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Uma comemoração diferente

Nas nossas colunas sobre vinhos usamos o termo “confraria” para representar um grupo de pessoas que promovem encontros em torno do tema vinho. Mas pode ser usado para caracterizar outros grupos também. Segundo um dicionário consultado, confraria é “um conjunto de pessoas da mesma categoria, com os mesmos interesses ou com a mesma profissão”.

Uma destas confrarias tem como interesse praticar o Spinning, modalidade de ginástica realizada em cima de uma bicicleta estacionária. Frequentam a mesma academia, sediada num tradicional clube do Rio de Janeiro e gostam de comemorar os aniversários de cada participante (a maioria é feminina) em criativos e deliciosos programas, sugeridos pelo aniversariante e sempre realizados aos sábados. Contratam uma van e saem em aventuras culturais, gastronômicas ou até para cuidar da beleza. Um dos mais divertidos foi um tour, guiado por um jornalista especializado, aos mais representativos botequins da boemia carioca (foto).

Apesar da grande criatividade, à medida que acontecem os programas diminuem as possibilidades de um acontecimento fora do que é batido ou manjado, em bom “carioquês”.

Desta vez coube à minha esposa, Claudia, organizar o evento junto com Lilian, a outra aniversariante. Como todas gostam de boa gastronomia e bons vinhos, embora nenhuma delas seja exatamente uma expert, Claudia sendo a exceção, sugeriu que eu preparasse uma palestra de introdução ao mundo do vinho, que foi carinhosamente apelidada de “Um Papo sobre Vinhos”.

A aula seria complementada por um almoço harmonizado no BARSA, um dos bons restaurantes do CADEG, atual centro gastronômico do Rio, que o nosso “alegre” Prefeito decidiu renomear para “Mercado Municipal do Rio de Janeiro” (é uma organização privada), tudo para atender a um capricho da D. FIFA (o que os políticos não fazem para ganhar um troco… aliás, seria um bom slogan de campanha: “tudo por um trocado”).

Alguns contratempos inesperados exigiram alterações no programa original o que acabou sendo muito positivo. A sala do clube onde seria ministrada a aula não estava disponível na data prevista. Lilian ofereceu sua residência e nos recebeu com uma deliciosa mesa de frios, queijos e pães. Cada participante deveria levar uma garrafa de vinho, que seriam consumidas durante a aula e no almoço.

Outro fato que implicou em ajustes no programa foi o BARSA não aceitar reservas num sábado. Conseguimos, depois de intensas negociações, que, se comunicássemos, por telefone, após às 14h, a nossa partida da zona sul em direção ao CADEG, teriam uma mesa à nossa espera quando chegássemos lá, em Benfica. Isto criou um limite de tempo para a minha apresentação: não poderia passar de 1 hora e 30 minutos. Confesso, nunca tinha feito nada parecido em tão pouco tempo. Um bom curso básico é ministrado em 4 aulas pelo menos.

Teria à minha disposição uma boa TV e um tablet que poderia gerar as imagens com os tópicos que seriam abordados. Meu filho, Tomás, se encarregou de preparar os slides que ficaram, usando seu jargão predileto, “show de pelota”. A foto a seguir ilustra bem este ponto:

Munido de diversos acessórios e de algumas das garrafas de vinhos levadas que serviram para ilustrar o papo e animar o professor e as alunas, expliquei os seguintes pontos:

1 – O que é um vinho? (definição, composição química);

2 – Tipos de Vinho (brancos, tintos, etc.);

3 – Uvas Viníferas e Comuns;

4 – Corte e Varietal – Velho e Novo Mundo;

5 – Champagne x Espumante;

6 – Serviço do Vinho (abrir uma garrafa, acessórios, os 5 sentidos);

7 – Harmonização (noções clássicas e modernas, queijos e vinhos).

O grupo: Claudia, Aída, Cris, Lilian, Teresa, Denise e Carol. Álvaro e Marcelo formaram comigo o trio de maridos.

O “papo” foi muito animado, com diversas perguntas e intervenções que só enriqueceram esta aula. Programamos alguns intervalos para a turma provar as delícias oferecidas e reabastecer suas taças.

Este clima continuou no almoço, uma boa oportunidade de testar o que foi aprendido. Os pratos compartilhados foram um Arroz de Pato e o Bacalhau Rei, especialidade do Chef Marcelo Barcellos.

 
 

Agora é esperar pelo próximo convite.

Dica da Semana:  com a volta dos dias mais quentes, um bom branco.
Chablis Louis Latour


Apresenta coloração amarela com reflexos dourados e brilhantes.
O leque aromático revela notas minerais, frutas cítricas maduras e flores.
No paladar é muito saboroso, puro, vivaz, com final refrescante e persistente.
Harmoniza com ostras, crustáceos, carnes brancas, sopas e saladas.

Tanques ovais na elaboração de vinhos

Um dos aspectos que mais chamou a atenção nas vinícolas visitadas durante a recente viagem foi observar o emprego dos tanques ovais construídos em concreto. Não é exatamente uma tecnologia nova, as notícias sobre a existência destes tanques datam de 2001, quando apareceu o primeiro deles na vinícola de Michel Chapoutier no Vale do Rhône. Seu proprietário discutiu exaustivamente este formato com a empresa Marc Nomblot que fornece tanques em concreto, para vinificação, desde 1922.
 
A novidade, aparentemente, seria o formato oval, mas nem isto se mostrou verdadeiro. Segundo o fabricante, as ânforas romanas inspiraram o curioso formato. A foto a seguir mostra, lado a lado, modernos tanques tipo ânfora e os ovais.
 
 
Como diria o Velho Guerreiro, “Nada se cria, tudo se copia”…
 
Concreto é uma mistura de cimento e agregados (areia, brita, etc.) e tem sido usado na fabricação de tanques há bastante tempo. Existe, até hoje, uma clara divisão entre os que preferem este material e os adeptos do aço inoxidável para os tanques de fermentação. O aço é conhecido por ser neutro e não alterar as características do mosto. O concreto precisa ser tratado para obter o mesmo grau isolamento, o mais conhecido é aplicar um revestimento com resina sintética (epóxi, poliuretano, etc.).
 
O tanque oval foi projetado para aproveitar uma característica particular do concreto, sua porosidade, que o aproxima das barricas de carvalho. Por que não tentar elaborar um vinho num único recipiente que possa fermentar e amadurecer o vinho?
 
Vinhos brancos seriam os candidatos perfeitos para este tipo de tanque, mas logo perceberam que poderia ser usado, incialmente, para a maturação dos tintos também. Alguns produtores já experimentam com a fermentação, com bons resultados.
 
Para permitir uma avaliação deste processo, estão relacionados, a seguir, alguns tópicos interessantes.
 
1 – Na construção destes tanques não pode ser usado nenhum material metálico e nem aditivos químicos. Somente areia, brita, água não clorada e cimento. Excetuam-se as portas de carga e descarga, feitas em aço inoxidável.
 
 
2 – Para garantir a neutralidade da parede interna, esta deve ser tratada com uma solução de ácido tartárico antes do 1º uso. Muitos produtores estão conseguindo este efeito através de uma vinificação inicial que será descartada: forma-se uma camada de tartarato, subproduto do processo, isolando o concreto.
 
3 – O isolamento térmico é outra característica que torna o ovo vantajoso. As paredes são muito espessas permitindo resistir tanto ao frio quanto ao calor. Isto diminui sensivelmente a necessidade de controles de temperatura. Entretanto, já existem fabricantes que oferecem este recurso opcionalmente.
 
 
4 – Existe, efetivamente, uma diferença de temperatura entre a base do tanque e o topo que em combinação com ausência de cantos morto, cria um fluxo líquido contínuo, o que é desejável.
 
5 – A porosidade do material permite uma efetiva micro-oxigenação nos mesmo moldes da obtida com a utilização de carvalho, sem a introdução de novos aromas e sabores.
 
6 – Permite a maturação dos tintos sobre suas borras, o fluxo contínuo do líquido elimina a necessidade da “bâtonnage” (agitação manual recolocando as borras em suspensão).
 
Nas conversas com enólogos e produtores que estão experimentando o “ovo” foi possível perceber que os resultados iniciais foram animadores, tanto para brancos como para tintos. Mas o caminho será longo, são novas variáveis para serem controladas. Mas este é o verdadeiro trabalho de um enólogo: inovar.

Dica da Semana:  para tirar conclusões.
 
Zorzal EGGO Blend 2012
 
Um vinho que é um luxo do enólogo: desde o inicio ele nunca revelou o que pretendia obter ou o que representaria. Puro zêlo, puro ego: um produto onde o vinificador empenhou sua alma, 100% vinificado no “ovo”. (Egg, em inglês significa ovo)
Este corte de 92% Malbec, 5% Cabernet Franc e 3% Cabernet Sauvignon possui grande característica mineral. Estagiou em grandes ovos de concreto, atingindo um potencial natural sem precedentes.
Com ótima estrutura e volume em boca, apresenta textura cremosa, taninos macios, acidez vibrante que proporciona frescor.
Conquistou 96 pontos no guia Descorchados e 94 pontos por Robert Parker

Mendoza 2014 – 3º dia

Nosso último dia em Mendoza seria mais curto, pois o voo de retorno à Buenos Aires era às 17:00. Parte do grupo voltaria no mesmo dia para o Rio de Janeiro enquanto minha esposa e eu, Lu e Gustavo esticaríamos um par de dias na capital da Argentina.
 
Seriam duas visitas somente. Na primeira, descobrimos o que é uma “vinícola ecológica”, a Bodega Dolium.
 
 
A foto mostra o que está sobre o solo, apenas o pequeno restaurante/sala de degustação e os escritórios. A parte de produção está enterrada cerca de 14m no subsolo.
 
Mostramos, na coluna anterior, algo parecido na Bodega Sin Fin, que colocou embaixo do solo as áreas de entretenimento, loja e degustação. Na Dolium isto foi invertido.
 
A ideia por trás deste curioso projeto é minimizar o consumo de eletricidade e diminuir emissões ou, no jargão dos ecologistas, reduzir a pegada de carbono (carbon footprint). Interessante notar que esta empresa não trabalha com cultivo orgânico ou biodinâmico nos vinhedos, apesar de serem opções dentro da mesma linha ecológica.
 
As fotos, a seguir, foram tiradas de um mesmo ponto mostrando o lado esquerdo e o direito: está é toda a área de produção. Fazia muito frio lá embaixo, mesmo a nossa guia, que é mendocina e estava bem agasalhada, não aguentou o frio neste ambiente.
 
Resumindo: custo zero para manter o processo em baixa temperatura. Os tanques são simples, não usam qualquer tipo de controle de temperatura. Emissões nulas. Neste aspecto é formidável!
 
 
Retornamos para a sala de degustação para uma experiência bem diferente do que nos fora oferecido até agora nas outras vinícolas: uma prova comparativa. Os vinhos seriam servidos aos pares para que pudéssemos perceber as diferentes nuances entre formas de elaboração, castas, vinhedos, etc.
 
 
A Dolium trabalha com algumas linhas de produtos que começam com a denominação Andes Peak, de viés ecológico, passa pela linha Clássica e termina com os Reserva e Gran Reserva. Nesta degustação experimentamos um rosé jovem e outro envelhecido em carvalho; dois Malbec de diferentes regiões, Lujan e Uco, além de um Tempranillo em confronto com um Cabernet Sauvignon. Ao final, dois vinhos top de linha foram servidos.
 
Toda esta ação foi comentada pelo nosso anfitrião que sempre se interessava pelas nossas escolhas. Diferente e esclarecedor.
 
 
A última visita do dia foi realmente um “Gran Finale”. Embora já conhecêssemos os vinhos da Domínio del Plata (Suzana Balbo), nem em sonhos poderíamos imaginar o que nos aguardava neste deliciosos almoço harmonizado no restaurante da vinícola, o “Osadia de Crear”. (faz jus ao nome…)
 
 
Vários aspectos nos chamaram a atenção: um ambiente elegante e acolhedor, a tradicional atenção com que somos recebidos nas vinícolas, a qualidade dos vinhos que seriam servidos e um cardápio cheio de alternativas entre o tradicional e o ousado. Cinco passos e cinco vinhos, com opções para os não carnívoros, o que gerou um interessante debate.  
 
 
A primeira etapa foi regada pelo sempre bom Chardonnay 2012 da linha Crios. Para harmonizar foi servido um Escabeche de Coelho sobre uma Foccacia de Azeitonas. Equilíbrio correto e delicioso.
 
 
O próximo prato foi uma releitura de tradições locais, a Molleja ou glândula Timo dos bovinos, muito apreciada nestas terras. A apresentação era diferente: empanada e colocada num espetinho, acompanhada de cebolas caramelizadas, purê de batatas e alguns verdes. O vinho era o Crios Red Blend 2012, um corte de Malbec, Bonarda, Syrah e Tannat. Um verdadeiro festival de sabores e aromas que preparou o palato para o próximo passo.
 
 
Como a estação era supostamente fria, o prato seguinte foi uma sopa de Sobreasada, um embutido de carne de porco levemente picante. Uma harmonização sempre difícil, mas o bom Ben Marco Malbec 2012 cumpriu com galhardia o seu papel.
 
 
Para a próxima etapa havia duas opções: com ou sem carne. Cada uma seria acompanhada por um vinho diferente.
 
Obviamente a grande maioria partiu para o bife de Aberdeen Angus (raça bovina com carne muito macia) acompanhada do típico creme de milho à moda Cuyana (humita). O vinho servido foi o Ben Marco Expresivo 2013, muito bom por sinal e que proporcionou excelente casamento com o prato.
 
 
Para os que estavam mais atentos e optaram pelo prato sem carne, uma ótima surpresa estava reservada. Entra em cena o que muitos consideram como o vinho top da casa, o Susana Balbo Brioso 2012, pouco divulgado no nosso país por ter uma produção limitada.
 
Acompanhando este magnifico vinho, foi servido um elaborado Gnocchi feito com as borras do Brioso, com um pesto vermelho, cogumelos refogados e queijo defumado.
 
Supimpa! Não poderia ser melhor. Perfeito! (O mais complicado foi desviar os garfos e bocas alheias ao meu prato e vinho!)
 
 
Para terminar, foi servida a interpretação da casa sobre o que deve ser a dobradinha “doce com queijo”, harmonizada com um Susana Balbo Late Harvest Malbec 2011.  
 
 
Equilíbrio inacreditável, todos gostariam de repetir, mas era hora de partir. Ainda passaríamos por algumas peripécias no aeroporto, todas resolvidas a tempo.
 
Na próxima coluna comentaremos sobre Buenos Aires e alguns episódios curiosos que não se encaixaram neste relato dos 3 dias.
 
 
O grupo, da esquerda para a direita: María José, nossa Guia, Diretora da Divinos Rojos (www.divinosrojos.com.ar) e organizadora das visitas; eu, minha esposa; Gustavo e Lu; Lobianco; Fabio; Marcio e Ronald.
 
Dica da Semana:  como o Brioso já foi sugerido numa dica mais antiga, indicamos outro bom vinho desta vinícola.
 

Ben Marco Expresivo

 
Corte de 55% Malbec, 15% Bonarda, 10% Cabernet Sauvignon, 10% Syrah e 10% Merlot, oriundos de vinhedos em Agrelo, Chacras de Coria (Luján de Cuyo), Los Arboles (Tupungato) e La consulta (San Carlos) com idade média de 36 anos em pés francos.
Apresenta aromas de groselhas, carvalho e baunilha com notas defumadas de cacau, noz-moscada e chocolate. Taninos elegantes.
Acompanha carnes, queijos fortes e molhos intensos.
Tempo de guarda de 10 a 15 anos
 
 
 

Defeitos comuns no vinho

Por ser um produto em constante evolução, o vinho pode ser atacado por diversos males que acabam por destruir suas boas qualidades. Um bom enófilo certamente já encontrou defeitos ao abrir uma estimada garrafa. Quase sempre o destino é o lixo.
Alguns defeitos têm origem no próprio manuseio (inadequado) da uva, outros na fase de elaboração ou mesmo durante o armazenamento. Vamos descrever os mais comuns.
 
1 – Vinho “bouchonné” ou com cheiro de rolha
 
Muito fácil de ser reconhecido até por enófilos principiantes, pode ser descrito como um aroma de papelão úmido ou como preferem alguns críticos de língua ferina “cheiro de cachorro molhado”. Isto decorre da presença de TCA ou Tricloroanisol. Este composto ataca as rolhas e as barricas de envelhecimento produzindo o desagradável odor.
 
Nada a fazer se encontramos uma garrafa contaminada: jogue pelo ralo da pia. Nem para cozinhar serve…
 
2 – Vinho avinagrado
 
Sabemos que a palavra vinagre deriva da expressão francesa “vinaigre” que significa vinho agre ou azedo. Um vinho avinagrado foi contaminado pela bactéria “mycoderma aceti” conhecida como “vinagre mãe”. Isto decorre por baixa higiene na cantina ou por guarda incorreta associada à rolhas de baixa qualidade: nem todo o vinho serve para ser guardado.
 
Assim como no caso anterior, descarte…
 
3 – Aroma de “ovos podres” e similares
 
Este defeito denominado “redução” tem origem na presença acentuada de compostos à base de enxofre (mercaptanos), muitos deles usados como conservantes. Alguns autores descrevem este aroma como fósforo ou borracha queimada. A origem pode estar ligada ao excesso de sulfeto de hidrogênio usado na preservação do vinho ou por más condições de higiene durante a trasfega do vinho entre as diferentes fases de elaboração.
 
Segundo alguns especialistas, seria possível recuperar um vinho neste estado fazendo uma prolongada decantação em contato com uma ou duas moedas de cobre até que o aroma desapareça. Há um risco…
 
4 – Vinho oxidado
 
Este defeito pode ser descrito como o oposto do anterior. Em lugar do olfato, vamos precisar da nossa visão para identificar o problema: uma coloração quase laranja, sem brilho. Líquido velado. Em certos casos cheira a mofo ou coisa velha.
 
Isto é resultado de uma guarda excessivamente prolongada onde a rolha ressecou e houve uma indesejada entrada de ar na garrafa. O vinho morreu.
 
Curiosamente há quem consiga apreciar vinhos assim. Experts sugerem que se a gravidade não for intensa que se experimente um pequeno gole. Quem sabe não se descobre novas emoções.
 
Na maioria dos casos, lixo!
 
 
5 – Aromas de estrebaria
 
Este defeito decorre da presença de uma levedura natural, bem comum nas vinícolas a Brettanomyces. Há quem a classifique como uma super-levedura e a utilize na fermentação alcoólica. Mas qualquer descuido pode estragar tudo. Em condições normais as leveduras selecionadas na elaboração de vinhos conseguem neutralizar este defeito sem muitos problemas. Um rígido controle da fase de fermentação e boa higiene da cantina são suficientes.
 
Se o aroma não for dos mais intensos a vinho pode ser consumido. Caso contrário, descarte.
 
6 – Outros defeitos menos comuns
 
Embora raros, podem aparecer diversos outros aromas ou sabores que listamos a seguir. Vinhos com estes defeitos são candidatos a não serem consumidos:
 
– sabor de água de piscina ou alvejantes decorrente de excesso de alcalinidade;
 
– aromas e sabores de “remédio” ou “fármacos”. Ocorre em vinhos cujas uvas estavam atacadas pela podridão produzida pela “botrytis cinérea” ou que tenham sido adulterados;
 
– sabores metálicos decorrente do contato com alguns metais que não deveriam estar presentes na fase de elaboração.
 
7 – Vinho sem aroma ou sabor
 
Comumente denominado de vinho fechado ou chato. Em geral é um vinho ainda muito jovem ou que foi transportado em condições muito rudes: está em choque.
 
Dê uma chance a ele e o esqueça no decantador por um par de dias. Se não resolver, descarte.
 

Dica da Semana:  este não tem defeitos!
 
Chakana Malbec Reserva 2011
 
Produtor: Bodegas Chakana, Mendoza, Argentina
Púrpura intenso com reflexos violáceos.
No nariz, revela notas de frutas secas como ameixa adornadas por notas de especiarias exóticas e toques de chocolate.
Na boca, apresenta ótima concentração de frutas e taninos bem equilibrados.
Acompanha churrasco, carnes assadas e defumadas, pratos condimentados e queijos maduros.
 

Comprando um vinho desconhecido

 Esta é uma situação típica: entramos numa loja de vinhos ou num supermercado e nos deparamos com rótulos desconhecidos. Qual devemos comprar?
 
 
Para responder esta pergunta precisamos nos fixar em alguns pontos muito importantes e que envolve um pouco de disciplina e autoconhecimento. Vamos explorar estes aspectos embarcando numa interessante aventura.
 
1 – Explicando a estrutura de um vinho.
 
Parece complicado, mas não é. Podemos resumir em 4 aspectos: Fruta, Acidez, Madeira e Tânino.
 
Fruta ou Vinho Frutado são aqueles em que predominam os aromas e sabores das frutas. Bebidas mais suaves que enganam o nosso paladar parecendo quase adocicadas.
 
Acidez é quase o oposto, são os vinhos transmitem uma sensação de aspereza, sem ser desagradável, percebida na lateral e no fundo da nossa língua. Nos fazem salivar. Típico dos brancos.
 
Madeira ou Vinho Madeirado são os que foram elaborados e ou amadurecidos em contato com Carvalho. Apresentam aromas bem característicos como baunilha, manteiga e tostado. Mais comum entre os tintos, mas há excelentes brancos com algumas destas características.
 
Tânicos são os vinhos que tem um característico amargor percebido no céu da boca (enrugamento) ou nas gengivas. Uma exclusividade dos tintos por serem elaborados com suas casacas.
 
A compreensão e identificação destes 4 tipos são um conhecimento básico para definir o que cada um de nós aprecia mais na sua bebida favorita. Isto nos leva ao próximo passo.
 
2 – Descobrindo o nosso “estilo de paladar”.
 
Lá no início destas coluninhas, na fase que muitos leitores apelidaram de “curso”, sugerimos que fossem feitas anotações relativas aos que estávamos consumindo. Desta forma elas poderiam ser úteis mais tarde. Vamos nos valer deste recurso acrescentado uma pequena tabela que irá relacionar, na experiência gustativa de cada um, os 4 pontos descritos acima em um vinho qualquer. Não precisa ser nada muito elaborado. Abaixo um exemplo que serve perfeitamente: (atribua notas de 1 a 10 para intensidade de cada item)
 
Nome: “Château do Tuty”
Casta: Cabernet Sauvignon (se for um corte anote a casta predominante)
Fruta – 6
Acidez – 4
Madeira – 5
Tanino – 7
 
Experimente diferentes vinhos e castas, brancos e tintos sem se preocupar com uma avaliação global do tipo bom/ruim ou gosto/não gosto. O importante é associar o paladar de cada um com os descritores sugeridos. Com algum tempo será possível perceber uma tendência, que será pessoal. Tente apenas lembrar se foi uma boa experiência ou não. Exemplo: as notas mais frequentes podem sugerir, para um apreciador de vinhos tintos, que o ideal seria tanino e madeira médios, predominância de fruta e baixa acidez.
 
3 – Entendendo o jargão do vinho.
 
Este passo vai nos ajudar a decifrar o que está escrito nos contra-rótulos ou em eventuais etiquetas de avaliação que costumam acompanhar as garrafas nas lojas especializadas.
 
Quase sempre os descritores utilizados estão associados a sabores ou aromas. Por exemplo: cítrico; achocolatado; etc..
 
Algumas são simples e diretas, mas o que falar de “terroso”, “mineral” ou “tabaco”? O melhor é pesquisar em livros ou na Internet as melhores explicações para estes termos. Uma boa conversa com alguém que seja mais experiente no tema, acompanhado de uma boa garrafa que produza a explicação desejada é a melhor lição.
 
4 – Usando os críticos a nosso favor.
 
Tornamos a repetir os nomes mais conhecidos: Robert Parker, Wine Spectator, Wine Enthusiast ou os nacionais Descorchados, Adega e Jorge Lucki que escreve no jornal Valor Econômico, em nossa opinião, o melhor crítico brasileiro.
 
Com poucas exceções, empregam um sistema de 100 pontos para classificar os vinhos que analisam. Se o seu crítico preferido adota outro sistema basta uma aritmética simples para fazer a correlação.
 
Tudo que precisamos saber para escolher um bom vinho é que uma nota de 85 pontos representa uma faixa que engloba 15% dos melhores vinhos.
 
Com grande certeza, a maioria dos produtos encontrados numa loja especializada está abaixo desta faixa. Obviamente há uma relação direta entre preço e nota atribuída: quanto maior, mais caro.
 
5 – Escolhendo um vinho desconhecido.
 
Munidos de todas estas informações podemos partir para a última parte de nossa aventura. Escolham a loja e busquem pelos vinhos com esta nota base de 85 pontos.
 
Leiam os rótulos detalhadamente procurando por descrições como “taninos aveludados, boa fruta, envelhecido em Carvalho”, etc.. Usando nossas anotações, podemos filtrar corretamente o que nos interessa e fazer uma boa compra.
 
6 – Um Bônus.
 
Persistência é tudo que precisamos para dominar esta arte da boa compra. Mas há uma grande vantagem: podemos utilizar estas novas habilidades para presentear alguém que gostamos.
Já pensaram nisto?
 
Dica da Semana:  um francês, para variar…
 
 
Auguste Bessac Côtes du Rhône 2010
 
Côtes du Rhône é o vinho mais vendido da região sul do Vale do Rhône, um tinto de bom corpo, aromas de amora, framboesa, cassis e notas de especiarias.
Em boca é equilibrado e saboroso, possui taninos maduros e final duradouro.
Harmonização: Bife ancho, carne de panela com batatas, medalhão de alcatra, massas ao molho carbonara e cassoulet.
 
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