Iniciamos esta série sobre as principais uvas viníferas apresentando a Sauvignon Blanc. Num segundo episódio, foi a vez da Cabernet Franc.
Há uma razão para isto: o cruzamento, espontâneo, destas duas
variedades deu origem ao que muitos classificam como a mais importante
uva vinífera, nossa personagem de hoje, a omni vinificada Cabernet
Sauvignon.
Uma casta 100% francesa, com raízes em algum lugar na região do rio
Gironde. A data deste nascimento ronda os meados do século XVIII.
A descoberta de sua linhagem foi quase por acaso e somente ocorreu em
1996, o que nos leva a uma grande questão: de onde surgiu o seu nome?
Algumas características morfológicas, entre estas castas, sempre
foram bastante evidentes para os Ampelógrafos, o que poderia explicar a
denominação. O que é aceito, atualmente, é que o nome decorre da
semelhança de seu tronco e folhas com as da Sauvignon Blanc.
A identificação da genética da “Cab” foi um marco na história da
viticultura. Foi a 1ª vez que, com o auxílio da análise de DNA, se
identificou os progenitores de uma cepa. Antes desta importante
descoberta, os estudiosos não admitiam que uma uva branca pudesse gerar
uma uva tinta.
Já foi chamada por vários apelidos, alguns deles bem conhecidos até
hoje: Bidure, Vidure, Carbonet, Carmenet, entre muitos outros. Por parte
de pai (Cabernet Franc) seria uma prima da Merlot e da Carménère.
É uma casta muito vigorosa e capaz de se adaptar a diferentes solos e condições climáticas. Esta é uma das razões por ser tão difundida entre as regiões produtoras. Para os vinificadores, produzir um bom vinho com base nesta uva é quase que um rito obrigatório. Muitos enófilos julgam a qualidade de uma vinícola por seu Cabernet, seja corte ou varietal.
O seu cartão de visitas são os vinhos de Bordeaux, preferencialmente os da margem esquerda: Medoc e Graves.
Mas não podemos nos esquecer do famoso Julgamento de Paris, onde
surgiu a maior força entre os vinhos feitos 100% com esta cepa: Napa
Valley, EUA.
O Chile também entrou para este distinto grupo com seus famosos cabernets da região de Puente Alto.
Os vinhos desta uva são cheios de personalidade e facilmente
identificados numa degustação às cegas. Sua coloração é profunda, os
taninos predominam e têm boa acidez o que os fazem muito agradáveis de
provar.
Uma uva chamada de nobre e que produz, em mãos competentes, vinhos
nobres e com características que tendem a se repetir em todos os
terroirs: aromas de groselha negra e cedro (nem sempre muito evidentes).
Não são vinhos para serem apreciados em sua juventude. Os grandes
cabernets precisam de tempo para domar suas características mais ásperas
e a madeira é uma eterna aliada. Bem vinificados e armazenados, podem
durar por décadas e até séculos.
Para deixar bem claro: Cabernets jovens e baratos talvez não valham o investimento.
Escolher um exemplar para representar, em nossas páginas, esta
estupenda casta é tarefa árdua. Existe uma enormidade de opções passando
pelos mais diversos países: França, EUA, Chile, Argentina, Itália,
Austrália…
Contrariando uma regra não escrita do jornalismo, a que o autor deve
evitar citar suas preferências, principalmente na área esportiva, sob
pena de ser chamado de parcial, fiz uma escolha pessoal, endossada por
uma plêiade de críticos internacionais.
Caymus Special Selection Cabernet Sauvignon
Um dos grandes representantes do Napa Valley. Segundo o renomado
Robert Parker, um vinho muito difícil de ser igualado. Premiadíssimo,
com uma média de pontos, nos últimos 10 anos, acima de 95 pts.
Um dos melhores vinhos que já degustamos. Poderíamos classificá-lo como “inesquecível”.
Não é um vinho barato, é caro em sua origem, com preços ao consumidor
na ordem da centena de dólares. No nosso país, multiplique por 10…
Notas de degustação da safra 2011:
Profunda coloração rubi. Característicos aromas de groselha negra e
amora que se combinam em notas complexas de alcaçuz, anis e cassis. No
palato, oferece um grande e amplo leque de sabores como “subois” (chão
do bosque), especiarias escuras, tabaco e frutas negras maduras, com um
final de boca interminável. Um vinho opulento, aveludado e rico. Taninos
perfeitamente equilibrados com a acidez. Delicioso!
Meu conselho: beba sozinho e no escuro. Não atrapalhe esta maravilha com nenhuma harmonização.
Saúde e bons vinhos!
Fonte consultada: Wine Grapes: A Complete Guide to 1,368 Vine
Varieties, Including Their Origins and Flavours, por Jancis Robinson,
Julia Harding, Jose Vouillamoz.