Recentemente, um produtor inglês de espumantes, Chapel Down, promoveu, em Champagne, França, uma degustação comparativa entre o seu Brut e um conhecido similar francês.
O resultado foi surpreendente.
60% do público que passou pela prova, aprovou o vinho inglês, afirmando que seria mais fresco e agradável do que o francês. Não sabiam sua origem, sendo mostrado, apenas, o nome do espumante traduzido, literalmente, como Chapelle em Bas. Uma degustação “incógnita”.
Degustações, como esta, tem sido usadas, com bastante frequência, por produtores mundo afora, para demonstrar que seus vinhos são tão bons ou melhores que alguns dos ícones mais conhecidos. Uma delas, o Julgamento de Paris, foi um divisor de águas, demonstrando que o “novo mundo” poderia produzir vinhos de alta qualidade. Até hoje a escolha dos vinhos franceses que enfrentaram os californianos é questionada, mas a verdade é que o evento chamou a atenção dos consumidores para vinhos, até então, desconhecidos. O mundo do vinho não seria mais o mesmo.
Todos os tintos franceses eram de Bordeaux e os brancos da Bourgogne. Isso diz alguma coisa?
Muito!
A escolha foi baseada nas castas vinificadas na França e nos EUA. Cabernet Sauvignon, e Merlot são uvas bordalesas que foram plantadas na América para produzirem vinhos como os franceses. Nada mais que isto.
Vamos focar apenas em um estilo, o Corte Bordalês, que mistura em diferentes proporções, dependendo da região produtora, as seis uvas clássicas: Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc, Petit Verdot, Malbec e Carménère.
Qualquer vinícola que trabalhe com estas castas vai arriscar produzir a sua versão deste corte. Para um consumidor, é uma referência tipo “porto seguro”, algo como “se este produtor se arrisca a fazer este vinho, ele deve valer à pena”.
Livros, revistas especializadas, cursos para Sommelier ou para Enófilos, sempre tomam Bordeaux com uma referência, um “benchmark”, que é palavra da moda. Até nas conversas entre amigos, haverá alguma menção a estes tradicionais vinhos, seja por que alguém provou ou por ter comprado uma bela garrafa.
Os Bordeaux se tornaram vinhos para colecionadores por conta de preços exorbitantes, mas há bons rótulos com preços competitivos, inclusive de alguns dos famosos Châteaux, que por razões financeiras, passaram a comercializar o chamado “segundo vinho”.
Os vinhos da maior região produtora da França nunca deixarão de ser “a referência”, embora já existam, fora de lá, produtores que, inegavelmente, estão com qualidade superior: Rioja, Douro, Piemonte, Toscana, Veneto, Puglia, California, Oregon, Mendoza, Salta, Patagonia, Chile e seus múltiplos vales e outros. A lista é longa.
Recentemente, países que estavam sob regimes políticos totalitários e recuperaram sua autonomia, estão apresentando vinhos que, de certa forma, nunca soubemos que existiam. E são maravilhosos!
Assim como o espumante inglês que se destacou no coração de Champagne, ou os Cabernet da Califórnia que derrotaram os franceses, qualquer outro produtor que tiver matéria prima de boa qualidade e conhecimento para vinificar uma obra de arte, pode superar qualquer outro vinho famoso. Exemplos não faltam.
O que somos capazes de apostar é que será um corte ao estilo bordalês, se for um tinto.
Referência é isso …
Saúde e bons vinhos!
CRÉDITOS:
Foto de abertura por Jean-Luc Benazet no Unsplash
Chapelle en Bas obtida em Opulence