Categoria: Harmonização (Page 10 of 11)

Comprovado: Queijo é o melhor companheiro do vinho

Muitos apreciadores de nossa bebida favorita começaram a apreciá-la a partir da popular combinação “Queijos e Vinhos”. Mesmo que fossem organizados de forma empírica e algumas vezes caótica, sempre era divertido e prazeroso.

Uma das formas mais simpáticas de organizar uma reunião como esta era dividir as tarefas: diferentes grupos de convidados trariam os vinhos, queijos e pães, cabendo ao anfitrião entrar com infraestrutura e algumas frutas ou doces para fechar a noite.

Harmonizar? O que é isto?

Ninguém estava preocupado. Provavelmente só iriam aparecer vinhos tintos, de diversas origens. Nenhum branco ou fortificado. Bastava chegar as estações mais frias do ano que os “Queijos e Vinhos” se repetiam, quase que seguindo uma receita.

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Num estudo recente (out/2016), cientistas do Centro de Estudos do Paladar e Comportamento Alimentar (Center for Taste and Feeding Behavior) na França, conduziram uma pesquisa na cidade de Dijon com apreciadores de queijos e vinhos. Chegaram a um resultado que, finalmente, esclarece o sucesso desta conhecida parceria:

“O consumo de queijo durante uma degustação de vinhos é capaz de alterar a nossa percepção e gosto sobre determinados vinhos”. (*)

Cada voluntário recebeu um formulário com a descrição de diversas sensações possíveis, que deveriam ser assinaladas após cada degustação.

Na primeira etapa foram degustados quatro vinhos diferentes, em busca das sensações predominantes:

– Pacherenc, um vinho branco doce da região de Madiran, sudoeste da França;

– Sancerre, um Sauvignon Blanc do Vale do Loire;

– Pinot Noir da Borgonha;

– Madiran tinto, um corte de Tannat, Cab. Franc, entre outras.

Na segunda etapa, foram introduzidos quatro queijos:

– Epoisses, típico da Borgonha, elaborado com leite de vaca e maturado por 6 meses. Depois é tratado com uma aguardente vínica (marc);

– Comté, o mais comum queijo da França, feito a partir de leite de vaca, com casca e textura semi-dura;

– Roquefort, tradicional queijo com mofo azul, elaborado com leite de ovelhas;

– Crottin de Chavignol, o mais famoso queijo de cabra francês, maturado por 4 meses.

Os degustadores deveriam alternar pequenos goles de vinho e provas dos diferentes queijos.

Os resultados demonstraram que o consumo do queijo teve um impacto positivo na descrição dos vinhos, que acabaram agradando a todos, em comparação com a descrição inicial, feita para ser o controle do experimento (sensação predominante).

A apreciação de cada vinho aumentou na maioria das combinações e, no pior resultado, teria ficado igual ao resultado de controle.

Na degustação dos vinhos tintos, o consumo do queijo diminuiu sensivelmente a sensação de adstringência provocada pelos taninos, aumentando a percepção dos sabores frutados.

Com relação aos brancos, o que menos impactou o resultado final foi o doce Pacherenc. As anotações não demonstraram nenhuma mudança na doçura ou predominância de sabores. Com branco seco foram percebidas ligeiras alterações no aroma predominante.

Do outro lado do Atlântico, no Canadá, uma segunda experiência corrobora este resultado (**). O objetivo era encontrar as combinações ideais entre queijos e vinhos, empregando metodologia sensorial científica.

Nove tipos de queijos artesanais e dezoito tipos de vinhos estavam à disposição de um grupo de jurados que tinha como objetivo avaliar as diversas combinações possíveis.

Entre os vinhos estavam desde clássicos como Chardonnay madeirado, Pinot Noir, Merlot, cortes com Cabernet Sauvignon, vinhos de sobremesa e Ice Wines.

O Riesling foi considerado o vinho mais versátil combinando com a maior variedade de queijos. Sauvignon Blanc e Pinot Gris também foram bem avaliados. Os vinhos de harmonização mais difícil foram o Late Harvest, o Ice Wine e o Porto.

Os queijos mais fáceis de combinar foram os do tipo Gorgonzola (mofo azul), Provolone e um queijo de leite de vaca, semi-duro, bastante comum no Canadá (Oka).

Saúde e bons queijos e vinhos!

Vinho da Semana: um versátil Tempranillo espanhol.

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Perfeito com o tradicional Queijo Manchego, da Espanha, elaborado com leite de ovelha e eleito, em 2012, o melhor queijo do mundo.

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Fontes:

(*) – http://phys.org/news/2016-10-science-cheese-wine.html

(**) – http://phys.org/news/2005-10-wine-cheese-science.html

Pratos de Massa e Vinhos

A cultura gastronômica brasileira é uma mistura de diversas influências que, segundo alguns Chefs e críticos internacionais, a tornam única. As culinárias portuguesa, africana, nativa, alemã e italiana, entre outras, formam um delicioso caldeirão de onde nos alimentamos em casa ou em elegantes restaurantes.

Talvez devido ao binômio simplicidade e sabor, os pratos italianos são muito populares, a macarronada de domingo é quase sagrada em alguns lares. Vinho, é claro, torna-se um imperativo.

Talvez venha desta clássica harmonização o início da produção vinícola brasileira, que começa, realmente e não historicamente, com a chegada dos colonos italianos ao país. Os primeiros vinhos eram muito rudimentares, feitos com uvas inadequadas, mas cumpriam a sua função de complementar uma refeição.

O vinho, em outras culturas, é considerado como parte da alimentação básica e não um produto de luxo, como no Brasil, onde o desgoverno só busca fontes de renda em vez de estimular uma indústria que poderia, bem gerida, acrescentar mais um produto ao leque das magras exportações nacionais, isto sem falar no mercado interno…

Massas não são uma exclusividade italiana. Reza uma lenda que os chineses teriam “inventado” o macarrão, trazido para a Bota por Marco Polo, lá no século XVIII. Outros estudos afirmam que a massa de farinha de cereais e água foi uma descoberta dos Etruscos, alguns séculos antes.

Vamos encontrar pratos à base de massas nas culinárias oriental, alemã, polonesa, francesa, além da italiana (e provavelmente em muitas outras).

Harmonizar corretamente esta grande variedade de receitas é uma tarefa árdua e muita gente boa já se dedicou a escrever sobre isto. A velha regra de massa com vinho italiano, provavelmente tinto, pode estar com seus dias contados.

Uma das mais importantes escolas de culinária do mundo, a francesa Le Cordon Bleu, tem sugestões muito interessantes para combinar diversos tipos de “pasta” com os vinhos de todo o mundo. (*)

O mais clássico dos molhos para talharim, espaguete e assemelhados é o “al sugo”, simplesmente tomate, alho e ervas. Tem uma característica combinação doce/azedo que harmoniza muito bem com um Viognier, uma casta branca típica do Vale do Ródano, hoje difundida em quase todos os países produtores. Os mais famosos são os Australianos, Norte-americanos, Sul-africanos, Franceses e Sul-americanos. Prefira os que não passaram por madeira.

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Lasanha é outra tradição nas mesas brasileiras, mas a sua harmonização correta pede alguns momentos de reflexão: molho branco (Bechamel), o de tomate e o recheio de carne, pedem vinhos muito específicos.

Curiosamente um tinto italiano, quase sempre relegado a um segundo plano, o Barbera, com sua jovialidade e boa acidez se torna a opção quase perfeita para enfrentar a avalanche de sabores deste prato. O também secundário Beaujolais francês ou o desconhecido Zwiegelt, austríaco, são outras boas opções.

Nesta mesma linha, podemos facilmente imaginar as harmonizações para massas recheadas como raviólis, canelones, etc… Como o macarrão é neutro, tudo vai depender da combinação do molho e recheio usados.

Uma harmonização bem interessante, proposta pelos professores da Le Cordon Bleu, envolve os pratos de massas servidos em caldos, como o Pot au Feu com Vermicelli, francês, ou os Udon japoneses e similares da cozinha oriental. A sugestão é um vinho fortificado como um Jerez Amontillado ou um Porto Branco seco ou ainda um Marsala Vergine seco.

No próximo domingo, arrisque e esqueça o Chianti!

Saúde e bons vinhos!

Vinho da Semana: já pensando no fim de semana.

massa-2Dalbosco Reserva Viognier

Grande complexidade aromática que recorda pinhas, marmelada de damasco, flores brancas e toques de lima. Sua boca é fresca e sedosa, com boa acidez e rica persistência de frutas, com longo e agradável final.

Compre aqui: http://www.vinhosite.com.br/vinho-viognier-chileno-dalbosco-reserva-branco/p

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(*) Fonte: http://www.decanter.com/learn/food/cordon-bleu/matching-wine-with-pasta-le-cordon-bleu-332523/

Regrinhas para Harmonizar Corretamente

Combinar vinho e alimentos é um dos desafios mais interessantes para quem vive o mundo dos vinhos. Para alguns, a palavra Harmonização logo traz calafrios e uma preocupação anormal: sempre ficamos em dúvida se o nosso evento vai dar certo, se o vinho que escolhemos vai combinar com o prato servido, além de temer possíveis críticas.

Harmonizar não chega a ser uma ciência, embora se apoie em várias teorias para, de certa forma, criar algumas regras básicas que tornam uma refeição em algo mais agradável.

Existem diversas referências disponíveis, desde a tradicional forma de parear a cor dos alimentos com a cor do vinho, básico e quase sempre efetivo, até sofisticadas elaborações que envolvem contrastes, semelhanças, vinhos muito específicos e um resultado que pretende ser espetacular, mas nem sempre é atingido.

A verdade que se esconde, e quase não é vista, está num simples fato: alimentos e vinhos são produtos que não são cartesianamente uniformes. Mudam, significativamente, a cada nova safra, colheita, abate, etc.

Isto torna a tarefa de harmonizar numa forma de arte, que se aprende na base de tentativas e erros (atenção para o plural) do que seguindo “receitas de bolo”.

Por outro lado, para quem nunca se atreveu a fazer um jantar harmonizado, por exemplo, precisa receber algumas dicas iniciais para poder, mais tarde, voar sozinho. Ninguém nasce sabendo!

Um dos sites que usamos como referência para nossos escritos, o Wine Folly (www.winefolly.com), publicou um conjunto de instruções bem interessantes. Como era voltado para o público norte-americano, traduzimos, adaptamos e comentamos.

1 – Sabores Complementares ou Sabores Semelhantes?

Esta é a chave para iniciar uma boa harmonização. Muito simples.

Aromas e sabores complementares: ocorre um equilíbrio dos sabores, por exemplo, limão com peixes ou frutos do mar;

Aromas e sabores semelhantes: ocorre uma amplificação dos sabores, por exemplo, arroz com feijão.

Ao pensar num vinho para acompanhar um determinado prato, temos que pensar, primeiro, por qual caminho vamos seguir, ou seja, um vinho que tem características semelhantes ao elemento principal do prato, que pode ser o molho, lembrem-se disto, ou um vinho que vai contrastar com tudo isto, como o citado limão no peixe ou goiabada com queijo.

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2 – Algumas técnicas consagradas:

– O vinho deve ter mais acidez que o alimento;

Para que não lembra, quando se menciona a acidez de um vinho o correto é lembrar de refrescância. Se quiser saber mais leia esta matéria:

https://oboletimdovinho.com.br/2015/08/03/acidez-uma-caracteristica-pouco-compreendida/

– O vinho deve ter mais doçura que o alimento;

Na mesma linha da anterior, não se trata de servir vinhos doces, que são próprios para as sobremesas, junto com o prato principal.

Embora os vinhos finos sejam considerados como “secos”, existem diversas nuances, dependendo da casta que o originou, se é branco, rosé ou tinto. Em alguns países, como o Brasil, adotam uma classificação “meio-seco”, típica dos espumantes, para os vinhos finos também.

A ideia, aqui, não é encontrar um vinho menos seco, mas criar um prato menos doce. Entendido?

– Procure por um equilíbrio de intensidade entre o vinho e o alimento;

Em poucas linhas, não vai dar certo se for um vinho intenso com um alimento leve e suave…

– Tintos com alimentos intensos e Brancos com os suaves;

Está é a mais clássica das regrinhas, nem preciso explicar.

– Vinhos tânicos equilibram pratos mais ricos em gordura;

Para os esquecidos, tanino é uma das principais características dos vinhos tintos. É responsável pela sensação de aspereza que sentimos no céu da boca ou de adstringência. Limpa a boca no caso de pratos com muita manteiga, azeite, etc…

Para relembrar o que são taninos:

https://oboletimdovinho.com.br/2015/08/11/compreendendo-os-taninos/

– Na dúvida, harmonize com o molho em lugar do alimento principal;

Este é um truque dos mestres!

– Voltando ao início deste texto, vinhos brancos, rosés e espumantes (o coringa) criam sabores e aromas complementares. Vinhos tintos criam sabores e aromas semelhantes.

Ficou fácil!

Quem vai se arriscar e contar para agente?

*Para os leitores de Belo Horizonte*

A Casa Rio Verde/VinhoSite recebe nos dias 3 e 4 de outubro o enólogo Adolfo Lona, velho conhecido do mundo do vinho pela qualidade e “delícia” dos seus espumantes.

Local: loja Casa Rio Verde – Marília de Dirceu – 104 – Lourdes – Belo Horizonte

Horário: 19h30

Convites: VinhoSite: http://www.vinhosite.com.br/vinhos/curso

Preço: R$50 para não-sócios do VinhoClube, e R$35 para sócios.

Vinho da Semana: cabe aos leitores descobrir as harmonizações corretas para este vinho.

h-2Côtes de Provence Royal Saint Louis Rosé

O Côtes de Provence Royal St Louis é uma homenagem ao Rei Saint Louis, nascido na mesma região onde florescem as videiras desse delicioso rosé. Com a cor brilhante de pêssego-rosa, possui aroma doce e elegante, com notas frutadas e florais. O paladar é estruturado, amplo e equilibrado.

Compre aqui: http://www.vinhosite.com.br/vinho-cotes-de-provence-frances-royal-saint-louis-syrah-cinsault-garnacha-grenache/p

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Derrubando ditaduras

Nem sempre alguns aspectos do mundo do vinho podem ser classificados como democráticos. Sem dúvida que o tema desta semana decorre das diversas situações vividas em todo o mundo, numa eterna disputa entre regimes democráticos, socialistas e totalitários.
Embora não tenha havido (ainda) qualquer ato de terrorismo que envolva vinícolas ou enófilos, existem algumas ditaduras que parecem nunca ter fim. Uma delas é a exigência de harmonizar vinho e comida.

Um grupo de apreciadores de vinhos, escritores especializados e até mesmo renomados críticos são opositores constantes destas engessadas regras que, muitas vezes, podem estragar uma boa reunião.

Não existe um fato que possa ser considerado como o marco inicial da ideia que devemos harmonizar, sempre, nossos alimentos com os vinhos.

Aparentemente foi no século 19, na Europa, que apareceram as primeiras ideias sobre este assunto. Nos EUA, após o fim da Lei Seca, estas regras, ainda em forma bem simples, tomaram certo vulto, apoiadas por ideólogos que rapidamente encontravam justificativas para combinar um vinho com este ou aquele alimento, o que implicava ser “proibida” qualquer alternativa.

No mundo moderno, se formos olhar direitinho o que acontece neste mercado, vamos descobrir que são tantas as possibilidades que, literalmente, enfraqueceram estas quase sagradas regras a ponto de estarem se tornando obsoletas: a variedade e a qualidade dos vinhos de hoje torna qualquer tentativa de estabelecer regras uma impossibilidade.

Some-se a isto o fato de o ser humano ter a necessidade de compensar as suas agruras diárias com uma boa dose de entretenimento e prazer.

A palavra negócio significa negação do ócio. Mas é nos momentos de ócio que nos tornamos mais criativos, mais reais, produzimos para nós mesmos, sonhamos.

Por que engessar este momento com mais regras, principalmente se estamos tentando nos liberar de toda e qualquer amarra?

Em 1989 foi publicado um interessante livro, escrito pelo Chef David Rosengarten e por Josh Wesson, criador da loja de vinhos Best Cellars (estoca apenas 100 vinhos e nenhum deles custaria mais que 10 dólares), com título “Vinho tinto com peixe” (Red Wine With Fish). Embora não tenha rompido com nenhuma convenção estabelecida, provocou muita discussão criando uma brecha nas inflexíveis harmonizações.

A partir desta iniciativa, diversas tendências foram surgindo, algo como “beba o vinho que mais lhe agrade”. Há uma nítida analogia com o movimento “slow food” em oposição à outra ditadura, a do “fast food” que surge depois do “tempo é dinheiro”, outro grande negócio: não perca tempo almoçando, trabalhe mais e ganhe mais dinheiro…

Para que, afinal?

Compramos um grande vinho, temos que esperar a ocasião adequada e para complicar mais um pouco encontrar o prato certo para acompanhar.

Simplifique! Desgourmetize!

Se alguma coisa sair errado, aproveitamos para rir um pouco e tirar proveito da situação. Sempre é possível corrigir o rumo das coisas.

Dica da Semana: um branco chileno que cai bem em qualquer refeição.

 

Los Vascos Chardonnay 2014
 
Este Chardonnay, com pedigree francês e sem estágio em carvalho, é tipicamente chileno: límpido, frutado e fresco.

Elegantes aromas lembram notas de abacaxi, banana, grapefruit, damasco e amêndoa.
Na boca é saboroso, fresco, deliciosamente frutado, com boa estrutura e longo final.


Premiações: Bronze no IWCh (2012); Bronze na IWSC (2013); WA 86 pts (2011); WA 88 pts (2010)

Conselhos de José Peñin

José Peñín é o mais prolífico escritor sobre temas vitivinícolas na língua espanhola e autor do principal guia vinícola espanhol, que leva o seu nome. Muito respeitado por seus colegas inclusive em nível internacional, já percorreu quase todas as regiões produtoras do mundo seja visitando, fazendo palestras ou participando de importantes concursos. É considerado um grande juiz da qualidade dos vinhos.
 
Nesta sua pagina da Internet (http://jpenin.guiapenin.com/2013/08/15/10-topicos-del-vino-a-eliminar/) estão comentados alguns tópicos que ele sugere que devem ser repensados.
 
Apresento a seguir, traduzidos e adaptados, os pontos que considerei como mais relevantes. Boa leitura!
 
– “Alguns produtos de consumo, como o vinho e alimentos, estão contaminados por certas crenças difundidas através do “boca a boca” que alimentam, como no caso do vinho, uma suspeita de que a valorização alcançada por esta bebida seja uma fraude histórica, crença outrora comum. Quanto à comida, acontece o mesmo, por se considerar que aquilo que está perto ou é familiar sempre é melhor do que uma cozinha pública.
 
Infelizmente, tem-se levado mais em consideração o comentário do amigo ou do vizinho do que aquilo que está escrito ou que consta de publicações especializadas. A grande imprensa, capaz de penetrar todas as esferas da sociedade, tem sido, de certa forma, responsável por essas atitudes, porque não percebeu a necessidade de um aprendizado prévio ou de um maior interesse por um tema que, na vida diária (segundo eles), não mereceria maior aprofundamento. Entre todos os assuntos, nunca houve uma distância tão grande entre generalistas e especialistas como no vinho.
 
1 – O VINHO TINTO MELHORA COM O TEMPO
 
O tinto não melhora, simplesmente muda. O tinto só se situa no lugar que lhe corresponde organolepticamente aos 4 ou 5 meses depois de engarrafado, ou seja, suas condições e características estarão equilibradas. Neste momento, o vinho pode estar fechado do ponto de vista aromático, o carvalho sobressai e no caso dos brancos e dos tintos leves, percebem-se as matizes secundárias da fermentação (matizes falsas de frutas tropicais e leveduras), que podem perdurar por até 5 meses depois da elaboração.
 
A partir deste período, o vinho vai adquirindo, com o passar dos anos, novas matizes (notas de tabaco, couro, frutos secos), mas também vai perdendo as especificidades da sua variedade e as notas minerais.
 
2 – VINHOS BRANCOS COM PEIXES E TINTOS COM CARNES
 
Generalizando, não é tanto o tipo do vinho que importa, mas a sua estrutura. Um vinho branco com 13,5º de teor alcoólico ou mais, que passou por madeira ou foi fermentado numa barrica, possui volume e “peso” na boca suficientes para acompanhar uma carne, enquanto um tinto leve e fresco pode harmonizar com um peixe.
 
Apesar disto, o vinho branco é melhor opção que um tinto para combinar com qualquer proposta culinária. Não podemos esquecer que o tinto é mais contemporâneo que o branco que tem sido o vinho “de toda a vida”. O que os Cruzados bebiam com a carne? Brancos espessos e turvos.
 
3 – NÃO ENTENDO DE VINHO, MAS SEI DO QUE GOSTO E DO QUE NÃO
 
Uma frase repetida constantemente. Quando um apaixonado por vinhos se encontra com um especialista, se defende com esta frase. Mas ninguém afirma, por modéstia cultural, que não entende de arte, música ou livros. Por que temos que entender de vinhos para compará-los? O nosso paladar é o ponto mais sagrado. Preciso ser um especialista em informática para comprar um computador? Pesquiso numa boa loja ou numa revista especializada. Tenho que conhecer a vida e a obra dos melhores diretores de cinema para escolher um bom filme? Esta é a função da crítica. O importante é que o neófito tenha memória suficiente para lembrar-se do rótulo ou rótulos que lhe agradaram e, a partir daí, consultar um especialista ou buscar ou comparar com as críticas.
 
4 – O ROSADO É UM VINHO MENOR
 
Lamentavelmente, esta crença nasceu de uma prática muito comum nas bodegas de 20 anos atrás, quando se misturavam tintos e brancos para fazer um rosado que sempre obtinha o recorde de ser a marca mais barata do catálogo. “Um vinhos para os chineses”, se dizia então.
Um rosado, logicamente, deve ser o vinho jovem com um custo de produção superior, uma vez que a ortodoxia afirma que para elaborar um rosado tem-se que escolher somente a lágrima do vinho (o primeiro mosto que sai dos grãos da uva tinta quando comprimidos pelo peso dos cachos no depósito). Além disso, é o vinho, onde todos os cuidados para preservar a fruta são poucos. Suas características identificam melhor a personalidade da uva que o vinho tinto, isto no clima ibérico que exige uma colheita precoce e, portanto, feita no auge da maturação aromática da casta.
 
5 – VINHOS BRANCOS DURAM MENOS QUE OS TINTOS
 
Nem sempre. Se ambos os vinhos contam um equilíbrio entre álcool e acidez, a rolha está em bom estado e são mantidos a uma temperatura entre 15º e 18º, podem ser bebidos “sine die”. Tampouco está claro que os taninos da uva tinta e os aportados pela barrica sejam um fator de longevidade, uma vez que, com o tempo, estas moléculas se precipitam ao fundo da garrafa, embora sejam os elementos gustativos mais enriquecedores. Um branco de 20 anos na garrafa exibe essencialmente uma cor mais amarela com notas de frutas e ervas secas, traços que, com o equilíbrio de seus componentes, são perfeitamente assimilados.
 
6 – O ESPUMANTE É MELHOR COM A SOBREMESA
 
Outra herança do passado. Há uns 60 anos, a maioria dos vinhos espumantes eram doces ou meio doces (demi-sec). A própria origem desta bebida é doce, quando os vinhos da região de Champagne, até meados do século XIX, eram engarrafados sem terminar de fermentar, conservando a doçura do mosto e o gás carbônico do processo inacabado. Isto provocou o seu consumo com as sobremesas ou nas desenfreadas noites da “Belle Époque”. Hoje praticamente só se consome o Brut ou o Brut Nature, ou seja, um sabor seco que o torna mais adequado a ser consumido no aperitivo ou mesmo no transcurso da refeição.
 
7 – MULHERES PREFEREM VINHOS DOCES
 
Não existem vinhos para homens ou mulheres. Este provérbio se refere ao fato de a mulher ter incorporado a bebida alcoólica, no âmbito social, mais tarde (que os homens) e, neste caso, num primeiro contato de um neófito com o vinho, seja ele homem ou mulher, tende a preferir sabores adocicados, para depois ir incorporando ao seu paladar os sabores mais secos ou marcantes.
Ao contrário do esperado, a mulher conhecedora, devido à sua maior sensibilidade, é muito mais segura na hora de comprar qualquer vinho e vacila menos que o homem na hora da degustação. As gerações femininas atuais são mais sensíveis e menos radicais neste tema.
 
8 – VINHOS DE AUTOR
 
Todos os vinhos são de “autor”, uma vez que, por trás de cada marca existe uma equipe dirigida por um enólogo. Por tanto, temos que fugir do rótulo de “vinho de autor” quando usado como apelo comercial, isto não implica que seja melhor”.
 
Sábios conselhos!
 
Dica da Semana:  um bom rosado para confirmar o que Peñin escreveu.
 
 Memoro Rosato (Piccini)
Este cativante rosado é elaborado com uvas cultivadas em quatro regiões da Itália:
a Negroamaro vem da Puglia;
a Nero d’Ávola da Sicília;
a Montepulciano de Abruzzo e
a Merlot do Vêneto.
O objetivo foi elaborar um vinho saboroso e ao mesmo tempo capaz de transmitir seu fiel acento italiano.
 
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