Autor: Tuty (Page 53 of 146)

Uma casta, um vinho – Pinot Grigio/Gris

Fonte: https://glossary.wein-plus.eu/pinot-gris

Grigio, em italiano ou Gris, em francês, significa cinza. Sua origem decorre de uma mutação de cor, na Pinot Noir. Ocorreu em diferentes locais e em diferentes épocas, notadamente em França e Alemanha.

A primeira menção confiável, sobre esta casta, vem do Palatinado Renano. Em 1711 teria sido descoberta, por Johann Seger Ruland, crescendo livremente num jardim da cidade de Speyer. Ruländer é um dos 150 sinônimos desta uva.

Existem algumas lendas sobre esta varietal, relatando suas origens e como chegou a uma determinada região. Historicamente é aceito que foi encontrada quase ao mesmo tempo na Alemanha e na Borgonha.

Uma das histórias mais curiosas relata que, em 1375, o Imperador Carlos IV, do Sacro Império Romano-Germânico, teria levada algumas mudas desta planta para a Hungria. Monges Cisterianos as cultivaram nas colinas ao redor do Lago Balaton. Ficou conhecida como Szürkebarát ou Monge Cinza.

Somente em 1568 teria sido trazida de volta à França, para a região da Alsácia, onde ganhou o discutível apelido de Tokay. Existem algumas versões sobre esta mudança de nome. A mais aceita sugere que o nome foi adotado para se beneficiar da fama do vinho húngaro, Tokaji.

Apesar dos protestos dos produtores húngaros, o nome alsaciano só foi abandonado a partir de 1984. Primeiro, os produtores franceses passaram a rotular seus vinhos como Tokay Pinot Gris. A partir de 2007, é abolido o apelido Tokay.

Na Itália existem registros de cultivo da Pinot Grigio desde 1838, na região do Vale de Aosta, com a denominação Malvoisie. Só mais tarde chegou ao Piemonte.

Atualmente essa casta está plantada em diversos países. A cor de sua casca pode variar de intensidade conforme o terroir. É uma planta vigorosa e de baixa produtividade. Amadurece mais cedo e é susceptível a Botrytis.

Seus vinhos podem ser uma maravilha ou uma enorme perda de tempo. Rótulos de Pinot Grigio inundam supermercados mundo afora, sendo classificados quase como água: incolores, inodoros e insípidos.

Mas para os verdadeiros connaisseurs, dois estilos são considerados como a glória dos vinhos brancos: os alsacianos e os italianos das regiões de Alto Adige, Veneto e Friuli. Na Lombardia, é usado na produção de espumantes.

O estilo alsaciano é delicioso. Forma o famoso trio de especialidades com os Riesling e os Gewürztraminer. Apresentam um viés adocicado, lembrando mel, que harmoniza perfeitamente com pratos mais temperados. Os principais produtores são Trimbach, Weinbach e Zind-Humbrecht.

O estilo italiano é bem diferente. Quando é vinificado por mãos competentes são excelentes vinhos: frescos, encorpados e com muita personalidade. Perfeitos para acompanhar frutos do mar grelhados. Muita atenção na hora de escolher suas garrafas. Pinot Grigio é um dos rótulos mais exportados da Itália. Já sabemos que quantidade não é amiga de qualidade. Os principais produtores são: Vie di Romans, Alois Lageder e Franz Haas.

Em 2002, os irmãos Lurton, de Bordeaux, trouxeram mudas de Pinot Gris para a Argentina, onde mantêm uma vinícola. Os resultados foram ótimos e já há quem fale que um novo estilo desta casta foi criado ali.

O vinhos escolhido para representar esta casta é um italiano.

SANTA MARGHERITTA PINOT GRIGIO ALTO ADIGE D.O.C.

Apresenta uma coloração amarelo palha, com aromas intensos de flores e frutas. No paladar destaca-se o sabor de maçã Golden. Um vinho muito versátil e que harmoniza corretamente com queijos frescos, frutos do mar, massas com molhos leves, risotos, suflês e carnes brancas.

Não acredite nos detratores desta deliciosa uva e de seus vinhos. Apenas usem um bom “filtro” na hora de comprá-los. Fujam do lugar comum.

Saúde e bons vinhos!

Fonte consultada: Wine Grapes: A Complete Guide to 1,368 Vine Varieties, Including Their Origins and Flavours, por Jancis Robinson, Julia Harding, Jose Vouillamoz.

Desfrutando os vinhos comprados on-line

“Negócio” –  foto criada por Freepik

Comprar nossos vinhos on-line está deixando de ser novidade e começa a se encaixar nas nossas rotinas. Já selecionamos os nossos fornecedores, seja por preço e condições de venda ou, mais importante, pelos rótulos que oferecem.

Uma tendência que está sendo muito bem aceita é a compra nos Kits ou Combos: trios, quartetos e até sextetos. Um grupo de diferentes vinhos com bons preços para tornar o nosso resguardo (lembram?) mais agradável.

Como os leitores procedem ao receber seus pacotes?

Já pensaram nisto?

Aqui vai uma boa dica: higienizem as garrafas recebidas!

Um pano com álcool 70º ou com outra solução desinfetante, à base de cloro ou água sanitária é mais do que suficiente. Cuidado com os rótulos para não os danificar.

Outra tendência que está em voga é degustar estes vinhos numa “live”, usando o jargão do momento. Isto também requer uma preparação.

O ponto de partida é muito simples: já que não podemos desfrutar da companhia física de nossos amigos, garrafas de vinhos são agregadoras, a solução mais perto disto é criar uma videoconferência onde um ou mais vinhos serão degustados e analisados.

Dois estilos são possíveis.

Um, mais informal, onde cada um abre seu vinho e comenta sua escolha, em meio a outros assuntos.

Outra forma, que achamos mais interessante, é escolher um moderador que vai fazer uma apresentação, comentada, de um ou mais vinhos. Poderia ser, por exemplo, as últimas descobertas ou aquisições.

Não precisa degustar todos. Apresente os vinhos e escolha um para ser provado.

Os demais participantes podem abrir a mesma garrafa, se combinado com antecedência, ou fazer comparações com outros rótulos que tenham em casa. Será sempre divertido e instrutivo.

Já pensaram em organizar uma reunião tipo Master Class?

A apresentação poderia ser dividida com mais de um participante. Mas devem fazer um “dever de casa”, antes da reunião.

Os vinhos poderiam ser comprados em regime de grupo, reduzindo os custos. Todos teriam acesso às mesmas garrafas. Um pouco de logística será necessário para distribui-las.

Vamos imaginar uma aula com a casta Malbec. São ótimos vinhos, fáceis de comprar no nosso mercado. A maior oferta é de argentinos. Mas podemos encontrar alguns chilenos e franceses. Há uma pequena produção brasileira.

Inicialmente faríamos uma comparação entre Malbec sem e com madeira. Devem ter a mesma safra, origem e região.

O primeiro tende a ser mais frutado e menos encorpado que o segundo.

A segunda dupla poderia contemplar dois vinhos argentinos de diferentes terroir. Importante nesta degustação é encontrar dois vinhos com processos de vinificação bem semelhantes:

– Ambos passam por madeira ou não;

– mesmo tipo de tanque de fermentação – inox, concreto, madeira;

– Mesma safra;

– Mesmo tipo de garrafa e de fechamento.

Uma boa aula seria comparar dois Malbec mendocinos, um de Lujan e outro do Vale do Uco. Outra opção seria comparar vinhos de Mendoza com seus pares de Salta ou Patagônia.

Uma variante possível seria comparar diferentes tipos de fermentação. Mas vai exigir uma busca mais técnica por estes vinhos. Esta informação só consta das “fichas técnicas”.

A última rodada poderia contemplar as diferenças entre o Malbec francês da região de Cahors com sua cópia sul-americana.

Novamente, valem as recomendações acima.

Talvez seja a mais interessante e instrutiva das aulinhas. Quem já teve a oportunidade de provar um “original” pode avaliar como são muito diferentes os vinhos produzidos na Argentina.

Divirtam-se.

Saúde e bons vinhos!

Antes, durante e depois.

Foto de Tomas Williams para StockSnap

Muita coisa está mudando durante este período de isolamento social. O leque é bem amplo, começando por tarefas domésticas que nunca pensamos fazer, passa por novos hábitos alimentares e chegando na nossa adega e no modo como estamos degustando os vinhos de sempre e como vamos repor nosso estoque.

Muitos amigos estão pedindo ajuda para comprar vinhos on line, o que, para muitos, é uma nova experiência bem diferente do que estão habituados, por exemplo, entrar numa loja e pesquisar, demoradamente, o que vai adquirir. Um ritual que faz parte do prazer de beber um bom vinho.

A compra não presencial é fria, sem graça, baseada numa descrição tipo bula de remédio. Some-se a isto, a dificuldade de encontrar aqueles rótulos que são os nossos “portos seguros”.

As atuais condições da economia nos impõem mais uma dificuldade: preços totalmente fora do padrão. Nunca a famosa relação custo x benefício foi tão relevante.

Sempre há boas alternativas. Serão ainda melhores se adotarmos uma pequena mudança de atitude, deixando o espírito aberto para a experimentação.

Por exemplo; vinhos naturais; Merlot em lugar de Cabernet Sauvignon; Garnacha em vez de Tempranillo. Estas são apenas poucas sugestões. Há muito mais castas, tipos de vinhos e vinificações a serem provadas e comprovadas.

Pensem nas uvas exclusivas de Portugal ou da Itália só para ter uma pequena ideia do mundo que poderá ser descortinado a partir disso.

Que tal deixar, definitivamente, sua zona de conforto?

Não sabemos ao certo quando estas restrições vão ser flexibilizadas ou suprimidas por completo. Todos estamos cheios de esperança e vontade que isto acabe o mais cedo possível.

Só depende de nós, da atitude de cada um. Não pensem só em vocês, pensem na coletividade.

Uma coisa é certa, quando isto acabar, uma grande comemoração se fará necessária, obrigatória, indispensável. Usando um termo bem antigo, um grande “happening”.

Para aumentar as expectativas, esta coluna propõe a seguinte questão:

Que vinho você vai beber na sua comemoração?

Se puder, responda nos comentários desta coluna.

Algumas ideias:

– Espumante, talvez um Champagne;

– Um tinto ou um branco, muito caro, e que nunca provei;

– Vou reunir uma turma para degustar meu melhor vinho;

– Vou tomar 1 garrafa sozinho e no escuro…

Interessante seria pensar, também, no que você não consumiria.

Exemplo?

Pastel do chinês da esquina…

Muita saúde e bons vinhos.

Vinho deve respirar ou não?

Imagem de Christine Sponchia por Pixabay

Mais que um mito, um cânone entre os apreciadores do vinho: deixe o vinho respirar antes de degustá-lo.

Pode-se obter essa arejada de algumas formas, por exemplo, decantando, usando um aerador ou simplesmente retirando a rolha e deixando a garrafa aberta por um curto período.

Nem sempre queremos fazer isto e talvez nem sempre é cabível deixar um vinho respirar. Em sã consciência, ninguém vai comprar um vinho, simples, num supermercado e submetê-lo a estes requintes. Há um limite para tudo, até para isto.

Um grupo de especialistas, britânicos, principalmente, resolveu ampliar e esclarecer estas regras. Responderam a esta pergunta:

Quais vinhos devem ser decantados?

Segundo esta nova geração de Sommeliers e Mestres do vinho, entre outros, a vinificação moderna já leva em conta que os vinhos, quando chegarem ao mercado, estarão prontos para consumo. Mesmo aqueles que ficarem adegados não apresentarão sedimentos que justifiquem uma decantação ou filtragem posterior.

Somente vinhos muito antigos precisarão passar por algum processo para remover resíduos, mas isto deverá ser feito de modo rápido e o vinho consumido num espaço de tempo não superior a duas horas.

Nossas considerações:

Primeiro um pouco de história para compreendermos a necessidade de abrir um vinho um pouco antes de servi-lo.

As vinificações tradicionais utilizavam o sulfito como preservativo, permitindo uma vida útil maior para os vinhos, inclusive para os que seriam colocados em prateleiras de mercado.

Ao serem desarrolhados, era comum perceber um estranho aroma de “ovo podre” decorrente do uso deste produto. Uma vez aberto e arejado, o vinho estaria em condições de ser degustado sem interferências indesejáveis.

Se por alguma razão a dosagem do sulfito fosse acima do normal, só mesmo uma decantação limparia aquele desagradável odor.

Vem deste fato a ideia de deixar o vinho respirar.

Louis Pasteur também tem um papel importante neste tema. Por encomenda de Napoleão III, publicou um estudo onde concluía que o contato do vinho com uma quantidade controlada de ar poderia beneficiar aromas e sabores, “envelhecendo” a bebida. Esta é a teoria que está por trás de rolhas de cortiça que permitem a passagem de ar, válida, inclusive, para as famosas barricas de carvalho.

Resumindo, o contato com ar pode ser benéfico, mas tudo dependerá do tipo de vinho, do tempo e da área de contato. O gargalo de uma garrafa não é a condição mais adequada.

Vinhos muito tânicos vão se beneficiar muito com uma boa aeração, enquanto vinhos mais frutados e suaves tendem a perder um pouco de suas características mais marcantes, caso se prolongue este procedimento.

O ideal é experimentar e cada um encontrar o seu ponto ideal.

Nas nossas degustações, depois de várias experiências, adotamos o aerador como acessório padrão para servir vinhos tintos. Para os brancos apenas abrimos e servimos.

Esta foi a metodologia de testes adotada:

Aberta a garrafa, servia-se uma rodada;

Em seguida, uma parte era vertida num decantador, para ser degustada após 20 minutos de aeração, no mínimo;

O restante era servido através de um aerador. Mais de um tipo foi testado.

Para o nosso paladar e para os tipos de vinhos degustados a 3ª opção sempre apresentou os melhores resultados. Em 2º lugar ficou o vinho decantado.

Saúde e bons vinhos!

O que é Pétillant Naturel ou Pét-Nat?

Pét-Nat brasileiros no Cru Natural Wine bar

No idioma francês, Pétillant significa efervescente, gasoso, espumante. Junte tudo isto e chame, simplesmente, de avô do Champagne.

Produzido através de um método conhecido como Ancestral, ou uma só fermentação. Parte dela ocorre na garrafa. Os espumantes atuais usam o método tradicional, que prevê duas fermentações, separadas.

Sua descoberta foi acidental. Segundo alguns historiadores do vinho, lá pelos anos 1500, um monge da Abadia Beneditina de Saint Hilaire, França, notou que bolhas estavam se formando no vinho que fora engarrafado no inverno.

Naquela época, a fermentação ainda não era totalmente compreendida e as técnicas de controle eram muito rudimentares. Para os vinhateiros, assim que o vinho parava de fermentar, no clima frio, era a hora de engarrafar.

O que o monge beneditino descobriu, sem saber do que se tratava, foi que com a chegada da primavera e temperaturas mais elevadas, o açúcar residual estimularia a retomada daquela fermentação.

Nascia o Pét-Nat.

Um ponto é muito importante para que se entenda a fundamental diferença para os demais espumantes: esta fermentação na garrafa acontece naturalmente, não é induzida, como no Champagne, por exemplo.

Numa explicação bem simples, o vinho seria engarrafado antes de toda a fermentação ser concluída.

Este processo acabou sendo superado por outras técnicas e ficou esquecido por várias décadas. Somente nos anos 90, novamente, por acaso, o produtor de Vouvray, Christian Chaussard, um dos Papas do vinho natural, notou que o açúcar residual em alguns dos seus vinhos haviam estimulado um novo ciclo fermentativo.

Renascia o Pét-Nat, sob a égide dos vinhos elaborados com pouca interferência ou manipulação.

Foi um longo caminho até 2011, quando pode-se afirmar que estes leves e deliciosos espumantes ganharam popularidade. Se tornaram uma espécie de cartão de visitas dos produtores deste segmento. Estão sendo elaborados em todos os países produtores, cada um com sua personalidade.

São simples, pouco alcoólicos e com regras de produção nada complicadas.

Some-se a isto tudo a sintonia e o respeito com as produções mais artesanais que encantam as gerações do milênio e posteriores. Estes simpáticos vinhos espumantes, com rótulos irreverentes e chapinha de garrafa, voltaram para ficar.

Já tiveram a oportunidade de provar?

Não sabem o que estão perdendo!

Saúde e ótimos Pét-Nat.

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