Categoria: O mundo dos vinhos (Page 7 of 72)

O Vermute Martini & Rossi

Nossa aventura final, na Itália, foi participar da “Martini Experience”, uma agradável visita à fábrica deste conhecido Vermute, que fica nos arredores de Turim, região do Piemonte.

Para alguns leitores menos atentos, isto pode parecer uma heresia, mas não é: o Vermute é um vinho, muito especial, que foi infusionado com ervas e especiarias e, posteriormente, fortificado.

Originalmente esta mistura era usada como um medicamento. Um dos mais populares era um produto alemão, para curar “males do estômago”, elaborado com vinho e absinto, ou “wermut”. Vem daí o nome que usamos hoje.

A visita tem duas etapas, um passeio por alguns salões que nos contam a história da empresa, e um igualmente interessante percurso pela área de produção.

A empresa começou como “Distilleria Nazionale di Spirito di Vino”, em 1850. Seu proprietário era Teofilo Sola. Entre os empregados, estavam o contador Alessandro Martini, e o encarregado das vendas, um criativo herbalista e especialistas em destilados, Luigi Rossi.

Sola faleceu em 1879. Martini e Rossi assumem a empresa, mudando sua denominação, que ficou conhecida mundialmente. Desde 1993, pertence ao grupo Bacardi, um dos maiores produtores de bebidas alcoólicas.

Quem criou o icônico vermute foi Luigi Rossi, uma receita especialíssima e secreta, que envolve mais de 30 insumos entre ervas, especiarias, cascas de frutas, obtidas em diversos locais do planeta.

O vinho, que compõe 75% do volume desta bebida, não é como o que estamos habituados. É uma vinificação muito cuidadosa, denominada “flower wine” ou “vinho flor”: não tem aromas e nem sabores. Tem que ser absolutamente neutro para não influir no resultado final.

A receita está guardada num banco suíço e somente 4 pessoas têm acesso a ela. Não podem nem viajar juntos, para evitar o que seria uma verdadeira desgraça…

Na 1ª parte, percorremos um verdadeiro museu que conta toda a história de empresa e de sua influência na Itália e no mundo. São diversas atividades imersivas ou participativas, como sentir aromas e texturas de alguns dos insumos, passear numa extensa galeria dos produtos, novos e antigos e até aulinhas, em vídeo, sobre o preparo de famosos coquetéis.

Um dos destaques é a coleção de títulos e troféus, principalmente na área automobilística: impressionante.

O marketing esportivo sempre esteve presente na Martini, patrocinando desde esportistas até famosas competições. Este tipo de ação se estende, também, na área cultural.

Um show!

O ponto alto do percurso pela fábrica é a chegada na catedral (foto a seguir). Lá está toda a produção do Martini. Nenhuma gota é feita fora da fábrica original.

O passeio termina com a degustação de 3 produtos. Neste dia nos ofereceram o Reserva Especial, o campeoníssimo Martini Rosso e um espumante Asti! (foto de abertura)

Sim, nos serviram um espumante tipo Asti elaborado pela “poderosa” Martini que, além deste, produz um bom Prosecco. Detalhe, ambos são vinhos de regiões demarcadas, mas para a Martini & Rossi há condições muito especiais.

Somente parte do processo é feita na região original. O resto é finalizado na fábrica de Turim.

Uma deliciosa experiência.

Saúde e bons vinhos!

Degustamos três “Barolo DOCG” da Prunotto

A uva Nebbiolo é a verdadeira rainha do Piemonte. Está plantada por todos os lados, até onde a vista alcança. A visão destes intermináveis vinhedos é impactante.

As vinícolas são vizinhas, literalmente: onde termina um vinhedo de uma, começa o vinhedo de outra. Difícil foi escolher qual visitar, são múltiplas opões e cada empresa tem seu programa de enoturismo.

Um fator foi decisivo: o preço.

Um Barolo, de alta gama, nunca foi um vinho barato. Para muitos, é chamado de “o rei dos vinhos” e não faltam motivos para isto. A Nebbiolo, única casta utilizada, é uma daquelas uvas encrenqueiras, difíceis de trabalhar. Faz parte de um nobre time que inclui a francesa Pinot Noir e a portuguesa Baga.

Por esta razão, justificam-se os altos preços cobrados nas visitas. Para se ter um exemplo, um produtor icônico sugere que seja feita uma doação, mínima, de 300 Euros, por pessoa, para uma instituição de caridade por eles indicada. Num grupo de 4, como o nosso …

Mas existem alternativas mais palatáveis, entre elas a reconhecida Prunotto, em Monforte d’Alba, com um ótimo leque de opções para adequar a vista, dentro de um orçamento viável.

Fomos recebidos pela simpática Mirella que nos conduziu. A origem desta empresa remonta a 1904, quando foi criada a “Cantina Sociale ‘Ai Vini delle Langhe’”, uma cooperativa dirigida pelo Notário da cidade de Alba, Sr. Giacomo Oddero. O jovem Alfredo Prunotto assina o documento de fundação como uma testemunha.

Alguns dos grandes produtores de uva forneciam matéria-prima para a cooperativa. Em 1922, já com graves dificuldades financeiras devido, sobretudo, aos efeitos da 1ª Grande Guerra, alguns agricultores deixam de fornecer uvas e a empresa entrou em liquidação.

Prunotto e sua esposa Luigina assumiram o espólio e, com uma nova denominação, o seu sobrenome, muita dedicação e trabalho, elaboraram grandes vinhos e os exportam para as Américas. Um sucesso!

A Prunotto já passou por duas importantes tocas de comando, uma em 1956 e outra em 1994, quando a família Antinori assumiu a vinícola, dando nova vida ao empreendimento.

O principal patrimônio são seus excelentes vinhedos, alguns dos “grand cru” de Barolo, como o Bussia, onde estávamos.

Nesta sede que visitamos não há elaboração do vinho, apenas a fase de amadurecimento nos tradicionais “Botti”. Adotam o método tradicional, deixando a modernidade das pequenas barricas para outros produtores.

Findo o pequeno tour, passamos para a degustação. Escolhemos a opção de provar os três “DOCG”, Bussia, Cerretta e Mosconi, considerados como vinhedos históricos. O custo foi de 25 Euros por pessoa, bem razoável. Havia a possibilidade de provar o vinho top, de vinhedo único, o “Vigna Colonnello Barolo DOCG Riserva Bussia”, por 10 Euros/pax, adicionais.

Eram vinhos com um enorme diferencial entre eles, para nossa surpresa. Todos muito elegantes e com grande potencial de guarda, uma característica dos Barolo. Não são vinhos para consumo imediato, há que ter muita paciência, esperando, algumas vezes, mais de 10 anos na garrafa para ficarem “prontos” (*). Tudo vai depender da safra.

O grande destaque foi para o Bussia 2020, um vinho que ficou 18 meses maturando no Botti e depois engarrafado. Segundo Mirella, esta já estava no ponto para ser degustado.

Pura verdade.

Um vinho sedoso, equilibrado, cheio de aromas de laranja de sangue, pimenta rosa e frutas do bosque. No paladar é muito frutado e refrescante, com um final de boca interminável.

Rei dos vinhos, sem dúvidas!

Além do Barolo, a linha de produtos desta empresa inclui Barbera, Dolcetto, Barbaresco, Arneis, Moscato, Grappas e outras castas menos conhecidas.

Para saber mais, visitem o site da Prunotto (em inglês)

Saúde e bons vinhos!

(*) A definição de um vinho “pronto” é bastante subjetiva. Existem sites que trazem indicações baseadas no paladar de críticos e Sommeliers renomados que ajudam de decidir. No link, a seguir, uma tabela dos vinhos italianos publicada pela revista Wine Enthusiast. ( clicar em Italy – em inglês, de fácil compreensão)

Vintage Chart

Visitamos o Vigneti Massa, no Piemonte

Depois de nossa passagem pelo Porto, Portugal, nosso próximo destino foi o Piemonte, norte da Itália, terra de alguns dos mais famosos vinhos do mundo, como os Barolo e os Barbaresco.

Nossa primeira visita foi em busca de um caminho diferente. Escolhemos a Vigneti Massa, cujos vinhos ainda não estão no Brasil, para conhecer um espetacular trabalho, realizado pelo seu proprietário, Walter Massa, recuperando a dignidade de uma antiga e esquecida uva branca: Timorasso.

A vinícola foi fundada por esta família em 1879. Atualmente cultivam 30 hectares de vinhedos, localizados nas colinas de Monleale (Colinas de Tortona), 300 metros acima do nível do mar. Além da nativa Timorasso, estão plantadas Barbera, Croatina, Freisa, Nebbiolo, Moscato e Roschi.

Fomos recebidos por Filippo, jovem e muito simpático Enólogo que, junto com seu irmão, faz o trabalho pesado. Depois de um rápido giro pelos vinhedos ao redor da sede, passamos para uma degustação/aula sobre este incrível trabalho que não se resume ao empreendimento dos “Massa”, mas toda uma região que ganhou novas oportunidades.

Walter optou por trabalhar com esta antiga varietal na década de 80 e talvez tenha sido o primeiro a produzir um 100% Timorasso. Foi uma experiência muito boa. Das poucas 500 vinhas encontradas então, hoje são cerca de 430 acres plantados por diversos produtores, inclusive alguns nomes famosos como Vietti e Fontanafredda. Ao todo, a produção atinge 800.000 garrafas/ano.

Os vinhos são classificados como “DOC Colli Tortonese Timorasso”, mas já estão solicitando uma denominação mais abrangente, “Tortona Timorasso” ou apenas “Derthona”, que é o antigo nome da comuna de Tortona.

Além dos excelentes vinhos, esta região é altamente gastronômica produzindo castanhas, trufas, queijos e mel.

Degustamos toda a linha do Timorasso: Piccolo Derthona, Derthona, Sterpi, Montecitório, Costa del Vento e Sentieri.

As diferenças entre cada rótulo estão na origem das uvas, tempos de maceração e de amadurecimento antes do engarrafamento. Nenhum deles passa por madeira.

São vinhos com uma acidez marcante e muito refrescantes. Ideais para um clima tropical como o do Brasil. Muito encorpados, levam a crer que foram macerados com as peles, o que não é verdade. Entretanto, alguns produtores já estão experimentado este caminho.

Um detalhe nos chamou a atenção: tampas de rosca. O Vigneti Massa é um adepto deste tipo de fechamento e tem feito diversas inovações junto com um renomado produtor destas cápsulas metálicas. Uma de suas grandes mudanças é a conexão com tecnologia NFC: basta você usar o seu smartphone no selo sobre a tampa para ter acesso a tidas as informações sobre o vinho.

Um show de tecnologia!

Este é um de nossos motes: tradição e modernidade juntos.

Provamos, ainda, três tintos elaborados com a casta Barbera, todos muito bons: Sentieri, Monleale e Bigolla. Notem que alguns destes ainda usam rolha de cortiça. Mudarão em breve, eram safras mais antigas.

Para saber mais, visitem o site da vinícola: https://vignetimassa.com/

Saúde e bons vinhos!

Simplesmente Vinho 2024 – Porto, Portugal

Estamos na cidade do Porto, em Portugal, onde participamos de duas grandes feiras de vinhos. Esta foi a primeira.

A “Simplesmente” se define como “um salão ‘off’, manifestação independente e alternativa que reúne vignerons unidos simplesmente pelo vinho. Vinho que respeita a terra e o terroir, a vinha e as uvas, pessoas e tradições. Ao vinho sincero que simplesmente quer ser vinho bebido, apreciado, juntamos Petiscos, Arte e Música. Tudo para partilhar com os bons amigos. Vocês!”

Sempre homenageiam um país. Nesta edição foi a Georgia, hoje considerada como o berço da vinha e do vinho. Ao todo foram 111 expositores, sendo 11 produtores da Georgia, 12 da vizinha Espanha e o restante de Portugal.

A feira não se resume em apresentar vinhos. Há várias outras atividades associadas, como jantares harmonizados por Chefs renomados e leilões solidários de arte e vinhos. Um espetáculo à parte.

Os ingressos custaram 21,00 €/dia, comprados com antecedência. Na entrada fomos devidamente identificados e recebemos uma taça personalizada e o caprichado catálogo. A partir daí, dois salões repletos de vinhos para provar e gente muito interessante para conversar.

Dentro deste espírito, fomos ao encontro de um amigo que não encontrávamos desde 2014, Álvaro Martinho, produtor do Mafarrico, Maquia e outros vinhos.

O reencontro foi muito divertido. Álvaro tem sempre ótimas histórias e lembranças para nos contar, além de deliciosos vinhos.

A feira estava instalada nos salões da antiga Alfandega do Porto, na Ribeira, hoje um centro de convenções. A estrutura, apesar de despojada, era muito confortável e espaçosa, com ótima circulação entre os exibidores.

Cada espaço era demarcado por uma simpática barrica, onde os vinhos eram expostos.

Simplesmente impossível citar todos, ou mesmo os que provamos. Experimentamos desde vinhos clássicos até mirabolantes experimentos (deliciosos) que mesclavam técnicas como as do Jerez para produzir outros tipos de vinhos. Vinhas velhas, Biodinâmicos, Orgânicos, Pet-Nats inacreditáveis, enfim, um pouco de tudo.

Uma feira para ser curtida vagarosamente. Todos os produtores, que abordamos, se esmeraram nas explicações, o que não só nos surpreendeu como tivemos a oportunidade de aprender muito.

Pena que só tínhamos um dia para esta visita. Certamente que, numa próxima ocasião, dedicaremos mais tempo a esta excepcional exibição.

Para saber mais, visitem o site: Simplesmente Vinho

Saúde e bons vinhos!

Como começar no mundo do vinho?

Existem várias respostas para esta pergunta, bem comum, aliás. A mais óbvia seria se inscrever num curso ou oficina sobre o tema. Há vantagens e desvantagens nesta sugestão: cursos são genéricos e abrangentes e os instrutores nem sempre podem se dedicar a um aluno somente.

Existem outros caminhos que podem ser seguidos. Um deles é muito interessante e consiste em associarmos os sabores aos quais estamos acostumados, por exemplo, café, cerveja, outras bebidas alcoólicas, com vinhos que nos transmitam sensações similares.

A mais popular bebida brasileira é um bom começo. Partindo de algumas formas básicas de preparar um cafezinho, podemos explorar diversas possibilidades. Para começar, responda esta questão básica:

Qual a sua xícara preferida?

Se for um belo e encorpado expresso, a nossa indicação são vinhos bem encorpados como um Cabernet Sauvignon ou um Malbec de primeira linha.

Vamos deixar claro uma coisa: não são sabores iguais, embora seja possível identificar notas de café num vinho que passou por madeira. O que vai tornar esta “semelhança” interessante é o peso da bebida na boca, no nosso jargão, o corpo.

Se a sua preferência for uma das mil variações do nosso café com leite, capuccino, flat White, latte etc., o caminho serão os brancos leves, como um Chardonnay que não foi barricado. Para os que preferem um “pingado”, basta seguir a trilha dos brancos que passaram por conversão malolática, deixando aquelas deliciosas sensações cremosas, como as de laticínios,  em evidência.

Para os aficionados pelas cervejas e até mesmo a turma dos refrigerantes, o caminho é o dos frisantes e espumantes. Se quiser ficar dentro da vibe mais recente, não deixem de experimentar um Pet-Nat.

Para alguém da turma que aprecia coquetéis diversos, precisamos de mais informações: qual o estilo que mais lhe agrada.

Misturas mais secas e com notas cítricas, as chances de um Sauvignon Blanc cair no seu gosto é enorme. Ou, quem sabe, um Alvarinho ou um Loureiro, tradicionais vinhos verdes da terrinha, não sejam uma boa escolha?

Se o coquetel for mais adocicado, o ideal seria experimentar um rosado ou o tradicional Pinot Noir. Se for o caso, o Beaujolais Nouveau pode ser bem interessante, mas é um vinho de temporada.

Por último, se você não se encaixou em nenhuma destas categorias, ainda assim temos uma indicação: Pinot Grigio. Um vinho leve, com fama indevida de ser pouco aromático e saboroso, não compartilhada com sua contraparte francesa, o Pinot Gris. Com baixo teor alcoólico e corpo leve é uma ótima primeira experiência.

O que acontece se uma desta opções servir?

A primeira atitude é um conselho que sempre passamos neste blog: anote tudo – nome do vinho, a/as uvas, o produtor e a região. Com estes dados em mãos, na próxima vez que for a um mercado ou loja de vinhos, peça ajuda ao Sommelier para encontrar vinhos semelhantes.

Teste e continue testando e nunca se conforme com a sua “zona de conforto”. A grande diversão deste mundo dos vinhos é encontrar novos caminhos, sempre.

Saúde e bons vinhos!

CRÉDITOS: imagem de pch.vector no Freepik

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