Categoria: O mundo dos vinhos (Page 5 of 72)

Você já reclamou de um vinho?

Provar um vinho e não gostar dele é uma situação muito comum. O quadro fica mais complexo quando se pede ajuda a um profissional, para escolher um vinho, seja numa loja ou num restaurante, e ele não era o que se esperava.

Devemos reclamar ou não?

Vamos destrinchar esta questão passo a passo.

Se o vinho selecionado estiver com defeitos, por exemplo, “bouchonée” (aromas de mofado), ou com sabores azedos, acidulados ou, ainda com coloração muito “atijolada”, deve ser devolvido imediatamente.

Esta garrafa está estragada e deveria ser obrigação do Sommelier saber disto, principalmente num restaurante.

Existem outras situações em que o vinho está tecnicamente perfeito, mas não agradou ao consumidor. Neste caso, dentro de certos limites, também podemos reclamar e devolver esta garrafa.

Alguns exemplos são clássicos: alta tanicidade ou acidez muito intensa e até mesmo se ele for exageradamente madeirado ou frutado. Em suma, o estilo não agradou.

A oportunidade para podermos reclamar começa na escolha deste vinho, sempre auxiliada por um profissional do ramo.

“Ça va sans dire”, esta conversa com o Sommelier ou vendedor deve ser bem direta. Um enófilo sempre deverá ser capaz de descrever o vinho que lhe agrada. Lembrem-se que o degustar será um momento de prazer e não de aborrecimento.

Imaginemos uma compra hipotética: queremos um vinho de corpo médio, taninos suaves, jovem e com um final frutado e persistente.

Ao receber a indicação e antes de fechar negócio, observe estas regrinhas de ouro:

  • Leia, atentamente, rótulo e contrarrótulo. Há muita informação boa ali. Dependendo do seu grau de conhecimento, muitas dúvidas serão esclarecidas. Caso contrário, pergunte e discuta com o vendedor.

Liguem o sinal de alerta para vinhos que não deixam claro a origem das uvas, quem e onde foi produzido e, igualmente, onde foi engarrafado. Olho também em produtos que se dizem “veganos”, “orgânicos”, “biodinâmicos” ou frases similares.

Na maioria das vezes são meramente citações mercadológicas. Os vinhos orgânicos verdadeiros recebem, sempre, algum tipo de certificação que deve constar dos rótulos;

  • Não se assustem se o produto indicado for de uma região pouco conhecida. Há muita coisa boa acontecendo fora do circuito mais tradicional, com ótima qualidade e preços bem atrativos;
  • Nas boas lojas, sempre há a possibilidade de provar um vinho que está em oferta. Habituem-se a aproveitar estas chances. Se cair no gosto, negócio fechado.

Se com todas estas sugestões, ainda assim o vinho não agradou, é a hora de reclamar. No restaurante será mais fácil, apenas diga que o vinho, em questão, não correspondeu ao que você pediu. Por exemplo, “tem muito tanino” ou “o sabor não está agradável”, e até mesmo, “não está harmonizando com o prato escolhido”.

Caso a compra tenha sido feita numa loja especializada, rearrolhre a garrafa e retorne ao local da compra assim que for possível. Talvez não aconteça nada, mas vamos riscar este fornecedor da nossa lista.

Saúde e bons vinhos!

Dica da Karina, Cave Nacional:

Viapiana Exótico Laranja, safra de 2022.

Viapiana é uma vinícola localizada em Flores da Cunha, região de Altos Montes, Rio Grande do Sul. A família Viapiana, de origem italiana, fundou a vinícola no final da década de 80 e foi então que iniciou a produção de vinhos tranquilos e espumantes que se tornaram referência em qualidade.

O Exótico é um vinho produzido com a uva Gros Manseng e passa 14 meses estagiando em barricas de carvalho francês. É um vinho de coloração dourada com reflexos laranjas. Aroma de frutas secas e folhas secas, chá de camomila e cera de abelha. Encorpado com boa carga tânica devido ao contato com as cascas, seco, com acidez marcante e refrescante. O final de boca é longo é complexo.

Neste link do YouTube, Karina nos dá uma aula sobre este vinho:

Canal Bebericando

Para adquirir, clique na foto ou no nome do vinho.

#comprevinhogaúcho

CRÉDITOS:

Imagem de abertura por Freepik

Vinhos com indicadores de origem são melhores?

Responder está questão não é uma tarefa fácil. Cada país produtor tem suas próprias normas no que diz respeito às Indicações Geográficas (IG), Denominação de Origem Controlada (DO; AOC; DOCG …) e algumas outras indicações que estão mais para um bom marketing do que uma regra a ser respeitada.

Existem algumas razões por trás destas indicações, as mais significativas são determinadas garantias, tanto para o produtor quanto para o consumidor.

A qualidade de um vinho é variável com o tempo, mudando de acordo com a natural evolução da vida social onde é produzido. Métodos de cultivo e manejo das uvas, processos de vinificação e até mesmo o meio ambiente, são dependentes da qualidade da mão de obra envolvida. Este talvez seja o fator mais direto a influir na qualidade final.

Quando um vinho recebe uma designação, significa que há uma especificidade: este produto, ou qualquer outro com esta mesma denominação, cumpre uma série de requisitos para receber a autorização de imprimir uma destas siglas em seu rótulo.

Esta é a melhor garantia: “O que está no rótulo, está na garrafa”.

É uma enorme diferença, mas não o suficiente para afirmarmos que é um vinho de qualidade.

Para os produtores há mais garantias e proteções em jogo. Uma boa norma de designação de origem deve incluir desde os princípios básicos sobre a quantidade de videiras por área plantada, quais castas podem ser cultivadas, a proporção utilizada por volume de produção e muito mais.

Nem sempre cumprir todos estes requisitos é uma tarefa simples. O que se busca é manter uma diferenciação desta ou daquela região, que seu produto seja homogêneo, ou seja, que tradições sejam mantidas. Evitam-se, assim, aventureiros, oportunistas, falsários e outros “espertos” que engarrafam qualquer coisa, colam um bonito rótulo e esperam pelo lucro fácil.

Existem alguns exemplos que ajudam a fixar esta ideia:

1 – Historicamente, atribui-se à região do Douro, em Portugal, onde é produzido o Vinho do Porto, o título de “primeira região demarcada do mundo”. Foi instituída em setembro de 1756 por alvará de D. José I.

Por trás deste alvará estava a influência do seu Secretário de Estado, Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, que aproveitou a oportunidade para incluir umas terras de sua propriedade, em Oeiras, próximo a Lisboa e lhe permitir produzir um vinho fortificado, por lá…

Em dezembro de 2001, a UNESCO classificou parte da região como “Patrimônio Mundial”, sob o nome de Região Vinhateira do Alto Douro.

2 – Talvez a denominação mais conhecida seja a francesa AOC ou “Appellation d’Origine Controlée”. Curiosamente, a primeira AOC foi instituída em 1411 para proteger o queijo Roquefort.

As regras para a indústria do vinho aparecem a partir de 1905. Em 1935 é criado o CNAO, “Comité National des Appellations d’Origine” para administrar a concessão das AOC.  Após a Segunda Guerra, sua área de atuação foi ampliada, se tornando o INAO, “Institut National des Appellations d’Origine”.

Este conjunto de normas é muito abrangente e rigoroso. Para receber a certificação, os vinhos devem ser produzidos em terroirs delimitados e satisfazer a normas de produção muito estritas, definidas por decreto. Há limites de rendimento, um grau mínimo de alcoolização e as condições de envelhecimento.

Atualmente, naquele país, existem pouco mais de 400 vinhos de denominação de origem controlada.

Interessante notar que o importante conceito de “terroir” tem, como base, este conjunto de regras de produção.

Ao final, podemos perceber que a qualidade de um vinho, sua superioridade ou, usando um adjetivo mais amplo, sua singularidade, decorrerá da forma como as regras de elaboração sejam cumpridas. Todas as ferramentas para que seja um grande vinho estão ali.

Mas gosto não se discute.


Temos novidade no site.

Dica da Cave Nacional:

Depois de um longo tempo hibernando, volta a indicação semanal de um vinho. Pedimos ajuda para a Karina Bellinfanti, proprietária da Cave Nacional, uma loja especializada em vinhos brasileiros, no Rio de Janeiro.

Caetano Vicentino Cabernet Sauvignon – Merlot

A Caetano Vicentino é uma vinícola de Nova Pádua, região de Altos Montes, no RS.

Este vinho é um blend de Cabernet Sauvignon safra 2022 e Merlot safra 2021. Passam 12 meses por barrica de carvalho, francês para o Cabernet e americano para o Merlot, todas de primeiro uso.

É um vinho límpido, brilhante, de coloração rubi profunda. Aromas de frutas vermelhas maduras, mirtilo, notas balsâmicas, cravo e alcaçuz. Acidez equilibrada, tanino e corpo médio – mais. Sabores que lembram cassis, tabaco, cacau e muita fruta. Final persistente.

Harmoniza maravilhosamente com carnes e pratos à base de cogumelos.

A Cave Nacional envia para todo o país. Para adquirir este vinho, clique no nome.

Saúde e bons vinhos!

#comprevinhogaúcho

CRÉDITOS:

Foto por Tomas Williams no StockSnap

O Julgamento de Londres

No dia 24 de maio de 1976, há 48 anos atrás, aconteceu o famoso Julgamento de Paris, cujo inesperado resultado mudou, significativamente, a indústria de vinhos no mundo.

Steven Spurrier, um dos nomes icônicos do mundo do vinho, encantado com o que havia havia provado na Califórnia, organizou uma degustação comparativa com grandes vinhos franceses. Convidou importantes nomes para serem os juízes.

Ao final, os vinhos norte-americanos foram os vencedores, apesar dos protestos de alguns dos jurados, sob diversas alegações. Pelo menos dois vinhos ficaram muito famosos, Cabernet Sauvignon Stag’s Leap e o Chardonnay Château Montelena, ambos safra 1973.

Julgamento de Paris foi o apelido dado pelo único jornalista presente no evento, George Taber, que publicou uma notinha na poderosa revista Time.

Não poderia imaginar o impacto disto tudo no mundo do vinho. Para quem se interessar em conhecer esta fascinante história, Taber publicou um livro homônimo. O filme Bottle Shock (O Julgamento de Paris, no Brasil, ou O Duelo de Castas, em Portugal), apresenta uma versão romanceada desta degustação.

Na London Wine Fair deste ano, resolveram reviver este evento, com uma roupagem diferente: vinhos europeus versus vinhos do resto do mundo.

A degustação aconteceu no dia 21 de maio. Foram 32 vinhos, provados em pares, por 21 julgadores criteriosamente escolhidos entre “Master of Wines”,  “Master Sommeliers” e nomes renomados dentro deste universo.

A Curadoria foi feita por Sarah Abbott MW e Ronan Sayburn MS. Escolheram, sem dúvida, vinhos formidáveis. Só cabe uma pequena crítica: foi um evento muito dirigido para o consumidor inglês.

Adotaram uma dupla contagem do resultado, para evitar distorções. Escolheram um sistema simples, de 10 pontos. A nota final de cada vinho, seria a soma do que foi atribuído por cada avaliador. Em paralelo, foi feita uma “Contagem de Borda”, uma contagem ranqueada, procurando fugir de decisões fora da curva.

O resultado, obtido somando-se todas as notas, não foi uma surpresa como o do Julgamento de Paris: os vinhos europeus obtiveram 2.621,5 pontos e o resto do mundo somou 2.604,5 pontos. Em termos gerais, houve um empate técnico.

Aqui estão os vinhos, apresentados na ordem em que foram degustados. A título de ilustração, acrescentamos, entre parêntesis, a nota “Vivino” de cada um. Algumas provas foram feitas em dois flights.

Curiosamente, o melhor vinho do certame foi o Pegasus Bay Riesling, Bel Canto 2011, da Nova Zelândia.

Riesling
Mundo: Polish Hill Riesling, Grosset, Clare Valley, Australia 2012 (3,9)
Europa: Trimbach, Riesling Clos St Hune, Alsace, France 2008 (4,3)
Chardonnay 1
Europa: Cervaro Della Sala, Marchese Antinori, Umbria, Italy 2018 (4,4)
Mundo: Kistler Chardonnay, Les Noisetiers, Sonoma, USA 2018 (4,4)
Chardonnay 2
Europa: Corton Charlemagne Grand Cru, Maison Louis Jadot, Burgundy, France 2017 (4,1)
Mundo: Felton Road Chardonnay Block 6, Central Otago, New Zealand 2017 (4,1)
Corte branco
Mundo: Au Bon Climat Hildegard, Santa Maria Valley, USA 2020 (4,3)
Europa: Terre Alte, Livio Felluga, Friuli, Italy 2020 (4,3)
Sauvignon Blanc
Europa: Château Smith Haut Lafitte, Grand Cru Classé, Pessac Léognan, Bordeaux, France 2017 (4,3)
Mundo: Peter Michael Winery Sauvignon Blanc, L’Apres Midi, Sonoma, USA 2014 (4,4)
Texturados brancos 1 (grande impacto no palato)
Mundo: Pegasus Bay Riesling, Bel Canto, Waipara, North Canterbury, New Zealand 2011 (3,9)
Europa: Franz Hitzberger, Grüner-Veltiner Singerriedel, Wachau, Austria 2019 (4,1)
Texturados brancos 2
Europa: Quinta dos Roques Encruzado, Dão, Portugal 2014 (3,8)
Mundo: David & Nadia Chenin Blanc, Skaliekop, Swartland, South Africa 2019 (4,2)
Vale do Ródano
Mundo: Viognier, Tahbilk, Nagambie Lakes, Australia 2011 (3,6)
Europa: St Joseph Blanc Les Oliviers, Pierre Gonon, Rhône, France 2020 (4,4)
Pinot Noir 1
Mundo: Storm Pinot Noir, Ridge, Hemel-en-Aarde, South Africa 2019 (4,2)
Europa: Bonnes Mares Grand Cru, Domaine Dujac, Côtes de Nuits, France 2017 (4,6)
Pinot Noir 2
Europa: Spätburgunder, Weingut Mayer-Näckel, Ahr Valley, Germany 2019 (3,8)
Mundo: Hirsch Vineyards Pinot Noir, San Andreas, Sonoma, USA 2019 (4,4)
Cabernet Sauvignon 1
Mundo: Promontory, Harlan Estate, Napa Valley, USA 2019 (4,7)
Europa: Château Mouton Rothschild, Pauillac, Bordeaux, France 2009 (4,7)
Cabernet Sauvignon 2
Europa: Château Léoville Las Cases, St Julien, Bordeaux, France 2009 (4,5)
Mundo: Viñedo Chadwick, Maipo Valley, Chile 2015 (4,6)
Syrah
Mundo: Homage Syrah, Trinity Hill, Hawkes Bay, New Zealand 2018 (4,1)
Europa: Hermitage Rouge, Jean Louis Chave, Rhône, France, 2012 (4,6)
Texturado tinto
Europa: Saperavi Qvevri, Quevri Wine Cellar, Kakheti, Georgia 2019 (4,1)
Mundo:  Clonakilla Syrah, Canberra, New South Wales, Australia 2015 (4,5)
Grenache/Garnacha
Mundo: Torbreck Hillside Vineyard Grenache, Barossa Valley, Australia 2016 (4,1)
Europa: Clos Magador, Priorat, Spain 2019 (4,5)
Cabernet Franc
Europa: Saumur Champigny, Clos Rougeard, Loire, France 2018 (4,5)
Mundo: Gran Enemigo, Cabernet Franc, Gualtallary, Argentina 2018 (4,6)

Saúde, bons vinhos!

#COMPRE VINHO GAÚCHO!

CRÉDITOS:

Imagem de freepic.diller no Freepik

Fonte: London Wine Fair (em inglês)

Harmonizando vinho e madeira

A Cave Nacional, uma loja carioca que trabalha somente com vinhos brasileiros, promove, semanalmente, interessantes degustações temáticas. A desta semana foi com Cabernet Franc, seis do RS e um de SC.

Ao final, há uma votação para escolher os dois melhores. Houve um impasse: havia um candidato que, nitidamente, estava em outro patamar. Alguns dos degustadores solicitaram que ele fosse declarado “hors concurs” e a escolha recaísse sobre os demais.

Numa solução salomônica, já que não era uma unanimidade, escolheram dois resultados, um com o tal grande vinho e outro, sem ele.

Todos os vinhos eram bons e bem vinificados. A grande diferença estava na influência da madeira no amadurecimento. Cada produtor que usou esta técnica, escolheu entre carvalho francês ou americano, tosta média ou forte e barricas novas ou usadas. O tempo de armazenamento variou de poucos meses até dois anos.

O vinho que sobressaiu tinha um estilo que alguns críticos e detratores apelidaram de “suco de carvalho”. Agradou a um grupo que representava metade da turma. Os demais o acharam um bom vinho, mas a madeira excessiva destoava, não harmonizava.

Esta característica, que divide muitos enófilos, tem uma origem bem conhecida: o icônico crítico norte-americano, Robert Parker, muito respeitado e imparcial. Seus famosos “100 pontos” era um troféu desejado por todos os produtores de vinhos.

Uma de suas marcantes características era o paladar típico de seu país – sabores intensos – o que era fácil perceber nos vinhos que receberam a nota máxima: ou eram intensamente frutados, os “fruit bombs”, ou intensamente madeirados, os “oak juice”.

Uma interessante resposta a este estilo veio de um autor e crítico de vinhos, igualmente respeitado e imparcial, o britânico Hugh Johnson:

“Se a madeira está obviamente presente, ela está excessiva”. (eu concordo com Johnson)

Para compreendermos este embate, precisamos voltar no tempo, há 8.000 anos, na região da Georgia. Lá ocorreram as primeiras vinificações, feitas em potes de barro, os “qvevri” ou ânforas, no nosso idioma. Ainda não usavam madeiras.

Foi por volta do ano 400 A.C. que os romanos introduziram as barricas de madeira nesta história. As ânforas eram muito frágeis para transportar o vinho até as tropas nas frentes de guerra. Os recipientes de madeira eram perfeitos.

A próxima etapa desta epopeia acontece somente no século XVII, quando se percebe que as madeiras usadas nos barris alteravam o aroma e o sabor do vinho.

Surge uma nova arte, a Tanoaria, que adapta técnicas de construção naval, usadas há mais de 4.000 anos, moldando a madeira com vapor no fabrico das barricas.

A seleção das madeiras passa a ser fundamental. Cada tipo de carvalho, a mais utilizada por vinhateiros, mas não a única, se adapta melhor a um grupo de castas do que a outro. Há ciência em tudo…

Voltamos para os tempos atuais, onde novas variáveis entram em cena. Barricas de Carvalho são caras e representam uma gorda fatia do orçamento das vinícolas. Novas técnicas são desenvolvidas para usar a madeira de forma efetiva e barata, algumas muito criativas como usar cavacos, “essências” ou as aduelas, em vez dos barris, tudo mergulhado no mosto.

Como toda moeda tem duas faces, vamos olhar o lado do consumidor.

Há um velho ditado que diz: “tudo que é demais, enjoa”.

O velho e manjado “estilo Parker” está em franco declínio. O vinho, como bem observou Hugh Johnson, mudou de gosto, quase se tornando outra bebida. As novas gerações, tanto de consumidores como de vinhateiros, mais preocupados com a sustentabilidade do planeta e de seus negócios, saíram em busca de novas opções e elas estão vencedoras, no momento.

As velhas ânforas voltaram, sejam de barro, de pedra ou os modernos “ovos” de concreto. Produzem vinhos autênticos, frescos e deliciosos. Ainda usam madeira, mas de forma muito discreta.

Os vinhos brancos que, depois de séculos, passaram a ser os favoritos do público consumidor, se beneficiam das fermentações em dornas de madeira. Os tintos, modernos, tem uma madeira muito bem harmonizada, usada apenas para arredondar aromas e sabores. Nada de exageros.

Os vinhos “Parker” ainda têm seu público. São vinhos que se parecem com seus apreciadores: austeros; pesados; com safras “pré-históricas”; um visual imponente a partir do rótulo e que custam uma pequena fortuna. Embotam olfato e paladar.

Alguém vestiu a carapuça?

Lembro de um episódio com meu pai. Estávamos no centro do Rio, eu bem garoto, lá pelos 12 ou 13 anos de idade. Notei que uma antiga ótica da cidade, havia fechado:

– “Pai, a ótica fechou”.

Ao que ele respondeu com toda sua sabedoria:

– “Morreu o último cliente”…

Será este o destino do “estilo Parker”?

Comentem, por favor.

Saúde e bons vinhos!

Os diferentes aromas do vinho

A escolha deste tema decorre de uma interessante degustação que participamos. Eram seis Cabernet Sauvignon, quatro elaborados no Rio Grande do Sul e dois em Santa Catarina. As safras variavam de 2014 até 2020 e cada produtor usou diferentes técnicas de vinificação e amadurecimento.

Não houve uma unanimidade sobre quem era o “melhor” ou o “pior”. Todos tinham características bem interessantes, com aromas e sabores abrangendo um largo espectro de possibilidades, o que chamou a atenção até dos “especialistas” que ali estavam.

Uma pequena dúvida sobre uma determinada garrafa, que resultou na abertura de uma segunda, para tirar dúvidas, criou, naquele momento, uma bela oportunidade para ressaltar diferenças. E não eram poucas.

Como é possível um vinho, elaborado com apenas uva e levedura, criar tantos aromas e sabores que, nem sempre, estão relacionados à fruta que deu origem a esta bebida?

Um vinho tinto, bem vinificado, pode apresentar notas de chocolate, pimenta negra, frutas como ameixa, mirtilo e amora, tabaco, canela, baunilha e alguns outros. Nos brancos é comum encontrarmos notas de abacaxi, maçã, flores, frutos cítricos, maracujá, ervas e até mesmo odores de petróleo e de fármacos.

Não existe uma explicação simples para esta mágica. Há uma grande química envolvida, mas podemos separar estes aromas em diferentes categorias de origem, o que facilitará a compreensão.

O primeiro grupo de aromas vem de uma etapa do processo de elaboração, a maceração, quando o mosto fica em contato com as cascas e os engaços. Os métodos mais comuns empregados são a “pisa a pé”, a maceração a frio e a maceração carbônica. Cada uma irá enfatizar um tipo de aroma e sabor em consequência da casta utilizada.

Um segundo grupo de aromas decorre do tipo de levedura utilizada para fermentar o mosto. Novamente, cada produtor tem a sua receita, que pode variar, desde as leveduras que já estão presentes nos frutos até outras que foram especialmente desenvolvidas para se obter um resultado específico.

Para cada caso, um resultado diferente de aromas e sabores.

O terceiro grupo de aromas decorre do tipo de amadurecimento, seja em passagem por madeira, aço inoxidável, concreto ou plástico, em suas diferentes dimensões. Alguns destes materiais são inertes e não agregam nada ao vinho, mas permitem uma correta homogeneização. Madeira, principalmente, e concreto, em determinadas técnicas, podem trazer novas nuances ao vinho.

A química do vinho, exatamente no processo de fermentação, é muito complexa e difícil de controlar. Produz, além do desejável álcool, uma enorme gama de compostos denominados “voláteis”, ou seja, que se desprendem do vinho quando o servimos ou o agitamos na taça.

Estes compostos, com estranhos nomes como Terpenos, Aldeídos, Ésteres e muitos outros, são os verdadeiros responsáveis pelos tantos aromas que encontramos.

Apenas para ilustrar, aqui estão alguns:

Terpenos – responsáveis pelos aromas de rosas, cítricos, de algumas ervas e pimentas;

Aldeídos – responsáveis pelos aromas de grama cortada, baunilha, amêndoa amarga, caramelo e farelo de trigo;

Pirazinas – o famoso aroma de pimentão verde;

Ésteres – respondem pelos aromas de frutas brancas como pera e maçã, banana e cítricos como a laranja;

Poderíamos estender esta lista explicando Lactonas, Cetonas e Fenóis. Mas há um grupo de compostos que não podemos deixar de mencionar:

Mercaptanos – responsáveis pelos aromas desagradáveis de enxofre, mas também pelo maracujá do Sauvignon Blanc e as notas de cassis dos Cabernet Sauvignon.

Por último, uma explicação sobre o conhecido aroma de querosene nos Riesling: o responsável se chama “TDN” ou 1,1,6-trimetil-1,2-hidroxinaftaleno.

Fácil! Não é?

Por favor, da próxima vez que degustarem um vinho, nada de dizer que “tem terpenos marcantes” ou, pior ainda, “que o 1,1,6-trimetil-1,2-hidroxinaftaleno está muito presente”.

Saúde e #comprem vinho gaúcho!

CRÉDITOS:

The smell of the portuguese wine” por pedrosimoes7 está licenciada sob CC BY 2.0.

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