma história que vem da Hungria e tem um curioso final brasileiro.

Durante a invasão conduzida pelo Sultão Suleimão o Magnífico, em 1552, os soldados que defendiam o Castelo de Eger eram motivados com uma deliciosa comida e grandes quantidades de um vinho tinto que bebiam constantemente. Durante os ataques do exército turco, os húngaros defendiam suas posições com bravura e ferocidade incomuns.

Para explicar tal disposição, corria um rumor entre os soldados turcos que os húngaros misturavam o vinho com sangue de touro. Esta seria a única explicação possível para tanta disposição em defender o Castelo. Cansados, os turcos desistiram do ataque e se retiraram. Vitória para os Húngaros!
O vinho foi batizado como “Egri Bikaver” (Sangue do Touro de Egri) numa bela homenagem.

Aqui no Brasil, embora não exista a lenda, temos uma bebida homônima, vendida como vinho embora seja produzido a partir de uvas comuns. Um campeão de vendas…

Homenagem, referência ou apenas uma coincidência?

Dica da Semana: já pensando nas festas de fim de ano um bom espumante para começar o estoque.

Cave Pericó Espumante Brut

Para a elaboração deste espumante Brut foram utilizadas as cepas Cabernet Sauvignon (60%) e Merlot(40%).
Apresenta uma coloração amarelo palha. Seu aroma é fino e delicado com notas de frutas brancas, pêra e maçã verde.
Em boca tem ótima acidez e equilíbrio, com boa cremosidade, muito persistente e com retro-olfato agradável e frutado.

Vinhos Laranja

Mais uma denominação?
 
Tintos, Rosés, Brancos, Espumantes, Doces, Fortificados e Laranjas?
 
Tem laranja neste vinho?
 
Resposta única para as três questões: Não!
 
Uma nova tendência apenas, capitaneada por inquietos e criativos enólogos que não param de buscar novos caminhos. O Vinho Laranja é um branco que foi vinificado como um tinto.
 
Para refrescar a memória dos leitores, vinhos brancos eram obtidos a partir da fermentação do suco das uvas, sem as cascas, sementes ou engaços, ao contrário dos tintos onde a presença da pele escura é necessária para garantir cor, taninos e outras características. (o suco da uva é sempre de cor clara, quase incolor…)
 
Quando se vinifica brancos desta forma obtém-se uma simbiose de algumas características desejáveis além de uma cor belíssima. Vejam a foto:
 
 
São bebidas extremamente gastronômicas devido a taninos marcantes, teor alcoólico elevado, acidez moderada e alguma mineralidade. Caso tenham passado por madeira, ganham notas típicas dos vinhos que amadureceram em carvalho.
 
As primeiras experiências nesta linha forma feitas na Eslovênia e na Itália com técnicas adaptadas das antigas vinificações em ânforas de barro ou em recipientes de madeira. Atualmente estão experimentados com os tanques de concreto em formato oval com ótimos resultados.
 
Na Argentina, Matias Michelini em sua Passionte Wine produz um delicioso Torrontés denominado “Brutal” com este recurso. Uma experiência diferente, mas não é um vinho fácil de encontrar, mesmo lá. Trata-se de um experimento, um projeto pessoal.
 
Apresentamos abaixo uma lista dos “Laranjas” mais conhecidos:
 
Itália:
 
Gravner Amfora Ribolla Gialla 2005 (Venezia Giulia)
 
Gravner Breg 2006 (Venezia Giulia)
 
Vodopivec Classica Vitovska 2006 (Venezia Giulia)
 
Eslovênia:
 
Movia Veliko 2007 (Brda)
 
Edi Simcic Sauvignon 2010 (Goriška Brda)
 
Simsic Teodor Belo Selekcija 2008 (Goriška Brda)
 
Kabaj 2006 Amfora (Goriška Brda)
 
Geórgia:
 
Alaverdi Monastery Cellar Qvevri 2010 (Kakheti)
 
Pheasant’s Tears Amber Rkatsiteli 2009 (Kakheti)
 
América do Norte:
 
Channing Daughters Meditazione 2009 (Long Island)
 
Alguns destes rótulos estão à venda no Brasil, mas não são baratos.

Dica da Semana:  Por aqui também temos o nosso vinho laranja.
 
Era dos Ventos Peverella 2010
 
Um toque tipicamente picante ao paladar faz jus ao nome desta uva, pois Peverella significa “pimenta”.
De cor dourada encantadora, é fruto de uma elaboração com mínima intervenção e longo tempo de maceração da uva com a casca.
Com um pouco mais de tempo, vai revelando aromas cítricos, toques minerais e florais e, claro, a típica pimenta.
Rico, amarelado, untuoso, uma verdadeira experiência única.

10 Anos do Camarão Magro (50 encontros!)

Meu comparsa de coluna, José Paulo Gils, é um verdadeiro homem dos mil instrumentos. Além de ser um dos diretores da ABS do Rio de Janeiro é o atual presidente da tradicional e atuante Confraria do Camarão Magro, cargo de muita importância, pois cabe a ele organizar os encontros, o que significa escolher o restaurante, discutir o cardápio, selecionar e comprar os vinhos, resumir a ficha técnica de cada um, elaborar os convites e cobrar dos participantes.
 
Esta comemoração dos 10 anos ou 50 encontros teria que ser muito especial: os confrades são exigentes e não escondem a insatisfação se tudo não estiver dentro dos padrões. É muita responsabilidade! Parte dela foi dividida comigo, embora não seja um dos confrades, quando me encarregou de escrever esta coluna comemorativa.
 
Agora, um pouco de história – texto de Trajano Viana, um dos fundadores:
 
“Ao final do Curso realizado na Associação Brasileira de Sommelliers – ABS – no Rio de Janeiro, durante a degustação de vinhos no término da aula, alguns dos participantes sugeriram fazer uma comemoração de “formatura”. Após alguma conversa, com a participação do nosso instrutor Kawasaki, foi acertado que seria um almoço. Sugeri o Restaurante Marius, em Charitas, Niterói, com frutos do mar e vinhos brancos. A sugestão foi aceita e fiquei encarregado de organizar o encontro.
Assim, após contato com o Sommelier do Restaurante e feita a reserva, na terça-feira, dia 13 de abril de 2004, às 13 horas, o pequeno grupo se reuniu, “sem hora para sair”. Estavam presentes: Aguinaldo Aldighieri, Benedito Mendonça, Carlos Cabral, Edgar Kawasaki, Rodrigo Mota, Trajano Viana e William Souza.
 
O almoço transcorria maravilhosamente, apesar do pouco conhecimento pessoal entre os participantes. A boa mesa – inesquecíveis frutos do mar, preparados à moda da casa ou conforme solicitássemos e os bons vinhos, levados pelo Rodrigo – unia o grupo.
 
Em dado momento, nosso instrutor Kawasaki, que já nos havia brindado com muitas informações, falou que o grupo estava muito bom e que poderia se reunir periodicamente, como uma confraria. O grupo se animou, surgiram vários comentários, e Kawasaki disse: “Só falta o nome para a confraria”. Nesse momento eu lidava no meu prato com uns grandes e lindos camarões ao bafo e, sem muito pensar, falei: “Confraria do Camarão Magro”!
 
Kawasaki imediatamente falou: “É um bom nome”. Eu logo argumentei que deveríamos ouvir sugestões dos outros, mas ele falou que “o primeiro nome é o que fica”. Assim nasceu a “Confraria do Camarão Magro”. Fui eleito o primeiro Presidente da Confraria e já fiquei encarregado de organizar nosso próximo encontro”.
 
 
Atualmente o Camarão Magro conta com 39 confrades, a maioria de assíduos, o que faz esta confraria ser realmente especial. Com característica itinerante, já visitaram alguns dos melhores restaurantes do Rio de Janeiro e adjacências.
 
 
Escolher bem o local para esta singular comemoração era o ponto mais sensível, nada poderia dar errado: decidiram pela Enoteca DOC que fica na Rua Marechal Floriano, 32, no centro da cidade, capitaneada pelo simpático e competente Fabio Soares.
 
Vejam o que ele e José Paulo prepararam:
 
BOAS-VINDAS
Pães Especiais e Acepipes.
 
Espumante: FRANCIACORTA LE MARCHESINE D.O.C.G. ROSÈ BRUT – MILLESIMATO (Método clássico, Chardonnay 50%, Pino Nero 50%, Teor alcoólico: 12,5%)
 
PRIMEIRO PRATO
Cherne com Arroz de Polvo.
 
Vinho Branco: ANDREZA GRAN RESERVA (Viosinho, Verdelho, Rabigato, Arinto, Pedernã, Teor Alcoólico: 14%).
 
PRATO PRINCIPAL
Ragu de Javali com Nhoque de Batata Baroa.
 
Vinho Tinto: I BALZINI BLACK LABEL (Cabernet Sauvignon, Sangiovese e Merlot, Teor alcóolico: 14%)
 
SOBREMESA
Mousse de Chocolate 70% Cacau ou Brownie de Chocolate ou Pannacotta com Caldas de Frutas Vermelhas
 
Vinho: VAN ZELLERS PORTO 10 ANOS TAWNY (Teor Alcoólico: 20%)
 
 
O violino de Evandro Marendaz animou o encontro convidando os casais para uma improvisada pista de dança, criando um clima agradável e propício para este tipo de celebração.
 
 
Ainda dentro da programação, o mestre Kawasaki comentou as harmonizações, aumentando as expectativas de todos, que foram plenamente satisfeitas.
 
 
Excelente encontro. A Confraria do Camarão Magro é um exemplo a ser seguido. Na foto abaixo alguns dos participantes desta reunião:
 
 
Alice, Ângela e Agnaldo, Anna e Daniel, Antônio Dantas, Cristina e William, Denise e Bené, Eliane e Luiz Carlos, Heloisa e José Flávio, Emília Leandro, Grace e Simioni, Liane Rangel, Lígia Peçanha, Maria e Kawasaki, Maria Ilda, Mercedes e José Paulo, Michel, Maria da Glória.
 
As fotos e legendas foram feitas por Anna Roberta e Grace.
 
Dica da Semana:  um dos excelentes vinhos servidos nesta festa.
 

I Balzini Black Label

Produtor: Azienda Agrícola I Balzani (Itália – Toscana)
Castas: Cabernet Sauvignon, Sangiovese e Merlot
Vinho de cor rubi intenso com reflexos violáceos. Possui aroma de frutas silvestres e frutas vermelhas, violeta, especiarias, baunilha, couro, café e chocolate. No paladar é seco, encorpado, muito intenso, com ótima acidez, taninos finos, final de grande complexidade e longa persistência.

Harmonização: carnes em geral, carnes de caça, massas com molhos estruturados.

Uma comemoração diferente

Nas nossas colunas sobre vinhos usamos o termo “confraria” para representar um grupo de pessoas que promovem encontros em torno do tema vinho. Mas pode ser usado para caracterizar outros grupos também. Segundo um dicionário consultado, confraria é “um conjunto de pessoas da mesma categoria, com os mesmos interesses ou com a mesma profissão”.

Uma destas confrarias tem como interesse praticar o Spinning, modalidade de ginástica realizada em cima de uma bicicleta estacionária. Frequentam a mesma academia, sediada num tradicional clube do Rio de Janeiro e gostam de comemorar os aniversários de cada participante (a maioria é feminina) em criativos e deliciosos programas, sugeridos pelo aniversariante e sempre realizados aos sábados. Contratam uma van e saem em aventuras culturais, gastronômicas ou até para cuidar da beleza. Um dos mais divertidos foi um tour, guiado por um jornalista especializado, aos mais representativos botequins da boemia carioca (foto).

Apesar da grande criatividade, à medida que acontecem os programas diminuem as possibilidades de um acontecimento fora do que é batido ou manjado, em bom “carioquês”.

Desta vez coube à minha esposa, Claudia, organizar o evento junto com Lilian, a outra aniversariante. Como todas gostam de boa gastronomia e bons vinhos, embora nenhuma delas seja exatamente uma expert, Claudia sendo a exceção, sugeriu que eu preparasse uma palestra de introdução ao mundo do vinho, que foi carinhosamente apelidada de “Um Papo sobre Vinhos”.

A aula seria complementada por um almoço harmonizado no BARSA, um dos bons restaurantes do CADEG, atual centro gastronômico do Rio, que o nosso “alegre” Prefeito decidiu renomear para “Mercado Municipal do Rio de Janeiro” (é uma organização privada), tudo para atender a um capricho da D. FIFA (o que os políticos não fazem para ganhar um troco… aliás, seria um bom slogan de campanha: “tudo por um trocado”).

Alguns contratempos inesperados exigiram alterações no programa original o que acabou sendo muito positivo. A sala do clube onde seria ministrada a aula não estava disponível na data prevista. Lilian ofereceu sua residência e nos recebeu com uma deliciosa mesa de frios, queijos e pães. Cada participante deveria levar uma garrafa de vinho, que seriam consumidas durante a aula e no almoço.

Outro fato que implicou em ajustes no programa foi o BARSA não aceitar reservas num sábado. Conseguimos, depois de intensas negociações, que, se comunicássemos, por telefone, após às 14h, a nossa partida da zona sul em direção ao CADEG, teriam uma mesa à nossa espera quando chegássemos lá, em Benfica. Isto criou um limite de tempo para a minha apresentação: não poderia passar de 1 hora e 30 minutos. Confesso, nunca tinha feito nada parecido em tão pouco tempo. Um bom curso básico é ministrado em 4 aulas pelo menos.

Teria à minha disposição uma boa TV e um tablet que poderia gerar as imagens com os tópicos que seriam abordados. Meu filho, Tomás, se encarregou de preparar os slides que ficaram, usando seu jargão predileto, “show de pelota”. A foto a seguir ilustra bem este ponto:

Munido de diversos acessórios e de algumas das garrafas de vinhos levadas que serviram para ilustrar o papo e animar o professor e as alunas, expliquei os seguintes pontos:

1 – O que é um vinho? (definição, composição química);

2 – Tipos de Vinho (brancos, tintos, etc.);

3 – Uvas Viníferas e Comuns;

4 – Corte e Varietal – Velho e Novo Mundo;

5 – Champagne x Espumante;

6 – Serviço do Vinho (abrir uma garrafa, acessórios, os 5 sentidos);

7 – Harmonização (noções clássicas e modernas, queijos e vinhos).

O grupo: Claudia, Aída, Cris, Lilian, Teresa, Denise e Carol. Álvaro e Marcelo formaram comigo o trio de maridos.

O “papo” foi muito animado, com diversas perguntas e intervenções que só enriqueceram esta aula. Programamos alguns intervalos para a turma provar as delícias oferecidas e reabastecer suas taças.

Este clima continuou no almoço, uma boa oportunidade de testar o que foi aprendido. Os pratos compartilhados foram um Arroz de Pato e o Bacalhau Rei, especialidade do Chef Marcelo Barcellos.

 
 

Agora é esperar pelo próximo convite.

Dica da Semana:  com a volta dos dias mais quentes, um bom branco.
Chablis Louis Latour


Apresenta coloração amarela com reflexos dourados e brilhantes.
O leque aromático revela notas minerais, frutas cítricas maduras e flores.
No paladar é muito saboroso, puro, vivaz, com final refrescante e persistente.
Harmoniza com ostras, crustáceos, carnes brancas, sopas e saladas.

Tanques ovais na elaboração de vinhos

Um dos aspectos que mais chamou a atenção nas vinícolas visitadas durante a recente viagem foi observar o emprego dos tanques ovais construídos em concreto. Não é exatamente uma tecnologia nova, as notícias sobre a existência destes tanques datam de 2001, quando apareceu o primeiro deles na vinícola de Michel Chapoutier no Vale do Rhône. Seu proprietário discutiu exaustivamente este formato com a empresa Marc Nomblot que fornece tanques em concreto, para vinificação, desde 1922.
 
A novidade, aparentemente, seria o formato oval, mas nem isto se mostrou verdadeiro. Segundo o fabricante, as ânforas romanas inspiraram o curioso formato. A foto a seguir mostra, lado a lado, modernos tanques tipo ânfora e os ovais.
 
 
Como diria o Velho Guerreiro, “Nada se cria, tudo se copia”…
 
Concreto é uma mistura de cimento e agregados (areia, brita, etc.) e tem sido usado na fabricação de tanques há bastante tempo. Existe, até hoje, uma clara divisão entre os que preferem este material e os adeptos do aço inoxidável para os tanques de fermentação. O aço é conhecido por ser neutro e não alterar as características do mosto. O concreto precisa ser tratado para obter o mesmo grau isolamento, o mais conhecido é aplicar um revestimento com resina sintética (epóxi, poliuretano, etc.).
 
O tanque oval foi projetado para aproveitar uma característica particular do concreto, sua porosidade, que o aproxima das barricas de carvalho. Por que não tentar elaborar um vinho num único recipiente que possa fermentar e amadurecer o vinho?
 
Vinhos brancos seriam os candidatos perfeitos para este tipo de tanque, mas logo perceberam que poderia ser usado, incialmente, para a maturação dos tintos também. Alguns produtores já experimentam com a fermentação, com bons resultados.
 
Para permitir uma avaliação deste processo, estão relacionados, a seguir, alguns tópicos interessantes.
 
1 – Na construção destes tanques não pode ser usado nenhum material metálico e nem aditivos químicos. Somente areia, brita, água não clorada e cimento. Excetuam-se as portas de carga e descarga, feitas em aço inoxidável.
 
 
2 – Para garantir a neutralidade da parede interna, esta deve ser tratada com uma solução de ácido tartárico antes do 1º uso. Muitos produtores estão conseguindo este efeito através de uma vinificação inicial que será descartada: forma-se uma camada de tartarato, subproduto do processo, isolando o concreto.
 
3 – O isolamento térmico é outra característica que torna o ovo vantajoso. As paredes são muito espessas permitindo resistir tanto ao frio quanto ao calor. Isto diminui sensivelmente a necessidade de controles de temperatura. Entretanto, já existem fabricantes que oferecem este recurso opcionalmente.
 
 
4 – Existe, efetivamente, uma diferença de temperatura entre a base do tanque e o topo que em combinação com ausência de cantos morto, cria um fluxo líquido contínuo, o que é desejável.
 
5 – A porosidade do material permite uma efetiva micro-oxigenação nos mesmo moldes da obtida com a utilização de carvalho, sem a introdução de novos aromas e sabores.
 
6 – Permite a maturação dos tintos sobre suas borras, o fluxo contínuo do líquido elimina a necessidade da “bâtonnage” (agitação manual recolocando as borras em suspensão).
 
Nas conversas com enólogos e produtores que estão experimentando o “ovo” foi possível perceber que os resultados iniciais foram animadores, tanto para brancos como para tintos. Mas o caminho será longo, são novas variáveis para serem controladas. Mas este é o verdadeiro trabalho de um enólogo: inovar.

Dica da Semana:  para tirar conclusões.
 
Zorzal EGGO Blend 2012
 
Um vinho que é um luxo do enólogo: desde o inicio ele nunca revelou o que pretendia obter ou o que representaria. Puro zêlo, puro ego: um produto onde o vinificador empenhou sua alma, 100% vinificado no “ovo”. (Egg, em inglês significa ovo)
Este corte de 92% Malbec, 5% Cabernet Franc e 3% Cabernet Sauvignon possui grande característica mineral. Estagiou em grandes ovos de concreto, atingindo um potencial natural sem precedentes.
Com ótima estrutura e volume em boca, apresenta textura cremosa, taninos macios, acidez vibrante que proporciona frescor.
Conquistou 96 pontos no guia Descorchados e 94 pontos por Robert Parker
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