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Os melhores Vinhos de 2015 – Uruguai

Vinhos uruguaios sempre foram muito bons. Existe uma grande tradição vinícola naquele país e, nos moldes de Argentina e Chile, também cultivam uma uva emblemática, a difícil Tannat, que parece ter encontrado seu terroir ideal.
 
Apesar de só estarmos falando de vinhos tintos nestas três ultima colunas, chamo a atenção para os vinhos brancos uruguaios que andam conquistando os paladares mais exigentes mundo afora. Algumas cepas nada comuns no hemisfério sul como a italiana Arneis, a ibérica Alvarinho, as francesas Marsanne, Petit Manseng e Sauvignon Gris, além da alemã Gewurtztraminer, têm produzidos vinhos muito interessantes.
 
Seguindo no estilo das colunas anteriores, apresentamos os melhores vinhos começando pela Tannat, que tem o seu melhor terroir bem na fronteira com o Brasil. Do lado de cá é a conhecida região da Campanha Gaúcha, terra de alguns de nossos melhores tintos.
 
17 vinhos foram laureados, eis os 3 melhores:
 
95 pts – Amat 2009 (R$ 245,00 – eleito o melhor tinto do Uruguai, título que conquista há alguns anos);
 
94 pts – Massimo Deicas Tannat 2008 (indisponível);
 
94 pts – Jano Tannat 2012 (R$ 173,00)
 
As tradicionais Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc também fazem sucesso, mas foram as assemblages que obtiveram as melhores pontuações:
 
94 pts – Libero Reserva 2011 – Tannat, Nero D’Avola e Sangiovese (R$ 70,00);
 
94 pts – Eolo 2010 – Tannat, Ruby Cabernet (R$ 85,00);
 
94 pts – Primo 2008 – Tannat, Cab. Sauvignon, P. Verdot, Merlot (indisponível)
 
O Brasil voltou ao Guia Descorchados nesta edição, mas só com espumantes e apenas os do Rio Grande do Sul. Destacaram-se entre os 18 melhores:
 
93 pts – Cave Geisse Terroir Nature 2009 (R$ 130,00);
 
92 pts – Adolfo Lona Pas Dose Nature (R$ 80,00)
 
92 pts – Casa Valduga Gran Reserva Nature 2009 (R$ 120,00)
 
Na dica de semana selecionamos mais um bom vinho do Uruguai.
 
Vinhos Verdes no Rio de Janeiro
 
No dia 2 de julho de 2015 a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes promoveu, no Hotel Pestana – Rio de Janeiro, um evento de apresentação de produtores desta região que buscam representação no Brasil.
Atualmente os Vinhos Verdes são modernos, pouco tendo em comum com alguns tradicionais produtos que ainda encontramos à venda nos mercados. Um vinho que tem características adequadas para ser consumido no nosso clima tropical: são leves, refrescantes, descontraídos e de baixa caloria com um teor alcoólico ligeiramente menor que o encontrado em outros vinhos.
 
 
Oito vinícolas estavam presentes com uma gama de produtos que incluíam brancos, tintos, rosés, espumantes e até um IG Minho de Touriga Nacional, único “não verde” neste evento:
 
Adega Ponte de Lima;
 
Adega Vale de Cambra;
 
Casa das Fontes;
 
Caves Campelo;
 
Quinta da Calçada – Adega do Salvador;
 
SAVAM – Solar de Serrade;
 
VERDECOOPE – União das Adegas Coop. da Região dos Vinhos Verdes;
Vinhos do Norte.
 
A variedade e a qualidade impressionaram. Destaque para alguns espumantes, entre eles o Terras de Felgueiras tinto, bem diferente.
As nossas escolhas ficaram com estes aqui:
 
 
Via Latina Alvarinho;
 
Tapada dos Monges Loureiro;
 
Solar de Serrade Reserva Alvarinho;
 
Dica da Semana: direto da relação “Super-Preço” do Descorchados. Recebeu 92 pts e tem um precinho muito camarada.
 
 
Viñedo de Los Vientos Tannat 2012
Apresenta cor rubi escuro.
No olfato percebem-se frutas negras maduras, notas de cacau e pimenta do reino.
Bem estruturado, taninos firmes, fresco, equilibrado, final persistente.
Harmoniza com: costela bovina no bafo, penne à carbonara, rabada, carne ensopada com polenta mole, lasanha à bolonhesa gratinada, pizza portuguesa.
 
 
 

A safra do vinho é relevante?

Tabela das safras já foi um brinde muito desejado pelos enófilos. Ganhar uma era quase um rito de passagem. Saber manuseá-la e comprar seus vinhos de acordo com as indicações significava que você era alguém no mundo dos vinhos. Naquele tempo havia poucas importadoras, o nosso vinho não era significativo e nem éramos bombardeados com esta enxurrada de informações como livros, periódicos além da Internet, com o “Tio Guga” sempre pronto a resolver nossas dúvidas.
 
A safra num rótulo de uma garrafa de vinho indica o ano da colheita das uvas para a elaboração do vinho. Até onde a história nos conta, os registros mais antigos foram encontrados em ânforas de vinho do Egito, marcadas com hieróglifos indicando o vinhateiro e o ano de produção. Desde então a safra tem sido um dos fatores que dividem os especialistas avaliando, esta ou aquela, como a melhor de uma determinada região, quase sempre assunto para grandes discussões.
 
Em Bordeaux o respeito à safra é quase uma religião!

Realidade ou não, a almejada tabelinha deixou de ser importante, a tal ponto, que foi declarada morta pelo jornalista Frank Prial do New York Times:

“Raramente um ano se passa sem que tenha sido produzido um bom vinho… os vinhateiros do mundo tornaram a Tabela de Safras obsoleta”.

Esta declaração provocou um interessante estudo conduzido pelo professor Roman Weil, da Universidade de Chicago, cujo objetivo era provar ou refutar a ideia proposta por Prial. Uma cuidadosa seleção de vinhos foi organizada, buscando-se pares de garrafas de um mesmo produtor, safras diferentes, dentro de uma faixa de preços acessível, cujas avaliações por Robert Parker tenham variado de boa até excelente. Os degustadores, alunos de pós-graduação da Universidade e enófilos experimentados, deveriam provar, às cegas, trios de amostras e definir dois pontos:

– se havia significantes diferenças entre as amostras provadas;

– qual amostra mais lhe agradava.

O resultado final comprovou a tese de Prial: “mais fácil seria escolher um vinho usando uma moeda (cara ou coroa)”. Ficou cientificamente comprovado que não há diferenças significativas entre as safras.

Uma curiosa exceção foram os vinhos de Bordeaux: era mais fácil identificar as safras, entretanto o gosto ou predileção por um ano indicado como melhor não se confirmava.

Resultado prático: a menos que você seja um colecionador de vinhos mais preocupado em mostrar o seu poder de compra organizando degustações verticais do seu caldo predileto, esqueça a safra e compre o vinho que lhe agradar dentro de suas possibilidades.

Para degustá-lo corretamente lembre-se destas simples recomendações:

– abra o vinho algum tempo antes de servi-lo;

– se preferir use um decantador ou aerador;

– olho na temperatura, nada de extremos;

– deixe o líquido respirar no copo por alguns momentos antes de degustá-lo. 

Aproveite para apreciar os aromas e treinar os seus sentidos;

– habitue-se a girar a taça suavemente para liberar aromas e sabores;

– acompanhe com alimentos que contrastem com taninos, acidez, corpo, etc.

Saúde!

Dica da Semana:  um excelente alvarinho, provado recentemente no evento Caravana dos Vinhos do Tejo.

 
Casal do Conde Branco – Alvarinho
 
Cor cítrica, aroma frutado ligeiramente limonado, conjugado com notas cítricas. No paladar é um vinho equilibrado com boa complexidade e com final longo e acídulo.
 
 
 
Neste link, uma Tabela de Safras de 2014:
 

Recapitulando sobre os tipos de vinhos

Chamou a nossa atenção uma dúvida comum de alguns leitores sobre a diferença entre Vinho do Porto e Vinho do Douro.
 
Embora este blog sobre vinhos nunca tenha pretendido ser um curso, foi necessário nas primeiras publicações estabelecer uma linguagem comum entre autor e leitores, razão pela qual alguns textos foram considerados como didáticos. Em várias oportunidades mencionamos os diferentes tipos de vinhos que existem no mercado, inclusive os dois que motivaram a dúvida.
 
Faço um convite a todos os leitores que releiam alguns dos meus textos sobre este tema, que foram publicados em 2001. Para ajudar, aqui estão alguns links:
– Espumantes, Brancos, Rosés, Tintos, Doces e Fortificados;
 
 
– Vinhos Fortificados – 1ª parte (a continuação desta série fala do Jerez e do Madeira);
 
Mais recentemente, nas colunas sobre a viagem por Espanha e Portugal, novos conhecimentos podem ser adquiridos.
 
Para a turma que prefere as respostas diretas:
 
Vinhos do Porto são elaborados adicionando-se, durante a fase de fermentação, uma quantidade de aguardente neutra para interromper o processo. Como nem todo o açúcar é convertido em álcool, o produto final tem sabor adocicado e muito agradável, apesar ao alto teor alcoólico. Este processo é a “fortificação”;
 
Vinhos do Douro são os vinhos, não fortificados, produzidos nesta região vinhateira com as castas típicas de Portugal. Todo Vinho do Porto é, em tese, um “Vinho do Douro”, pois somente lá podem ser elaborados. Mas, dentro desta lógica, nem todo Vinho do Douro seria um Porto.
 
No intuito de não deixar mais nenhuma dúvida sobre este tema, apresento, a seguir, uma extensa relação de tipos de vinhos que são produzidos atualmente. Não pretende ser completa, serão citados, apenas, os produtos mais conhecidos.
 
TIPOS DE VINHOS
 
A primeira grande divisão é quase intuitiva: Espumantes; Brancos; Rosés; Tintos e Vinhos de Sobremesa (doces, fortificados, etc.).
 
1 – ESPUMANTES
 
Podem ser vinificados em Branco, Rosé ou Tinto.
 
Denominações habituais:
 
Champagne – tradicional corte de Chardonnay e Pinot Noir, produzido unicamente nesta região demarcada, utilizando o método Tradicional. Somente estes vinhos podem usar a denominação Champagne.
 
Vin Mousseux – literalmente significa “vinho efervescente”. Logo, o Champagne é um vin mousseux, mas nem todo vin mousseux é um Champagne. Existem outros espumantes franceses que são comercializados com denominações diferentes:
 
    Cremant – produzido no Loire, na Borgonha e na Alsácia;
    Blanquet – elaborado na região de Limoux.  

Cava – típico da Espanha, vinificado com uvas locais como Macabeu, Parellada e Xarel-lo.

 
Prosecco – espumante italiano com denominação protegida. Obrigatoriamente elaborado com a casta Glera, antiga Prosecco, proveniente da região do Veneto (Conegliano, Valdobbiadene).
 
Asti – espumante italiano produzido com a casta Moscato. O mais famoso é o Moscato D’Asti, da região de Monferrato.
 
Lambrusco – vinho frisante italiano produzido a partir das seis variedades da casta Lambrusco, conhecidas como Grasparossa, Maestri, Marani, Montericco, Salamino, e Sorbara. Os mais famosos são os da região da Lombardia (Emilia Romana).
 
Brachetto d’Acqui – espumante tinto e adocicado elaborado na região do Piemonte. Similar ao Lambrusco.
 
Sekt – nome alemão para vinho espumante. Geralmente produzido com Riesling, Pinot blanc, Pinot gris e Pinot noir.
 
Quanto ao teor de açúcar variam de Brut (seco) até Doux (doce)
 
2 – VINHOS BRANCOS
 
As castas mais conhecidas são:
 
Albariño ou Alvarinho
Moscato ou Muscat (*)
Antão Vaz
Pinot Blanc
Assyrtiko
Pinot Gris ou Pinot Grigio
Chardonnay
Riesling
Chenin Blanc
Sauvignon Blanc
Fiano
Semillon
Furmint
Sylvaner
Greco di Tufo
Torrontés
Grüner Veltliner
Verdejo
Malvasia
Viognier

(*) mais de 200 variedades 

Muitas vezes vamos encontrar vinhos brancos que recebem a denominação das regiões onde são produzidos.

Exemplos:
 
Sancerre e Pouilly-Fumé, produzidos com Sauvignon Blanc;
Chablis e Montrachet, obtidos com a casta Chardonnay;
Vouvray, elaborado com Chenin Blanc.
 
VINHOS BRANCOS DOCES: praticamente as mesmas castas produzem algum vinho adocicado.
 
As denominações mais conhecidas são:
 
Sauternes (Semillon, Sauvignon Blanc, e Muscadelle);
Tokaji (Furmint, Hárslevelu);
Gewurztraminer;
Riesling com predicados (Kabinet, Spatlese, Auslese, etc.);
Orvieto Abboccato;
Ice Wines (Eiswein);
Muller-Thurgau;
“Late Harvest” ou “Colheita Tardia”.
 
3 – VINHOS ROSÉS 

As mesmas castas usadas para produzir vinhos tintos podem produzir vinhos rosados. Os mais apreciados são:

 
Cabernet Sauvignon Rosé
Cabernet Franc Rosé
Grenache Rosé (Garnacha)
Pinot Noir Rosé
Syrah Rose
Sangiovese Rose
As denominações mais comuns são:
 
Provence Rosé
Loire Rosé
Bandol Rosé
Rose D’Anjou
Exceções:
 
White Zinfandel, White Merlot, Vin Gris e Blush Wine – são rosados.
 
4 – VINHOS TINTOS
 
As castas mais conhecidas são:
 
Aglianico
Mourvédre
Barbera
Nebbiolo
Cabernet Franc
Nero d’Avola
Cabernet Sauvignon
Petit Syrah
Carménère
Petit Verdot
Dolcetto
Pinot Noir
Gamay
Pinotage
Grenache ou Garnacha
Sangiovese
Cannonau
Syrah ou Shiraz
Malbec
Tannat
Mencia
Tempranillo
Merlot
Touriga Nacional
Montepulciano d’Abruzzo
Zinfandel ou Primitivo
Muitas vezes vamos encontrar vinhos tintos que recebem a denominação das regiões onde são produzidos.
 
Exemplos:
 
Bordeaux – corte com as varietais clássicas de lá: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, entre outras;
Borgonha – sempre Pinot Noir;
Beaujolais – sempre Gamay;
Chianti, Brunello di Montalcino, Vino Nobile di Montepulciano – diferentes vinhos elaborados a partir da casta Sangiovese ou seus clones;
Barolo, Barbaresco – diferentes vinhos elaborados com a casta Nebbiolo;
Châteauneuf du Pape – corte de até 13 varietais típicas do Vale do Ródano, podendo incluir uvas brancas;
Amarone – corte elaborado com base nas seguintes castas: Corvina, Rondinella e Molinara (pode haver outras), previamente passificadas;
Super Toscanos – vinhos elaborados com a uva Sangiovese cortada com uma casta europeia: Cabernet Sauvignon, Merlot, etc..
 
Alguns raros vinhos tintos doces:
 
Ochio di Pernice; Recioto della Valpolicella; Freisa
 
5 – VINHOS DE SOBREMESA (fortificados)
 
A) FORTIFICADOS TINTOS – vinhos que receberam em algum momento do seu processo de elaboração uma quantidade de aguardente neutra.
 
Porto – é uma denominação protegida. Só pode ser elaborado na região vinícola do Rio Douro com castas específicas.
Banyuls – denominação protegida francesa da região de Roussilon
Maury – denominação específica da cidade homônima
Rasteau – denominação protegida do vale do rio Ródano
 
B) FORTIFICADOS BRANCOS
 
Porto Branco – é seco se comparado ao Tinto
Muscat – os mais famosos são os de Frontignan, Beaumes de Venise e Rivesaltes
 
C) FORTIFICADOS E OXIDADOS – além da adição de aguardente são submetidos a processos como altas temperaturas ou Solera para que fiquem com sabor especial.
 
Jerez ou Sherry
Madeira
Marsala
Moscatel de Setúbal
Vin Santo (este não é fortificado)
Dúvidas ainda?
 
Dica da Semana:  nesta época de altos impostos, nada melhor que uma boa relação custo x benefício.

Guatambu Luar Do Pampa Chardonnay
Coloração esverdeada palha com tons platinados.
Aromas de chá verde, notas frutadas, como abacaxi e melão maduros, sobre um final de flores brancas.
Ao paladar, apresenta-se macio, untuoso, frutado e elegante, com acidez pronunciada, que nos brinda um vinho com intensa fruta, como melão e pera, aliado a um grande frescor.
Perfeito para acompanhar frutos do mar, saladas, bruschettas, queijos de pasta branda e frangos.

Viagem Enogastronômica à Espanha e Portugal – final

Nosso próximo destino nessa jornada era a cidade do Porto, na foz do Rio Douro junto ao Oceano Atlântico. Logo após o café da manhã fizemos o check out e pegamos a bonita estrada que margeia o rio até lá. Um belo passeio, com rápidas paradas para observar a paisagem e as eclusas que permitem a navegação dos grandes barcos de turismo.
 
 
Chegamos ao nosso destino perto da hora do almoço. Após o check in no hotel fomos para o Restaurante Cafeína, onde tivemos uma nada agradável surpresa. Reparem no 1º prato a seguir:
 
 
Óbvio que houve uma saraivada de anedotas. A garçonete afirmou que o dono do restaurante estava arrependido de ter usado este nome, mas o prato era muito saboroso…
 
Para acompanhar os nossos pedidos, todos baseados em peixes ou frutos do mar, escolhemos um delicioso vinho verde, o Soalheiro Alvarinho 2008, que no balanço final de todos os vinhos provados, foi considerado o melhor deles.

 

 
Um verdadeiro clássico, grande frescor, intensidade aromática, boa mineralidade e acidez correta. Perfeita harmonização com os nossos pratos.
 
No dia seguinte seguimos para o último compromisso agendado com uma produtora de vinhos, visitar às caves da Taylor’s, uma das mais respeitadas marcas de Vinho do Porto, seguido de um almoço no seu restaurante, Barão de Fladgate, muito bem localizado e com uma bela vista.
 
Atravessamos a pé a ponte que une as cidades do Porto e Vila Nova de Gaia, onde estão estas famosas “caves”. Lá se respira Vinho do Porto que, a bem da verdade, deveria ser chamado de “Vinho de Vila Nova de Gaia”, o que acaba sendo quase uma piada: muitos afirmam que denominação “Porto” só vingou por ser um nome mais comercial…
 
As fotos falam por si: frota de barcos “Rabelo” que eram usados para transportar, originalmente, o vinho desde o Alto Douro; o cais de Vila Nova com placas indicativas de todas as marcas que existem por ali; degustação gratuita de quatro Portos simplesmente por termos passeado no teleférico.
 
 
A visita é quase uma volta ao passado. Nada é produzido nestes galpões, apenas é um lugar onde o vinho repousa até a hora de ser comercializado. Fomos recebidos na sala de degustação e após uma breve exposição sobre a história desta marca, seguimos para visitar as instalações.
 
 
Nas duas últimas fotos acima destaco, na esquerda, o maior “balseiro” conhecido de Vinho do Porto e na direita a etiqueta de preenchimento de um barril datada de 31/10/2014, véspera de nossa visita. Retornamos à sala de degustação para provar três Portos: Chip Dry, branco extra-seco, Late Bottled Vintage (LBV) e Tawny 10 anos, todos deliciosos.
 
O elegante restaurante fica dentro deste conjunto de prédios e homenageia o fundador da marca, o Barão Fladgate. Nossa mesa, em posição privilegiada, permitia apreciar uma bela vista de Vila Nova e do Porto.
 
 
O extenso cardápio tem ênfase nos saborosos frutos do mar e pratos regionais.
 
 
Para iniciar, abrimos um vinho verde rosé, o Casa do Valle. Honestamente, não correspondeu às nossas expectativas, valeu mais pela curiosidade. O próximo vinho, o Beyra Quartz foi uma escolha mais acertada.
 
 
Um bom branco vinificado pelo enólogo Rui Madeira a partir das castas Síria e Fonte Cal de parreiras com mais de 80 anos. Recebeu nota 16.5/20 do Guia de Vinhos de Portugal. Estupenda refeição!
 
Na manhã seguinte partimos numa preguiçosa viagem até Lisboa, passando por Óbidos e Sintra, onde almoçamos no restaurante típico Curral dos Caprinos. Na capital, fizemos os tradicionais passeios turísticos, com um importante destaque: uma das mais conhecidas lojas de vinhos, a Garrafeira Nacional, afinal, ainda havia espaço nas nossas malas.

 

 
Agradecimentos
 
Esta viagem teve como cúmplices diversos amigos que vivem em Portugal. Foram inúmeras sugestões, infelizmente não houve tempo suficiente para experimentar tudo.
 
Começo pelo meu amigo Maurício Gouveia, de Mirandela, que nos presenteou com garrafas de um excelente vinho, o Tejoneras, que ele representa no Brasil (http://emporiogouveia.com.br/). Foi o nosso guia até Vila Real indicando o excelente restaurante Cais da Villa. (http://www.caisdavilla.com/)
 
O leitor Laureano Santos, de Oeiras, foi outro importante colaborador. Lamento não ter conseguido encontrá-lo, mas conversamos longamente, por telefone, além de trocamos várias mensagens durante a viagem. Teve a paciência de ler os meus roteiros e fazer as correções e ajustes necessários. Por sugestão dele, provamos um vinho da sua região, Conde de Oeiras Vinho de Carcavelos. Qual não foi a nossa surpresa ao descobrir que ele havia participado da colheita da safra degustada?
 
Outra peça importante foi o Duda Zagari que organizou a visita e almoço na Taylor’s bem como sugeriu o passeio de barco até a Quinta do Crasto. Duda mantem uma das mais badaladas lojas de vinho do Rio de Janeiro, a Confraria Carioca (http://www.confrariacarioca.com.br/empresa.php).
 
Por último um agradecimento todo especial ao casal Maria João e José, ela uma amiga de mais de 40 anos que morou aqui no Rio e me cobrava esta visita há um longo tempo. Promessa cumprida! Preparou um saboroso jantar em sua casa, com um belo tinto, Casal da Coelheira Reserva, e um final delicioso com uma visita a uma fábrica dos famosos Pastéis de Nata, quentinhos, saídos do forno por volta das 22h. Só usando um adjetivo incomum: supimpa! Trouxe alguns destes doces para o Rio…
 
A todos vocês, amigos, leitores e associados desta coluna, desejo um feliz natal e um ótimo 2015.

Até lá!

Dica da Semana:  ainda é tempo de comprar um bom espumante para a festa de fim de ano, desta vez, produto nacional.

 
Domno Ponto Nero Brut Rosé
Cor rosada com reflexos brilhantes, perlage de borbulhas finas, delicadas e persistentes.
Aroma fino e delicado com notas de frutas vermelhas como morango e framboesa com toques de especiarias doces. Extremamente equilibrado, de sensação aveludada e boa maciez e cremosidade.
Harmonização: Saladas, pratos frios, peixes, camarão, massas com molhos pouco condimentados e sobremesas não muito doces, a base de frutas vermelhas

Viagem Enogastronômica à Espanha e Portugal – IV

Nosso último dia no Alto Douro tinha uma programação extensa. Logo pela manhã visitar a Quinta das Carvalhas. Após o almoço, nos deslocaríamos até Santa Marta do Penaguião para conhecer a Quinta das Gaivosas.
 
O agendamento destes passeios começou a ser feito com grande antecedência. Alguns amigos que residem em Portugal ofereceram as sugestões e fomos tentando conseguir que nos recebessem. Algumas quintas têm estrutura de enoturismo e nos aceitaram de braços abertos. Outras nos acolheram devido ao conhecimento de nosso trabalho e através de contatos pessoais em eventos de degustação. Poucas foram as que nem se dignaram a responder nossa solicitação.
 
A Quinta das Carvalhas é uma espécie de símbolo do Alto Douro e a joia da coroa da Real Companhia Velha, sua proprietária. Qualquer cartão postal de lá vai mostrar imagens de sua principal colina, com a Casa Redonda no cume, o ponto mais alto da região com vista de 360º.
Na troca de mensagens, ficou acertado que faríamos uma visita “vintage”, assim descrita pelo signatário, Álvaro Martinho:
 
“Esta visita teria uma duração variável de 1h30 a 2 horas. É uma visita acompanhada onde terá uma explicação detalhada de todo o cenário vitícola: vinha, plantas, o clima, as castas, a história e a vida das pessoas!!! No final poderá desfrutar de uma prova com 3 vinhos (2 douro DOC e um Porto). O custo associado a esta visita é de 20€ pax. Poderemos considerar esta visita… uma experiência no Douro!!! Recomendamos”.
 
Interessante notar que, com base em nosso conhecimento de outras viagens similares, formamos uma imagem do que poderia acontecer nesta visita, inclusive de quem seria o Sr. Álvaro que gentilmente respondia nossas mensagens, inclusive com outras sugestões de passeios e almoços. Não podíamos estar mais enganados, o que foi ótimo.
 
No dia e horário agendado embarcamos no veículo da Quinta para nos transportarem até lá, um percurso que poderia ser feito a pé, bastando atravessar a ponte sobre o Rio Douro, coisa de 3 ou 4 minutos, em frente ao nosso hotel. Conhecemos o nosso anfitrião, Álvaro, que se revelou um verdadeiro “one man show” (fomos descobrindo estas facetas ao longo do passeio): Guia de Turismo; Engenheiro Agrônomo; Paisagista; Gestor da Quinta responsável por toda a viticultura (120 ha); proprietário de uma vinícola na Cumieira de Santa Marta do Penaguião e Músico, com uma banda folclórica chamada Rama de Oliveira. Como se isto tudo não bastasse, aos 42 anos, casado (sua esposa canta na banda), pai de 3 filhos, é um apaixonado pela vida e por tudo que faz.
À medida que nos conhecíamos, ele comentava um pouco sobre sua vida, que sempre girou em torno dos vinhos (seus pais eram viticultores). Nasceu na aldeia de Covas do Douro, que fica a cerca de 5 km de distância do Pinhão. Tinha 13 anos quando visitou uma cidade grande pela primeira vez, Peso da Régua, o que lhe deixou deslumbrado: “Andei dois dias de elevador”!
 
Quando ingressou na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), para estudar Agronomia, compreendeu o valor da sua infância peculiar. Recebera outro tipo de cultura, única, que usava magistralmente para se destacar no seu grupo. Segundo suas palavras:
 
“Não sabia muitas coisas, mas distinguia o chilrear dos pássaros todos ou a cor dos ovos dos Melros, coisas que ninguém mais sabia”.
A visita transcorreu dentro deste clima (faço um aparte: aprendi, nestas duas horas com ele, muito mais do que já sabia, foi a melhor aula sobre a importância do trinômio solo, clima e tempo). Desde 2001 implantou o conceito de quinta produtiva de charme, transformando lugares, por exemplo, como a oficina de manutenção, antigamente banhada em óleo e graxa, num local cercado de agradáveis jardins.
 
A Quinta é literalmente uma joia e Álvaro acredita que mantê-la assim e dar as melhores condições de trabalho aos lavradores vai refletir na qualidade final dos produtos. Passou-nos a impressão que sabe nome e sobrenome de tudo que ali está plantado. As plantas são suas cúmplices, é capaz de fazer de uma simples erva daninha, tema de conversa para um dia, sem que isto seja um assunto aborrecido. Talvez a mais importante lição nisto tudo tenha sido nos fazer compreender a importância da dimensão de um terceiro fator que se junta ao binômio Solo (x) e Clima (y), sempre mencionados em qualquer compêndio de enologia: no Douro compreendem e dominam o Tempo (z), com grande sabedoria. O representam como o terceiro eixo de um gráfico imaginário:
Apresentou e explicou o conceito de “Vinhas Velhas”, algo que só existe lá. Reparem na foto a seguir.
Sem sair do lugar, nosso anfitrião girou o corpo e colheu 4 ou 5 folhas das parreiras ao seu redor. É desta forma que se identificam as videiras, comparando o formato das folhas. Resultado: 4 ou 5 espécies diferentes, podendo haver castas brancas entre elas. Na época em que foram plantadas eram “uvas que fermentadas se transformavam em vinho”. Este era o critério usado pelos antepassados. Hoje já estão fazendo o mapeamento genético para descobrir quais são estas castas, numa tentativa de preservar as características e a história destas vinhas. Se possível, reproduzir estes vinhedos aplicando avançadas técnicas de genética. Novamente, modernidade e tradição.
 
No dia da visita estavam replantando uma parcela de um vinhedo. Álvaro ressalta que para alcançar o mesmo nível de qualidade das outras parcelas terão que esperar 50, 60 ou mais anos. Ele, provavelmente, não vai provar vinhos oriundos desta nova área e não está nem um pouco preocupado com isto. Simplesmente “não me importa”! Está é a maneira de controlar corretamente o fator tempo, o duriense sabe esperar, tem paciência, o ritmo de vida aqui é outro, “nós não sabemos fazer outra coisa que não seja cuidar desta nossa biodiversidade que passa por milhares de tipos de ervas, arbustos, oliveiras, cítricos, sobreiros e parreiras”. São centenas de cheiros e cores e sabores que brotam a partir de um solo xistoso que para os olhos de um leigo não tem condições de gerar nada.
 
“As vinhas vivem, coabitam, são felizes aqui. Não querem dar vinho, querem amadurecer, dar sementes, prolongar a espécie”.
 
Emocionante tudo isto, temos que concordar com Álvaro: “Isto só existe aqui”!
A degustação que encerraria esta deliciosa visita foi de alto nível, com 3 excelentes vinhos:
 
Carvalhas Branco 2011 – elaborado com as castas Viosinho, Rabigato e Códega. As uvas são prensadas em prensa pneumática. A fermentação inicia-se em cubas de inox com controle de temperatura e termina em barricas novas de carvalho Francês. Segue-se um estágio de 8 meses nas mesmas barricas sobre borras finas.
 
Um branco limpo, claro, de brilhante cor citrina. No olfato apresenta aromas com notas de fruta com nuances de baunilha e tosta, provenientes do estágio em madeira. Embora encorpado no paladar, provoca uma sensação de leveza devido à sua frescura de sabores e acidez viva. Boa persistência. É um vinho altamente gastronômico que pode ser apreciado enquanto jovem, mas que pode surpreender após alguns anos em garrafa.
 
Carvalhas Tinto Vinhas Velhas – este foi um dos destaques desta degustação. Um corte com mais de 20 castas diferentes (Vinhas Velhas) fermentado em lagares (tanques abertos) seguido de um estágio de 18 meses em barricas de carvalho francês. Muito aromático onde se destacam notas de frutas vermelhas e negras aliadas à nuances de ervas e especiarias, bem harmonizadas com a madeira de carvalho através de sutis notas de baunilha. Taninos firmes e muito redondos, com sabores realçados por uma equilibrada acidez que torna a prova longa e persistente o fazem um vinho potente e elegante.
Royal Oporto Tawny 40 anos – este foi um capítulo à parte com sua linda garrafa lapidada. Esta é uma das marcas mais antigas de Vinhos do Porto. Uma bebida muito especial de grande intensidade aromática com notas de baunilha, especiarias e frutos secos. Potente e aveludado, enchendo o palato de sabores intensos, com um final muito longo. Uma verdadeira homenagem ao Vinho do Porto.
Tecnicamente, a visita terminaria após esta degustação, mas não foi bem assim. Quando descobrimos a faceta musical de nosso anfitrião, ficamos naturalmente curiosos e perguntamos se haveria alguma maneira de escutar o som do seu grupo musical. Não havia nenhuma apresentação programada o que gerou um convite informal: “só se vocês forem até o meu armazém, que fica sob minha residência”.
 
Nem em sonhos poderíamos imaginar o que aconteceria no final deste dia, logo depois da visita à Quinta da Gaivosa, localizada muito perto do “armazém” de Álvaro Martinho. Mas este episódio, só na próxima coluna.
 
Não há palavras suficientes para descrever o espetáculo que foi esta visita guiada por este novo amigo. Esperamos poder repetir esta incrível experiência o mais breve possível.
 
Dica da Semana:  para não ficarmos num eterna repetição, como no Bolero de Ravel, sugerindo os vinhos acima, vamos indicar um da vizinha região do Minho.
 
Alvarinho Soalheiro
Sempre nas listas dos melhores Alvarinhos de Portugal segundo a imprensa especializada, é proveniente da subrregião de Melgaço que produz os melhores vinhos verdes.
 Leve, frutado e refrescante, com ótima acidez. Delicioso e cheio de charme é mais encorpado e complexo do que os outros vinhos verdes.
 Pode ser armazenado nas condições ideais por 5 até 10 anos
 Combinações: Peixes, carnes brancas, frutos do mar, ostras e mariscos, queijos.
 
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