Categoria: O mundo dos vinhos (Page 38 of 72)

Vinho, bebida para qualquer hora?

“Peaceful” por Laura Jane College está licenciada sob CC BY 2.0

“It’s five o’ clock somewhere”, ou “já são cinco horas em algum lugar” foi um bordão criado pelo comediante norte-americano, Red Skelton, para justificar o início dos trabalhos etílicos em qualquer hora do dia (nos EUA o expediente é de 9:00 às 17:00). Poderíamos adaptar, sem problemas, mudando o horário de final de expediente adotado por aqui.

Brincadeiras à parte, será que existe um momento ou hora específica do dia para se consumir bebidas alcoólicas, vinhos inclusive?

Qualquer Enófilo que se preze sabe da importância dos ritos envolvidos na degustação de um vinho: pesquisar, comprar, adegar, abrir, decantar ou não, servir, olhar, cheira, provar…

Ufa!

E alguns entusiastas acreditam que um determinado horário pode melhorar ou piorar esta experiência…

Temos antecedentes na nossa cultura. Algumas gerações foram tocadas com os famosos comandos “menino/menina tá na hora disto ou daquilo”, que poderia variar desde o temido “estudar”, passando por “tomar banho” e encerrando o dia com “dormir”.

Perguntamos, novamente: depois desta pequena nostalgia, o leitor aceita que exista um “tá na hora do vinho”?

Creio que o denominador comum para entendermos esta colocação está no que significa, verdadeiramente, degustar um vinho. Poderíamos dissertar por várias hipóteses, mas é bem claro que se trata de um prazer. Ninguém abre uma garrafa de vinho por obrigação, nem mesmo os profissionais de serviço do vinho em um restaurante.

Estabelecida esta relação de prazer, resta saber como vamos justificá-la, por exemplo, para compensar um bom ou um mau dia.

Atribuem a Napoleão Bonaparte uma famosa frase, sobre o Champagne:

“Na vitória é merecido, na derrota, necessário!”

Deixando citações de lado, o mais simples é descomplicar e assumir que vamos provar este ou aquele vinho porque estamos com vontade, com desejo, não importando, muito, hora e local. Regras básicas, apenas.

No atual tempo pandêmico há um complicador: não podemos mais dividir nossas descobertas enológicas com os amigos.

É temporário, esperamos!

Mas nos remete, de volta, ao tal horário ideal. Reuniões de confrades são altamente controladas: dia, hora local e tema, pelo menos.

Há quem desfrute um bom vinho em todas as refeições e até um vinho generoso, antes de encerrar o dia.

Há quem só tire a rolha de uma garrafa em ocasiões muito especiais.

Bons Enófilos vão encontrar qualidades mesmo nos vinhos mais simples.

Enochatos vão criticar até os melhores vinhos.

Harmonizadores escolhem o vinho de acordo com o prato.

Os demais, degustam o vinho, com qualquer alimento.

Depois analisam…

Assim é a vida.

Escolham suas turmas e embarquem nelas.

Um último chavão: “A variedade é o verdadeiro tempero da vida, que lhe dá todo o seu sabor!” (William Cowper).

Saúde e bons vinhos!

Desfrutando os vinhos comprados on-line

“Negócio” –  foto criada por Freepik

Comprar nossos vinhos on-line está deixando de ser novidade e começa a se encaixar nas nossas rotinas. Já selecionamos os nossos fornecedores, seja por preço e condições de venda ou, mais importante, pelos rótulos que oferecem.

Uma tendência que está sendo muito bem aceita é a compra nos Kits ou Combos: trios, quartetos e até sextetos. Um grupo de diferentes vinhos com bons preços para tornar o nosso resguardo (lembram?) mais agradável.

Como os leitores procedem ao receber seus pacotes?

Já pensaram nisto?

Aqui vai uma boa dica: higienizem as garrafas recebidas!

Um pano com álcool 70º ou com outra solução desinfetante, à base de cloro ou água sanitária é mais do que suficiente. Cuidado com os rótulos para não os danificar.

Outra tendência que está em voga é degustar estes vinhos numa “live”, usando o jargão do momento. Isto também requer uma preparação.

O ponto de partida é muito simples: já que não podemos desfrutar da companhia física de nossos amigos, garrafas de vinhos são agregadoras, a solução mais perto disto é criar uma videoconferência onde um ou mais vinhos serão degustados e analisados.

Dois estilos são possíveis.

Um, mais informal, onde cada um abre seu vinho e comenta sua escolha, em meio a outros assuntos.

Outra forma, que achamos mais interessante, é escolher um moderador que vai fazer uma apresentação, comentada, de um ou mais vinhos. Poderia ser, por exemplo, as últimas descobertas ou aquisições.

Não precisa degustar todos. Apresente os vinhos e escolha um para ser provado.

Os demais participantes podem abrir a mesma garrafa, se combinado com antecedência, ou fazer comparações com outros rótulos que tenham em casa. Será sempre divertido e instrutivo.

Já pensaram em organizar uma reunião tipo Master Class?

A apresentação poderia ser dividida com mais de um participante. Mas devem fazer um “dever de casa”, antes da reunião.

Os vinhos poderiam ser comprados em regime de grupo, reduzindo os custos. Todos teriam acesso às mesmas garrafas. Um pouco de logística será necessário para distribui-las.

Vamos imaginar uma aula com a casta Malbec. São ótimos vinhos, fáceis de comprar no nosso mercado. A maior oferta é de argentinos. Mas podemos encontrar alguns chilenos e franceses. Há uma pequena produção brasileira.

Inicialmente faríamos uma comparação entre Malbec sem e com madeira. Devem ter a mesma safra, origem e região.

O primeiro tende a ser mais frutado e menos encorpado que o segundo.

A segunda dupla poderia contemplar dois vinhos argentinos de diferentes terroir. Importante nesta degustação é encontrar dois vinhos com processos de vinificação bem semelhantes:

– Ambos passam por madeira ou não;

– mesmo tipo de tanque de fermentação – inox, concreto, madeira;

– Mesma safra;

– Mesmo tipo de garrafa e de fechamento.

Uma boa aula seria comparar dois Malbec mendocinos, um de Lujan e outro do Vale do Uco. Outra opção seria comparar vinhos de Mendoza com seus pares de Salta ou Patagônia.

Uma variante possível seria comparar diferentes tipos de fermentação. Mas vai exigir uma busca mais técnica por estes vinhos. Esta informação só consta das “fichas técnicas”.

A última rodada poderia contemplar as diferenças entre o Malbec francês da região de Cahors com sua cópia sul-americana.

Novamente, valem as recomendações acima.

Talvez seja a mais interessante e instrutiva das aulinhas. Quem já teve a oportunidade de provar um “original” pode avaliar como são muito diferentes os vinhos produzidos na Argentina.

Divirtam-se.

Saúde e bons vinhos!

Antes, durante e depois.

Foto de Tomas Williams para StockSnap

Muita coisa está mudando durante este período de isolamento social. O leque é bem amplo, começando por tarefas domésticas que nunca pensamos fazer, passa por novos hábitos alimentares e chegando na nossa adega e no modo como estamos degustando os vinhos de sempre e como vamos repor nosso estoque.

Muitos amigos estão pedindo ajuda para comprar vinhos on line, o que, para muitos, é uma nova experiência bem diferente do que estão habituados, por exemplo, entrar numa loja e pesquisar, demoradamente, o que vai adquirir. Um ritual que faz parte do prazer de beber um bom vinho.

A compra não presencial é fria, sem graça, baseada numa descrição tipo bula de remédio. Some-se a isto, a dificuldade de encontrar aqueles rótulos que são os nossos “portos seguros”.

As atuais condições da economia nos impõem mais uma dificuldade: preços totalmente fora do padrão. Nunca a famosa relação custo x benefício foi tão relevante.

Sempre há boas alternativas. Serão ainda melhores se adotarmos uma pequena mudança de atitude, deixando o espírito aberto para a experimentação.

Por exemplo; vinhos naturais; Merlot em lugar de Cabernet Sauvignon; Garnacha em vez de Tempranillo. Estas são apenas poucas sugestões. Há muito mais castas, tipos de vinhos e vinificações a serem provadas e comprovadas.

Pensem nas uvas exclusivas de Portugal ou da Itália só para ter uma pequena ideia do mundo que poderá ser descortinado a partir disso.

Que tal deixar, definitivamente, sua zona de conforto?

Não sabemos ao certo quando estas restrições vão ser flexibilizadas ou suprimidas por completo. Todos estamos cheios de esperança e vontade que isto acabe o mais cedo possível.

Só depende de nós, da atitude de cada um. Não pensem só em vocês, pensem na coletividade.

Uma coisa é certa, quando isto acabar, uma grande comemoração se fará necessária, obrigatória, indispensável. Usando um termo bem antigo, um grande “happening”.

Para aumentar as expectativas, esta coluna propõe a seguinte questão:

Que vinho você vai beber na sua comemoração?

Se puder, responda nos comentários desta coluna.

Algumas ideias:

– Espumante, talvez um Champagne;

– Um tinto ou um branco, muito caro, e que nunca provei;

– Vou reunir uma turma para degustar meu melhor vinho;

– Vou tomar 1 garrafa sozinho e no escuro…

Interessante seria pensar, também, no que você não consumiria.

Exemplo?

Pastel do chinês da esquina…

Muita saúde e bons vinhos.

O que é Pétillant Naturel ou Pét-Nat?

Pét-Nat brasileiros no Cru Natural Wine bar

No idioma francês, Pétillant significa efervescente, gasoso, espumante. Junte tudo isto e chame, simplesmente, de avô do Champagne.

Produzido através de um método conhecido como Ancestral, ou uma só fermentação. Parte dela ocorre na garrafa. Os espumantes atuais usam o método tradicional, que prevê duas fermentações, separadas.

Sua descoberta foi acidental. Segundo alguns historiadores do vinho, lá pelos anos 1500, um monge da Abadia Beneditina de Saint Hilaire, França, notou que bolhas estavam se formando no vinho que fora engarrafado no inverno.

Naquela época, a fermentação ainda não era totalmente compreendida e as técnicas de controle eram muito rudimentares. Para os vinhateiros, assim que o vinho parava de fermentar, no clima frio, era a hora de engarrafar.

O que o monge beneditino descobriu, sem saber do que se tratava, foi que com a chegada da primavera e temperaturas mais elevadas, o açúcar residual estimularia a retomada daquela fermentação.

Nascia o Pét-Nat.

Um ponto é muito importante para que se entenda a fundamental diferença para os demais espumantes: esta fermentação na garrafa acontece naturalmente, não é induzida, como no Champagne, por exemplo.

Numa explicação bem simples, o vinho seria engarrafado antes de toda a fermentação ser concluída.

Este processo acabou sendo superado por outras técnicas e ficou esquecido por várias décadas. Somente nos anos 90, novamente, por acaso, o produtor de Vouvray, Christian Chaussard, um dos Papas do vinho natural, notou que o açúcar residual em alguns dos seus vinhos haviam estimulado um novo ciclo fermentativo.

Renascia o Pét-Nat, sob a égide dos vinhos elaborados com pouca interferência ou manipulação.

Foi um longo caminho até 2011, quando pode-se afirmar que estes leves e deliciosos espumantes ganharam popularidade. Se tornaram uma espécie de cartão de visitas dos produtores deste segmento. Estão sendo elaborados em todos os países produtores, cada um com sua personalidade.

São simples, pouco alcoólicos e com regras de produção nada complicadas.

Some-se a isto tudo a sintonia e o respeito com as produções mais artesanais que encantam as gerações do milênio e posteriores. Estes simpáticos vinhos espumantes, com rótulos irreverentes e chapinha de garrafa, voltaram para ficar.

Já tiveram a oportunidade de provar?

Não sabem o que estão perdendo!

Saúde e ótimos Pét-Nat.

Uma casta, um vinho – Malbec

Fonte: https://glossary.wein-plus.eu/cot

Dia 17/04/2020 foi o Dia Mundial do Malbec. Esta comemoração foi criada em 2011, na Argentina, atualmente a maior produtora desta casta, para celebrar, sobretudo, a indústria vinícola daquele país. Nesta data, no ano de 1853, foi proposta a criação de uma escola de agricultura, na província de Mendoza.

Em 1852, a Malbec, foi trazida da França pelas mãos do agrônomo Michel Aimé Pouget, com a intenção de melhorar a qualidade das uvas para a vinificação. Levaria muito tempo até que esta especial variedade se desenvolvesse plenamente no novo terroir e que os processos de vinificação se ajustassem para extrair tudo que esta casta pode proporcionar, levando o vinho argentino a outro patamar.

Na França seu nome mais comum é Cot e a principal região produtora é Cahors. São conhecidos cerca de 130 outros nomes para esta uva. Malbec é um deles, que acabou se tornando a denominação mais difundida mundialmente.

Existem algumas lendas sobre isto. Uma das mais comuns é associar Malbec com a expressão francesa “mal bec” que poderia ser traduzida como “boca amarga” ou “gosto ruim”, numa alusão a má qualidade dos vinhos produzidos com ela.

Outra explicação, mais razoável, seria a deturpação do sobrenome de um viticultor húngaro, Malbeck, radicado em Bordeaux, que cultivava esta espécie de uva naquela região. Seria usada como tintureira, melhorando a cor dos vinhos bordaleses.

Análises de DNA demonstraram que a Malbec descende de forma espontânea da uva Prunelard, uma casta muito antiga da região de Tarn e da casta Magdaleine Noire da região de Charentes, que vem ser a mãe da Merlot.

Malbec e Merlot seriam meias-irmãs.

Na Argentina vamos encontrar vinhedos desta uva em todo o país: Patagônia, Mendoza, San Juan, Salta. Cada local vai elaborar vinhos com personalidade própria.

Isso demonstra a versatilidade e a adaptabilidade desta casta.

Alguns estilos se destacam. São bem diferentes entre si, cada um com um público consumidor específico.

O primeiro são os vinhos jovens, frescos e frutados, com no máximo 1 ano de guarda.

Em seguida aparecem os Malbec’s que passaram, rapidamente, por madeira. São mais encorpados e com as características notas secundárias. Devem serem consumidos 1 ou 2 anos depois de engarrafados.

Os próximos estilos são os Reserva e os Gran Reserva, que estagiam de 12 a 24 meses em barricas de carvalho. São mais sérios, taninos bem marcados, muito encorpados, notas de tabaco e frutas maduras. Vinhos para serem guardados.

Durante muito tempo este estilo, com mais madeira, foi o padrão argentino, dando origem ao apelido de “suco de carvalho”.

Atualmente os vinhos desta casta passam por nova revolução, abandonando o excesso de madeira. Buscam valorizar fruta, acidez, taninos mais suaves e apenas notas sutis de carvalho. Modernas técnicas de vinificação estão sendo adotados pela nova geração de Enólogos argentinos, com destaque para os “ovos” de concreto.

Atualmente, o Malbec Argentino tem obtido enorme sucesso no resto do mundo, recebendo ótimas notas de críticos e prêmios nos mais importantes concursos.

Também é possível encontrar vinificações em branco, rosado e como espumante.

Além do nosso vizinho, França, Chile, EUA, Itália, Espanha, Austrália, África do Sul e o Brasil cultivam e vinificam a Malbec.

Não temos dúvidas que o vinho mais representativo desta casta é um Argentino. Escolher qual, entre milhares, é como resolver um quebra-cabeças de mais de 2.000 peças…

Dois nomes são famosos neste universo: Catena Zapata e o Enólogo Paul Hobbs.

Estão muito ligados entre si.

Nicolas Catena foi quem trouxe Hobbs para Mendoza. Este encontra uma espécie de uva desconhecida para ele. Resolveu vinificá-la, ao seu estilo. Foi o começo desta história.

A escolha desta semana vai para este vinho:

Cobo’s Marchiori Estate Malbec

A Vina Cobos é uma sociedade do norte-americano Paul Hobbs e o casal, argentino, Luis Barraud e Andrea Marchiori. Produzem alguns dos melhores vinhos daquele país, com destaque para este Malbec top de linha.

Elaborado a partir dos frutos de videiras com mais de 80 anos de idade, estagia em barricas de carvalho francês por 18 meses. Engarrafado sem filtragem ou clarificação.

Apresenta coloração vermelha intensa com tons violetas. No olfato mostra notas de rosas e violetas, frutas vermelhas maduras, figo, pimenta branca e cravo da índia. Na boca é elegante, com taninos macios e sedosos e um final longo e intenso.

Não está numa faixa de preço palatável, em nossas bandas. Mas vale cada centavo.

Saúde e bons vinhos!

Fonte consultada: Wine Grapes: A Complete Guide to 1,368 Vine Varieties, Including Their Origins and Flavours, por Jancis Robinson, Julia Harding, Jose Vouillamoz.

« Older posts Newer posts »

© 2024 O Boletim do Vinho

Theme by Anders NorenUp ↑