Categoria: O mundo dos vinhos (Page 39 of 72)

Existiriam vinhos medicinais?

Imagem: https://idd.org.br

Puxando pela minha memória, este produto é a mais antiga recordação de algo que poderia ser chamado de vinho medicinal, que eu provei.

Tinha vinho na sua formulação: Fosfato de cálcio monobásico; Peptona; Extrato de quina mineira; Extrato de genciana; Tintura de casca de laranja amarga; Vinho virgem e Vinho tipo Porto.

Era um remédio. Não era ruim. Aconselhavam, para os adultos, 2 a 3 cálices por dia, antes das refeições.

Harmonizar?

Nem pensar.

A história nos mostra que as tentativas de usar vinhos como um medicamento são bem antigas. Pesquisas arqueológicas já identificaram que uma mistura de ervas e resinas de árvores eram adicionadas ao mosto de uva fermentado, com a finalidade de tratar diversas doenças. Isto no Egito, há uns 5.000 anos.

Uma outra utilização, pouco conhecida, da nossa bebida favorita é como antisséptico, por conta do teor alcoólico presente. Não existia tratamento da água. Para garantir alguma potabilidade, faziam uma mistura de vinho e água.

O poder de desinfecção do vinho também foi muito utilizado nos exércitos Gregos e Romanos. Era comum lavarem as feridas de batalha com vinho, assegurando uma cura mais rápida.

Hipócrates, o pai da medicina, era um defensor do vinho como um medicamento. Pensavam, como ele, alguns reis da Babilônia, médicos Persas e Chineses, religiosos católicos e citações sobre o poder desta bebida podem ser encontradas até no Talmud:

“Onde falta vinho, as drogas são necessárias”.

Apesar do longo histórico do uso medicinal do vinho, onde podem ser incluídos temas bem atuais como o badalado Paradoxo Francês, a dieta mediterrânea ou a bem recente descoberta, espanhola, atestando que o vinho seria um bom aliado na desinfecção bucal, por conta dos polifenóis, nunca existiu consenso sobre estas propriedades curativas.

Pelo contrário, assim que aparece uma novidade nesta área, surge uma enxurrada de desmentidos.

Mesmo com tudo isto, alguns produtores nunca desistiram de oferecer, em seus portfólios, um tipo de vinho composto que descende de alguma fórmula farmacêutica, com fins curativos.

Vinhos quinados são os mais comuns. Bastante populares em Portugal, inspirou versões brasileiras. O tradicional produtor Ramos Pinto é um dos nomes mais conhecidos: sua versão mistura vinho do Porto com quinino.

O slogan é bem original: “conhecido por suas virtudes salutares”.

Itália e Espanha, com seus vermutes, também entram nesta lista.

Talvez seja a infusão de ervas e vinho mais próximas das antigas fórmulas dos boticários.

Simplesmente deliciosos e com propriedades curativas, até hoje.

No Piemonte, um Barolo Chinato, que já não leva mais quinino apesar do nome, é um aperitivo de alto nível, com preços perto do proibitivo.

E não pense, você, que é qualquer um que fabrica uma joia destas. Eis alguns nomes: Pio Cesare, Giacomo Conterno, Bartolo Mascarello…

Um derivado do vinho tem fama de ser poderoso regulador da saúde humana: os destilados, como o Conhaque, o Armanhaque ou, simplesmente, um Brandy.

Pode parecer inverossímil, mas alguns médicos ainda receitam uma dose de brandy para baixar a pressão sanguínea e estimular o coração. Já foi reconhecido como uma boa medicação para a Peste Negra (1347 a 1351), a mais devastadora pandemia, com um total estimado de 200 milhões de óbitos.

A ciência moderna confirma que esta bebida é rica em antioxidantes e polifenóis, atuando diretamente no aumento da imunidade e na redução de inflamações. A presença do ácido Elágico, um polifenol, e de outros fito nutrientes, têm sido aceita como grande aliada no combate ao câncer.

Além do vinho, existem outras bebidas, alcoólicas ou não, às quais se atribuem propriedades medicinais.

Apenas a título informativo, vamos listar as mais conhecidas:

– Licor Chartreuse;

– Absinto;

– Amer Picon (um aperitivo tipicamente francês);

– Angostura Bitters;

– Gin e Tônica;

– Hot Toddy (whisky, mel, limão, gengibre, noz moscada, cravo e canela);

– O coquetel Dark and Stormy (rum escuro e cerveja de gengibre); (*)

– Coca Cola (foi criada por um farmacêutico em 1885)

Já tomou seu “remédio” hoje?

Saúde e bons vinhos!

(*) O popular Moscow Mule é uma variante deste drink: usa Vodka em lugar do Rum.

Colaborou Pedro Arthur Sant’Anna, sugerindo a pauta.

O Mundo do Vinho não será mais o mesmo…

Os produtores de bebidas alcoólicas, vinícolas inclusive, já enfrentaram várias mudanças de paradigmas: Lei Seca, guerras, filoxera, epidemias diversas. Cada uma afetou o modo como seus negócios eram conduzidos. Quem se adaptou, sobreviveu.

Com relação ao mundo do vinho, uma das mais recentes mudanças se deu por conta do famoso Julgamento de Paris, uma degustação comparativa entre vinhos do novo e velho mundo, realizada em maio de 1976.

Lá se vão 44 anos e os vinhos nunca mais foram os mesmos. Novos sabores, aromas, rótulos, métodos de plantio e de vinificação, onde a madeira se tornaria uma protagonista.

Mudou também a forma como se comercializavam os vinhos e, sobretudo, o entendimento dos consumidores sobre essa preciosa bebida.

Neste momento, no início do ano de 2020, já estamos vislumbrando um novo paradigma para os produtores de uva e vinho, com um cenário de mudanças significativas.

Dois retratos bem distintos são possíveis hoje, um do hemisfério norte e outro do hemisfério sul.

Acima do Equador, o principal aspecto é o súbito encerramento das atividades de Enoturismo. A colheita já foi concluída e a vinificação ocorre com mão de obra reduzida. Os produtores rezam para que nada falhe, pois conseguir reparos, peças de reposição e técnicos especializados será uma tarefa quase impossível.

Rotinas como engarrafar, manejar vinhos em barricas ou fazer a remuage dos espumantes podem ficar em segundo plano.

Muitos já pensam em ceder parte de seus estoques, principalmente de vinhos menos importantes, para serem destilados e transformados em antissépticos.

Não é um cenário apocalíptico, mas alguns produtores talvez encerrem suas atividades e as grandes vinícolas podem absorver as pequenas.

Do lado de baixo do Equador a situação é, inegavelmente, mais dramática: a colheita ainda não terminou…

Além de todas as limitações listadas acima, os produtores terão que decidir sobre o que, e como, colher, isto se conseguirem a mão de obra necessária, sempre nômade e mais escassa a cada ano, sem falar nas restrições de locomoção impostas por cada país.

Fenômenos climáticos como geadas, neve, chuvas torrenciais podem agravar a situação.

O grande ponto em comum, com os dois hemisférios, está na forma como os vinhos serão comercializados daqui para a frente: o e-commerce será a bola da vez.

Vendas on line já existem e não são novidade. O sucesso dos clubes de vinho talvez sejam a melhor prova disto.

O que sofrerá uma grande alteração será o modelo tripartite adotado atualmente: produtor, distribuidor e vendedor. Em alguns países é obrigatório, o que reflete no preço de venda ao consumidor.

Isto tende a acabar.

As vinícolas que se adequarem para a venda direta ao consumidor final podem obter bons resultados se adotarem padrões operacionais já consagrados. Mas não é um investimento de retorno rápido.

A segunda opção seria através de “Market Places”, como Amazon, Ali Baba, Americanas, entre muitos outros, mas com reflexos na sua margem de lucro.

Parece que as lojas físicas estão a caminho da extinção. Precisam ser repensadas. Para sobreviverem, terão que agregar algum outro valor a este tipo de comércio: wine bar; delivery rápido; cursos e forte presença on-line.

Ninguém duvida, também, que vencida a pandemia, passaremos por um outro difícil período, desta vez das “vacas magras”.

Os tipos de vinhos que serão comercializados deverão refletir este período.

O que podemos esperar?

Esqueçam vinhos caros e de longa guarda, não é o momento de investir neles e, certamente, não é este o tipo de produto que vai ajudar as vinícolas a sobreviver.

Imagino que a próxima geração de vinhos será do tipo jovem, fácil de beber, com ótima relação custo x benefício. Talvez mudem as embalagens, aposentando as garrafas de 750ml. Um novo padrão poderá ser adotado, com benefícios para todos.

Dentro deste mesmo raciocínio, rolhas de cortiça passarão a ser a exceção e não a regra.

Há muito o que pensar e avaliar.

Até lá, saúde e bons vinhos!

Vamos organizar a adega

Imagem de S. Hermann & F. Richter por Pixabay

Em tempos de quarentena, isolamento social, ou qualquer outro nome que classifique a forma como estamos vivendo este período atual, estocar alimentos, medicamentos, artigos de limpeza etc., parece uma atitude das mais sensatas. Mas se não tivermos um mínimo de planejamento, podemos estar dando o famoso “tiro no pé”.

Estocar vinhos se enquadra nesta categoria.

Antes de partir para limpar as prateleiras de sua loja favorita, vamos pensar um pouco sobre alguns aspectos importantes.

1 – Local de guarda

Para deixar claro sobre o que estamos falando, não se trata da adega ou prateleiras onde você guarda o seu vinho, mas onde, em que parte de sua residência este estoque está localizado.

O ponto ideal é um local com boa ventilação, pouca iluminação natural, fácil acesso e manuseio.

Algumas recomendações adicionais se fazem necessárias, mesmo se forem poucas garrafas:

– As garrafas devem ser mantidas na posição horizontal e com pouco espaço entre elas. O suficiente para manuseá-las sem problemas;

– Pense numa organização vertical que coloque as garrafas mais preciosas na parte mais alta e as de uso cotidiano ao alcance da mão. É uma forma de proteger o seu “eno investimento” de olhares e mãos curiosas;

– Um local com porta e fechadura ou mesmo uma adega climatizada doméstica pode ser uma boa opção, dependendo do seu grau de dedicação.

Uma área que deve ser evitada a qualquer preço é a cozinha – sempre será o ambiente mais quente da casa e um convite para estragar o seu vinho.

2 – Formas de organização

Em qualquer adega, basicamente organizada, separam-se tintos, brancos, espumantes e outros. Cada um no seu canto.

A partir deste ponto, existem várias formas de arrumação que serão mais ligadas ao estilo de cada enófilo do que a uma regra fixa. Pense sobre como você compra e consome os seus vinhos e tente moldar sua adega a este estilo.
Exemplo: coloque as garrafas por preferência de origem. Dentro cada uma, ordene por safra.

Pode-se, também, optar por uma organização baseada nos estilos: vinhos encorpados, médio e leves.

As opções são muitas. Apenas escolha a que melhor reflete o seu estilo.

3 – O mapa da mina

Mesmo com um estoque pequeno é bem interessante fazer um rol do que você tem. Dependendo do seu grau de TOC, esta relação pode ser uma simples anotação numa folha de papel (guarde junto com os vinhos) ou uma sofisticada planilha eletrônica, cheia de dados que incluem até preço e data de aquisição.

Importante mesmo é fazer uma anotação alertando para uma data limite de consumo. Nem todo vinho que temos, em casa, se presta para guarda.

Outro ponto sensível, e nunca lembrado, é manter a lista atualizada: consumiu, remova da relação. Assim você vai ter uma boa indicação para repor o estoque.

4 – Acessórios

Há uma série de apetrechos que podem ser usados na montagem de uma adega caseira. Tudo vai depender do grau de sofisticação desejado.

A lista é grande, desde desumidificadores e termômetros, passando por luzes indiretas e móveis projetados para tal. Ou, simplesmente, encomendar uma geladeira para vinhos.

Um truque que ajuda muito é etiquetar as garrafas de vinho, além de colocá-las na horizontal e com o rótulo para cima, para poder facilitar a leitura. Mas nem sempre conseguimos ler com facilidade.

Uma marcação, por código de cores ou numérico, associada ao nosso mapa do tesouro, torna tudo mais fácil. Coloque as etiquetas no topo das garrafas. É a melhor visualização.

5 – Uma ajuda nas compras

A lista a seguir é absolutamente independente. Elaborei para ajudar alguns confrades a recompor suas adegas nesta época de lojas fechadas.

A ordem é aleatória.

Dependendo de sua cidade a entrega pode ser demorada.

Mistral – https://www.mistral.com.br/

Vinci – https://www.vinci.com.br/

Grand Cru – https://www.grandcru.com.br/

World wine – https://www.worldwine.com.br/

Fine Wines – https://www.finewines.com.br/

DREO – https://www.dreo.com.br/

Evino – www.evino.com.br

Casa Rio Verde – https://www.casarioverde.com.br/

Decanter – https://www.decanter.com.br/

Zahil – https://www.zahil.com.br/

Vinhos do mundo – http://www.vinhosdomundo.com.br/

Vinhos Web – http://vinhosweb.com.br/

Smart Buy – https://www.smartbuywines.com.br/

Cave Nacional – https://cavenacional.com.br/ (*)

Cru Natural Wine Bar – (21)3496-9656 – (21)98362-7929 Veja no Instagram (*)

(*) Rio de Janeiro, preferencialmente

Saúde e bons vinhos!

Corona – Vinhos

Foto de Artemis Faul por Unsplash

Vinho é uma bebida gregária. Nada é mais divertido do que passar algum tempo, com os amigos, em torno de uma garrafa de vinho.

Infelizmente, em tempos de pandemia e quarentena, voluntária ou não, temos que abrir mão destes encontros de degustação, sejam eles em casa ou em algum wine bar ou restaurante preferidos.

“No más!” como diriam na Espanha…

A grande dúvida é se precisamos abrir mão do nosso vinho de cada dia e como apreciá-lo em voo solo.

Há várias considerações para serem feitas e estratégias que podem ser adotadas, tudo dependendo da decisão de consumir ou não uma bebida alcoólica, vinhos inclusive.

Nas sociedades modernas admite-se que um indivíduo que consome álcool, sozinho, pode estar num estado depressivo ou mesmo ser considerado um alcoólico.

Estamos em tempos de guerra e novas regras devem ser adotadas. Degustar, moderadamente, uma taça de vinho nas refeições ou numa hipotética “happy hour” doméstica, não só é uma atitude desejável, hoje, como pode ser vista como um estímulo para continuar no “home office”. Para os que não trabalham, pode ser mais uma atividade ocupacional, bem divertida.

Qual vinho abrir é ponto que merece algumas reflexões.

Provavelmente não temos meias garrafas em nossa adega, o que seria perfeito. Logicamente, ao abrirmos uma garrafa de 750 ml, mesmo em companhia da esposa, ao ritmo de 1 taça/dia, há uma grande chance que o vinho fique passado antes ser todo consumido.

Lembrem-se que vinhos bons não estragam facilmente, mesmo depois de desarrolhados. Basta seguir algumas estratégias bem conhecidas, como as citadas nesta nossa matéria “Garrafas de vinho abertas: o que fazer?”.

Outra boa solução seriam os vinhos em caixa. Duram bastante se guardados na geladeira.

O que não vai funcionar são os vinhos de baixa qualidade, que por suas características de produção não resistem a mais do que um par de horas depois de abertos.

Está na hora de lembrar daqueles vinhos que foram guardados para ocasiões especiais. Esta é, certamente, uma delas.

E se o leitor está no grupo de risco, encontrou mais um motivo… (pense nisto)

Para os que preferem não consumir álcool e sim usá-lo para desinfetar as mãos, afinal é um imunossupressor, existem alternativas para não ficar longe da nossa bebida favorita.

Como num contraponto, o resveratrol, um dos polifenóis encontrado nos vinhos tintos, é considerado como um aliado no combate a diversos vírus, inclusive os do tipo Corona (não confirmado para o tipo 19, ainda). Neste caso, substitua por suco de uva.

Para não ficar distante do tema vinho e ainda ajudar a passar o tempo e se divertir, que tal uma relação de filmes de temática enológica?

Procure nos serviços de streaming como Netflix ou Amazon: (não testamos todos)

– Um ano em Borgonha (A Year in Burgundy)

– Um ano em Champagne (A Year In Champagne)

– Barolo Boys: storia di una rivoluzione

– O Julgamento de Paris (Bottle Shock)

– Sideways: Entre Umas e Outras

– A série Somm, sobre o Master Sommelier Exam. São 3 filmes

– Sour Grapes, excelente documentário sobre fraudes no vinho

– Mondovino

– Um bom ano (A Good Year)

– O ano do cometa (Year Of The Comet)

– O segredo de Santa Vitória

Para que nossas adegas não fiquem desprovidas, no Rio de Janeiro, por exemplo, alguns wine bars e lojas de vinhos estão disponibilizando seus serviços com entrega domiciliar ou tipo “drive thru”: vinhos e petiscos podem ser encomendados. Procure na sua cidade por serviços similares.

De Portugal vem uma novidade bem interessante: uma degustação comentada via Instagram. Uma relação do que vai ser provado é divulgada antecipadamente. A ideia é comprar estes vinhos para poder acompanhar, em tempo real, e desfrutar de todos os comentários dos experts.

O 1º episódio reuniu Dirk Niepoort, com o consultor Cláudio Martins e o sommelier Rodolfo Tristão.

Procure por @winehourathome

(https://www.instagram.com/winehourathome/)

Quem sabe não repetem isto por aqui?

Recomendações finais:

Mantenha uma boa higiene de tudo: taças, decantadores, acessórios e as superfícies utilizadas;

Não compartilhe sua taça ou talheres;

Lave, sempre, as mãos.

Saúde, bons vinhos e boa quarentena!

Uma casta, um vinho – Chardonnay

Fonte: https://glossary.wein-plus.eu/chardonnay

Se a Cabernet Sauvignon é considerada como a mais importante uva vinífera tinta, e seus vinhos verdadeiros soberanos, a sua consorte seria a branca Chardonnay, uma casta tão importante quanto.

Indiscutivelmente uma Rainha entre as uvas brancas, é uma espécie de camaleoa, capaz de se adaptar aos mais diversos solos e climas, razão pela qual, é plantada universalmente. Seu habitat mais natural são os solos calcáreos.

Apesar deste caráter “Urbi et Orbi”, se a vinificação estiver em mãos competentes, os resultados serão excelentes.

Por outro lado, esta universalização fez com esta varietal entrasse no capítulo das coisas que são amadas ou odiadas por diferentes pessoas. Entre seus detratores está a turma do ABC ou “Anything But Chardonnay”.

Sua origem é francesa, da região denominada Saône-et-Loire. Os primeiros registros de sua existência datam de 1583, sob o nome de Beaunois. Entretanto, este apelido também foi dado a outras castas, como a Aligoté, sugerindo que não é o registro mais exato. Em 1685, no histórico da vila de Saint-Sorlin, podem ser encontrados alguns trechos afirmando que “a uva ‘Chardonnet’ produzia ótimos vinhos”.

A denominação atual, Chardonnay, vem da vila homônima da região de Mâconnais, ao sul da Borgonha.

Recentes análises de DNA demonstraram que ela decorre de um cruzamento espontâneo entre a Pinot e a Gouais Blanc. Pertence, portanto, à mesma família da Gamay Noir, Melon, Aligoté, entre outras.

Seus vinhos mais famosos, depois dos Champagnes, são os brancos da Côte d’Or: Meursault, Corton-Charlemagne…

No continente americano, os ‘Chards’ de Napa Valley são, indiscutivelmente, os mais respeitados. O Chateau Montelena Chardonnay foi um dos campeões do “Julgamento de Paris”, uma degustação comparativa entre famosos vinhos franceses e alguns desconhecidos vinhos norte americanos. Este episódio mudou, para sempre, o mundo do vinho. Foi retratado, de forma ficcional, num filme homônimo (Bottle Shock no original).

Dois estilos se destacam: os vinhos ao estilo de Chablis, com ótima acidez refrescante, precisos e límpidos no sabor e o estilo norte americano, com suas notas amanteigadas, decorrente de passagem por madeira e de uma controlada conversão malolática, onde o ácido málico é transformado em ácido lático, dando origem às notas de laticínios. Certamente calcado nos vinhos de Meursault.

A Chardonnay pode ser vinificada de diversas maneiras, gerando vinhos que apresentam características únicas, que vão desde os secos, saborosos e ricos, passam pelos vinhos base para espumantes e terminam com vinhos doces de uvas botritizadas. Super versátil.

Além da França e dos EUA, outros países se destacam com excelentes vinhos desta uva: Itália, Espanha, Alemanha (onde reina a Riesling), Áustria, Austrália e Nova Zelândia. Na América do Sul, Uruguai, Chile produzem excelentes varietais com essa casta. Na Argentina existe um clone denominado Mendoza, já reconhecido e aceito.

No Brasil estão plantados cerca de 650 hectares, usados para produção de nossos bons espumantes e para alguns vinhos tranquilos, com ótimos resultados.

Escolher um vinho para caracterizar esta casta é quase impossível, há muitas e importantes opções.

Minha escolha vai recair num vinho argentino: Linda Flor, da Bodega Monteviejo.

Essa vinícola, uma das pioneiras do grupo Clos de los Siete, tem origem francesa. Sua proprietária original, Catherine Peré-Vergé, já falecida, foi quem escolheu o atual Enólogo e diretor técnico desta e de outras vinícolas francesas, o premiado e respeitado Marcelo Pelleriti, responsável por esta obra de arte.

Após a prensagem dos grãos, que são mantidos em contato com as peles por um bom tempo, o mosto é fermentado em barricas de carvalho francês, com temperatura controlada e battonage diária. Parte do vinho passa por conversão malolática em barricas.

O vinho obtido é untuoso e com acidez equilibrada. No olfato destacam-se notas de frutas de polpa branca e algumas especiarias. No palato apresenta um bom corpo, com sabores frutados e refrescantes. Final de boca interminável. Um vinho elegante, equilibrado e delicioso, como poucos em sua categoria.

Imperdível, para aqueles que realmente desejam compreender esta casta única.

Saúde e bons vinhos!

Fonte consultada: Wine Grapes: A Complete Guide to 1,368 Vine Varieties, Including Their Origins and Flavours, por Jancis Robinson, Julia Harding, Jose Vouillamoz.

Em tempo: recebemos este comunicado com relação ao evento de lançamento do Guia Descorchados.
“Colocamos a segurança de todos os parceiros, amigos, profissionais da área e clientes em primeiro lugar”.

Por esta razão, devido a crise do Coronavírus, estamos transferindo a data do evento de lançamento do Guia Descorchados 2020, para o mês de agosto. O evento do Rio de Janeiro , será remarcado em breve , e São Paulo, fica para a data do dia 11 de agosto de 2020.

Lamentamos os inconvenientes”.

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