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Machupicchu e os vinhos que não bebi – III

4º dia: Machupicchu
 
Se vocês estão pensando que o Peru é uma espécie de Brasil subdesenvolvido estão redondamente enganados. Tudo aqui funciona na hora certa e o turista é prestigiado o tempo todo. Não se negam informações e nem mesmo nos lembramos de ter escutado a frase “no lo entiendo”, tão comum na Argentina quando tentamos um “portunhol”. No máximo eles pedem para que falemos pausadamente. Entendem tudo, acham graça, e nos respondem com eficiência e simpatia. Ponto para eles, turismo de 1º mundo.
 
 
Obviamente o nosso trenzinho partiu da estação Ollanta exatamente no horário previsto, 6:30. Optamos pelo serviço Vistadome da operadora Perurail, que nos colocou num vagão com teto panorâmico. Viagem deslumbrante, o trem acompanha o leito do rio Vilcanota/Urubamba pela meia-encosta, atravessando alguns túneis que mal davam para o vagão passar. Pessoas nervosas não ficariam incólumes. Para distrair há um simpático serviço de bordo e venda de camisetas, bonés e coletes, mas cuidado com os preços…
 
Depois de 1:30 chega-se ao Pueblo de Machupicchu/Águas Calientes de onde parte o micro-ônibus morro acima. Se vocês procuram fortes emoções indico esta subida. Uma estradinha muito sinuosa e íngreme por onde trafegam uma quantidade substancial destes pequenos ônibus. Andam de “pé em baixo”, subindo ou descendo e quando há um cruzamento deles simplesmente não cabem os dois na largura. Um tem que ceder. São cerca de 15 minutos de respiração suspensa. (foto)
 
 
Há uma série de restrições para entrar nesta cidade, considerada uma das maravilhas do mundo atual e patrimônio da humanidade:
 
– não se permite comidas;
 
– não podem ser usadas garrafas ou copos descartáveis (tudo deve ser levado de volta);
 
– nem pensar em jogar lixo no chão;
 
– mochilas e similares são limitadas a um volume de 20 litros;
 
– bastões de caminhada só os aprovados pela autoridade local (ponta chata que não deixa marcas no solo);
 
– proibidíssimo fumar;
 
– não se pode tocar em quase nada, somente nos muros. (pichadores que se cuidem);
 
– não danificar a flora ou fauna local;
 
– não criar novas trilhas, utilizar as que já estão abertas.
 
Atento a estas recomendações, desisti da minha ideia de levar uma garrafa de vinho e taças para degustar lá em cima. Imaginava um bom vinho de corte, talvez um Susana Balbo Brioso, tomado ao cair do sol.
 
 
Mesmo sem o vinho, Machupicchu é indescritível, nenhuma foto de cartão postal chega perto da realidade. Após saltar do ônibus e atravessar a burocrática portaria do parque, chega-se ao muro e ao portal de acesso original da cidade perdida. Honestamente, ninguém está preparado para o que se vê ao atravessar o umbral que nos separa da realidade para a magia desta cidadela. É de perder o fôlego!
 
 
Nossa guia, Srta. Silu, valorizou cada etapa deste tour com suas explicações teatralizadas, sempre arrematadas pelo bordão “e así és”, autenticando a veracidade de suas afirmações e das muitas lendas e suposições relatadas. Foram 2 horas de encantamento. Muitas caminhadas, sol intenso (recomenda-se chapéu/boné além de protetor solar) e temperatura elevada porem agradável. Superou qualquer expectativa.
 
Ao final, nossa guia se despediu e nos deixou com tempo livre para exploramos a cidade, com a recomendação de subir até o patamar onde se encontra a casa original do guardião, cujo telhado foi recomposto para mostrar como era aos visitantes e “sacar la foto para el postal!”. Já um pouco cansados, preferimos continuar na parte baixa, nos dirigindo lentamente até a saída e embarcar no transporte de volta até Pueblo de Machupicchu/Águas Calientes.
 
 
O que falar sobre este pequeno povoado nos pés da montanha? Conhecem Pirapora de Bom Jesus do Mato Dentro? Ganha fácil!
 
Apesar de termos almoçado num bom restaurante com saboroso buffet de um dos melhores hotéis do local, não havia muito mais para fazer por aqui. Na rua principal, Calle Pachacutec, há uma série interminável de pequenos albergues e restaurantes, todos com absolutamente o mesmo cardápio e preços, voltados para um público muito específico como os aventureiros ou mochileiros. Para eles aqui deve ser o paraíso. Outra opção era o banho nas águas termais, mas fomos avisados por um brasileiro que passava pelo local de que “a água é meio suja e provavelmente aquecida artificialmente”…
 
 
Nosso trem de volta só sairia no dia seguinte às 13:30h, o que nos levou a ficar procurando opções para passar o tempo: pizza no jantar, fotos diversas, comprinhas no mercado de artesanato e até mesmo “massagem Inca”, seja lá o que isto for.
 
Vinho? Nem pensar, no máximo uma cervejinha. É um chavão antigo, mas verdadeiro: não havia clima, nem para celebrar a beleza de Machupicchu.
 
Em todo o caso, o que vem a seguir seria apropriado…

Dica da Semana:  este seria o vinho perfeito para nos lembrarmos do que foi uma viagem perfeita.
 

Ken Forrester Petit Chenin Blanc
Um Chenin Blanc sul africano típico, em versão leve e sem carvalho. É super-refrescante e bastante cítrico: indispensável em dias de calor. Amadurecido em tanques de aço inox, exala aromas de frutas cítricas, marmelo, pera e flores. Na boca confirma seu frescor, lembrando sabores de maçã verde e grapefruit, tem bom corpo e um final “picante”.

 

Machupicchu e os vinhos que não bebi – II

3º dia: Vale Sagrado
 
Precisamente às 8h lá estava o nosso ônibus da excursão contratada para nos levar ao Vale Sagrado do Incas, onde pernoitaríamos, para, na manhã seguinte, embarcar no trenzinho com destino a Machupicchu. De malinha em punho partimos em nova etapa de nosso passeio.
 
O Vale Sagrado, se estende por mais de 120 quilômetros tendo em seus extremos as cidades de Pisac e Machupicchu e a Cordilheira dos Andes pelos dois lados. Esta estreita planície está situada a 2800 metros acima do nível do mar, bem mais baixo que Cusco. Tem um clima muito agradável com 18º C de temperatura média anual, rica flora e fauna, terra fértil e inúmeros riachos descendo das cordilheiras nevadas e alimentando o Rio Vilcanota, velho conhecido nosso por ser um dos formadores do Rio Amazonas.
 
Tudo gira em torno deste caudaloso rio, que em determinado trecho é mais conhecido por Urubamba, nome de um dos muitos vilarejos que atravessa. As atrações são múltiplas começando com as plantações de milho e batata. São diversas variedades de um e de outro, algumas muito exóticas como o milho roxo, que só é usado para fazer sucos ou o delicioso milho gigante, servido como acompanhamento para qualquer tipo de refeição. Com relação às batatas, existem cerca de 3800 espécies catalogadas.
 
A visita começa com uma paradinha num dos vários mirantes da estrada, para termos uma visão geral do local. (foto)
 
 
Há monumentos, sítios arqueológicos e ruínas por todos os lados, demonstrando que este vale nunca deixou de ser ocupado, desde tempos imemoriais. A próxima parada foi em Pisac, uma interessante cidade dupla, com a parte Inca em cima do morro e a arquitetura espanhola ao pé da montanha, com sua praça central e casas de adobo.
 
Incrível! Tudo em perfeito estado de conservação. Hoje em dia a praça central de Pisac é o ponto de reunião, aos domingos, de todos os grupos indígenas que habitam esta região. Promovem uma grande feira para vender seus produtos e ao mesmo tempo fazerem uma socialização onde os jovens, vestidos de acordo com as regras de cada grupo, procuram suas futuras esposas, igualmente identificadas pelas vestes como comprometidas ou solteiras.
 
 
Na montagem acima estão as duas cidades. Dali seguimos para o almoço, um buffet de comídas típicas, que nos prepararia para a impressionante visita da tarde: Ollantaytambo.
 
Esta outra cidade Inca talvez seja a única que nunca deixou de ser ocupda desde sua criação. A moderna arqueologia afirma que esta região foi um complexo militar, religioso, administrativo e agrícola, alem de palco de uma das poucas derrotas impostas aos espanhóis.
 
Como em tudo por aqui, há uma bela lenda que explica o seu nome. Ollanta era um chefe militar que se apaixona pela filha do Imperador Pachacutec. Decide “raptá-la” (foi consensual) gerando um conflito de mais de 10 anos nas tentativas, do pai, para recuperar sua filha. Somente após a morte de Pachacutec foi que seu filho, o novo Imperador, concede a mão de sua irmã, Cusi, transformando o chefe Ollanta em seu mais fiel oficial.
 
Visitar Ollantaytambo requer um bom preparo físico, são 236 degraus a serem galgados até seu topo para descortinar uma das mais belas e intrigantes paisagens do vale.
 
Quem do nosso grupo se habilitou?
 
Somente eu!
 
 
A foto acima dá uma idéia do percurso. A “escada” está à esquerda junto à encosta. A subida é gradativa, com pausas para recuperar o fôlego a cada 4 ou 5 patamares. Mas valeu cada momento. Ao chegar ao topo minha adrenalina estava no máximo. Para comemorar o meu feito brindaria com um delicioso espumante, um Cave Geisse Brut Nature seria perfeito!
 
Lá em cima pudemos observar esta imagem (foto) de uma face esculpida na montanha:
 
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Este seria o rosto dos Deus das Sementes.
 
Comparem com as fotos seguintes. A primeira foi tirada de uma ilustração que representa esta divindade no livro que o nosso guia levava, a segunda é de uma das muitas ilustrações de Francisco Pizarro, o Conquistador Espanhol:
 
 
Há uma notável semelhança!
 
O resto da história fica por conta de cada um, mas imaginem Pizzaro chegando em seu cavalo, animal desconhecido paras os Incas, a este povoado: no mínimo acharam que era a encarnação do Deus esculpido na montanha.
 
Os meus companheiros de viagem ficaram num barzinho ao pé da montanha, enquanto eu enfrentava um retorno nada fácil. Vejam na foto da direita: a trilha de descida fica do lado oposto ao da subida sendo bastante íngreme e sinuosa.
 
 
Ao final do dia fomos deixados em nosso hotel no Vale onde jantaríamos. Todo animado e com o sério intuito de me recompensar pela subida de Ollantaytambo, pedi a carta de vinhos do pequeno restaurante. Quase uma decepção: só havia um único vinho, peruano e totalmente desconhecido para mim. Mais por curiosidade do que por qualquer outro motivo, pedi uma tacinha. (foto)
 
 
Não era de todo ruim, ingênuo talvez, lembrando muito os vinhos nacionais quando ainda eram nada mais que uma tentativa de fazer um bom vinho. Claudia detestou, Cecília disse que “dava para tomar”, Rubens não bebe álcool preferindo uma “deliciosa” Inca Cola. Consultamos um famoso guia de vinhos internacionais que trouxe o seguinte comentário: “melhor não beber”…
 
Depois desta ducha de água fria só restava um merecido descanso. Às 6h o trem para Machupicchu partiria. 

Dica da Semana:  mais uma boa opção para enfrentar o calor sem deixar de apreciar a nossa bebida predileta. 

 

MAIA VARIETAL COLLECTION TORRONTÉS

De cor amarelo palha, este vinho apresenta aromas florais, com toques de frutas cítricas e brancas como melão e maçã. Acidez correta garantindo o frescor e realçando os aromas se realcem. Boa untuosidade e persistência.
Ideal para o inclemente verão de 2014.

 

 
 

Machupicchu e os vinhos que não bebi – I

Ao contrário do que sempre fazemos, eu e Claudia decidimos que não passaríamos o Reveillon de 2014 no Rio. Trocamos a agitada festa carioca por uma viagem que sonhávamos há muito tempo, conhecer o Peru e visitar a famosa cidade perdida dos Incas, Machupicchu. Mas, não tínhamos ideia do que nos esperava!
 
Éramos 2 casais, Cecília e Rubens nos acompanhariam nesta deliciosa aventura, uma maratona de 7 dias, praticamente cada noite em uma cidade diferente.
 
Procuramos nos organizar o melhor possível para enfrentar esta maravilhosa jornada que começou no dia 26/12 quando embarcamos para Lima, via TACA uma boa, mas confusa empresa aérea peruana: os embarques, quase sempre, eram inexplicavelmente complicados…
 
1º dia: Lima
 
Com um fuso horário de -3 horas (em relação ao Rio de Janeiro) e após 5 horas de voo, chegamos à capital do Peru por volta das 9:30h (hora local) apesar do termos acordado às 4h (Rio) para dar tempo de chegarmos ao aeroporto, check-in etc.
 
Não chove nesta cidade e o tempo é sempre nublado devido aos efeitos da gelada Corrente de Humboldt, no Oceano Pacífico. A temperatura amena era um convite para conhecermos os arredores do bairro de Miraflores, onde ficava nosso hotel.
 
Começaram as surpresas: o nosso simpático guia, Jayson, fez várias recomendações para minimizar o “Soroche”, conhecido mal da altitude que nos esperava em Cusco, nosso próximo destino no dia seguinte: muito descanso, comidas leves e zero de álcool, tudo para não desperdiçarmos as energias que seriam necessárias nos 3.400 m de altitude da antiga capital do Império Inca.
 
Havíamos imaginado fazer um belo almoço no prestigiado restaurante Astrid e Gaston, mas não conseguimos mesa. Optamos por outro bom estabelecimento, o Alfresco, onde fomos muito bem recebidos e comemos divinamente. As fotos dão ideia do que é a sofisticada gastronomia peruana.
 
 
Escolhi um apimentado Ceviche de frutos do mar (1ª foto à direita) acompanhado de milho gigante cozido e de Camote, uma espécie de batata doce que só existe no Peru, sempre servida com os pratos mais picantes para ajudar a amenizar o impacto. Na impossibilidade de pedir um bom Sauvignon Blanc, como o chileno Morandé Pionero, não deixei passar em branco: pelo menos um tradicionalíssimo Pisco Sauer foi degustado, apesar dos protestos dos demais comensais, mais preocupados com o que poderia ocorrer em Cusco do que eu.
 
 
Após um merecido descanso fomos visitar o Parque das Fontes, atração muito interessante de Lima, com 13 gigantescas fontes de água, cada uma de um formato e vazão impressionantes. Em duas delas a garotada se deliciava com banhos de diferentes jatos de água, isto a uma temperatura de 19º. Noutra passamos por dentro de um túnel de água sem nos molharmos. Às 19h um show de luz e som projetava bonitas imagens numa cortina de água.
 
 
Ao final do dia um lanchinho leve no Punto Azul, ao lado de nosso hotel e cama, pois, no dia seguinte às 8h, embarcaríamos para Cusco.
 
2º dia: Cusco
 
Depois de um rápido voo, chegamos à bela cidade de Cusco que parece ter parado no tempo. Se alguém ainda se lembra dos filmetes do Zorro que passavam na TV de antigamente, o cenário é o mesmo. Belíssimo por sinal. Mas para fazer qualquer esforço nestas alturas paga-se um preço alto. O cansaço é instantâneo.
 
O simples ato de retirar a mala da esteira do aeroporto já nos deixava ofegantes. O nosso grupo se dividiu na maneira de lidar com esta dificuldade, que é passageira:
 
– 3 tomaram uma medicação preventiva para ajudar na adaptação;
 
– o valente autor destas mal traçadas linhas, orientado por seu personal trainer, optou por se tornar uma “tartaruga”, fazer tudo em “marcha lenta” e dedicar todo e qualquer tempo livre para relaxar, descansar e respirar pausada e regularmente.
 
Na verdade, todos nós sentimos os efeitos, uns mais, outro menos, se é que me faço entender…
 
 
Já as 13h haveria um City Tour de 4 horas. Tratamos de descansar no hotel e fazer um rápido almoço. Novamente o que nos foi servido estava apetitoso, bem que merecia um belo Rosé. Montes Cherub seria a pedida ideal para acompanhar os pratos a base de pescados e a carne pedida pelo Rubens.
 
O City Tour foi tipo “puxado”. Começamos pela Catedral que fica na Praça de Armas que corresponde ao centro da cidade. É a 2ª maior da América Latina (a 1ª fica no México, em Puebla) e seguimos, a pé, para visitar o Koricancha ou Templo do Sol, interessante exemplo de adaptação da arquitetura Inca transformada em convento pelos conquistadores espanhóis. Show!
 
Nossos companheiros de viagem, esgotados, abandonaram o Tour. Eu e Claudia voltamos para a van e continuamos o longo passeio pelas ruínas aldeãs de Sacsayhuamán, Kenko, Puca-Pucara e Tambomachay.
 
Destes, o mais impressionante foi o 1º da lista. Não dá para acreditar que sem uma escrita e meios mecânicos tenham conseguido transportar e colocar estas gigantescas pedras com precisão milimétrica. Tudo na base do “man power”.
 
Na foto abaixo, mostro uma rocha de 9 metros de altura (há mais 3 metros enterrados) que foi esculpida, polida, trazida até o local e erguida por cerca de 15.000 homens, com cordas feitas a partir de couro ou fibra vegetal trançada, planos inclinados e troncos de madeira para servir de roletes, armados como se fossem um trilho de trem. Espetacular! Eu, como engenheiro, fiquei fascinado.
 
 
Neste momento um belo Pinot Noir seria perfeito. Sentar em um local com sombra e meditar muito. Minha escolha seria um vinho da Califórnia, o Belle Gloss, para celebrar um povo genial que foi destruído pelos conquistadores europeus.
 
 
Fico pensando até onde eles poderiam ter chegado com sua Tahuantinsuyu (o seu império), sua precisão e visão holística do mundo: o Condor, o Puma e a Serpente, cada um representando uma parte da vida: o mundo de cima ou dos espíritos, o do meio ou dos homens e o do mundo de baixo ou dos mortos.
 
A vida seria controlada pela visão do Condor que nos remeteria ao mundo do meio como se fossemos um Puma a percorrer a Mãe-Terra ou Pacha Mama, a referência mais importante para eles. Sempre conscientes e corajosos, preocupados com os seus “rastros”, como uma Serpente, a guardiã do mundo de baixo, para então, um dia sermos levados para cima pelo “voo sagrado do condor”, ampliando a visão destes 3 mundos.
 
Impossível não traçar um paralelo entre esta brilhante civilização e outras como a dos Egípcios. Aliás, sem nenhuma dúvida, o Peru é o Egito das Américas.
 
 
Infelizmente não conseguimos alcançar o Templo das Águas ou Tambomachay, o cansaço chegara ao nosso limite e decidimos não encarar uma subida de mais 200m.
 
Voltamos para a van e descansamos até o hotel.
 
Depois de um bom período de repouso, saímos, nós dois, para um passeio noturno até a Praça de Armas e jantar algo leve. O outro casal não tinha forças para nos acompanhar, ficando no hotel.
 
Jantamos leve no simpático Calle del Meio, com uma linda vista para a praça. Eu ainda arrisquei uma Cusqueña, saborosa cerveja local, sob os olhares censurantes da esposa.
 
 
Era a hora de fazer a malinha para os próximos dois dias, pois o transporte que nos levaria até o Vale Sagrado e depois o trem que nos deixaria em Águas Calientes, também conhecida como Pueblo de Machupicchu tem espaços restritos para bagagem. A recomendação era levar o mínimo necessário. Mas esta parte da história fica para semana que vem.

Dica da Semana: mais um vinho que não tomei e muito agradável neste verão de sensações térmicas de 50º, no Rio de Janeiro.
 
Terrazas de Los Andes Reserva Torrontes
Vinho elegante, sem excesso de aromas, não passa por madeira, ótimo frescor, agradável. Frescor decorrente dos vinhedos de altitude de 1880 metros em Cafayate. Seus aromas puxam levemente para uma relva fresca lembravam algo de Sauvignon blanc. Vinho é fino, fresco, floral, equilibrado, versátil e muito agradável para o verão.
 

Serra Gaucha – Final

 Como naquele velho ditado, o melhor fica para o final, a última visita desta jornada, na Vinícola Salton, foi cheia de ótimas surpresas. Vamos conhecer um pouco desta história.
 
Foi constituída formalmente em 1910 por três irmãos que decidiram dar um cunho empresarial aos negócios de seu pai, Antonio Domenico Salton, um vinhateiro informal. A primeira sede era no centro de Bento Gonçalves e assim como a Cooperativa Aurora, viram a cidade crescer ao seu redor.
 
Desde o início das operações a Salton sempre teve um foco bem definido: produzir com qualidade. Sua extensa linha de produtos inclui suco de uva, vinhos, espumantes, vermutes e o conhecido Conhaque Presidente, um dos carros chefes da empresa, que é produzido exclusivamente na unidade de S. Paulo.
 
Hoje, mais de 100 anos depois, é reconhecida como uma das principais vinícolas deste país. Com as 3ª e 4ª gerações à frente dos negócios, continua sendo familiar e 100% brasileira. Em 2004 inauguraram a atual sede, no distrito de Tuiuty, encerrando as atividades na cidade de Bento Gonçalves.
 
A nova geração que dirige esta empresa trabalha para manter sua liderança no segmento dos espumantes além de se tornar a principal fornecedora de vinhos para restaurantes e similares. Pretende, até 2020, ser reconhecida como a melhor e mais respeitada indústria vinícola brasileira.
Posso assegurar que está preparada para isto.
 
 
A estrutura de turismo é a mais completa que conhecemos, com guias muito bem preparados. Por ser um Domingo, poucas atividades eram desenvolvidas na empresa. Mas o tour foi completo permitindo conhecer os equipamentos de ponta. Foram os primeiros tanques de fermentação horizontais que tive a oportunidade de observar.
 
Poucas vinícolas, no mundo, utilizam esta tecnologia. Moderníssimo.
 
 
O aspecto visual de toda a fábrica, 100% aço inoxidável, é impressionante. Passarelas preparadas para a visitação nos levam a todos os pontos, com estratégicas paradas onde o guia conta com suporte de áudio para suas explicações.
 
 
A visitação termina na sala das barricas, um espetáculo à parte.
 
 
Levados para a simpática sala de degustação, demos início aos ‘trabalhos’, 6 vinhos: 2 brancos, 2 tintos e 2 espumantes.
 
 
O primeiro vinho foi o Salton Intenso 2012, antiga linha Volpi, um corte de Sauvignon Blanc e Viognier. Seguiu o que consideramos o melhor branco provado nesta viagem, o Salton Virtude 2011, um Chardonnay muito classudo que passou brevemente por madeira.
 
Muito versátil e de paladar extremamente agradável.
 
 
O primeiro tinto era um produto exclusivo para o mercado externo o Intenso Export 2012, um varietal da uva Marsellan. O segundo, um vinho que homenageia os fundadores, foi o Paulo Salton Gerações, um bem elaborado corte Bordalês com 50% Cabernet Sauvignon, 40% Merlot e 10% Cabernet Franc.
 
Tem lugar seguro na minha adega embora ainda não esteja sendo comercializado, nem o rótulo foi definido ainda.
 
 
Na sequência foram servidos o Prosecco 2012 e o espumante Gerações Antonio Domenico Salton, um excelente brut nature com 50/50 de Chardonnay e Pinot Noir elaborado pelo método Champenoise.
 
A Chandon que se cuide…
 
 
Depois desta deliciosa prova só nos restou o bom almoço típico oferecido, acompanhado pelos honestos vinhos da linha Volpi e pelo espumante Salton Brut Reserva Ouro.
 
Despedimo-nos de Bento Gonçalves com uma certeza: voltaremos!
 
 
Dica da Semana: O melhor de todos!
 
 

st 0Salton Virtude Chardonnay 
Vinho com tonalidade amarelo claro. Possui aromas que lembram abacaxi , manteiga, maçã verde, melão e pronunciado aroma de mel, baunilha, coco, nozes e pão torrado, além de notas minerais. Seu sabor é equilibrado e estruturado, com acidez firme, deixando agradáveis sensações de frutas e especiarias na boca. Harmoniza com aves de caça, como perdiz, ema, avestruz, faisão e pato. Massas com molhos de base branca (béchamel) ou à base de ervas (pesto). Acompanha risotos e queijos como brie e camembert. Excelente opção para bacalhoada e cassoulet.

 

O Almoço em Punta del Este

Continuando o relato da viagem durante o carnaval de 2013, o próximo ‘regabofe’ foi programado para a simpática, mas cara, cidade balneária do Uruguai.
A primeira tarefa era escolher o local. A sugestão inicial era seguirmos até Pueblo Garzon, cerca de 1h30 de estrada, para almoçar no restaurante do renomado Chef Francis Mallmann. Como teríamos que embarcar de volta até às 17h, o grupo decidiu não arriscar.
Selecionamos outros locais, com base em vários guias para turistas, e acabamos com 2 opções: o La Huella na praia de José Ignacio e o Lo de Tere, que acabou sendo o escolhido.
Este é considerado o melhor de Punta. Fica bem perto da área do Porto, com uma bela vista para o mar. Fizemos a reserva pela internet sem nenhum problema. Às 14h chegamos e lá estava a nossa mesa na varanda. Como o dia estava mais quente que o normal, para aquela cidade, pedimos que nos colocassem num salão refrigerado. Houve um pouco de desapontamento por parte da gerente da casa – ele entendia que por sermos turistas gostaríamos de ficar de frente para a praia… Desfeita a confusão, fomos realocados em duas mesas, uma de 6 lugares e outra de 8 lugares no salão denominado Puerto Jardin.

Com o grupo dividido, optamos por fazer os pedidos ‘à la carte’. Um extenso cardápio foi apresentado, como era esperado, calcado em frutos do mar. A nossa mesa optou por entradas como o Tiradito, finas lâminas de atum marinadas e o Carpaccio de Polvo. Para os pratos principais houve um pouco de tudo, carnes, peixes e frutos do mar.

Os pratos recebem nomes sugestivos, como o ‘Iñaki’, elaborado a partir da Merluza Negra do Atlântico, um dos peixes mais valorizados, ou o simpático prato de pequenas lulas cozidas no vinho branco, o ‘Mi Amigo El Vasco’.

Alguns comensais pediram a excelente carne uruguaia, e por esta razão ficamos com 2 vinhos: um branco elaborado com a casta Albarinho ou Alvarinho, da região noroeste da Península Ibérica e outro tinto, um diferente corte de Tempranillo e Tannat, ambos da excelente Bodegas Bouza.

O branco estava muito interessante e surpreendeu a todos que o provaram. Apenas por curiosidade, provei o correto tinto, que promovia um casamento perfeito com o Ojo de Bife de novilho jovem. O peixe que faz mais sucesso foi a Merluza.

Mas o ponto alto do encontro foram as sobremesas, acreditem, uma variedade capaz de agradar a gregos e troianos.

Este grupo, em particular, tem um viés por doce de leite. Os produzidos no Uruguai são famosos. Para complicar, havia duas opções com esta iguaria: Homenaje al Dulce de Leche e A Quién no le Gusta el Chocolate.

A foto mostra a tal ‘Homenagem’, três preparações diferentes: mini-panquecas recheadas, sorvete caseiro e um drink feito com o Licor Bailey’s.

Vários ‘bis’… (houve quem pedisse as duas sobremesas!)
Para acompanhar e harmonizar com esta montanha de açúcar, só mesmo algo muito especial e que muitos não conheciam, o Licor de Tannat, outra especialidade daquele país. Apesar do nome (licor) é muito semelhante a um Porto. Supimpa!

Ao final, concluímos que esta fora ‘a melhor refeição’ feita num restaurante sul-americano. Parabéns à Chef Maria Helena.

Dica da Semana: para descobrir novos caminhos, um Cabernet Franc, casta que está na moda, numa versão uruguaia.

Reserva Cabernet Franc 2010

Produtor: Viña Progreso
País: Uruguai/Canelones
O produtor utiliza clones de baixo rendimento, plantados em altas densidades para a produção deste Cabernet Franc. Com taninos doces, boa complexidade e um sofisticado toque herbáceo típico da casta, é uma bela surpresa do Uruguai.
Harmonização: Massas, polenta, pato, perdiz, presunto cru, cogumelos, queijos como Brie, Camembert e Roquefort.
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