Categoria: O mundo dos vinhos (Page 77 of 82)

Brindando

Desejar a boa saúde de alguém ao se beber o primeiro gole de um vinho ou outra bebida alcoólica é uma tradição muito antiga. Existem diversas narrativas relatando a possível origem do ato de brindar. Mas nem todas são verdadeiras.

Uma das mais populares é a que explica o ato físico de bater as taças de modo que o conteúdo de uma se mistura ao da outra. Desta forma, se uma das taças estivesse envenenada, anfitrião e convidado não sobreviveriam. Logicamente se infere que, neste ato, está o desejo que ambos tenham vida longa ou simplesmente, saúde!

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Uma lenda plausível, mas longe da verdade. Historiadores renomados já demonstraram que tradicionalmente o brinde é feito em honra de alguém. Uma das versões mais aceita vem da Grécia antiga: durante suas famosas celebrações, parte da bebida era derramada em homenagem aos Deuses de então. Curiosamente este é um hábito bem comum no Brasil ao se beber a tradicional pinga: o “Santo” sempre ganha o gole dele.

Homenagear o anfitrião ou aquele que provê a bebida foi o próximo passo. Brindava-se à sua saúde e para que sempre mantivesse a boa vontade de convidar seus amigos para desfrutar um bom vinho ou outra bebida.

Para conhecer mais sobre este hábito, convido os leitores para um pequeno passeio sobre as diferentes expressões usadas para brindar em vários países. Uma boa pedida neste momento olímpico. Quem sabe não brindaremos com um novo amigo estrangeiro?

Começamos pela Grécia. A palavra mais usada é YΓΕΙΑ (yamas) que é pronunciada assim (clique no link):

http://pt.forvo.com/search/%CE%A5%CE%93%CE%95%CE%99%CE%91/el/

Significa saúde.

Os franceses usam indistintamente “Santé” (saúde) ou dizem “A la votre”, que é o mesmo que usamos no Brasil: “à sua”, respondido com “a nossa”. Eis as pronúncias:

Santé – http://pt.forvo.com/search/sant%c3%a9/

A la votre – http://pt.forvo.com/search/%c3%80%20la%20v%c3%b4tre/

Na Itália o brinde é feito com “Salute”

http://pt.forvo.com/search/Salute/

Nos países de língua espanhola há uma quase unanimidade em torno de “Salud”, inclusive na Galícia. Catalões usam “Salut” e os Bascos preferem “Topa”, que significa brinde. As pronúncias estão nestes links:

Salud – http://pt.forvo.com/search/salud/

Salut – http://pt.forvo.com/search/salut/ca/

Topa – http://pt.forvo.com/search/topa/eu/

Na Inglaterra e EUA o ato de brindar é chamado de “Toast”, que traduzido literalmente significa “torrada”. Vem de um costume muito antigo, quando o vinho ainda era uma bebida feita sem muito cuidado. Colocava-se um pedaço de pão torrado dentro da taça para melhorá-lo e ter alguma coisa para comer, também.

As expressões mais usadas são “Cheers”, uma gíria para “obrigado” que é usada também como despedida (adeus), e “Bottoms up” ou “fundos para cima” que tem uma explicação muito interessante.

Os primeiros copos não tinham fundos planos e não podiam ser colocados cheios sobre qualquer apoio, o líquido derramava. Para descansar a taça, era necessário tomar todo o conteúdo e emborcá-la na mesa, com o fundo para cima. Era considerado, inclusive, um ato de elegância, mostrando ao anfitrião que a bebida era boa!

Pronúncias:

Cheers – http://pt.forvo.com/search/cheers/

Bottoms up – http://pt.forvo.com/word/bottoms_up%21/#en

“Prost” é a saudação popular dos alemães. Veio do Latim, “prosit”, significando “beneficente”, por extensão “à sua saúde”. Outra expressão muito usada é “Zum wohl”, uma forma ampla de brindar e desejar boas coisas a todos. Eis os links:

Prost – http://pt.forvo.com/search/prost/de/

Zum whol – http://pt.forvo.com/search/Zum%20Wohl!/

Há quem faça uma distinção: usam Prost para cerveja e Zum whol para o vinho…

Países escandinavos usam “Skål” com pequenas variações. O significado varia entre saúde, honra, felicidade e até “bebam tudo”.

Neste link as pronúncias em sueco, dinamarquês e norueguês:

http://pt.forvo.com/search/skal/sv/

Islândia (feroês) – http://pt.forvo.com/search/Sk%C3%A1l%21/fo/

Na Finlândia é assim: Kippis ou alegria, boa saúde.

http://pt.forvo.com/search/Kippis/

Outra expressão muito conhecida é a usada por países como Eslovênia, Rússia, Polônia, entre outros: “Na zdrowie” (com variações de grafia e pronúncia). Brindam a boa saúde ou pode ser interpretado como uma benção.

Para não falar errado:

Polonês – http://pt.forvo.com/word/na_zdrowie/#pl

Russo – http://pt.forvo.com/word/%D0%BD%D0%B0_%D0%B7%D0%B4%D0%BE%D1%80%D0%BE%D0%B2%D1%8C%D0%B5/#ru

Os árabes usam “Fe sahetek” ou boa sorte (não são muito de beber). Em Israel a mais popular é “L’chaim”, mas usam “Mazel tov”, também, para desejar sucesso ou boa saúde.

Árabico (procurem por semelhança) – http://pt.forvo.com/search/%d9%81%d9%89%20%d8%b5%d8%ad%d8%aa%d9%83/

L´chaim – http://pt.forvo.com/search/L’chaim/

Mazel Tov – http://pt.forvo.com/search/mazel%20tov/yi/

Para encerrar os países orientais.

A saudação japonesa é muito conhecida, “Kampai”, que pode ser traduzido e adaptado para “esvaziem seus copos”.

http://pt.forvo.com/search/kampai/

Os chineses preferem usar “gan bei”, com o mesmo significado.

http://pt.forvo.com/search/g%C4%81n%20b%C4%93i/zh/

Na Coreia é assim que brindam:

http://pt.forvo.com/search/%ea%b1%b4%eb%b0%b0/

Para aqueles leitores com curiosidade infinita, neste link em inglês estão diversas outras saudações:

http://www.omniglot.com/language/phrases/cheers.htm

Saúde e bons vinhos!

Vinho da Semana: para brindar em qualquer idioma. “Mabuhay!”

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Frutas vermelhas frescas, notas defumadas e toques de especiarias doces. Corpo médio, com taninos finos e acidez equilibrada. Seu final de boca é frutado, elegante e agradável.

Harmoniza com carnes vermelhas grelhadas com molhos de média intensidade, preparações a base de carnes de porco, massas com molhos a base de ragu, queijos duros.

Podemos treinar o nosso paladar?

Textos sobre a relação dos nossos cinco sentidos com o vinho são frequentes na nossa coluninha, o paladar, junto com o olfato, são os mais significativos.

Na matéria intitulada “O que um Enófilo busca no vinho”, publicada em 27/05/2016 (http://www.oboletim.com.br/2016/05/27/o-que-um-enofilo-busca-no-vinho/) a leitora Cristina Cormack, de Goiânia, colocou algumas questões, respondidas nos comentários. Entre elas, esta que motivou a coluna de hoje:

“Existe uma técnica para treinar paladar e olfato”?

Não acho o termo “treinar” adequado para o propósito de aprender a identificar sabores dos alimentos e bebidas, prefiro usar a palavra educar ou apurar.

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Curiosamente o nosso paladar já vem basicamente educado de fábrica.

Sabemos, desde muito jovens, perceber doce, amargo, salgado e azedo. Estamos preparados, inclusive, para identificar diferentes nuances ou intensidades destes sabores primários.

À medida que experimentamos novos alimentos, vamos criando uma biblioteca de sensações que vai, mas tarde, definir o que nos agrada ou não.

São combinações, em diferentes níveis, das quatro sensações definidas como originais de fábrica. Como tudo mais, existem pessoas que não são capazes de perceber todas estas coisas, são pontos fora da curva.

Imagine-se, por um momento, como Chefe de Cozinha de um renomado restaurante. Sua ferramenta mais importante é o paladar. Ao criar um prato, é preciso estar certo que há um equilíbrio entre tudo o que está ali: não pode estar muito salgado nem doce demais, picante na medida certa, untuoso sem ser enjoativo, nem demasiadamente úmido ou seco.

Tem que combinar tudo isto sozinho, confiando na sua “boca” e na sua biblioteca de aromas e sabores.

Numa escala proporcional, um Sommelier e um Enólogo passam pela mesma situação. O primeiro quando avalia um vinho a ser indicado ou servido para um cliente e ou segundo ao produzi-lo.

Para um Enófilo ou simples apreciador de um bom vinho as exigências são muito menores. A primeira sensação que devemos ter sempre presente é saber se o vinho está em condições de ser consumido, ou não, o que pode ser percebido pela cor e aroma. A menos que seja por pura curiosidade, e risco por sua conta, ninguém em sã consciência vai provar um vinho azedo.

Se tudo estiver como esperado, a fase de provar o vinho vai nos certificar se gostamos ou não do seu sabor e, para isto, o nosso pacote de fábrica é perfeito.

Entram em cena as diversas descrições propostas por críticos especializados, Sommeliers e Enólogos, todos em busca de seduzir o comprador para este ou aquele vinho.

Será que perceber, pelo menos uma, daquelas descrições típicas é realmente importante para quem vai beber o vinho?

Seguir o rito básico de cheirar, agitar, provar, vai mudar muito a nossa experiência ao saborear um vinho, icônico ou não?

Resumindo: podemos educar ou apurar o nosso paladar até atingir a capacidade de perceber todas as nuances descritas?

Sim, podemos, mas nem todos vão conseguir chegar lá. Cada um de nós vai desenvolver um conjunto de percepções diferentes, e o que pode ser muito bom para uns talvez não corresponda, desta maneira, para um outro grupo.

As descrições nos contrarrótulos nos ajudam a escolher um vinho que agrade ao nosso paladar, mas para tal precisamos saber o que significam “frutas vermelhas”, “notas florais”, etc…

A melhor maneira de aprender é por comparação, se possível com a ajuda de uma pessoa mais experiente que oriente uma degustação nestes moldes. Obviamente se alguém nunca comeu cereja, amora, framboesa ou morango, jamais vai poder identificar a família de aromas e sabores das “frutas vermelhas”.

Comecem por aí. Procurem descobrir o que são notas florais visitando uma loja de flores ou uma plantação delas. Os diversos tipos de frutas, vermelhas, brancas, amarelas, estão sempre disponíveis em feiras livres e mercados.

Especiarias, cravo, canela, noz mascada, pimentas diversas e as ervas como alecrim, funcho, manjericão, salsa, serão percebidas e identificadas facilmente em lojas dedicadas a este segmento (Bombay, Casas Pedro, etc) e também em algumas bancas dos mercados livres. Procurem pelas ervas frescas e pelas secas e notem as diferenças. Habituem-se a usar estes temperos em sua alimentação caseira, uma maneira simples e deliciosa de apurar o seu paladar.

Profissionais do vinho educam continuamente seu paladar, principalmente os que têm por objetivo obter algum certificado de excelência com o WSET, uma espécie de PhD do vinho.

A prova, muito difícil, envolve identificar às cegas, uma série de vinhos. Não basta identificá-los, simplesmente, é preciso escrever uma pequena análise sobre cada um. Não é para todos, um grande desafio, cujo principal resultado é a satisfação pessoal.

Para os simples mortais, basta saber que há aromas e sabores que nos seduzem.

Saúde e bons vinhos!

Vinho da Semana: um bom Cabernet para testarmos o nosso palato.

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Vermelho-rubi intenso.

No nariz, predominam aromas intensos de groselha, um aveludado chocolate e frutas vermelhas maduras.

Leve e potente, evidencia ótimos taninos integrados a delicadas notas de frutas.

Dois Concursos Importantes

Expovinis e seus “Top Ten” e o Decanter World Wine Awards (DWWA), divulgaram o resultado dos seus concursos anuais. Alguns vinhos brasileiros se destacaram, principalmente na prestigiada lista da revista inglesa.

Acompanhar estas relações de vinhos premiados faz parte de vida de enófilos mais apaixonados, embora às vezes seja enfadonho e frustrante. As listas podem ser enormes, cheias de prêmios que não se compreende bem e de vinhos que desaparecem do mercado num piscar de olhos.

O que se tira de bom é saber quem está produzindo o que e, a partir disto, buscar outras alternativas não só mais fáceis de serem adquiridas mas, com relações de custo x benefício mais favoráveis.

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A 20ª edição da mais importante feira de vinhos no Brasil aconteceu em S. Paulo entre os dias 14 a 16 de junho. Um dos pontos altos é a divulgação dos melhores vinhos, escolhidos por um painel de degustadores.

Eis o resultado em cada categoria:

Espumante brasileiro: Gran Legado Brut Champenoise – não safrado

Espumante importado: Hunters Miru Reserve (Nova Zelândia) – não safrado

Branco brasileiro: Don Guerino Sinais Sauvignon Blanc (não foi informada a safra)

Branco importado: Gomila Single Vineyard Selection Sauvignon Blanc (Eslovênia) (não foi informada a safra)

Rosado: Domaine D’Estienne Coteaux Varois en Provence 2015 (França)

Tinto brasileiro: Lidio Carraro Agnus Tannat (não foi informada a safra)

Tinto Novo Mundo: Ballena Azul Family Reserve (Chile) (não foi informada a safra e nem o corte)

Tinto Velho Mundo – Península Ibérica: Clos del Mas (Espanha) (não foi informada a safra)

Tinto Velho Mundo: Il Brecciolino (Itália) (não foi informada a safra) – Merlot, Petit Verdot, Sangiovese

Fortificados e Doces: Quinta do Sagrado Vintage 2011 (Portugal)

Uma lista interessante e equilibrada, com destaques para o vinho esloveno e o espumante neozelandês, pouco comuns por aqui. Vale a pena lembrar que para este concurso as amostras são submetidas pelos produtores ou importadores que participam da feira. Alguns dos vinhos premiados ainda não têm um distribuidor oficial no Brasil e outros ainda não estão à venda, o que torna a busca por estas garrafas uma verdadeira caça ao tesouro.

Decanter World Wine Awards

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Esta revista inglesa é uma das mais importantes do mundo, contando com opinião de especialistas muito renomados. O DWWA está na sua 12ª edição, sendo considerado como o maior e mais respeitado concurso de vinhos do planeta.

Anualmente são analisadas cerca de 15.000 amostras, enviadas diretamente por seus produtores, através de um elaborado sistema de logística.

O julgamento é dividido em setores (painéis) contando com a colaboração de centenas de profissionais do vinho, Sommeliers, Enólogos, Jornalistas, Gastrônomos, etc., que enfrentam uma verdadeira maratona de degustações.

As premiações estão divididas em: Melhores do Ano; Platina; Ouro; Prata; Bronze e Comenda. Uma extensa relação que pode ser pesquisada no site da revista (em inglês), neste link:

http://awards.decanter.com/DWWA/2016

Destaques

Vinte e três vinhos brasileiros foram premiados, mostrando que a nossa produção evolui positivamente. Três resultados foram particularmente importantes:

Casa Valduga Leopoldina Chardonnay 2015 – Platina

Casa Valduga Terroir Leopoldina Merlot 2012 – Platina

Vinícola Guaspari Vista do Chá Syrah 2012 – Ouro

Apenas 130 vinhos receberam a medalha de Platina, o que faz este resultado ser muito importante para a Casa Valduga, premiando anos de trabalho em busca de uma qualidade cada vez melhor. Merece o nosso aplauso.

Entre os trinta vinhos selecionados como os Melhores do Ano, estão alguns chilenos e argentinos, sempre presentes nas boas lojas de vinho:

Asda La Moneda Reserva Malbec 2015 (Chile) – 85% Malbec, 15% Syrah  

Cono Sur Single Vineyard Block 23 Rulos del Alto Riesling 2015 (Chile)

De Martino Colinas Del Itata Old Vine Field Blend 2014 (Chile) – 70% Moscatel, 30% Korinthiaki  

Errazuriz Sauvignon Blanc 2015 (Chile)

J. Bouchon Canto Sur 2015 (Chile) -50% Carmenère, 25% Carignan, 25% País

Miguel Torres Días de Verano Reserva Muscat 2015 (Chile)

Zuccardi Tito 2013 (Argentina) – 80% Malbec, 10% Cabernet Sauvignon, 10% Ancellotta

Bons vinhos, saúde!

Vinho da Semana: para completar o quarteto sul americano, um belo vinho do Uruguai que recebeu medalha de ouro para a safra 2014, que ainda não está à venda. Enquanto isto…

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Garzón Tannat 2013

Aromas de frutas vermelhas e negras maduras, notas de especiarias e toques defumados.

Médio corpo, com equilíbrio impressionante entre a riqueza de taninos, muito aveludados, e a potência dos sabores frutados.

Harmonização: pratos à base de aves com especiarias, guisados de média intensidade e queijos de leve maturação.

Sommelier, Escanção

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Aprender sobre vinhos conhecendo a etimologia dos termos mais usados neste universo é uma das interessantes formas de se tornar um conhecedor respeitado. Sommelier ou Escanção significam a mesma coisa.

O termo francês é o mais usado em todo o mundo. Qualquer bom dicionário vai explicar o seu significado:

– Um profissional especializado, encarregado em conhecer os vinhos e de todos os assuntos relacionados ao serviço deste.

Na França medieval, os nobres encarregavam uma pessoa para cuidar dos bens que seriam transportados numa viagem. Esta pessoa era o Sommelier.

Este nome deriva de “somier” ou besta de carga. Quem a manejava seria o “sommerier” que tinha, além do animal, as cargas sob sua responsabilidade. A palavra evoluiu naturalmente para “soumelier” e o seu significado passou a designar a pessoa responsável pelo transporte dos suprimentos. Com o passar dos anos uma nova modificação aparece na língua francesa surgindo o termo atual, “sommelier”, como sendo a pessoa encarregada de um tipo específico de carga.

Durante muitos anos coexistiram diversos tipos de Sommelier, de vinhos, de armas, de pães, etc… Com o tempo, o título ficou restrito a quem cuidava das bebidas e ás vezes dos charutos, o que é aceito até hoje.

Em diversos países se emprega o termo francês, inclusive no Brasil. Em Portugal preferem usar Escanção, que tem outra origem.

Alguns autores afirmam que este termo deriva da palavra gótica “skankja” que significaria “copeiro”.

Outra corrente recorre ao Latim, sugerindo que Escanção deriva de Scancio, o personagem que escancionava (repartir, dividir) vinhos na Roma antiga.

Em Portugal, este mesmo termo é empregado para designar, também, um profissional especializado, encarregado em conhecer as linguiças e cuidar da compra, armazenamento e rotação de porcos.

Curiosamente algumas confrarias francesas empregam “Echanson” para indicar o encarregado de provar e servir as bebidas. Na idade média este cargo era entregue a um oficial da corte, de total confiança do Rei. Só ele poderia lhe servir o vinho, garantindo que não estaria envenenado.

A profissão de Sommelier ou Escanção mudou muito ao longo dos anos. Já não é mais o copeiro especializado em bebidas de antigamente, evoluindo para uma profissão reconhecida e com múltiplas funções no mundo moderno, incluindo a escolha dos vinhos a serem comprados, elaboração de cartas de vinhos e harmonizações.

Ainda hoje, nas terras lusitanas, se discute qual termo deveria ser empregado. Acho que o uso de Escanção demonstra que não só os vinhos portugueses têm personalidade forte e marcante, mas toda a cadeia gastronômica também. Adotar o galicismo seria um retrocesso.

Portugal é o único país do mundo que homenageia seus Escanções, com uma bela estátua na Vila de Nelas, no Dão, inspirada na figura do profissional Fernando Ferramentas, que na época trabalhava no Hotel Aviz, em Lisboa.

Figura 2

Precisa mais?

Saúde e bons vinhos!

Vinho da semana: para comemorar o Dia dos Namorados

 

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Nero d’Avola é a mais importante uva de vinho tinto na Sicília.

Seus vinhos são comparados aos Syrahs do novo mundo, com taninos doces e nuances de ameixa ou sabores apimentados na boca.

Harmoniza com carnes e massas com molho vermelho.

 

O que um Enófilo busca no vinho?

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Qualquer dicionário vai explicar que Enófilo é quem aprecia e estuda vinhos. Mais que um apreciador comum, é alguém que tem por hábito, entre outras coisas, anotar o que degusta, pesquisar vinhos que melhor se adequam a uma estação do ano ou a um determinado prato ou alimento. Um aficionado em todos os sentidos.

Não existe uma formação obrigatória para ser reconhecido como Enófilo, mas algumas características se impõem:

– Aroma e paladar treinados;

– Sólidos conhecimentos sobre regiões, castas e vinhos;

– Compreender a importância das safras (para grandes vinhos);

– Noções de harmonização;

– Dominar, com confiança e habilidade, o serviço do vinho.

Mais poderia ser dito, mas estaríamos enveredando por adegas, garrafas míticas, cadastros em lojas especializadas e vasta biblioteca. O que importa, entretanto, é entender a diferença entre alguém que pede um vinho para acompanhar sua refeição e a mesma situação vivida pelo Enófilo.

Para estes, não basta gostar do vinho, é preciso ter mais informações para poder apreciar completamente o seu potencial: procedência, como foi elaborado, safra, castas e qualquer outra informação, mesmo que pareça irrelevante, pode contribuir para que se alcance o que é denominado como “toda a extensão do paladar”. Este passo, a mais, faz toda a diferença.

Entramos num terreno quase mítico. Será verdade que o vinho elaborado por um determinado produtor é tão melhor que qualquer um outro? Ou que esta casta produz vinhos mais fáceis de beber?

Uma resposta simples seria “mais mitos que verdades”, mas há muito mais por trás disto.

Cada pessoa que provar um vinho vai ter uma experiência diferente. Há uma razão muito simples para isto: não somos iguais. Cada degustador passou, ao longo de sua vida, por diferentes experiências na formação de seus gostos pessoais, o que inclui aromas e sabores.

Isto posto, como será possível, por exemplo, identificar, ao degustar um vinho, um aroma ou sabor que não conhecemos?

Duas correntes são aceitas, os que ignoram aquilo que não conhecem e os que buscam saber do que se trata. Esta é a atitude que separa um Enófilo do degustador comum.

Há uma satisfação, toda especial, em associar uma gama de conhecimentos, prazerosamente adquiridos anteriormente, com um determinado vinho. Seja pela coloração, aroma, sabor ou pela informação irrelevante. Isto leva tempo para acontecer.

A citação é de Fabricio Portelli, um dos mais importantes conhecedores de vinhos da Argentina:

“Os bons vinhos são possíveis por serem elaborados por pessoas e castas que provêm de lugares específicos, sob um conceito e perseguindo um objetivo preciso. Caso contrário, não existiriam. Entretanto, o seu êxito estará em conseguir agradar”.

O pensamento termina com mais uma frase de difícil tradução literal. Para podermos compreender, foi feita uma adaptação:

“Quando se degusta um vinho, não é qualquer vinho”.

Esta é a chave para entendermos como funciona a cabeça de um Enófilo.

Eles não fazem vinhos, função do Enólogo; não coordenam cartas de restaurantes ou lojas especializadas em bebidas, função do Sommelier; mas são os que melhor sabem consumir a bebida de Baco.

Tiram prazer em cada gota.

Saúde e bons vinhos!

Vinho da Semana: um Syrah chileno cheio de coisas para descobrir

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Ventisquero Queulat Gran Reserva Syrah

De cor vermelha escura, o vinho possui aromas que mescla frutas silvestres escuras, pimenta, couro, tostado, café, tabaco e chocolate.

Na boca tem taninos firmes e elegantes, com final de boca macio e elegante.

 

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