Categoria: Castas (Page 6 of 10)

O dia da uva Cabernet Sauvignon. Será?

Parafraseando o personagem Pedro Pedreira, da eterna Escolinha do Prof. Raimundo: “Há controvérsias” …

E não são poucas!

Tudo teria começado em 2009 no Napa Valley, EUA, uma região que produz alguns dos melhores Cabernet do mundo. Rick Bakas, um conhecido Sommelier e marqueteiro, organizou um evento nas redes sociais para agregar apreciadores desta casta e trocarem notas sobre suas degustações. O evento foi um sucesso e vem se repetindo desde então. Dúvida recai sobre a data: uns dizem que foi num 29 de agosto, outros adotam o dia seguinte, 30 de agosto. O objetivo era divulgar as vinícolas do Napa Valley e seus ótimos vinhos. Portanto, um evento regionalizado e com um objetivo bem definido.

No Chile, outro grande produtor da uva Cabernet e seus vinhos, adota uma variante destas datas para comemorar o seu dia: a última 5ª feira de agosto, que em 2021 caiu no dia 26/08.

Para fechar o quadro, existe um International Cabernet Day (#CabernetDay), onde são comemoradas castas e vinhos “Cabernet”: Sauvignon e Franc.

Honestamente, essa icônica casta não precisaria ser lembrada.  Segundo estimativas da OIV (Organização Internacional do Vinho e da Vinha) datadas de 2017, a área plantada com esta uva seria de 317.000 hectares, o que a torna a mais cultivada vitis vinífera.

Começando por Bordeaux, seus vinhos são os mais famosos e, ao mesmo tempo, referência para qualquer outro produtor mundial. É quase impossível encontrar um vinhateiro que não sonhe em produzir um bom Cabernet. É um cartão de visitas, um rito de passagem que todos querem cumprir.

Nem sempre são bem sucedidos: há Cabernets e cabernets…

Ninguém discutia a superioridade dos emblemáticos cortes bordaleses até que aconteceu a conhecida degustação comparativa entre vinhos franceses e norte-americanos, apelidada de “Julgamento de Paris”. Os vinhos californianos passaram a dominar amplamente esse segmento do mercado.

Mas já não reinam sozinhos. O Chile, outra importantíssima peça neste tabuleiro, tem produzidos maravilhosos Cabernet, inclusive com vinhas de pé franco, que já não existem mais no velho mundo. Seu vizinho, do outro lado dos Andes, depois de um longo período apostando na Malbec, jogou suas fichas na “Cab” produzindo pequenas e deliciosas joias.

Não se iludam, um bom Cabernet é caro, às vezes muito caro. Para realmente entendermos a mágica dessa casta temos que prová-la, em todo o seu esplendor, nem que seja uma única vez. Procedendo assim, poderemos, finalmente, separar o joio do trigo.

Há alguns rótulos de preço proibitivo aqui no Brasil: os Châteaux da margem esquerda do Gironde; Opus One, Screaming Eagle, Caymus, entre outros estupendos vinhos da Califórnia; ícones chilenos como o Almaviva, Don Melchor ou Seña.

Existe um gama, que vamos chamar de intermediária, que é perfeitamente acessível aos nossos bolsos e os vinhos são excelentes, a ponto de, em determinadas safras, superarem os grandes mitos.

Anotem, decorem e quando encontrarem à venda, nem pestanejem:

Terrazas de los Andes Reserva Cabernet Sauvignon, Argentina

Francois Lurton Gran Lurton Cabernet Sauvignon, Argentina

Viña Chocalán Cabernet Sauvignon, Chile

Santa Rita Medalla Real Cab. Sauvignon

Outras boas opções vêm de produtores australianos, sul africanos e dos EUA, mas são raras no nosso mercado.

Arrisquem, degustem e se juntem ao sempre crescente grupo dos apreciadores dessa que é comumente chamada de rainha das uvas tintas.

IMPORTANTE: a partir desta coluna e pelos próximos 60 dias, a frequência de publicação será outra, podendo não ocorrer. Estaremos nos aventurando pela Península Ibérica. Eventuais novas matérias acontecerão ao sabor da disponibilidade de tempo, acesso a um computador e a Internet.

Saúde e bons vinhos!

Foto: “Chateau Margaux Cabernet Sauvignon vines.jpg” por Megan Mallen está licenciada sob CC BY 2.0

Uma casta, um vinho – Pinot Noir

O mundo do vinho está repleto de reis, rainhas, príncipes e outros títulos nobiliárquicos. Estamos falando desde produtores, muitos deles autointitulados rei de alguma coisa, passando por regiões produtoras e estilos de vinhos, onde até podemos encontrar um “Rei dos vinhos” e um “Vinho dos Reis”, chegando até a raiz de tudo, nas castas, onde a disputa é feroz. Existe uma lista de “castas nobres”, amplamente dominada por varietais típicas da França.

A Pinot Noir é uma delas. Talvez seja a mais temperamental de todas, difícil de ser trabalhada, exigindo muita dedicação de seus produtores. Em compensação, produz alguns dos mais fantásticos, e caros, vinhos do planeta. Uma afirmação que ninguém questiona.

A origem desta videira é muito antiga. Estima-se que exista há mais de 600 anos. Muitas teorias sobre sua história ainda são discutidas. Vão desde a domesticação de uma videira silvestre até o surgimento por polinização cruzada entre duas outras espécies, hipótese não muito aceita. Acredita-se que o seu berço seja a região da Côte de Beaune, na Borgonha, especificamente em Chassagne-Montrachet. Os primeiros registros datam de 1383.

Até para explicar o seu nome há inúmeras versões. Pinot decorreria de “pin”, pinho em francês, devido à semelhança do cacho com uma pinha. Noir, negro em francês, se deve a escura coloração dos seus frutos. Há uma extensa lista de denominações regionais para esta uva.

Uma das discussões mais interessantes a este respeito tem origem em um dos seus mais antigos sinônimos: Morrillon. A etimologia dessa palavra pode sugerir muita coisa. Uma linha de pesquisa afirma que este termo deriva da palavra Mouro (Maures), o povo do norte da África, de pele escura. Outro grupo defende a teoria que o termo se originou das expressões francesas “mours” e “mouret” que significam “cereja negra”, numa alusão ao formato e cor das bagas da Pinot Noir. Há, ainda, um terceira linha de pesquisa que se debruça sobre uma palavra do Latim, “maurus”, significando marrom escuro.  No final das contas, historiadores admitem que Morrillon derivou do nome de um rio da região da Ile de France, La Morée, onde esta casta era abundantemente plantada. Um registro de 1375 informava que uma quantidade de vinho “Pinot vermeil” (feito com Morrillon) estava senda enviado para a Bélgica.

Vinicultores de todo o mundo replantaram esta casta obtendo vinhos bem diferentes entre si, cada um deles um belo retrato dos diferentes terroirs e métodos de elaboração. Não é um uva para os fracos, é preciso de muita dedicação, conhecimento e paciência para obter os bons resultados que tornaram esta casta uma unanimidade, indiscutível.

Alguns dos melhores Borgonhas levam 15 anos, ou mais, para chegar ao mercado!

Uma uva extremamente versátil que produz, em mãos competentes, desde sonhados tintos, como o conhecido Romanée-Conti, até os Champagnes – é uma das principais uvas. Entre suas estrelas borbulhantes, o Krug Clos d’Ambonnay Blanc de Noirs Brut, 100% Pinot Noir, pode atingir preços com 5 dígitos…

A família desta casta é extensa e muito importante no cenário vinícola. Além da Noir, vamos encontrar a Pinot Gris, a Pinot Blanc, a Pinot Meunier e outros clones menos importantes. O cruzamento espontâneo da Pinot (genérica) com a Goauis Blanc produziu uma extensa série de descendentes, entre elas a não menos famosa Chardonnay, companheira da Pinot Noir na Borgonha e em Champagne.

Os grandes Pinot borgonheses são facilmente identificados por sua coloração leve, quase um rosado, num curioso contraponto com a pele escura de seus frutos. No paladar apresenta-se muito frutado, com os “sabores do bosque”. São vinhos fáceis e beber, deliciosos e muito complexos, quando estão prontos. Vinhos jovens podem ser simplesmente intragáveis.

Por ser uma casta que se adapta às condições climáticas de cada local onde está sendo cultivada, o Pinot da Borgonha não consegue ser imitado. Cada região tem o seu estilo de vinho. Os da Califórnia ou do Oregon, por exemplo, são escuros e bem mais tânicos que os franceses.

A nossa escolha para representar esta fabulosa casta vem da Itália, um Pinot Nero.

Alois Lageder – Pinot Noir Alto Adige 2018

Elaborado com frutos plantados em altitude, tem boa tipicidade. Bela coloração vermelho rubi leve. Combina notas de frutas vermelhas, violeta, especiarias e de ervas com um toque defumado. Ótima persistência. Harmoniza com carnes grelhadas, carnes brancas, pato e queijos. Para ter sempre na adega, o preço é bem camarada.

Saúde e bons vinhos!

Foto de abertura:

“Pipers Brook Vineyard The Lyre Pinot Noir” por PBVmedia licenciada sob CC BY 2.0

17/04 – Dia da uva Malbec

Coube ao agrônomo francês Michel Pouget a chegada das primeiras mudas da casta Malbec, na Argentina, vindas diretamente da França. O Ano era 1853. Pouget havia sido contratado pela Quinta Agronômica de Mendoza para melhorar a qualidade dos vinhos produzidos na região.

17 de abril é registrado como o dia de sua chegada ao país. A data comemorativa só foi instituída a partir de 2011. Em função da situação pandêmica, os eventos que celebram este dia serão virtuais, como master classes e degustações.

Ninguém poderia imaginar que muitos anos depois da chegada de Pouget, a Malbec, uma varietal muito conhecida em Cahors e em Bordeaux, onde era utilizada no famoso corte antes da devastação provocada pela Filoxera, fosse renascer em solo estrangeiro e se tornar uma protagonista.

Hoje faz sucesso com os vinhos denominados “Malbec Argentino” e também com rótulos elaborados no Chile, na Califórnia, na Nova Zelândia e na França, pelo menos. No Brasil já se encontram algumas tímidas vinificações.

O sucesso desta casta no terroir argentino tem a mão de mais dois estrangeiros, outro francês, Michell Rolland, e o norte americano, Paul Hobbs, trazido pelo “pai” argentino do vinho Malbec, Nicolas Catena. Toda essa mudança só começa lá pelos anos 90. Incrível!

Segundo a Wines of Argentina, vinhos elaborados com esta casta são exportados para 129 países. O Brasil é o 3º maior importador, atrás da Inglaterra e dos Estados Unidos.

Mendoza não é o único terroir argentino. Duas outras regiões se destacam, a Patagônia e o noroeste do país: Vale Calchaquí (Salta), Chañar Punco, Quebrada de Humahuaca.

Cada local destes tem suas próprias características resultando em vinhos únicos. Para os paladares treinados, é fácil identificar cada um deles.

Vamos homenagear esta uva, que caiu no gosto dos enófilos brasileiros, indicando um bom vinho de cada região. Para aqueles que forem aventureiros, sugiro que organizem uma degustação comparativa. Vai ficar na memória, para sempre.

Da região de Mendoza: Achaval Ferrer Malbec

Da Patagônia: Humberto Canale Malbec

Do Noroeste argentino: Colomé Estate Malbec

São três excelentes vinhos. Existem diversas outras opções caso não encontrem essas recomendações. A ideia é ter um bom momento de diversão e, quem sabe, treinar o paladar.

Saúde e bom dia da Malbec!

Créditos: imagem de abertura por María Fernanda Pérez por Pixabay

Uma casta, um vinho – Mencía

Não se pode falar sobre essa varietal sem associar uma região da Espanha, Bierzo, e um produtor, Alvaro Palácios, a quem coube elevar os vinhos elaborados com essa uva a uma outra categoria.

Não é exclusiva nem de um e nem de outro: é uma casta ibérica. Diversos autores e pesquisadores divergem, muito, sobre suas origens.

Durante muitos anos acreditou-se que era uma casta clone da Cabernet Franc, surgida na Espanha. Mais tarde, já com o auxílio de análises por DNA, conclui-se que era a mesma casta conhecida por Jaén, na região do Dão, Portugal. Especulava-se que peregrinos, retornando de Santiago de Compostela, a teriam plantado em território português.

A descoberta mais recente, com o auxílio de moderníssimas técnicas de análise do perfil genético das plantas, concluiu que é uma casta portuguesa, com certeza, surgida através do cruzamento, natural, das uvas Alfrocheiro e Patorra, típicas da região do Dão.

A área plantada, somando os dois países, alcança 11.600 hectares. A maior concentração está em Bierzo. Sempre foi usada na elaboração de vinhos de mesa até que Alvaro Palacios redescobriu alguns antigos vinhedos de altitude. Aplicou métodos de vinificação atuais e obteve pequenas joias.

Críticos colocam os vinhos desta casta entre um Pinot Noir e um Syrah. Apresentam um corpo médio a encorpado, com características florais e de frutas vermelhas como Romã, Ginja e Framboesa. Os taninos estão presentes, sempre muito suaves e domados. Amadurece com grande dignidade.

Por ser um vinho bem gastronômico, a paleta de harmonizações é ampla incluindo variados pratos de carne, bovina, suína, ovina, aves e caça, elaboradas de diversas maneiras; queijos amarelos duros, como o Manchego ou macios como o Serra da Estrela e Azeitão.

Especiarias também não são problemas para este versátil vinho: pimenta negra, cravo, anis, cardamomo, alecrim, alho, cebola e muito mais. No capítulo dos vegetais enfrenta até uma difícil alcachofra.

É pau para toda obra!

Escolhemos um vinho espanhol para representar esta interessante casta:

Pétalos del Bierzo, da vinícola Descendientes de J. Palacios.

Elaborado com 100% Mencía por Alvaro Palcios e seu primo Ricardo Peréz, é uma delícia para ser degustado. Potente, encorpado e muito elegante, recebeu 92 pontos do crítico Antonio Galloni, na safra de 2015. Um dos melhores “best buys” da Espanha.

Saúde e bons vinhos!

Créditos: foto de abertura – https://glossary.wein.plus/mencia

Bordeaux aprova o uso de novas castas

Em 2019, produtores bordaleses solicitaram ao INAO (Institut National de l’Origine et de la Qualité) a inclusão de 7 novas castas que poderiam ser vinificadas na região. Tudo em nome das alterações climáticas e a eterna preocupação de manter a reconhecida qualidade superior dos vinhos de Bordeaux. (veja nossa coluna: Novas castas Bordalesas)

As pesquisas já estavam sendo feitas há cerca de 10 anos, incluindo plantio e vinificações experimentais. Este processo seletivo, que teria começado com mais de 50 castas, concluiu que apenas cinco uvas tintas e duas brancas eram adequadas. Faltava a aprovação dos órgãos de controle.

Não foi uma decisão fácil para o respeitado INAO, afinal, o seu OK a este ambicioso projeto significava, também, a quebra de uma tradição secular: o mais que famoso “corte bordalês”, elaborado com as nobres Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc, Petit Verdot, Malbec e Carménère. Teria que ser repensado e, quem sabe, ganhar uma nova denominação. A decisão foi embasada pelo Conselho de vinhos de Bordeaux (CIVB).

Das sete castas propostas, uma não passou no crivo, a branca Petit Manseng. Apesar de se adaptar perfeitamente ao novo terroir e permitir cortes brancos perfeitos, a razão pela que não teria sido aceita não tem nada de técnica ou científica: é a casta icônica do sudoeste francês (Cahors, Bergerac, Buzet and Gaillac). Seria um grande problema alterar esse “status quo”.

Há algumas curiosidades no grupo aprovado.

As tintas Arinarnoa e Marsellan são uvas criadas através de cruzamentos controlados. A primeira entre a Cabernet Sauvignon e a Tannat (1956) e a segunda entre a Cabernet Sauvignon e a Grenache (1961).

A terceira casta tinta aprovada se chama Castets. É nativa na região e mais conhecida por ser uma casta bordalesa quase esquecida. Ou seja, estava por ali e ninguém se interessava por ela…

A grande novidade é a quarta uva tinta, importada de Portugal, a Touriga Nacional, uma das grandes castas lusitanas.

No capítulo das brancas, aparece outra casta ibérica e também muito importante no cenário de Portugal, a Alvarinho ou Albarinho, na Espanha.

A última casta aprovada, branca, se chama Liliorila. Novamente, é um cruzamento entre a Chardonnay e a Baroque, outra casta do sudoeste francês que andou muito desprestigiada por longo tempo.

As regras de utilização

Por enquanto essas novas castas não serão as protagonistas, sendo colocadas num 3º time ou reservas, para usar uma linguagem bem popular. Antes delas estão as principais (Cabernet, Merlot…) e as secundárias (Malbec, Carménère…). Este critério será revisto a cada 10 anos.

Com relação à área plantada, limitaram a 5% do vinhedo total. Na elaboração do corte, estipularam um máximo de 10% do volume.

Isto implica que, de acordo com a legislação vigente, não é obrigatório citar as novas castas nos rótulos.

As pesquisas para encontrar soluções que ajudem aos produtores se adequarem as mudanças climáticas continuam em várias outras frentes, que incluem até o manejo das parreiras, seja com podas mas precisas, mudanças na chamada área coberta, altura das plantas e colheitas em diferentes pontos de maturação.

Fazendo um paralelo, pesquisas brasileiras desenvolveram a poda invertida, mudando a época de frutificação das uvas para um período de clima mais ameno no nosso país.

Esta técnica é um enorme sucesso que permitiu ampliar a nossas regiões produtoras e a utilização de novas castas que não se davam bem por aqui.

O resultado final são alguns vinhos tranquilos muito bons que já estão chamando a atenção de críticos e consumidores internacionais.

Sinal que os caminhos bordaleses têm tudo para dar certo.

Saúde e bons vinhos!

Créditos: Imagem de alohamalakhov por Pixabay

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