Categoria: O mundo dos vinhos (Page 39 of 77)

Dicas para ser um bom degustador

Saber degustar um vinho corretamente é muito importante para o grupo de especialistas, críticos e jornalistas que estão sempre escrevendo sobre este apaixonante tema. Duas atividades dependem desta habilidade de degustar e analisar um vinho: o Sommelier ou Escanção e os Enólogos.

Curiosamente enquanto um Sommelier vai em busca das qualidades de um vinho, para indicá-lo aos seus clientes, um Enólogo está mais preocupado em encontrar os defeitos, para corrigi-los na próxima vinificação.

Já os meros mortais e pobres Enófilos tentamos nos valer destas respeitadas opiniões e, com base nelas, achar aquele vinho que vai nos satisfazer.

Algumas vezes não funciona assim. São muitas variáveis envolvidas e controlar todas elas nem sempre é prático no momento que vamos compartilhar e analisar uma boa garrafa com amigos e confrades, como numa degustação mais técnica

Uma das mais importantes variáveis é definida, em inglês, pela palavra “mood” ou estado de espírito, um conjunto de aspectos que vão desde o ambiente onde será feita a degustação, o humor de cada convidado e até mesmo o objetivo do encontro.

Imaginem, por exemplo, a logística necessária e o “mood” de cada juiz do concurso da Decanter, mencionado na matéria anterior a esta.

Numa rápida pincelada, foi realizada num conjunto de prédios no centro de Londres, com os julgadores espalhados por 3 andares. Não era uma degustação qualquer. Cada juiz tinha tarefas bem definidas e objetivos a serem cumpridos para que, ao final, um ranking fosse estabelecido e publicado.

Detalhe que pode passar despercebido: a degustação era às cegas o que significa taças numeradas, garrafas ocultas dentro de embalagens opacas, inúmeras fichas de degustação a serem classificadas e pessoal treinado para distribuir, recolher, lavar, servir e que mais fosse necessário, seguindo rígidos protocolos sanitários – estavam no meio de uma pandemia…

Avaliem o “stress” desta turma!

Nada disto é necessário numa degustação em que se busca alguma satisfação, exceto os controles sanitários, ainda estamos “pandêmicos”.

Mas uma boa iluminação, toalhas ou jogos americanos de cor branca, boa ventilação e temperatura adequada são básicos. A temperatura de serviço dos vinhos a serem degustados também merece alguma atenção: nada de “estupidamente gelados” e nem “temperatura ambiente” num dia de 40º à sombra.

Se optarem por fazer degustação técnica preenchendo fichas, não se esqueçam de distribuir todo o material necessário.

Muitas vezes não nos damos conta, mas cheiros estranhos vindos da cozinha ou de banheiros, de cômodos recém-pintados e coisas semelhantes interferem diretamente na análise olfativa. Até mesmo aquela loção pós barba ou o perfume do grupo feminino devem ser evitados.

No capítulo dos cheiros estranhos, é bastante comum encontrarmos aromas nada agradáveis logo ao sacar a rolha. Vinhos que estão adegados há algum tempo ou que receberam uma dose maior de SO2 apresentam esta característica. Deixe-os de lado por um tempo, agite um pouco a taça ou coloque num decantador para servir mais tarde.

Se o cheiro ruim não passar podemos ter problemas de contaminação da rolha ou mesmo na elaboração por interferência de leveduras não desejáveis. Geralmente se descarta este tipo de vinho, não sendo usado nem para cozinhar. Se quiser ousar, tente experimentá-lo depois de 24 ou 48 horas e só então decida o que fazer.

Usem este mesmo tipo de procedimento se o vinho estiver sem nenhum aroma logo ao ser servido: um pouco de agitação na taça e tempo. Neste caso, diz-se que o vinho esta “fechado”. Ao surgirem os esperados aromas é o sinal que ele “abriu”.

Taças são outro ponto importante. Vale à pena investir em um bom material. Não precisa ser o melhor do mercado. Cristal ou meio cristal é aceitável. Bordas finas, transparência perfeita sem ondulações e uma haste firme que não cause apreensão em que vai segurá-la.

Há uma discussão sobre como proceder ao trocar de vinho: lava-se a taça com um pouco de água ou com um pouco do novo vinho?

Está técnica se chama avinhar a taça: nada melhor para lavar um vinho do que outro vinho. A turma profissional simplesmente descarta o que está na taça e o próximo vinho é servido em seguida. Só avinham, com um novo vinho, se estiverem mudando de branco para tinto por exemplo.

Uma última recomendação: tudo foi feito como manda este ou outro figurino e os vinhos não corresponderam. É frustrante pagar algum dinheiro por um rótulo super premiado e na hora “H” é um fiasco.

Isso é mais comum do que se imagina. Há uma daquelas leis não escritas que afirma “eu vou detestar o vinho que você vai gostar”. Vinhos perfeitos não existem. Releiam o início desta matéria: Enólogos buscam defeitos quando degustam um vinho…

Cada enófilo tem o seu estilo de vinho que vai lhe marcar. Muitas vezes não se dá conta disto até passar por uma situação como a descrita. Neste momento cai a ficha e percebemos que preferimos um Syrah ao Cabernet ou vinho italiano em vez de um francês.

Esta é a graça de uma degustação. Experimentem, aprendam e se divirtam.

Saúde e bons vinhos.

Decanter World Wine Awards 2020

Neste mês de agosto, reuniram-se 116 dos melhores experts de vinhos do mundo para degustar, às cegas e cercados por todas as medidas de prevenção possíveis, 16.518 amostras de vinho enviadas dos quatro cantos do planeta.

Selecionaram os 50 melhores vinhos deste concurso além de galardoar 178 medalhas de Platina, 537 de Ouro, 5.234 de Prata, 7.508 de bronze e inúmeras recomendações.

No grupo dos 50 melhores coube à França o maior número de rótulos premiados, seguido por Itália, Austrália e Portugal.

Alguns vinhos brasileiros foram premiados, o que já não é mais nenhuma surpresa.

Antes de mostrar estes resultados, gostaríamos de ressaltar que este concurso é aberto a qualquer produtor de vinho desde que preencha umas poucas condições, pague as taxas correspondentes e envie a quantidade de amostras solicitadas. Seus vinhos devem estar amplamente distribuídos no mercado e ter uma produção, mínima, de 600 litros por ano.

Sessenta e dois vinhos nacionais receberam medalhas ou recomendações.

A Serra Gaúcha recebeu o maior número de prêmios: 5 pratas; 21 bronzes e 9 recomendações.

As demais regiões foram: Campos de Cima da Serra, Campanha, Serra do Sudeste (SP), São Roque (SP), Serra da Mantiqueira (SP e MG), Sul de Minas e Paraná.

Com relação aos tipos temos:

Tintos – 16; Brancos – 15; Espumantes brancos – 27; Espumantes rosados – 4.

Destacamos:

Storia Merlot 2015 da Casa Valduga;

Fumé Blanche 2019 (Sauvignon Blanc) da Vinícola Ferreira, que fica na Serra da Mantiqueira;

Tempos de Goes Reserva Sauvignon Blanc 2019 da Vinícola Goes em São Roque.

Entre os espumantes:

Moscatel da Vinícola Aurora;

Prosecco Rosé Brut da Cooperativa Vinícola Garibaldi;

Cult Brut da Ponto Nero;

Prosecco Brut da Salton;

Neste link, a página da Decanter, em inglês, com todos os vinhos brasileiros premiados:

Vinhos do Brasil

Saúde e bons vinhos!

É tempo de mudanças

Há quem chame de “novo normal”, há quem afirme que “nada será como antes” e, claro, existem os eternos negacionistas para quem nada vai mudar.

O mundo do vinho está passando por várias modificações. Não podemos qualificar se para melhor ou para pior, mas uma coisa é certa: estamos nos readaptando.

Uma das mudanças que mais chamou a atenção foi o fim, temporário, esperamos, da tradicional “pisa a pé” para a produção do Porto e de outros vinhos portugueses. Alegam os técnicos que a possibilidade de contágio seria muito alta.

Muitos produtores já não praticavam mais esta técnica, adotando alguns equipamentos robóticos para obter o mesmo efeito. Vejam um exemplo nessas imagens, a seguir, obtidas na Quinta do Seixo e na Quinta do Noval, um dos mais premiados produtores.

Aquele conjunto de hastes ao fundo são os pisa a pé mecânicos.

Numa recente “live”, Adrian Bridge, o principal executivo da tradicionalíssima Taylor’s, confirmou que a empresa vai adotar a pisa mecânica, suspendendo um dos mais longos e tradicionais ciclos de pisa humana.

Uma série de reflexos decorrentes desta decisão vão produzir um efeito cascata, abrangendo basicamente toda a mão de obra, que será diminuída sensivelmente. Algumas de suas quintas não vão mais produzir devido ao alto custo de conversão: os lagares antigos não servem para a pisa mecânica e teriam que ser refeitos.

Outra mudança muito interessante decorre diretamente da combinação isolamento social e compras on line: os supermercados tiveram que mudar sua postura com relação à qualidade dos vinhos oferecidos.

Essa mudança já era aguardada há muito tempo e agora se consolidou. Na cidade do Rio de Janeiro pelo menos três grandes redes já haviam contratado curadorias para vinhos e para azeites também: Zona Sul, Pão de Açúcar e Mundial, este com um dos melhores estoques de vinhos portugueses.

Mesmo os mercadinhos de bairro estão mais atentos a esta mudança de comportamento dos consumidores, reforçando seus estoques de bons vinhos, a bebida que parece ter sido a melhor opção neste momento de ficar mais em casa.

Dados da ABRAS indicam que o setor de supermercados representa 70% do volume de vendas de vinhos no país. Observaram um crescimento de 35% em relação a 2019. Sinal que o brasileiro está mais identificado com a nossa bebida favorita.

As principais importadoras e distribuidoras oferecem treinamento para os atendentes, melhorando em muito a relação com os clientes, que agora encontram as gôndolas muito bem localizadas, arrumadas e setorizadas, facilitando a nossa compra.

Experimente ficar uns instantes em frente a uma prateleira de vinhos em uma grande rede. Logo logo vai aparecer um house sommelier oferecendo ajuda.

Como diz um velho ditado, “há males que vem para o bem”.

Saúde e bons vinhos!

Prof. Celio Alzer – inesquecível

Nos deixou, neste 7 de setembro de 2020.

O mundo do vinho fica desfalcado de uma de suas grandes personalidades. Mais que um professor, um Mestre, assim mesmo com esse “M”, maiúsculo, que o separa de nós outros, meros enófilos.

Ele sabia, conhecia e vivia, como ninguém, este incrível “eno-universo”. Ensinou a todos, muita gente boa passou por suas mãos. Quem teve a felicidade de frequentar uma de suas aulas na ABS, ou seus ótimos cursos sobre Queijos e Vinhos e sobre os magníficos vinhos italianos, ficou com um registro indelével na memória.

Jornalista, radialista, escritor e influenciador, deixa uma extensa obra que inclui livros considerados como básicos para quem vai se iniciar neste mundo. Eterno parceiro de Danio Braga, lançou as bases para fundar a ABS (Associação Brasileira de Sommeliers), que presidiu entre 1992 e 1994.

Uma de suas mais interessantes criações foi o Jogo do Vinho, um divertido passatempo com cerca de 1000 perguntas sobre vinho. Jogar e aprender.

Um apaixonado pelos vinhos da Itália. Seu conhecimento sobre este tema era incomparável. Deixa uma lacuna que será difícil preencher.

Para fazer uma justa homenagem a este inesquecível Mestre, vamos abrir um ótimo Chianti e acompanhá-lo com salume tutto pepe, Pecorino e pane.

Saudade!

Uma lista de seus livros e outras atividades:

– Falando De Vinhos. A Arte De Escolher Um Bom Vinho

– Tradição, conhecimento e prática dos vinhos

– O Passo A Passo Da Degustação: Um Guia Prático Para Aprender A Provar Vinhos

– Feitos um Para o Outro: os Vinhos Perfeitos Para Combinar com 1.327 Pratos

Cartas de vinho:

Bazzar, em Ipanema;

Torninha (Niterói);

Pátio Havana e Estância Don Juan (Búzios);

Picolino (Cabo Frio);

Desacato, no Leblon (ganhou a edição do Comida di Buteco 2019).

Produziu e apresentou um programa radiofônico sobre Jazz, a sua preferência musical.

Vejam este raro recorte de 1979, gentileza de José Paulo Gils:

Saúde e bons vinhos!

Qual a importância do Sommelier?

“Sommeliers” por ztij0 está licenciada sob CC BY-SA 2.0

Profissão regulamentada no Brasil pela Lei 12.467 de 2011, é definida pelo seguinte texto:

Art 1º – Considera-se sommelier, para efeitos desta Lei, aquele que executa o serviço especializado de vinhos em empresas de eventos gastronômicos, hotelaria, restaurantes, supermercados e Enoteca e em comissariaria de companhias aéreas e marítimas.

Art. 3º São atividades específicas do sommelier:

I – Participar no planejamento e na organização do serviço de vinhos nos estabelecimentos referidos no art. 1º desta Lei;

II – Assegurar a gestão do aprovisionamento e armazenagem dos produtos relacionados ao serviço de vinhos;

III – Preparar e executar o serviço de vinhos;

IV – Atender e resolver reclamações de clientes, aconselhando e informando sobre as características do produto;

V – Ensinar em cursos básicos e avançados de profissionais sommelier.

Aqui limitou-se sua atuação a um único produto, o vinho, ao contrário de outros países que ampliaram seu escopo de atuação incluindo outras bebidas alcoólicas, armas, pães e até charutos.

Já é aceito por aqui, de modo informal, um conceito mais amplo sendo comum alguém se apresentar como Sommelier de Cervejas, de Saquê ou Água Mineral.

Sem problemas…

Como o nosso tema é o vinho, o Sommelier é uma figura que pode desempenhar diversos papeis na imaginação de um Enófilo. Por exemplo, podem ser amigos fiéis e bons conselheiros ou críticos impiedosos. Em qualquer situação, merecem nosso respeito.

A missão de um Sommelier não é fácil: passar segurança e tranquilidade ao cliente, fazê-lo se sentir feliz e, ao mesmo tempo, deixar seu patrão satisfeito.

A face mais conhecida e muitas vezes temida é a do profissional que nos atende num restaurante, com uma frase, muitas vezes enigmática:

“Gostariam de escolher um vinho”?

Para quem ainda não domina este tipo de diálogo, que envolve algumas variáveis bem subjetivas, vamos passar algumas dicas muito úteis.

1 – Por melhor que um Sommelier tenha sido treinado e conheça detalhadamente a carta de vinhos do restaurante onde trabalha, não tem nenhuma informação sobre o nosso nível de conhecimento, não sabe qual é a preferência do nosso paladar ou que tipo de alimentos estamos pensado em consumir e até mesmo quanto estamos disposto a gastar.

A conversa com o Sommelier deverá passar, obrigatoriamente, por estes tópicos.

2 – Os leitores mais experientes, quase sempre, têm uma ideia do vinho que gostariam de degustar naquele momento. Vamos supor que não conste da carta de vinhos.

O correto seria informar o que você está buscando, perguntando qual seria a alternativa indicada neste caso.

3 – Outra situação bastante comum é você não ter ideia sobre qual vinho deveria acompanhar a refeição encomendada.

Informe que tipo de vinho você está habituado, mesmo que não seja o ideal para este momento. Por exemplo, “gosto de Cabernet”, ou “prefiro vinhos mais leves e menos tânicos”, ou qualquer outra pista para balizar a atuação do Sommelier.

Um profissional responsável vai sugerir um par de alternativas, pelo menos, mostrando o custo de cada uma, a safra e uma breve descrição de sua avaliação destes vinhos.

Cabe ao cliente a escolha final.

4 – Para os mais aventureiros talvez seja a hora de fazer algumas experiências, com segurança, ouvindo a opinião do “Somm”. Eis algumas ideias de como se dirigir a ele:

– Gostaria de provar um vinho da seguinte casta… O que você recomenda?

– O que há de mais interessante na sua carta de vinhos no momento?

– Qual a sua melhor sugestão de um vinho até este valor…?

– Escolhi um prato de carne vermelha, mas não quero um tinto. O que você sugere?

Além destas regrinhas básicas de diálogo, existem algumas regras de etiqueta que devem ser seguidas. Por exemplo:

– A garrafa solicitada será sempre mostrada a quem escolheu o vinho. Certifique-se que é a sua escolha. Reclamar depois de aberto não é elegante;

– Não se envergonhe e verifique a temperatura da garrafa. Se não estiver no seu padrão peça para ser corrigida;

– Ao receber a prova em sua taça, observe a coloração e os aromas, girando a taça. Se nada estranho for percebido, faça a prova e aceitando ou não o vinho. Se encontrar algum defeito, não hesite em apontar a falha e recuse a garrafa. Seja firme neste momento.

– Não devolva uma garrafa apenas porque não gostou do vinho.

Isso ressalta a importância de um bom diálogo com o Sommelier. Aproveite o momento para tirar todas as suas dúvidas e escolher um bom vinho.

No Brasil comemora-se o Dia Nacional do Sommelier em 29 de agosto, para lembrar a data de publicação de Lei que regulamenta a profissão. Também é celebrado, por aqui, o Dia Internacional do Sommelier, em 3 de junho.

Para saber um pouco mais sobre esta profissão, veja esta matéria que publicamos em 2016:

“Sommelier, Escanção”

Saúde e bons vinhos!

– Um esclarecimento: a coluna anterior a esta comemorava o Dia Mundial do Cabernet Sauvignon que, segundo alguns autores, cai na última quinta-feira de agosto. Ocorre que não há um consenso sobre esta data. Há sugestões que a data correta poderia ser 30 de agosto, 3 de setembro ou mesmo uma vaga referência à “véspera do dia do trabalho”, que nem sempre é celebrado no dia 1º de maio, como no nosso país.

Outras fontes listam diferenças semânticas como Dia da Uva Cabernet, Dia do Vinho Cabernet e, ainda, Dia Nacional do Cabernet.

Acreditamos que o importante não seja uma data, mas a casta e seu vinho. Então ficamos assim: na última semana de agosto e na primeira de setembro, estamos livres para comemorar e degustar estes formidáveis vinhos.

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