Categoria: O mundo dos vinhos (Page 53 of 82)

Existe um vinho perfeito?

Provavelmente não.

Atingir a chamada perfeição é quase uma obsessão, buscada por atletas, artistas, empreendedores e até produtores de vinho, numa eterna tentativa de ser o melhor entre melhores ou, pelo menos, ser mais facilmente reconhecido.

Realizando uma pesquisa simples, na Internet, vamos encontrar uma série de citações por pessoas famosas que têm um elo incomum: é uma busca inútil, sempre vão aparecer defeitos a serem julgados por alguém.

No mundo atual a melhor definição de perfeição seria algo como “possui defeitos, imperceptíveis para os outros”.

Relativizamos a perfeição…

Sendo assim, o possível vinho perfeito seria aquele que apresentaria o menor número de defeitos, o que levanta outras questões:

– Que defeitos seriam estes?

– Quem julga se eles estão presentes, ou não, no vinho?

– Como o consumidor final é informado destes fatos?

Nenhuma destas perguntas tem uma resposta simples e direta.

Vamos examinar o ponto de vista do produtor: será que ele colocaria, conscientemente, um vinho defeituoso no mercado?

Vinhos não são produzidos a partir de uma “receita de bolo”. A cada safra há pequenas variações na qualidade das uvas, implicando em ajustes constantes na adega.

O processo é todo monitorado e as correções que se façam necessárias são aplicadas, sem maiores problemas. Depois de prontos, os vinhos ficam um período em estágio de maturação, sendo colocados no mercado somente depois de um OK da equipe de enologia.

O que nos leva a uma única conclusão: dentro dos parâmetros estabelecidos pelo produtor, seu vinho está perfeito.

A próxima etapa será definida por críticos e profissionais especializados, que tem como missão influenciar o consumidor final.

Uma forte dose de subjetividade vai reger esta fase.

Dentro deste ‘saco’, vamos encontrar os diversos sistemas de pontuação, os grandes críticos de ontem e hoje, as publicações especializadas, blogs, sites, etc…

Cada um vai ter uma opinião diversa sobre um mesmo vinho.

Há um consenso sobre as opiniões de críticos como Parker, Robinson, Johnson e outros: nenhum deles representa um gosto universal. Suas avaliações são melhor interpretadas se olharmos regionalmente.

Nossa memória gustativa decorre da forma como fomos alimentados desde criança. Na vida adulta isto será a eterna referência do que nos é agradável ou não.

Ninguém tem dúvidas de que podemos utilizar as opiniões de qualquer um deles a nosso favor, mas ajustes são necessários. O melhor caminho é provar e comparar: estes 100 pts Parker realmente me agradam ou estou apenas sendo levado pelo marketing quase perfeito?

Neste ponto, encontramos algumas respostas para a terceira interrogação mencionada anteriormente. Mas não é tudo.

Há muita coisa para nos fazer pensar, por exemplo:

– Um vinho caro é sempre bom? (ou seja, preço é um parâmetro confiável?);

– Analogamente, um vinho barato é ruim?

– Qual o meu verdadeiro perfil com relação ao vinho?

Aqui podemos desdobrar:

– Prefiro, tinto, branco, rosado ou espumantes;

– Vinhos tânicos e encorpados ou suaves e macios?

– Alguma casta se destaca em relação a outras?

– E as regiões produtoras, alguma em especial?

Se conseguirmos formar um perfil, pessoal, com a ajuda destas ideias, já estaremos bem perto de descobrir o nosso vinho perfeito.

Não importa se ele não for o mesmo de seus amigos.

O mais provável é que cada um de nós tenha descoberto a sua própria definição de vinho perfeito.

Saúde e bons vinhos!

Cartas de vinhos e o Sommelier

Este catálogo que está em minhas mãos é a carta de vinhos do excelente restaurante Castas e Pratos, em Peso da Régua, no coração do Douro.

Intimidante, sem dúvidas, mas um luxo que merecia ser examinada por um longo tempo.

Está era uma exceção, mesmo para os padrões portugueses. Mesmo assim, enfrentar qualquer carta de vinhos exige alguma ciência. Se for o caso, conversar com o Sommelier da casa pode ser a melhor solução, o que demanda mais um pouco de conhecimento.

Pedir a carta de vinhos já é um indício que se pretender elevar o nível de uma refeição. Quando bem elaboradas, seguem algumas regras, nem sempre respeitadas, que facilitam sua interpretação. Para relembrarem ou tirarem algumas dúvidas vejam esta matéria já publicada:

Escolhendo um Vinho no Restaurante

Para não cometer erros, o que pode acontecer até com gente experimentada, vamos apontar alguns caminhos que devem ser percorridos.

A primeira coisa a fazer é pesquisar um pouco sobre o restaurante e seu cardápio. Muitos já disponibilizam, on line, a sua carta de vinhos para uma consulta. Anote o que lhes agradam e, principalmente, o que não corresponde às suas expectativas, o que inclui, e é muito importante, o preço.

Se achar que os valores estão acima do esperado não hesite em optar por uma garrafa mais em conta. Os bons restaurantes costumam ter vinhos em ofertas, o que pode ser bem interessante do ponto de vista da relação custo x benefício.

Antes de se decidirem, examinem a carta com atenção. Não busque apenas o que conhecem, mas aventurem-se por mares nunca dantes navegados, em novas castas ou regiões produtoras. Uma carta bem elaborada sempre oferecerá um descritor de cada vinho.

Se após este exercício ainda não forem capazes de decidir, está na hora de pedir ajuda ao Sommelier.

Esta conversa tem que ser franca e aberta.

Comece esclarecendo qual o tipo de vinho que têm em mente, incluindo, castas, origem, cor, corpo, equilíbrio e faixa de preço. Sobretudo, digam o que não desejam.

Um bom recurso é usar a tecnologia como aliado. Usando um aplicativo sobre vinhos, mostrem um rótulo do que pretendiam consumir, caso este vinho não esteja na carta.

Perguntem sobre os vinhos em taça e se algum deles seria uma boa opção para vocês. Peça para provar. Se gostarem, encomendem uma garrafa.

Lembrem-se que um bom profissional tem por dever sugerir rótulos o mais próximo possível do que imaginaram. O ideal é ter a mente aberta e acatar sugestões fora da zona de conforto.

Para que fique tudo bem claro, usem termos comuns, deixando as tecnicidades de lado. Digam: frutado, doce, seco, leve, pesado, etc…

Façam comparações com o que gostam e estão habituados, isto ajuda muito na hora de encontrar alternativas e demonstra, para o Sommelier, que ele não está lidando com neófitos.

Para não cair nas mãos de um mau profissional, adepto da empurroterapia, deixe bem claro o quanto desejam gastar.

Quando o vinho chegar à mesa, será servida a prova para quem o encomendou. Existe uma razão para este gesto: vocês podem desistir desta garrafa, escolhendo outra em substituição. A primeira razão é o vinho estar defeituoso. A outra razão é não estar de acordo com o que foi “negociado” com o Sommelier.

Por isto é tão importante que que a conversa com este profissional seja a mais clara e aberta possível.

Todos saem ganhado.

Saúde e bons vinhos!

Vinho no Dia dos Pais

Imagem de Harry Strauss por Pixabay

O Dia dos Pais é mais uma daquelas datas comemorativas que visa, basicamente, incrementar as vendas no comércio. No Brasil é comemorada no segundo domingo de agosto (11/08/2019).

A escolha desta data foi em função do dia de São Joaquim, o Patriarca das Famílias. Em outros países esta comemoração pode cair em outra época. Por exemplo, nos EUA é comemorado no 3º domingo de junho. Portugal, Espanha e Itália, países com forte tradição católica, preferem comemorar no dia de São José.

Basta a data se aproximar para que a caixa postal deste site sobre vinhos fique entupida de ofertas para presentear nosso pai com vinho, de todos os tipos, formatos e preços.

É tamanha a quantidade de sugestões que nos leva a pensar sobre o real significado de celebrar esta data com um presente vínico, que pode ser, em lugar de uma garrafa, um belo acessório como taças, saca-rolhas, aeradores ou decantadores.

Quem resolver embarcar nesta ideia tem que responder a uma questão primeiro: seu pai é um apreciador desta incrível bebida ou é você que busca iniciá-lo numa nova aventura?

Para cada resposta acima há um caminho a ser seguido.

Presentar um pai Enófilo é uma tarefa árdua, podendo sair caro se escolhermos um vinho mais famoso. Neste caso, repor as taças velhas ou quebradas pode ser mais simpático. Mas acaba sendo um presente para a casa. Sua mãe agradece…

Outros acessórios são sempre bem-vindos e há uma infinidade deles. Fujam das bobagens em concentrem no que pode ser usado efetivamente. Um bonito saca-rolhas, com um cabo de madeira, estilo Sommelier, o fará lembrar deste presente por muitos anos.

Para o pai iniciante, um kit que contemple um vinho, uma taça, ou melhor, duas taças, já que vamos degustar com ele, e um saca rolhas seria perfeito.

Mas a escolha do vinho é o ponto chave.

Não precisa ser sofisticado, mas tem que oferecer um belo conjunto de aromas e sabores. Pensem num tinto de corpo médio, pelo menos, bem equilibrado, não importando muito se veio do velho ou novo mundo.

Um bom exemplo, que iniciou muitos dos apreciadores atuais, seria um Dolcetto d’Alba. Se o custo for alto, que tal um bom Merlot chileno, argentino ou brasileiro?

Opções, nesta linha, não faltam.

Mas será que presentear com um vinho é tão importante assim?

Aqui vai uma última sugestão: Convide seu pai para um almoço ou jantar, num bom restaurante. Ofereça uma taça de vinho para acompanhar o prato escolhido. Mostre suas habilidades escolhendo o vinho ou conversando com o Sommelier da casa, se for o caso.

Qualquer destas opções vai impressionar o “velho” e é isto que ele quer ver.

Este é o grande presente!

Saúde e bons vinhos!

Mudanças no Mundo do Vinho

Imagem de Arek Socha por Pixabay

Há uma grande expectativa entre os apreciadores de vinho, no Brasil, por conta da assinatura do acordo comercial entre o Mercosul e a Comunidade Europeia.

Teria chegado, finalmente, a nossa hora de adquirir vinhos fantásticos a preços menos extorsivos que os praticados atualmente?

Especialistas neste mercado preferem adotar uma postura mais conservadora. O ato de assinar este acordo ainda não garante nada, é preciso que haja uma ratificação, por parte de todos os envolvidos. Para isto acontecer, deverão ocorrer diversas mudanças em inúmeros setores para que os produtos sul americanos, vinhos inclusive, possam se enquadrar às normas europeias e vice-versa.

Estas adequações não serão imediatas e alguns aspectos, como a redução das tarifas, podem levar cerca de 12 anos para serem zeradas.

Acima de tudo, no nosso país, é preciso que haja uma profunda mudança de mentalidade, por parte de produtores e de governantes: não podemos continuar a gerir nossos negócios pensando unicamente no escopo individual. Simplificando, o que é bom para um, pode não ser bom para todo o resto.

Esta é a mentalidade em voga no nosso setor de produção de vinhos. Os principais órgãos reguladores, que deveriam se preocupar com os aspectos técnicos de produção de uvas e vinhos, preferem servir de lobistas para interesses de poucos (e grandes) produtores ou servir de trampolim para uma carreira política.

Nosso vinho é difícil de ser produzido devido a certas condições climáticas. Mesmo assim, com muita tecnologia, estamos atingindo um bom nível, mas ainda longe de nossos vizinhos, Uruguai, Chile e Argentina.

Ainda não percebemos que, fora deste domínio, estão mudando, profundamente, vinhos e consumidores.

Há um importante marco: a aposentadoria do grande crítico norte-americano, Robert Parker.

Coube a ele criar, através de seus comentários, um estilo de vinho que dominou o mercado por algumas décadas. Vinhos intensos, marcados por muita fruta e madeira presentes.

Saiu de cena no momento que o mercado cansou deste tipo de vinho. Suas ideias e seu paladar refletiam a cultura da América do Norte, baseada no homem branco de raiz caucasiana.

O grande legado de Parker não foi o seu estilo de vinho, mas a enorme popularização que ele proporcionou à nossa bebida favorita.

Novos mercados se abriram para as vinícolas, principalmente no Oriente. O corolário imediato é o surgimento de Enólogos, Sommeliers e Críticos de outras origens que não caucasiana. E isto muda absolutamente tudo.

Sensacional!

Agora o nosso querido vinho precisa atender a outros paladares: de africanos, filipinos, chineses, coreanos e japoneses…

Imaginem, por um instante, o quanto isto é fundamental. Cada cultura destas pode ser representada por sua gastronomia específica, que difere, muito, da nossa. Isto implica em introduzir novos aromas e paladares.

Um enólogo chinês, por exemplo, mesmo que produza um vinho em Bordeaux, vai trazer um novo e diferente viés para os nossos sentidos.

Um Sommelier negro pode aumentar o leque de ofertas num restaurante se optar por indicar algumas escolhas pessoais, calcadas na sua história de vida. Esta refeição pode se tornar muito interessante!

Acrescente mais uma mudança: o consumidor também está diferente, e são eles que vão pagar a conta.

Há uma grande discussão sobre o que poderá acontecer com os famosos “vinhos icônicos”, que simplesmente não estão mais vendendo como antes.

Seus preços atingiram patamares estratosféricos.

Os novos e jovens consumidores não são mais aqueles Yuppies que adoravam ostentar. São mais comedidos e se preocupam mais com a origem, de qualquer coisa que vão consumir, do que uma fama napoleônica…

Podem, a qualquer momento, não consumir mais vinhos, simplesmente por que não querem, ou não acham mais que isto seja importante.

Este grupo foi quem alavancou a onda dos vinhos naturais. Tem tudo a ver com a cabeça deles: é mais importante como são produzidos do que o resultado final. É quase como uma consciência coletiva, interligada eletronicamente pelas redes sociais. Filmam, fotografam, comentam e aprovam, ou não, tudo que comem ou bebem.

Não será nada fácil acertar com esta turma.

Vamos precisar de toda a ajuda possível desta nova sopa cultural do mundo dos vinhos.

Saúde e bons vinhos!

Como você descreve um vinho?

Saber descrever um vinho, ou seja, passar para um possível cliente ou amigo as sensações que você percebeu ao degustar, é uma arte que deve ser perfeitamente dominada por Sommeliers, críticos e demais autores sobre este tema.

Embora pareça uma tarefa rotineira, nem sempre os descritores utilizados podem fazer sentido para quem os escuta. Há uma grande dose de subjetividade e regionalização, deixando quem recebe estas avaliações com algumas dúvidas sobre o que realmente está sendo descrito.

Por exemplo: “Aromas de compostagem”; “Água de frutos silvestres”.

Acaba parecendo um misto de pedantismo com frases de efeito.

Uma das melhores tentativas de padronizar este tipo de linguagem partiu da Dra. Ann C. Noble, da Universidade da Califórnia em Davis, que criou a Roda dos Aromas (foto que ilustra esta matéria) com o objetivo de sistematizar os descritores a serem usados no mundo do vinho.

Dividiu os possíveis aromas em 12 classes, e os distribuiu pelo disco:

– Químicos;
– Pungentes;
– Oxidativos;
– Microbiológicos;
– Florais;
– Especiarias;
– Frutados;
– Vegetais;
– Frutos secos;
– Caramelizados;
– Madeira;
– Terrosos.

Estes eram os grupos originais do trabalho da Dra. Noble. Ao longo do tempo foi necessário simplificar e adicionar novos descritores, incluindo termos que ajudariam na identificação de outras características do vinho como corpo, coloração, estilo, etc…

A ideia de padronizar a forma de apresentar um vinho foi bem aceita, mas ainda está longe de se tornar uma unanimidade. Esta é a principal arma de quem tenta ‘vender’ um vinho para um cliente de um restaurante ou loja. Precisam encantar o comprador, falando numa linguagem que seja compreensível. Neste aspecto, esta sistematização cumpre seu papel.

Mas e os simples degustadores, não profissionais? Podemos usar estes termos sem problemas?

Vamos ser bem realistas para responder a estas questões: tudo vai depender dos seus objetivos.

Mesmo os profissionais já citados, que foram treinados para utilizar estes termos em seu benefício, não se limitam a eles, criando expressões próprias que complementam o descritor padronizado, muitas vezes seco e sem sentido.

Surgem expressões que acabaram consagradas: xixi de gato, cachorro molhado e estrebaria, entre outras.

Um outro grupo de estudiosos, mais preocupados com a pouca precisão dos termos em uso, advoga que deveríamos empregar somente as designações científicas para cada grupo de aromas. Eis alguns exemplos:

– Mercaptanos ou Tióis: lembra os aromas de alho, cebola, etc… e representam defeitos no vinho;

– Terpenos: engloba os aromas florais;

– Pirazinas: lembram pimentões, gramíneas e outros vegetais;

Provavelmente ficaria ridículo descrever um vinho degustado numa reunião com os amigos como “cheio de Lactonas e uma nota de Indol”.

Pesquisas científicas já demonstraram que nossa memória olfativa é bem limitada. Perfumistas, muito treinados, alegam que seriam capazes de reconhecer mais de 1000 aromas diferentes (nunca 100% comprovado) enquanto um reles mortal consegue memorizar 20 aromas no máximo.

O caminho deve ser outro, mais simples e mais autêntico: sejam vocês mesmo, ao tentar descrever um vinho.

Em lugar de se aterem às regras existentes, que muitas vezes nem compreendemos bem, descrevam as sensações que aquele momento lhes proporcionou.

Trouxe memórias de uma viagem, de outro encontro, é isto que deve ser mencionado.

Lembrou de uma bela refeição que até hoje sonha em repetir? Quem sabe não é a hora de tentar reproduzir este bom momento?

Se a degustação passou a sensação de momentos de tristeza, certamente estes vinhos não deverão mais voltar à sua adega.

Pensem nisto. Troquem a preocupação por momentos de simplicidade e alegria.

Saúde e bons vinhos!

Vinho da semana: mais um ótimo rótulo provado na degustação dos Vinhos do Brasil. Desta vez, de Santa Catarina.

Thera Sauvignon Blanc 2017 – $$

Apresenta coloração amarelo palha, com reflexos esverdeados, nariz marcante por sua potência aromática, destacando notas de maracujá e ervas fresca, entrelaçados por um toque mineral. No paladar apresenta intenso frescor e suculência com final bastante longo e persistente.

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